terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Harry Potter e a Ordem da Fênix 11/15


-- CAPÍTULO 11 --
A NOVA MÚSICA DO CHAPÉU SELETOR


Harry não queria dizer aos outros que ele e Luna estavam tendo a mesma alucinação, se era isso mesmo, então não disse mais nada sobre cavalos, aconchegou-se na carruagem e bateu a porta atrás de si. Sem mais o que fazer, não pôde parar de olhar as silhuetas dos cavalos se mexendo pela janela.

- Alguém viu aquela mulher, a Grubbly-Plank? - perguntou Gina. - O que ela está fazendo aqui? Hagrid não pode ter saído, pode?

- Eu ficaria bem feliz se ele saísse - disse Luna -, ele não é um professor muito bom, é?

- Sim, ele é! - disseram Harry, Rony e Gina raivosamente.

Harry encarou Hermione. Ela limpou a garganta e disse rapidamente.

- Er... Sim... Ele é muito bom.

- Bem, nós, da Corvinal, o achamos uma piada - disse Luna, sem se chocar.

- Então você tem um horrível senso de humor - Rony respondeu bruscamente, enquanto as rodas abaixo estalaram em movimento.

Luna não pareceu se importar com a grosseria de Rony; pelo contrario, ela simplesmente os observou por um tempo como se ele fosse um programa de televisão um tanto interessante.

Chocalhando e balançando, as carruagens se moveram em escolta pela estrada. Quando passaram entre os altos pilares de pedra cobertos com javalis alados em ambos lados dos portões do jardim da escola, Harry se inclinou para frente para tentar ver se tinha alguma luz na cabana de Hagrid, na Floresta Proibida; o terreno estava em completa escuridão. O castelo de Hogwarts, no entanto, surgia ainda mais perto: uma massa elevada de torres, jatos negros contra o céu escuro, aqui e ali uma janela chamejante brilhava acima deles.

As carruagens pararam perto de uns degraus de pedras que levavam para as portas de carvalho da frente e Harry foi o primeiro a sair da carruagem. Virou de novo para ver se ascenderam as janelas da cabana da Floresta, mas definitivamente não havia sinal de vida na cabana de Hagrid. Derrotado, porque tinha tido uma meia esperança que tivesse sumido, ele virou seus olhos para as estranhas e esqueléticas criaturas que ficavam paradas quietas no frio ar noturno, com seus olhos brancos brilhando.

Harry já tinha tido a experiência de poder ver o que Rony não podia, mas aquilo tinha sido um reflexo no espelho, algo muito mais insubstancial que uma centena de bestas aparentemente muito sólidas e fortes o suficiente para empurrar num vôo uma frota de carruagens. Se Luna era para ser acreditada, as bestas estavam sempre lá, mas eram invisíveis antes. Então, por que Harry passou de repente a poder enxergá-los e por que Rony não?

- Você vem ou o quê? - disse Rony atrás dele.

- Ah... Sim - disse Harry rapidamente e se juntou à apressada multidão que subia os degraus de pedra dentro do castelo.

O Saguão de Entrada estava flamejante com tochas e ecoando com os passos enquanto os estudantes cruzavam os enfraquecidos pisos de pedra para as portas duplas à direita, levando para o Salão Principal e ao banquete de início do ano letivo.

As quatro longas mesas das casas estavam se enchendo embaixo de um teto negro sem estrelas, que era igual ao céu que podiam entrever pelas janelas. Velas voaram em meio ao ar por toda a mesa, Iluminando os fantasmas prateados que estavam parados sobre o Salão e os rostos dos estudantes falando ansiosamente, trocando novidades de verão, gritando boas-vindas a amigos de outras casas, comentando um ou outro novo corte de cabelo ou manto. De novo, Harry percebeu pessoas colocando suas cabeças juntas e cochichando enquanto ele passava; rangeu os dentes e tentou fingir que não viu ou não ligou.

Luna se separou deles na mesa da Corvinal. No momento em que chegaram a Grifinória, Gina foi saudada por uns amigos do quarto ano e foi sentar com eles; Harry, Rony, Hermione e Neville encontraram seus lugares juntos mais ou menos no meio da mesa, entre Nick Quase Sem Cabeça, o fantasma da casa de Grifinória, e Pavarti Patil e Lilá Brown, as últimas duas que deram a Harry uma arejada e exagerada boas-vindas que o fez ter quase certeza que elas acabaram de falar dele. Mas tinha coisas mais importantes para fazer, no entanto: estava olhando por cima da cabeça dos estudantes para a mesa de professores, que ficava no final do Salão.

- Ele não está aqui.

Rony e Hermione olharam a mesa também, mas não era realmente necessário; o tamanho de Hagrid o fazia instantaneamente óbvio em qualquer linha de visão.

- Ele não pode ter saído - disse Rony, soando um pouco ansioso.

- É claro que ele não saiu - disse Harry firme.

- Você não acha que ele se... Machucou, ou algo do tipo, você acha? - disse Hermione com dificuldade.

- Não - disse Harry de uma vez.

- Mas onde ele está, então?

Houve uma pausa e Harry disse bem baixinho, tanto que Neville, Pavarti e Lilá não puderam ouvir.

- Talvez ele ainda não voltou. Vocês sabem... Da sua missão... Aquilo que ele estava fazendo para Dumbledore no verão.

- Sim... Sim, deve ser isso - disse Rony, soando seguro novamente, mas Hermione mordeu seus lábios, olhando pra cima e pra baixo pela mesa dos professores como se tivesse esperando por alguma explicação conclusiva sobre a ausência de Hagrid.

- Quem é aquela? - ela disse cortantemente, apontando para o meio da mesa de professores.

Os olhos de Harry seguiram os dela. Pararam primeiro sobre o professor Dumbledore, sentando em sua alta cadeira dourada ao centro da longa mesa de professores, vestindo um manto roxo-escuro espalhado com estrelas prateadas e com um chapéu combinando. A cabeça de Dumbledore estava inclinada voltada para a mulher sentada próxima a ele, que estava falando em seus ouvidos. Parecia, Harry pensou, como uma tia solteira de alguém: agachada, com um curto, ondulado, cabelo marrom de rato em que tinha colocado uma horrível faixa de Alice, que combinava com o peludo cardigã rosa que vestia sobre seu manto. Então ela virou seu rosto levemente para beber um gole de seu cálice e ele viu, com um choque de reconhecimento, um pálido rosto que parecia um cogumelo e um par de proeminentes olhos iguais a bolsas.

- É aquela mulher, Umbridge!

- Quem? - disse Hermione.

- Ela estava em minha audiência, ela trabalha para Fudge!'

- Ótimo cardigã - disse Rony, sorrindo.

- Ela trabalha para Fudge! - Hermione repetiu, zangada. - Que diabos ela esta fazendo aqui então?

- Não sei...

Hermione olhou a mesa dos professores, seus olhos se estreitaram.

- Não - ela murmurou. - Não, com certeza não...

Harry não entendeu sobre o que ela estava falando mas não perguntou; sua atenção foi pega pela professora Grubbly-Plank, que tinha acabado de aparecer atrás da mesa dos professores; ela continuou seu caminho até o final da mesa e sentou no lugar que seria de Hagrid. Isso significava que os alunos do primeiro ano já haviam cruzado o lago e logo depois as portas do Salão Principal se abriram. Uma longa fila de alunos com caras assustadas entrou, liderada pela professora McGonagall, que estava carregando um banco onde havia um antigo chapéu de bruxo, pesadamente remendado e com um grande rasgo perto da desgastada aba.

O zumbido da fala no Salão Principal acabou. Os alunos do primeiro ano se enfileiraram em frente à mesa de professores e ficaram encarando o resto dos estudantes, a professora McGonagall colocou o banco cuidadosamente à sua frente e então foi para trás.

Os rostos dos alunos do primeiro ano brilharam palidamente sob a luz das velas. Um pequeno garoto no meio da fila pareceu que estava tremendo. Harry relembrou, passageiramente, como ele tinha ficado aterrorizado quando estivera lá, esperando pelo desconhecido teste que determinaria a casa a qual pertenceria.

Toda a escola esperava com uma respiração reduzida. Então o rasgo perto da aba abriu, como se fosse uma boca, e o Chapéu Seletor entoou numa música:

"Em tempos antigos, quando eu era novo

E Hogwarts mal havia começado

Os fundadores dessa nobre escola

Achavam que nunca se separariam:

Unidos por um objetivo comum,

Eles tinha a mesma aspiração,

Fazer a melhor escola de magia do mundo

E passaram todo o conhecimento deles.

'Juntos nós construímos e ensinamos'

Os quatro bons amigos decidiram

E nunca sonharam que eles

Seriam divididos algum dia,

Pois onde poderia haver amigos

Como Slytherin e Gryffindor?

A não ser se fosse o segundo par

De Hufflepuff e Ravenclaw?

Então como pode ter dado tão errado?

Como pode tal amizade falhar?

Bem, eu estava lá e posso contar

Todo o triste, pesaroso conto.

Disse Slytherin 'Nós ensinaremos apenas aqueles

Cujo ancestral é puro'

Disse Ravenclaw 'Nós ensinaremos aqueles

Cuja Inteligência é perfeita'

Disse Gryffindor 'Nós ensinaremos todos aqueles

Com bravos atos em seu nome'

Disse Hufflepuff 'Ensinarei a laia,

E os tratarei como iguais.'

Essas diferenças causaram poucas discussão

Quando pela primeira vez vieram à luz,

Pois cada um dos fundadores tinha

Uma casa em que podiam

Pegar somente o que ele queriam, então,

De início, Slytherin

Pegou somente bruxos de sangue puro

De grande astúcia, que nem a ele,

E apenas aqueles com a mente afiada

Eram ensinados por Ravenclaw

Enquanto os mais bravos e destemidos

Foram com o audacioso Gryffindor.

Boa Hufflepuff, ela pegou o resto,

E ensinou a eles tudo que sabia,

No entanto as casas e seus fundadores

Permaneceram com a amizade firme e verdadeira.

Então Hogwarts trabalhou em harmonia

Por muitos felizes anos

Mas então a discórdia cresceu entre nós

Alimentando nossas falhas e medos.

E as casas, que como quatro pilares

Tinham uma vez segurado nossa escola,

Agora se viraram uma contra a outra,

Divididas, procuravam dominar.

E por um tempo parecia que a escola

Encontraria um fim próximo,

O que com duelos e lutas

E a colisão de amigos com amigos

E então veio a manhã

Em que o velho Slytherin partiu

E então a luta morreu

Ele saiu bem magoado

E nunca, desde os quatros fundadores

Que foram reduzidos a três,

Tiveram as casas unidas

Como elas uma vez foram.

E agora o Chapéu Seletor está aqui

E todos vocês sabem o porquê:

E selecionarei vocês nas casas

Porque é por isso que eu estou aqui,

Mas esse ano eu irei mais longe,

Ouçam atentamente a minha canção:

Mesmo que condenem, eu separarei vocês

Ainda que eu ache isso errado,

Mas eu devo completar meu propósito

E devo dividi-los em quatro todo ano

Ainda eu espero que seja qual for a seleção

Não traga o fim que temo.

Oh, saiba os perigos, leia os sinais,

A história de aviso mostra,

Que nossa Hogwarts está em perigo

De externos, mortais inimigos

E nós devemos nos unir dentro dela

Ou nós iremos nos despedaçar

Eu os falei, eu os avisei...

Agora que a seleção comece.

O Chapéu ficou parado outra vez; aplausos surgiram, mas dessa vez vieram - pela primeira vez na memória de Harry - com murmúrios e sussurros. Por todo o Salão Principal alunos estavam trocando comentários com os seus vizinhos, e Harry, aplaudindo como todo mundo, sabiam exatamente o que todos estavam dizendo.

- Ele aumentou um pouco esse ano, não? - disse Rony, com seus olhos castanhos levantados.

- Com certeza que sim - disse Harry.

O Chapéu Seletor geralmente se confinava a descrever as diferentes qualidades procuradas por cada uma das quatro casas de Hogwarts e em seu próprio papel de sorteá-las. Harry não pôde lembrar de ter tentado dar um conselho à escola antes.

- Estive pensando se ele já deu avisos antes? - disse Hermione, soando um pouco ansiosa.

- Sim, já - disse Nick Quase Sem Cabeça, entendido, atravessando Neville na direção dela (Neville estremeceu; era muito desconfortável ter um fantasma atravessando você). - O Chapéu acha uma questão de honra dar à escola um aviso sempre que ele achar...

Mas a professora McGonagall, que estava esperando para ler as lista dos nomes dos alunos do primeiro ano, dava aos estudantes que cochichavam um olhar que chamuscava. Nick Quase Sem Cabeça colocou um dedo transparente em seus lábios e sentou ereto de novo enquanto o murmúrio chegou a um abrupto fim. Com um último olhar carrancudo que varreu as mesas das casas, a professora McGonagall abaixou seus olhos para o longo pedaço de pergaminho e chamou o primeiro nome.

- Abercrombie, Euan.

O garoto, que parecia aterrorizado e que Harry tinha visto antes, tropeçou para frente e colocou o Chapéu em sua cabeça; ele só não caiu direto em seus ombros devido às suas orelhas bastantes proeminentes. O Chapéu pensou por um momento e então o rasgo perto da aba abriu e gritou:

- Grifinória!

Harry aplaudiu altamente com o resto da Grifinória enquanto Euan Abercrombie cambaleou até a mesa e se sentou, olhando como se gostaria de afundar na mesa e nunca mais ser olhado.

Vagarosamente, a longa fila de alunos do primeiro ano diminuiu. Nas pausas entre os nomes e as decisões do Chapéu Seletor, Harry podia ouvir o estômago de Rony roncando alto. Finalmente, "Zeller, Rose" foi sorteada pra Lufa-Lufa, a professora McGonagall pegou o Chapéu e o banco e os levou para fora enquanto o professor Dumbledore ficava de pé.

Mesmo com seus recentes sentimentos amargos em relação ao diretor, Harry ficou de alguma forma aliviado de vê-lo erguido diante de todos. Diante da ausência de Hagrid e da presença daqueles cavalos "dragonídeos", sentiu que seu retorno a Hogwarts, há tanto previsto, estava cheio de surpresas inesperadas, como notas discordantes numa música familiar. Mas isto, pelo menos, era como deveria ser: o diretor da escola se levantando para dar as boas-vindas antes do início do banquete de início do trimestre.

- Para os nossos novatos - disse Dumbledore numa voz titilar, seus braços bem abertos e um alegre sorriso em seus lábios -, bem-vindos! Para os nossos alunos antigos. Bem-vindos de volta! Há uma hora para fazer discursos, mas não é agora. Sirvam-se!

Houve uma gargalhada apreciativa e uma onda de aplausos quando Dumbledore sentou destramente e jogou suas longas barbas sobre os ombros para que ficassem longe de seu prato - pois a comida tinha aparecido do nada, então as cinco longas mesas estavam gemendo sobre carnes e tortas e pratos de vegetais, pães e molhos e garrafas de suco de abóbora.

- Excelente - disse Rony, com um tipo de gemido pela espera, e se apoderou da prataria mais próxima de costeletas e começou a pilhá-las em seu prato, observado ansiosamente Nick Quase Sem Cabeça.

- O que você estava dizendo antes da Seleção? - Hermione perguntou ao fantasma. - Sobre o Chapéu dar avisos?

- Ah sim - disse Nick, que parecia feliz por ter uma razão para se virar de Rony, que agora comia tomates assados com quase o mesmo indecente entusiasmo. - Sim, eu já tinha visto o Chapéu dar vários avisos antes, sempre em tempos em que ele detectava períodos de grande perigo para a escola. E sempre, é claro, seu conselho era o mesmo: fiquem juntos, sejam fortes daqui pra frente.

- Omo le pudi zaber qui iscolaestaem peio selechapeu? - disse Rony.

Sua boca estava tão cheia que Harry achou um grande feito para ele conseguir fazer qualquer som.

- O que foi que você disse? - Nick Quase Sem Cabeça educadamente, enquanto Hermione parecia revoltada. Rony deu uma enorme engolida e disse.

- Como ele pode saber se a escola está em perigo se ele é um Chapéu?

- Eu não tenho idéia - disse Nick Quase Sem Cabeça. - Mas, claro, se ele vive no escritório de Dumbledore, então eu temo dizer que ele pega coisas lá em cima.

- E ele quer que todas as casas sejam amigas? - disse Harry, olhando para a mesa de Sonserina, onde Draco Malfoy estava em sua corte de influência. - Grande chance.

- Bem, agora, você não deveria ter essa atitude - disse Nick, reprovando-o. - Cooperação pacífica, essa é a chave. Nós, fantasmas, mesmo pertencendo a casas diferentes, mantemos vínculos de amizade. Devido às competitividades entre Grifinória e Sonserina, eu jamais sonharia em procurar um argumento com o Barão Sangrento,

- Somente porque você está assustado com ele - disse Rony.

Nick Quase Sem Cabeça pareceu muito insultado.

- Assustado? Eu digo que eu, Sir Nicholas de Mimsy-Porpington, nunca fui culpado de covardia em minha vida! O sangue nobre que corre em minhas veias...

- Que sangue? - perguntou Rony. - Com certeza você não tem mais nenhum...?

- É uma figura de linguagem! - disse Nick Quase Sem Cabeça, agora tão aborrecido que sua cabeça tremia sinistramente em seu pescoço parcialmente cortado. - Eu assumo que ainda estou permitido ao prazer de usar qualquer palavra que eu goste, mesmo que os prazeres de comer e beber me sejam negados! Mas eu estou bem acostumado a alunos fazendo graça da minha morte, eu te garanto!

- Nick, na verdade ele não estava rindo de você! - disse Hermione, jogando um olhar furioso a Rony.

Infelizmente, a boca de Rony estava cheia a ponto de explodir de novo e tudo o que ele pôde tentar falar foi:

- Eunão stavarindo dvocê - o que não pareceu a Nick constituir uma desculpa apropriada.

Levantando-se ao ar, ele ajeitou seu chapéu de penas e se distanciou até o outro lado da mesa, vindo a descansar entre os irmãos Creevey, Colin e Dennis.

- Muito bem, Rony - disse subitamente Hermione.

- O quê? - disse Rony indignado, tendo conseguido, finalmente, conseguido engolir sua comida. - Não posso fazer nem uma simples pergunta agora?

- Ah, esquece - disse Hermione irritada, e os dois passaram o resto da refeição num insolente silêncio.

Harry estava bem acostumado com a disputas deles para se preocupar em reconciliá-los; achou melhor usar esse tempo para comer fixamente seu bife e sua torta de rim, e então um grande pedaço de sua favorita torta de melaço.

Quando todos os estudantes terminaram de comer e o nível de barulho no Salão tinha começado a aumentar de novo, Dumbledore ficou de pé mais uma vez. O falatório cessou imediatamente e todos viraram seus rostos para o diretor da Escola. Harry estava se sentindo agradavelmente sonolento agora, sua cama estava lhe esperando lá em cima maravilhosamente quente e macia...

- Bem, agora que estamos todos digerindo outro magnífico banquete, peço uns poucos momentos de sua atenção para os nossos usuais avisos início de ano - disse Dumbledore. - Alunos do primeiro ano devem saber que a floresta do terreno é terminantemente proibida para alunos. E uns poucos de nossos alunos mais velhos devem estar sabendo agora também - Harry, Rony e Hermione trocaram sorrisos. - Sr. Filch, o zelador, me pediu, pelo que ele me disse é a quadricentésima sexagésima segunda vez, para lembrá-los que mágica não é permitida nos corredores entre classes, nem um monte de outras coisas, todas podem ser checadas na extensa lista que agora fica fixada na porta do escritório do Sr. Filch. Nós tivemos duas mudanças na equipe de professores esse ano. Estamos muito felizes em dar as boas-vindas de volta à professora Grubbly-Plank, que estará dando aulas de Trato das Criaturas Mágicas; também estamos encantados de apresentar a professora Umbridge, nossa nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas.

Houve uma onda de educados e sem entusiasmo aplausos, durante a qual Harry, Rony e Hermione trocaram olhares com um pouco de pânico; Dumbledore não tinha dito por quanto tempo Grubbly-Plank estaria lecionando. Dumbledore continuou.

- Tentativas para os times de Quadribol das casas serão...

Ele parou, olhando curiosamente para a professora Umbridge. Ela não era muito mais alta em pé do que sentada, houve um momento em que ninguém entendeu o porquê de Dumbledore ter parado de falar, mas então a professora Umbridge limpou sua garganta - Hum, hum - e ficou claro que ela ficou de pé e estava querendo fazer um discurso.

Dumbledore apenas olhou e ficou confuso, então se sentou espertamente e olhou em alerta para a professora Umbridge, como se não tivesse desejado nada melhor que ouvi-la. Outros membros da equipe não eram tão adeptos a esconder suas surpresas. Os olhos castanhos da professora Sprout desapareceram em seus cabelos e a boca da professora McGonagall ficou tão fina quanto Harry nunca tinha visto. Nenhum professor novo tinha interrompido Dumbledore antes. Muitos estudantes estavam cochichando; essa mulher com certeza não sabia como as coisas eram feitas em Hogwarts.

- Obrigada, diretor - a professora Umbridge disse, sorrindo - por essas educadas palavras de boas-vindas.

Sua voz era muito melancólica, ofegante e parecida com a de uma garotinha e, de novo, Harry sentiu um poderoso ímpeto de desgosto que não podia explicar para si mesmo; tudo o que sabia é que tinha odiado tudo sobre ela, desde sua estúpida voz até ao peludo cardigã rosa. Ela deu mais uma pequena tosse de limpar a garganta ("hum, hum") e continuou.

- Bem, é adorável estar de volta a Hogwarts, e devo dizer! - sorriu, revelando dentes bastante pontudos. - E ver rostos tão felizes olhando para mim!

Harry olhou em volta. Nenhum dos rostos que podia ver pareciam felizes. Pelo contrário, todos pareciam confusos em serem tratados como se tivessem cinco anos de idade.

- Eu estou realmente esperando conhecer todos vocês e estou certa que seremos ótimos amigos!

Estudantes trocaram olhares com isso; alguns estavam mal concedendo caretas.

- Eu serei amiga dela enquanto eu não tiver que usar aquele cardigã - Pavarti sussurrou para Lilá e ambas delas caíram em silenciosas gargalhadas.

A professora Umbridge limpou sua garganta de novo ("hum, hum"), mas quando continuou sua voz não parecia mais ofegante. Parecia muita mais como a de alguém de negócios e suas palavras tinham um monótono som de tê-las aprendido de cor.

- O Ministro da Magia sempre considerou a educação de jovens bruxos e bruxas de vital importância. Os raros dons com os quais vocês nasceram poderiam não servir para nada se não fossem nutridos e afiados por instruções cuidadosas. As habilidades anciãs exclusivas para a comunidade de bruxos devem ser passadas por gerações pois podemos perdê-las para sempre. O tesouro guardado pelo conhecimento mágico passado por nossos ancestrais deve ser guardado, reabastecido e polido por aqueles que foram escolhidos para a nobre profissão de lecionar.

A professora Umbridge pausou e fez uma pequena referência para seus colegas de equipe, nenhum deles referenciou de volta. Os olhos castanhos escuro da professora McGonagall tinham se contraído tanto que eles positivamente pareciam com os de um falcão, e Harry distintamente a viu trocar um significante olhar com a professora Sprout enquanto Umbridge deu outro pequeno "hum, hum" e voltou para seu discurso.

- Cada diretor e diretora de Hogwarts tem trazido algo de novo para a pesada tarefa de governar essa histórica escola, e assim é que deveria ser, pois sem progresso haveria estagnação e decadência. Há de novo, progresso por fazer progresso deve ser desencorajado, pois nossas tentadas e testadas tradições geralmente não requerem mudanças. Um balanço então, entre velho e novo, entre permanecer e mudar, entre tradição e inovação...

Harry viu sua atenção decaindo, como seu cérebro saísse e voltasse de uma canção. O silêncio que sempre se enchia no Salão quando Dumbledore estava falando estava sumindo enquanto alunos colocavam as cabeças juntos, cochichando e murmurando. Na mesa da Corvinal, Cho Chang estava tagarelando animadamente com usas amigas. A uns poucos assentos depois de Cho, Luna Lovegood tinha tirado o The Quibbler de novo. Nesse instante, na mesa da Lufa-lufa, Ernie MacMillan era um dos poucos que ainda olhava para a professora Umbridge, mas usava óculos e tinha certeza que estava apenas fingindo que ouvia apenas para fazer valer seu novo distintivo de monitor brilhando em seu peito.

A professora Umbridge parecia nem ter percebido a inquietação de sua platéia. Harry teve a impressão que uma revolta de grande escala podia ter surgido sobre seu nariz que teria continuado com seu discurso. Os professores, no entanto, ainda estavam prestando bastante atenção e Hermione parecia estar bebendo cada palavra que Umbridge dizia, ainda que, julgando pela sua expressão, não era de jeito nenhum de seu gosto.

- ...Porque algumas mudanças virão para melhor, enquanto outras virão, ao completar o tempo, a ser reconhecidas como erros de julgamento. Enquanto isso, alguns velhos hábitos serão mantidos, e com o mesmo direito, haverá outros, fora de moda e fora de gasto que devem ser abandonados. Vamos ir para frente, então, entrem numa era de aberturas, efetividade e acontabilidade, com o intento de preservar o que deve ser preservado e aperfeiçoar o que deve ser aperfeiçoado, podendo sempre que acharmos práticas que deveriam ser proibidas.

Ela sentou. Dumbledore aplaudiu. O corpo docente seguiu sua liderança, no entanto Harry percebeu que muitos juntaram suas mãos apenas uma ou duas vezes antes de parar. Uns poucos estudantes se juntaram, mas a maioria tinha ficado desavisados no final do discurso, não tendo ouvido mais que algumas poucas palavras dele, e antes de pudessem aplaudir propriamente Dumbledore tinha se levantado de novo.

- Muito obrigado professora Umbridge, isso foi bastante esclarecedor - ele disse, referenciando-se. - Agora, como eu estava dizendo, seleções de Quadribol serão...

- Sim, foi realmente esclarecedor - disse Hermione numa voz baixa.

- Você não está me dizendo que gostou? - Rony disse quietamente, virando um rosto evidraçado em Hermione. - Este foi um dos discursos mais chatos que eu já ouvi, e eu cresci com Percy.

- Eu disse esclarecedor, não agradável - disse Hermione. - Ela explicou muito.

- Foi? - disse Harry em surpresa. - Soou como um monte de bobeira para mim.

- Havia coisas importantes escondidas nessas bobeiras - disse Hermione espantada.

- Tinha? - disse Rony, empalidecendo.

- Que tal: "progresso por fazer progresso deve ser desencorajado"? Ou então "podendo sempre que acharmos práticas que deveriam ser proibidas"?

- Bem, o que isso significa? - disse Rony impacientemente.

- Eu vou dizer o que isso significa - disse Hermione por entre os dentes, que rangiam. - Isso significa que o Ministério está interferindo em Hogwarts.

Houve uma grande barulheira ao redor deles; Dumbledore tinha obviamente dispensado a escola, porque todos estavam de pé prontos para deixar o Salão. Hermione pulou, parecendo perturbada.

- Rony, nós deveríamos estar mostrando aos calouros aonde eles devem ir!

- Ah é - disse Rony, que tinha obviamente esquecido. - Hey... hey, vocês! Pigmeus!

- Rony!

- Bem, eles são, eles são baixinhos...

- Eu sei, mas você não pode chamá-los de pigmeus! Novatos! - Hermione os chamou, comandando-os pela mesa. - Por aqui, por favor!

Um grupo de novos estudantes andou timidamente pelo espaço entre a mesa da Grifinória e Lufa-lufa, todos dificilmente tentando não liderar o grupo. Realmente pareciam muito pequenos; Harry estava certo que não parecia tão novo quando chegara ali. Fez caretas a eles. Um garoto loiro próximo a Euan Abercrombie petrificado cutucou Euan e cochichou algo em seu ouvido. Euan Abercrombie olhou igualmente assustado e roubou um olhar horrorizado de Harry, que sentiu a careta desaparecer de seu rosto como bombas de bosta.

- Vejo vocês depois - ele disse monotonamente para Rony e Hermione e fez seu caminho fora do Salão Principal sozinho, fazendo tudo o que podia para ignorar mais cochichos, olhares e apontamentos enquanto ele passava.

Mantinha seus olhos fixos enquanto cortava seu caminho pela multidão na Saguão de Entrada, correu pela escadaria, pegou alguns atalhos de caminhos conhecidos e logo deixou a maior parte da multidão para trás.

Tinha sido estúpido em não esperar por isso, pensou raivosamente pelos corredores muito mais vazios acima das escadas. Claro que todos olhavam para ele; tinha emergido do labirinto do Tribruxo dois meses atrás carregando o corpo morto de um amigo estudante e clamando que viu Lord Voldemort retornar ao poder. Não houve tempo no último ano para se explicar antes de todos terem ido pra casa - mesmo que tivesse tido vontade de dar a toda a escola um detalhado conto sobre os terríveis acontecimentos naquele cemitério.

Harry alcançou o final do corredor da sala da Grifinória e parou em frente do retrato de uma Mulher Gorda antes de perceber que não sabia a nova senha...

- Er... - disse sonsamente, olhando para a Mulher Gorda, que amaciava as bordas de seu vestido rosa e olhava seriamente a ele.

- Sem senha, sem entrada - ela disse elevadamente.

- Harry, eu sei! - alguém apareceu atrás dele e Harry virou para ver Neville passando à sua frente. - Adivinhe o que é? Na verdade eu serei apto a lembrar de uma vez por todas... - ele balançou o estonteado pequeno cacto que tinha mostrado no trem. - Mimbuius mimbletonia!

- Correto - disse a Mulher Gorda e seu retrato se abriu para frente deles como uma porta, revelando um buraco circular na parede atrás, o qual Harry e Neville agora escalavam.

A sala da Grifinória parecia tão bem-vinda como nunca, uma sala torre circular acolhedora cheia de dilapidadas e esmagadas poltronas e desconjuntadas velhas mesas. Um fogo estalava alegremente numa grelha e algumas poucas pessoas estavam aquecendo suas mãos nele antes de irem para seus dormitórios; do outro lado da sala Fred e Jorge Weasley estavam pendurando algo no quadro de notícias. Harry deu boa noite a eles e foi direto para a porta dos dormitórios dos garotos; não estava com muito humor para conversas no momento. Neville o seguiu.

Dino Thomas e Simas Finnigan tinham alcançado o dormitório antes e estavam no processo de cobrir as paredes ao lado de suas camas com pôsteres e fotografias. Estavam conversando quando Harry empurrou para abrir a porta mas pararam abruptamente no momento em que o avistaram. Harry imaginou se eles estiveram falando de si ou estava ficando paranóico.

- Oi - disse, movendo-se para seu próprio malão e abrindo-o.

- Hey, Harry - disse Dino, que estava colocando um par de pijamas nas cores do West Ham. - Boas férias?

- Não foi ruim - murmurou Harry, como se a verdade sobre suas férias teria pegado a maior parte da noite para relatar e não podia encarar. - Você?

- É, foi ok - disse Dino com um riso contido. - Melhor que Simas, de qualquer forma, ele estava me falando agora mesmo.

- Por quê, o que aconteceu, Simas? - Neville perguntou enquanto colocava sua Mimbuius mimbletonia carinhosamente no armário ao lado da cama.

Simas não respondeu imediatamente, estava perdendo bastante tempo se assegurando que seu pôster do time de quadribol Kenmare Kestrels estava bem certo. Então disse, com as costas ainda viradas para Harry.

- Minha mãe não queria que eu voltasse.

- O quê? disse Harry, pausando o ato de tirar suas vestes.

- Ela não me queria de volta em Hogwarts.

Simas se distanciou de seu pôster e tirou seu pijama do seu malão, ainda não olhando para Harry.

- Mas... Por quê? - disse Harry, assombrado. Sabia que a mãe de Simas era uma bruxa e não podia entender, entretanto, o porquê de ela ter ficado tão parecida com os Dursley.

Simas não respondeu até ter terminado de abotoar seus pijamas.

- Bem - ele disse com uma voz medida. - Eu acho... Que é por causa de você.

- O que você que dizer? - disse Harry rapidamente.

Seu coração batia bem rápido. Sentiu vagamente que algo se aproximava.

- Bem - disse Simas de novo, ainda evitando os olhos de Harry. - Ela... Er... Bem, não é apenas você, é Dumbledore, também...

- Ela acredita no Profeta Diário. Ela acha que eu sou um mentiroso e que Dumbledore é um velho tolo?

Simas o olhou.

- É, algo assim.

Harry não disse nada. Jogou sua varinha na mesa ao lado da cama, tirou suas vestes, juntou-os nervoso em seu malão e tirou seus pijamas. Estava cansado disso: cansou de ser a pessoa que todos olhavam e falavam sobre todo o tempo. Se algum deles soubesse, se algum deles tivesse a menor idéia do que era se sentir ser o único em qual todas essas coisas aconteceram... A Sra. Finnigan não tinha idéia, aquela mulher estúpida, pensou raivosamente.

Foi para a cama e ia puxar as cobertas em volta de si mas antes de fazê-lo Simas disse.

- Olha... O que aconteceu naquela noite quando... Você sabe, quando... Com Cedrico Diggory e tudo o mais?

Simas soava nervoso e ansioso ao mesmo tempo. Dino, que estava juntando suas coisas para pegar um chinelo, ficou estranhamente parado e Harry sabia que ele ouvia tudo.

- Pra que você me pergunta? - Harry replicou. - Apenas leia ao Profeta Diário como sua mãe, por que não? Ele lhe dirá tudo o que você precisa saber.

- Você não precisa falar da minha mãe - Simas devolveu.

- Eu falarei de qualquer um que me chame de mentiroso.

- Não fale assim comigo!

- Eu falo com você do jeito que eu quiser - disse Harry, com seu temperamento subindo tão rápido que agarrou sua varinha de volta da mesa. - Se você tem um problemas em dividir um dormitório comigo, vá e pergunta a McGonagall se você pode mudar... Pare de preocupar sua mamãezinha.

- Deixe minha mãe fora disso, Potter!

- O que está acontecendo?

Rony tinha aparecido na porta. Seus longos olhos passaram por Harry, que estava ajoelhado em sua cama com a varinha apontada para Simas, para Simas, que estava em pé com seus punhos levantados.

- Ele está falando da minha mãe! - Simas gritou.

- O quê? - disse Rony. - Harry não faria isso. Nós conhecemos sua mãe, gostamos dela...

- Isso era antes de ela começar a acreditar em cada palavra que aquele fedorento do Profeta Diário escreve de mim! - disse Harry no topo de sua voz.

- Ah - disse Rony, uma linha de compreensão se desenhou sobre seu rosto sardento. - Ah... Certo.

- Você sabe o quê? - disse Simas quente, dando a Harry um olhar venenoso. - Ele está certo, eu não quero mais dividir o dormitório com ele mais, ele é louco!

- Isto está fora de questão, Simas - disse Rony, cuja orelhas começavam a ficar vermelhas, o que era sempre um sinal de perigo.

- Fora de questão? - gritou Simas, que em contraste a Rony estava pálido. - Você acredita nas besteiras que ele fala sobre Você-Sabe-Quem, não é? Você acha que ele está falando a verdade?

- Sim, eu acho - disse Rony, nervoso.

- Então você é louco também - disse Simas com desgosto.

- É? Bem, infelizmente para você, amigo, eu também sou monitor! - disse Rony, mirando a si mesmo no peito com o dedo. - Então a não ser que você queira uma detenção olhe o palavreado comigo!

Simas olhou por uns segundos como se detenção fosse um preço razoável a pagar para dizer o que estava passando pela sua mente; mas com um som de contentamento virou seus calcanhares, caiu na cama e puxou as cobertas com tanta violência que foram arrancadas da cama e caíram numa empoeirada pilha no chão. Rony encarou Simas, então olhou Dino e Neville.

- O pais de mais alguém têm algo contra Harry? - disse agressivamente.

- Meus pais são trouxas, cara - disse Dino, encolhendo os ombros. - Eles não sabem nada sobre mortes em Hogwarts, porque eu não sou idiota de falar para eles.

- Você não conhece minha mãe. Ela descobre qualquer coisa de qualquer pessoa! - Simas revidou. - De qualquer forma, seus pais não lêem o Profeta Diário, não sabem que nosso diretor foi expulso de Wizengamot e da Confederação Internacional de Bruxos porque ele está perdendo sua sanidade...

- Minha avó diz que isso é mentira - interrompeu Neville. - Ela disse que é o Profeta Diário que está decaindo, não Dumbledore. Ela cancelou nossa assinatura. Nós acreditamos em Harry - disse Neville simplesmente. Subiu em sua cama e puxou a coberta até seu queixo, olhando como uma coruja até Simas. - Meus avós sempre disseram que Você-Sabe-Quem voltaria um dia. Ela disse que se Dumbledore diz que ele voltou, ele voltou.

Harry sentiu um ímpeto de gratidão em relação a Neville. Ninguém mais falou nada. Simas pegou sua varinha, consertou a coberta da cama e sumiu atrás delas. Dino foi para cama, rolou sobre ela e caiu em silêncio. Neville, que parecia não ter mais nada a dizer também, estava contemplando fixamente seu enluarado cacto.

Harry caiu sobre seu travesseiro enquanto Rony caminhou para a próxima cama, colocando suas coisas. Ele levantou, tremendo pela briga com Simas, de quem sempre tinha gostado muito. Quantas pessoas sugeririam que ele estava mentindo, ou inventando?

Tinha Dumbledore sofrido tudo isso o verão, primeiro com o Wizengamot, depois com a Confederação Internacional de Bruxos, expulsando-o de seu lugar? Estavam ele furiosos com Harry, talvez, que fez Dumbledore parar de mantê-lo informado por meses? Os dois estavam nisso juntos, no final das contas. Dumbledore tinha acreditado em Harry, anunciando sua versão da história por toda a escola e então para toda comunidade de bruxos. Qualquer um que achasse que Harry era um mentiroso tinha que achar que Dumbledore também era ou então que o diretor ficou maluco...

"Eles verão que nós estamos certos no final", pensou Harry miseravelmente, foi para a cama e apagou a última vela no dormitório. Mas imaginou quantos outros ataques como esse de Simas teria que agüentar até que essa hora viesse.

-- CAPITULO 12 --
PROFESSORA UMBRIDGE


Simas se vestiu a toda velocidade na manhã seguinte e deixou o dormitório antes mesmo de Harry pôr suas meias.

- Ele acha que vai virar um NUTTER se ficar na mesma sala que eu muito tempo? - Harry perguntou alto enquanto a bainha da capa de Simas saía de vista.

- Não esquenta com isso Harry - Dino murmurou enquanto encaixava sua mochila em seus ombros. - Ele só está...

Mas aparentemente ele era incapaz de dizer exatamente como Simas estava, e depois de uma pequena e embaraçosa pausa também saiu do dormitório.

Neville e Rony deram a Harry aquele olhar de é-problema-dele-não-seu, mas ele não se consolou muito. Quanto mais disso teria que agüentar?

- Qual o problema? - Hermione perguntou quando os encontrou no meio da sala comunal enquanto se dirigiam para o café da manhã. - Você está parecendo... Oh, tenha santa paciência...

Ela estava olhando para o quadro de avisos, onde um novo e grande cartaz havia sido pregado.

"GALÕES DE GALEÕES - Sua mesada não dá para o gasto? Gostaria de ganhar uma graninha extra? Entre em contato com Fred e Jorge Weasley, sala comunal da Grifinória, para um simples, de pouco tempo, e virtualmente indolor trabalho (lastimamos que todo trabalho será por sua conta e risco)."

- Eles estão no limite - Hermione falou severamente, arrancando o cartaz que Fred e Jorge tinham pendurado por cima de um pôster informativo sobre o primeiro fim de semana em Hogsmeade, que seria em outubro. - Nós temos que falar com eles, Rony.

Rony ficou positivamente alarmado.

- Por quê?

- Porque nós somos monitores! - disse hermione enquanto saíam pelo buraco do retrato. - Nós temos que impedir esse tipo de coisa!

Rony não disse nada; Harry podia dizer pela sua cara que a perspectiva de impedir Fred e Jorge de fazer exatamente o que queriam não era nem um pouco atraente.

- Bom... O que tá acontecendo Harry? - Hermione continuou, enquanto desciam correndo as escadas cheias de retratos de bruxas e bruxos antigos, todos os ignorando e entretidos em suas próprias conversas. - Você parece mesmo brabo com algo.

- Simas pensa que Harry está mentindo sobre Você-Sabe-Quem - disse Rony brevemente, quando Harry não respondeu.

Hermione, que Harry esperava reagir agressivamente em sua defesa, suspirou.

- É, Lilá pensa assim também - disse abatida.

- Estava tendo uma boa conversinha com ela sobre se eu estou ou não mentindo, mimado chamando atenção, não é? - disse Harry alto.

- Não - Hermione disse calmamente -, na verdade eu disse pra ela ficar com a grande e gorda boca dela fechada sobre você. E seria muito bom se você parece de pular no nosso pescoço, Harry, porque se você ainda não percebeu, Rony e eu estamos do seu lado.

Houve uma curta pausa.

- Desculpem - disse Harry baixinho.

- Tá tudo bem - disse Hermione com dignidade. Então ela balançou sua cabeça. - Você não lembra o que Dumbledore disse na festa do fim do período letivo?

Harry e Rony olharam pra ela sem ação e Hermione suspirou de novo.

- Sobre Você-Sabe-Quem. Ele disse que "seu talento para disseminar a desarmonia e a inimizade é grande". Nós podemos lutar contra isso somente se mostrarmos um grande laço de amizade e verdade igualmente forte.

- Você se lembra dessas coisas? - perguntou Rony, olhando para ela com admiração.

- Eu escuto Rony - disse Hermione com um pouco de aspereza.

- Eu também, mas eu não posso dizer exatamente o quê.

- A questão - Hermione continuou mais alto - é exatamente sobre isso que Dumbledore falava. Você-Sabe-Quem só está de volta há dois meses e nós já estamos lutando uns contra os outros. E o Chapéu Seletor disse a mesma coisa, fiquem juntos, sejam unidos.

- Harry sentiu isso mesmo a noite passada -  rebateu Rony. -  Se isso quer dizer que devemos nos misturar com a Sonserina... Esqueça.

- Bem, eu acho que é uma pena não tentarmos uma união entre as casas - disse Hermione irritada.

Eles chegaram ao fim da escada de mármore. Uma fileira de alunos do quarto ano da Corvinal cruzavam o hall de entrada; viram Harry e se apressaram a formar um grupo mais unido, como se tivessem medo de ele atacá-los.

- Tá, a gente tem mesmo que tentar ser amigos de gente como essa aí - Harry falou, sarcástico.

Seguiram os alunos da Corvinal para o Salão Principal, todos olhando instintivamente para a mesa dos professores. A professora Grubbly-Plank estava conversando com a professora Sinistra, a professora de Astronomia, e Hagrid mais uma vez estava ausente. O teto encantado sobre eles combinava com o humor de Harry; estava com um miserável cinza-chuva.

- Dumbledore nem mencionou por quanto tempo essa Grubbly-Plank vai ficar? - ele disse enquanto abriam caminho para a mesa da Grifinória.

- Talvez... - disse hermione pensativamente.

- O quê? - perguntaram Rony e Harry ao mesmo tempo.

- Bem... Talvez ele não queira chamar atenção para o fato de Hagrid não estar aqui.

- O que você quer dizer com chamar a atenção? - disse Rony meio rindo. - Como a gente deixaria de reparar?

Antes de Hermione poder responder uma garota negra, alta, com um longa trança marchou em direção de Harry.

- Oi Angelina.

- Oi - disse ela alegremente. - Teve um bom verão? - e sem esperar por uma resposta. - Escuta, eu fui eleita capitã do time de quadribol.

- Legal - disse Harry, sorrindo para ela, achava que as preleções de Angelina como capitã não seriam tão longas como de Olívio Wood, o que só seria uma melhora.

- É, bem, nós precisamos de um novo goleiro agora que Olívio foi embora. Os testes são na sexta-feira às 5 horas e eu quero o time todo lá, certo? Aí vamos ver se o escolhido vai se entrosar.

- Tá bom - disse Harry.

Angelina sorriu e foi embora.

- Eu tinha esquecido que Olívio foi embora - disse Hermione vagamente enquanto sentava ao lado de Rony e puxava um prato de torradas para perto de si. - Eu imagino que vai fazer muito diferença pro time, não?

- É, imagino que sim - disse Harry, sentando do outro lado da mesa. - Ele era um bom goleiro.

- Mesmo assim, não vai fazer mal ter um pouco de sangue novo não acha? - disse Rony.

Com estrépito, centenas de corujas entraram voando pelas janelas superiores. Elas desceram pelo Salão Principal, levando cartas e pacotes para seus donos e respingando água pelos alunos, claramente estava chovendo forte lá fora. Edwiges não estava entre elas, mas Harry não estava nada surpreso; o único correspondente dele era Sirius, e duvidava que Sirius tivesse algo novo para lhe falar depois de somente 24 horas da partida deles. Hermione, no entanto, teve que mover rápido seu copo de suco para o lado para fazer espaço para uma grande coruja de Igreja segurando um Profeta Diário encharcado no bico.

- Por que você ainda está recebendo isso? - disse Harry irritado, pensando em Simas enquanto Hermione colocava um nuque na bolsinha de couro da coruja, que se foi. - Eu não me incomodaria... Um monte de porcaria.

- É sempre melhor saber o que o inimigo está dizendo - disse Hermione sombriamente, desdobrou o jornal e desapareceu atrás dele, não saindo até que Harry e Rony terminaram de comer.

- Nada - ela disse simplesmente, enrolando o jornal e colocando ao lado de seu prato. - Nada sobre você ou sobre Dumbledore ou sobre qualquer coisa.

A professora Minerva estava agora andando entre as mesas, distribuindo os horários.

- Olha só hoje! - gemeu Rony. - História da magia, duas aulas de Poções, Adivinhação e Defesa Contra as Artes das Trevas. Dupla.... Binns, Snape, Trelawney e a tal professora Umbridge, tudo em um dia! Eu queria que Fred e Jorge andassem rápido com aqueles Skiving Snackboxes.

- Meus ouvidos me enganam? - disse Fred, chegando com Jorge e se espremendo no banco ao lado de Harry. - Os monitores de Hogwarts certamente não desejariam perder suas aulas?

- Olha o que a gente tem hoje - disse Rony emburrado, enfiando seu horário de aulas debaixo do nariz de Fred. - Essa é a pior segunda-feira que eu já vi.

- Louvável ponto de vista, mano - disse Fred, olhando o horário. - Você pode ter um pouco de dose de sangra nariz barato se quiser.

- Por que é barato? - disse Rony desconfiado.

- Porque vai ficar sangrando até você murchar, nós ainda não temos o antídoto - disse Jorge, servindo-se de salmão defumado.

- Animador - disse Rony bem humorado, puxando seu horário. - Mas acho que vou assistir às aulas.

- E falando em sua Skiving Snackboxes -  disse Hermione, olhando Fred e Jorge -, vocês não podem colocar cartazes atrás de cobaias no mural da Grifinória.

- Quem disse? - disse Jorge parecendo perplexo.

- Eu digo -  disse Hermione. - E Rony.

- Me deixa fora disso - disse Rony ansiosamente.

Hermione olhou para ele. Fred e Jorge riram.

- Você vai estar cantando outra música logo, logo, Hermione - disse Fred, passando manteiga numa torrada. - Vocês estão começando o quinto ano, vão estar implorando por um Snackbox logo.

- E por que começar o quinto ano significa querer Skiving Snackbox? - perguntou Hermione.

- Quinto ano é ano de N.O.M. - disse Jorge.

- E daí?

- E daí que você tem seus exames de N.O.M.s chegando, não tem? Eles vão fazer vocês enfiarem seus narizes no amolador que eles vão ser esfolados - disse Fred com satisfação.

- Metade da nossa turma teve pequenos colapsos quando chegou o exame - disse Jorge alegremente. - Lágrimas e acessos de raiva. Patricia Stimpson não parava de desmaiar.

- Kenneth Towler se encheu de furúnculos, lembra? - disse Fred rememorando.

- Isso porque você colocou pó de Bulbadox no pijama dele - disse Jorge.

- Ah é - disse Fred sorrindo. -  Eu esqueci... Difícil lembrar de tudo às vezes, não é?

- De qualquer maneira, é um pesadelo de ano, o quinto - disse Jorge. - Se você se importa com os resultados dos exames. Fred e eu demos um jeito de manter o ânimo de qualquer forma.

- Tá... Vocês tiveram... Quanto foi mesmo, 3 N.O.M.s cada um? - disse Rony.

- Isso aí... - disse Fred despreocupado. - Mas nós pensamos que nosso futuro está fora do mundo acadêmico.

- Nós debatemos seriamente se vamos nos incomodar em voltar pro sétimo ano - disse Jorge animadamente.  - Agora que nós temos...

Ele parou ao olhar de aviso de Harry, que sabia que Jorge esteve a ponto de mencionar o prêmio do Torneio Tribruxo que havia dado a eles.

- ...Agora que nós temos nossos N.O.M.s - disse Jorge apressadamente.- Digo, nós precisamos mesmo de N.O.M.s? Mas não achamos que mamãe vai deixar a gente deixar a escola, ainda mais agora com Percy se revelando o maior imbecil do mundo.

- Nós não vamos desperdiçar nosso último ano aqui - disse Fred, olhando carinhosamente para o Salão Principal. - Nós vamos usar esse tempo para fazer um pouco de pesquisa de mercado, descobrir exatamente o que o estudante médio de Hogwarts quer de uma loja de logros, avaliar com cuidado os resultados da nossa pesquisa, e então produzir produtos que se encaixem à demanda.

- Mas onde vocês vão conseguir o ouro para começar a loja de logros? - Hermione perguntou céptica. - Vocês vão precisar de todos materiais e ingredientes, eu suponho...

harry não olhou para os gêmeos. Seu rosto ficou quente; ele deliberadamente derrubou um garfo e mergulhou para baixo para pegá-lo. Ele ouviu Fred por cima de sua cabeça.

- Não nos faça perguntas e nós não te contaremos mentiras, Hermione. Vamos Jorge, se a gente chegar lá cedo vai dar para vender algumas Orelhas Extensíveis antes de Herbologia.

Harry emergiu de baixo da mesa para ver Fred e Jorge indo embora, cada um carregando uma pilha de torradas.

- O que eles quiseram dizer? - disse Hermione, olhando para Harry e Rony. - "Não nos faça perguntas". Isso quer dizer que eles já têm algum ouro pra começar a loja de logros?

- Sabe, eu andei pensando nisso - disse Rony, com as sobrancelhas franzidas. - Eles me compraram um jogo novo de trajes esse verão e eu não consigo entender de onde tiraram os galeões...

Harry decidiu que era hora de desviar a conversa dessas águas perigosas.

- Você acha que esse ano vai ser mesmo duro? Por causa dos exames?

- Ah, claro - disse Rony. - Seguramente tem que ser, não é? N.O.M.s são super importantes, afeta a profissão que você vai seguir e tudo mais. Nós vamos ter também conselheiros para escolha da profissão, no fim do ano, Gui me disse, assim você pode escolher os N.I.E.M.s (Níveis Incrivelmente Exaustivos em Magia) que você vai fazer no próximo ano.

- Você sabe o que você quer fazer depois de Hogwarts? - Harry perguntou para os outros dois, enquanto deixavam o Salão Principal e se dirigiam para a aula de História da Magia.

- Ainda não - disse Rony devagar. - Exceto... Bem... - ele parecia embaraçado.

- O quê? - Harry o apressou.

- Bem , seria legal ser um Auror - disse Rony em uma voz sem cerimônia.

- É, seria sim - disse Harry apaixonadamente.

- Mas, eles são, sabe? Como a elite - disse Rony. - Você tem que ser realmente bom. E você, Hermione?

- Eu não sei. Eu penso que farei algo realmente valoroso.

- Um Auror é valoroso! - disse Harry.

- É, claro que é, mas não é a única coisa que vale a pena - disse pensativa. - Digo, se eu pudesse fazer os exames de N.I.E.M.s mais tarde...

Harry e Rony evitaram se olhar.

História da Magia era de comum acordo o assunto mais enfadonho jamais visto nos meios da magia. O Professor Binns, seu professor fantasma, tinha uma voz asmática e monótona que certamente causava severa sonolência em dez minutos, cinco com o tempo quente. Ele nunca variava sua forma de dar as aulas, nunca fazia uma pausa enquanto olhava os alunos tomarem notas, ou mesmo enquanto olhavam sonolentos para o espaço. Harry e Rony tinham até dado um jeito de passar raspando nessa matéria somente por copiar as notas de Hermione antes dos exames; somente ela parecia apta a resistir ao sonífero poder da voz de Binns.

Naquele dia sofreram uma hora e meia babando em uma aula sobre a guerra dos gigantes. Harry ouviu somente o suficiente dos primeiros 10 minutos para saber que nas mãos de outro professor esse assunto seria muito interessante, mas aí seu cérebro se desconectou e ele passou o restante da um hora e vinte minutos jogando forca com Rony no canto de seu pergaminho, enquanto Hermione dardejava olhares raivosos para eles pelo canto dos seus olhos.

- Como seria - ela perguntou friamente, enquanto eles deixavam a sala de aula para um recesso (Binns desaparecendo através do quadro negro) - se eu me recusasse a emprestar minhas notas pra vocês esse ano?

- Nós seriamos reprovados nos nossos N.O.M.s - disse Rony. - Se você quer isso na sua consciência, Hermione...

- Bem, vocês bem que merecem isso - ela rebateu. - Vocês nem tentam ouvi-lo, tentam?

- Nós tentamos - disse Rony. - Nós só não temos seu cérebro ou sua memória e nem mesmo sua concentração, você é simplesmente mais esperta que nós. Que você acha disso?

- Ah, nem vem com essas besteiras - Hermione disse, mas ela parecia ter amolecido um pouco enquanto os guiava para o pátio.

Uma garoa fina estava caindo então os alunos estavam pelos cantos do pátio, que estava abarrotados. Harry, Rony e Hermione escolheram um canto debaixo de um balcão gotejante, levantando as golas das suas capas contra o frio ar de setembro e falando sobre o que possivelmente Snape lhes daria como primeira aula do ano. Concordaram que com certeza seria algo de extrema dificuldade, só para pegá-los com a guarda abaixada depois de dois meses de férias, e de repente alguém virou a esquina e foi em direção a eles.

- Olá Harry!

Era Cho Chang e, o que era fantástico, estava só outra vez. Isso não era normal: Cho estava quase sempre cercada por um bando de meninas risonhas; Harry lembrava da agonia que tinha sido tentar pegá-la sozinha para convidá-la para o Baile de Inverno.

- Oi - Harry disse, sentindo seu rosto pegar fogo. "Ao menos você não está coberto de gosma dessa vez", ele pensou consigo. Cho parecia pensar a mesma coisa.

- Você conseguiu se livrar daquilo então?

- É - disse Harry, tentando sorrir como se a lembrança do último encontro deles fosse engraçada em vez de mortificante. - Eh, e então você teve... Um... Bom verão?

No momento que ele disse isso desejou ter ficado de boca fechada - Cedrico fora namorado de Cho e a memória de sua morte devia ter afetado as férias dela tanto quanto afetara a sua.

O rosto de Cho se retesou, mas ela disse.

- Oh, foi tudo bem, você sabe...

- Esse é um distintivo dos Tornados? - Rony perguntou subitamente, apontando para a capa de Cho, onde um distintivo azul céu decorado com um duplo T estava preso. - Você não torce por eles, torce?

- Sim, eu torço - disse Cho.

- Você sempre torceu por eles ou só agora que eles começaram a ganhar? - disse Rony, no que Harry considerou uma tom desnecessariamente acusatório.

- Eu torço pra eles desde que eu tinha seis anos - disse Cho friamente. - Bom... Te vejo depois Harry.

Ela foi embora. Hermione esperou até Cho sumir de vista antes de atacar Rony.

- Você é tão sem tato!

- Que foi? Eu só pergunte se...

- Você não percebeu que ela queria falar com Harry a sós?

- E daí? Ela podia ter falado, eu não estava impedindo...

- Por que você estava atacando ela sobre seu time de quadribol?

- Atacando? Eu não estava atacado, eu estava apenas...

- Quem se interessa pra quem torce pros Tornados?

- Ah, que é isso, metade das pessoas que você vê usando esses distintivos só compraram na última temporada...

- Mas o que isso IMPORTA!

- Isso quer dizer que eles não são realmente fãs, eles estão somente seguindo a moda...

- É o sino - disse Harry a tempo, porque Rony e Hermione estavam brigando em voz tão alta que nem ouviram.

Eles não pararam de discutir durante todo o caminho até a masmorra de Snape, o que deu tempo a Harry para refletir que entre Neville e Rony teria muita sorte se conseguisse dois minutos de conversa com Cho do que pudesse se lembrar depois sem querer fugir do país.

E ainda assim, pensou enquanto se juntava à turma em frente à sala de aula de Snape, ela tinha escolhido ir falar com ele, não tinha? Ela tinha sido namorada de Cedrico; podia facilmente odiar Harry por ter saído vivo do Torneio Tribruxo enquanto Cedrico havia morrido, ainda assim estava falando com ele no modo mais amigável, não como se pensasse que ele fosse louco ou mentiroso ou de alguma maneira terrível fosse responsável pela morte de Cedrico... Sim, ela definitivamente tinha escolhido ir falar com ele e tinha feito isso pela segunda vez em dois dias... Com esse pensamento o espírito de Harry se animou. Mesmo o som agourento da porta da masmorra de Snape abrindo não diminuiu a pequena esperançosa bolha que parecia ter inchado em seu peito. Ele entrou na sala atrás de Rony e Hermione e os seguiu até uma mesa nos fundos, onde sentou entre ambos e ignorou os ruídos melindrosos e irritantes que vinham dos dois.

- Sentem-se - disse Snape friamente, fechando a porta atrás de si.

Não havia a necessidade de chamar por ordem, no momento que a classe ouviu a porta fechar o silêncio caiu e todo movimento cessou. A mera presença de Snape era normalmente o suficiente para assegurar o silêncio da classe.

- Antes de começarmos a aula de hoje - disse Snape, atirando-se para sua mesa e virando para os encarar - eu acredito que seja apropriado lembrá-los que em junho vocês vão estar encarando um exame importante, durante o qual cada um vai estar provando o quanto aprendeu sobre a composição e o uso das poções mágicas. Sendo alguns dessa classe claramente estúpidos, eu espero de vocês um sofrível "Aceitável" em seus N.O.M.s, ou vão sofrer meu... Descontentamento.

Seu olhar buscou dessa vez Neville, que engoliu em seco.

- Depois desse ano, é claro, muitos de vocês não vão mais estudar comigo - Snape continuou. - Eu apenas aceito os melhores em minhas classes para os N.I.E.M.s, o que certamente quer dizer que alguns de vocês estarão se despedindo.

Seus olhos pousaram em Harry e seus lábios de curvaram. Harry o encarou de volta, sentindo certo prazer em pensar que poderia desistir de Poções depois do quinto ano.

- Mas ainda temos um ano antes desse momento alegre de despedida - disse suavemente - então estando ou não vocês dispostos a tentar os N.I.E.M.s eu aconselho todos a concentrarem todos seus esforços em manter os níveis mais altos como espero de meus estudantes de N.O.M.s. Hoje nós vamos misturar uma poção que costuma ser dada em Níveis Ordinários de Magia: o Gole da Paz, a poção para acalmar a ansiedade e suavizar a agitação. Tenham cuidado: se você pesar a mão nos ingredientes vão colocar quem a beber em um sono pesado e às vezes irreversível, então precisam prestar muita atenção no que estão fazendo - à sua esquerda, Hermione sentou um pouco mais ereta, sua expressão de extrema concentração. - Os ingredientes e método - disse Snape, balançando sua varinha - estão no quadro negro - eles apareceram no quadro. - Vocês vão encontrar tudo que precisam - balançou sua varinha de novo - no armário de estoque - a porta do dito armário se abriu. - Vocês têm uma hora e meia... Comecem.

Assim como Harry, Rony e Hermione tinham predito, Snape não poderia ter lhes dado poção mais difícil. Os ingredientes tinham que ser adicionados ao caldeirão na ordem e quantidade corretas; a poção tinha que ser mexida um número exato de vezes, primeiro no sentido horário e então no anti-horário; o fogo em que estava sendo cozinhado tinha que ser baixado a um determinado grau por um numero especifico de minutos antes que o ingrediente final fosse adicionado.

- Um leve vapor prateado deve estar agora levantando de suas poções - avisou Snape, com dez minutos para o fim do tempo dado.

Harry, que estava suando profusamente, olhou desesperado pela masmorra. Seu caldeirão estava soltando montes de fumaça cinza escura; o de Rony estava cuspindo faíscas verdes. Simas estava incitando febrilmente as chamas na base de seu caldeirão com a ponta da sua varinha, enquanto elas pareciam estar apagando. A superfície da poção e Hermione, no entanto, estava tremeluzindo com uma nuvem de vapor prateado, e como Snape passou por ela olhando para baixo com seu nariz de gancho apontado para seu caldeirão sem nenhum comentário, isso queria dizer que ele não achara nada para criticar.

Ao chagar ao caldeirão de Harry no entanto, Snape parou, olhou para baixo com um horrível sorriso no rosto.

- Potter, o que isso deveria ser?

Os alunos da Sonserina na frente da classe olharam para trás ansiosamente, adoravam ouvir Snape acabar com Harry.

- O Gole da Paz - disse Harry tenso.

- Diga-me Potter - Snape falou suavemente -, você sabe ler?

Draco Malfoy gargalhou.

- Sim, eu sei - Harry falou, seus dedos se fechando ao redor de sua varinha.

- Leia a terceira linha da instrução para mim, Potter.

Harry apertou os olhos para ver o quadro negro, não era fácil ler as instruções com as nuvens multicoloridas que agora enchiam a masmorra.

- Adicionar pó de pedra-da-lua, mexer três vezes no sentido horário, deixe cozinhar por sete minutos e adicione duas gotas de xarope de hellebore.

Seu coração afundou. Ele não tinha adicionado o xarope de hellebore, mas tinha sim, pulado direto para a quarta linhas depois de deixar a poção descansar 7 minutos.

- Você fez tudo que mandava a terceira linha, Potter?

- Não - disse baixinho.

- Perdão...?

- Não - disse Harry mais alto. - Eu esqueci o hellebore.

- Eu sei que você esqueceu, Potter, o que quer dizer que essa mistura não vale nada. Evanesce.

Os componentes da poção de Harry desapareceram, ele estava parado tolamente ao lado do caldeirão vazio.

- Aqueles que conseguiram ler corretamente as instruções encham um frasco com uma amostra da sua poção, etiquetem claramente com seu nome e tragam para minha mesa para ser testada - disse Snape. - Dever de casa. Trinta centímetros e meio de pergaminho sobre as propriedades de pedra-da-lua e seus usos para o preparo de poções, para ser entregue na quinta-feira.

Enquanto todos à sua volta enchiam seus frascos de poção, Harry recolhia suas coisas, irritado. Sua poção não estava pior do que a de Rony, que estava agora exalando um cheiro de ovos podres; ou a de Neville, que tinha atingido a consistência de cimento recém misturado e que o garoto estava agora tendo que raspar de seu caldeirão, ainda assim tinha sido a dele, Harry, que ia receber zero pelo trabalho do dia. Ele enfiou sua varinha de volta na mochila e se atirou no seu banco, olhando todos marcharem para a mesa de Snape com seus frascos cheios e etiquetados. Quando o tão esperado sino tocou, Harry foi o primeiro a sair da masmorra e já havia começado seu almoço quando Rony e Hermione se juntaram a ele no Salão Principal. O céu havia escurecido ainda mais durante a manhã. A chuva estava fustigando as janelas.

- isso não é justo - disse Hermione confortadora, sentando ao lado de Harry e se servindo de torta de pastor. - Sua poção não estava nem de longe tão ruim quanto à de Goyle; quando a pôs no frasco ele derreteu e pôs fogo nas vestes dele.

- É, bem - disse Harry, encarando seu prato. - Desde quando Snape é justo comigo?

Nenhum deles respondeu; os três sabiam que a inimizade entre Snape e Harry era absoluta desde o dia que o garoto pisara em Hogwarts.

- Eu pensei que ele estaria melhor esse ano - disse Hermione com desapontamento na voz. - Quero dizer... Vocês sabem... - ela olhou em volta cautelosamente; haviam bem uma meia dúzia de acentos vazios em cada lado deles e ninguém estava passando entre as mesas. - ...Agora que ele está na Ordem e tudo mais.

- Sapos venenosos não mudam suas pintas - disse Rony sabiamente. - De qualquer maneira eu sempre pensei que Dumbledore pisava na bola confiando em Snape. Onde está a evidência de que ele parou realmente de trabalhar para Você-Sabe-Quem?

- Eu acho que Dumbledore provavelmente tem montes de evidências, mesmo que ele não as divida com você, Rony - vociferou Hermione.

- Ah, calem a boca, vocês dois - disse Harry brabo, enquanto Rony abria a boca para rebater. Hermione e Rony congelaram, parecendo raivosos e ofendidos. - Vocês não podem dar um tempo? Vocês estão sempre discutindo sobre algo, isso tá me deixando louco - e abandonando sua torta de pastor, jogou sua mochila no ombro e os deixou lá sentados.

Ele subiu a escada de mármore dois degraus por vez, passando pelos muitos estudantes que se apreçavam para o almoço. A raiva que tinha explodido tão inesperadamente ainda queimada por dentro e a visão dos rostos chocados de Rony e Hermione lhe propiciou uma profunda satisfação. Bem feito pra eles, pensou, porque não podem dar um tempo... Se bicando o tempo todo... É o suficiente pra fazer qualquer um subir pelas paredes...

Passou pela grande pintura de Sir Cadogan, o Cavaleiro na paisagem; Sir Cadogan desembainhou sua espada e a brandiu para Harry, que o ignorou.

- Volte aqui, seu cão sarnento! Em guarda e lute -  gritava Sir Cadogan numa voz abafada por trás do seu visor, mas Harry continuou seu caminho e Sir Cadogan tentou seguí-lo correndo para a pintura vizinha, foi rechaçado pelo seu habitante, um cão sabujo enorme e de aparência feroz.

Harry passou o resto do horário do almoço sentado sozinho embaixo do alçapão da Torre Norte. Conseqüentemente, ele foi o primeiro a subir a escada prateada que levava à sala de aula de Sibila Trelawney quando o sino tocou.

Depois de Poções, Adivinhação era a matéria que Harry menos gostava e isso se devia principalmente ao hábito da professora Trelawney de predizer sua morte prematura a curtos espaços de tempo. Uma mulher magra, pesadamente envolta em chales e brilhantes correntes de contas, sempre lembrava a Harry alguma espécie de inseto, com seus enormes óculos aumentando seus olhos. Estava ocupada colocando gastos livros de couro em cada pequena mesa com que a sala estava abarrotada. Harry entrou na sala mas a luz que vinha dos abajures cobertos por chales e o fogo baixo da lareira, de cheiro enjoativo, era tão sombrio que ela parecia nem o ter notado enquanto ele se sentava nas sombras. O resto da classe chegou nos cinco minutos seguintes. Rony emergiu do alçapão, olhou em volta cautelosamente, viu Harry e foi diretamente para ele, ou tão diretamente quanto podia já que tinha que rodear mesas, cadeiras e puffes espalhados pela sala.

- Hermione e eu paramos de discutir - ele disse, sentando ao lado de Harry.

- Ótimo - resmungou Harry.

- Mas Hermione disse que ela acha que seria bom se você parasse de perder a cabeça com a gente.

- Eu não...

- Eu estou só passando o recado - disse Rony, cortando-o. - Mas eu acho que ela está certa. Não é nossa culpa o modo como Simas e Snape te trataram.

- Eu nunca disse isso...

- Bom dia - disse a professora Trelawney na sua usual misteriosa e sonhadora voz, e Harry parou, novamente se sentindo aborrecido e vagamente envergonhado de si mesmo. - E bem-vindos de volta a Adivinhações. Eu tenho, é claro, seguido seus destinos muito cuidadosamente durante as férias e estou deliciada em ver que todos retornaram a Hogwarts em segurança. Como, é obvio, eu sabia que voltariam. Vocês vão achar sobre as mesas cópias de O Oráculo dos Sonhos, de Inigo Imago. Interpretação de sonhos é um dos meios mais importantes para ler o futuro e um dos que provavelmente vão ser testados nos seus N.O.M.s. Não, é claro, que eu acredite que a aprovação ou não ou notas importem quando se nos referimos ao divino poder da Adivinhação. Se você tem o terceiro olho, certificados e notas importam muito pouco. Entretanto, o diretor gosta que vocês prestem exames, então...

Sua voz navegou delicadamente, deixando poucas dúvidas sobre o que a professora Trelawney pensava sobre um assunto sórdido como exames.

- Abram, por favor, na introdução e leiam o que Imago tem a dizer sobre a interpretação de sonhos. Então se dividam em pares. Usem O Oráculo dos Sonhos para interpretar os sonhos mais recentes uns dos outros. Vamos.

A única coisa boa a se dizer dessa aula era que não era duplo período. Quando estavam terminaram de ler a introdução do livro mal tinham dez minutos sobrando para interpretar sonhos. Na mesa ao lado de Harry e Rony, Dino fizera par com Neville, que imediatamente adentrou numa longa explicação sobre um pesadelo envolvendo um uma tesoura gigante usando o melhor chapéu de sua avó; Harry e Rony se olharam carrancudos.

- Eu nunca lembro dos meus sonhos - disse Rony. - Conta um você.

- Você deve se lembrar de algum - disse harry impaciente.

Ele não ia dividir seus sonhos com ninguém. Sabia perfeitamente bem o que significava seu pesadelo constante sobre o cemitério, não precisava que Rony ou a professora Trelawney ou o estúpido Oráculo dos Sonhos dissesse pra ele.

- Bom, eu sonhei que eu estava jogando quadribol na outra noite - disse Rony, franzindo o rosto no esforço para se lembrar. - O que você acha que isso quer dizer?

- Provavelmente que você vai ser comido por um marshmallow gigante ou algo assim - disse Harry, virando as páginas d'O Oráculo Dos Sonhos sem interesse.

Era um trabalho besta ficar procurando por pistas de sonhos n'O Oráculo e Harry não ficou nada animado quando a professora Trelawey lhes deu como tarefa de fazer um diário de sonhos por um mês como dever de casa. Quando o sino tocou, ele e Rony lideraram a saída pela escada, Rony resmungando alto.

- Você já se tocou de quanto dever de casa nós já temos? Binns já pediu quarenta e oito centímetros de pergaminho sobre a Guerra dos Gigantes, Snape quer trinta sobre os usos da pedra-da-lua e agora a gente tem que manter um mês de diário para a Trelawney! Fred e Jorge não estavam errados quando disseram como ia ser o ano de N.O.M.s, não é? É melhor essa tal de Umbridge não nos dar nenhum...

Quando entraram na sala de Defesa Contra as Artes das Trevas encontraram a professora Umbridge já sentada em sua mesa, usando o mesmo cardigan rosa estufado da noite anterior e a boina de veludo preto sobre a cabeça. Harry de novo se lembrava de uma enorme mosca sentada no topo de um ainda maior sapo.

A classe estava quieta enquanto entrava na sala; a professora Umbridge era, ainda, uma incógnita e ninguém sabia quão severa ela podia ser.

- Bem, boa tarde! - disse ela quando finalmente toda classe se sentou.

Alguns alunos murmuraram um "boa tarde" em resposta.

- Tsc, tsc - fez a professora Umbridge. - Assim não pode ser, agora, poderia? Eu gostaria que vocês respondessem, por favor, "boa tarde professora Umbridge". Uma vez mais, por favor. Boa tarde classe!

- Boa tarde professora Umbridge - entoaram de volta.

- Agora sim - disse docemente. - Não foi tão difícil, foi? Agora, varinhas guardadas e penas nas mãos, por favor.

Muitos alunos trocaram olhares melancólicos; a ordem "varinhas guardadas" ainda não viera seguida de uma aula que achassem interessante. Harry enfiou sua varinha de volta na mochila e tirou sua pena, tinta e pergaminho. A professora Umbridge abriu sua bolsa e tirou sua própria varinha, que era bem mais curta do que o normal, tocou o quadro negro com ela; palavras apareceram:

"Defesa Contra as Artes das Trevas, Um retorno aos Princípios Básicos"

- Agora, seus ensinamentos nessa matéria têm sido constantemente interrompidos, não é? - começou a professora Umbridge, olhando para a classe com suas mãos cruzadas à sua frente. - A constante mudança de professores, muitos dos quais parecem não ter seguido nada do currículo aprovado do Ministério, fez vocês estarem infelizmente muito abaixo do nível que esperamos de vocês para esse ano de N.O.M.s. Vocês ficaram felizes em saber, entretanto, que esses problemas agora serão retificados. Nós vamos, esse ano, estar seguindo um curso de defesa mágica bem estruturado, teoricamente centrado e aprovado pelo Ministério. Copiem isso que se segue, por favor.

Ela tocou o quadro negro novamente; a primeira mensagem desapareceu e foi substituída por:

"Propósito do curso

. Entendimento dos princípios básicos da magia defensiva.

. Aprender a reconhecer situações onde a magia defensiva pode ser legalmente usada.

. Colocando o uso da magia defensiva em um contexto para uso prático."

Por alguns minutos a sala ficou cheia dos sons de penas arranhando pergaminhos. Quando todos haviam copiado os três propósitos do curso da professora Umbridge ela perguntou.

- Todos têm uma copia de Teoria de Defesa Mágica, de Wilbert Slinkhard?

Houve um fraco murmúrio de assentimento pela classe.

- Acho que temos que tentar de novo - disse a Professora Umbridge. - Quando eu fizer uma pergunta gostaria que vocês respondessem "Sim, professora Umbridge". Então... Todos têm uma cópia de Teoria de Defesa Mágica, de Wilbert Slinkhard?

- Sim, professora Umbridge - correu pela sala.

- Ótimo. Gostaria que vocês abrissem e lessem a página cinco, Capitulo um, Básico Para Iniciantes. Não será preciso falar.

A professora Umbridge deixou o quadro negro e se ajeitou na sua cadeira atrás de sua mesa, observando-os de perto com aqueles olhos de sapo. Harry abriu na página cinco de sua cópia e começou a ler.

Era desesperadamente estúpido, quase tão ruim quanto escutar o professor Binns. Sentiu sua concentração se esquivando; logo já tinha lido a mesma linha uma dúzia de vezes sem na verdade absorver mais do que algumas palavras. Vários e silenciosos minutos se passaram. Ao seu lado, Rony estava distraído girando sua pena nos dedos sem parar, olhando para o mesmo ponto na página. Harry olhou para o outro lado e a surpresa o sacudiu do seu torpor. Hermione nem ao menos abrira seu livro. Ela estava olhando fixamente para a professora Umbridge com sua mão estendida no ar.

Harry não podia se lembrar de Hermione ter alguma vez se negado a ler se isso fosse pedido, ou até mesmo resistido à tentação de abrir qualquer livro que aparecesse debaixo do seu nariz. Olhou para ela inquisitivo, mas ela mal balançou a cabeça, indicando que não ia responder nenhuma pergunta, e continuou a encarar a professora, que estava olhando resolutamente em na direção oposta.

Depois que vários minutos se passaram, entretanto, Harry não era o único olhando para Hermione. O capítulo que foram convidados a ler era tão tedioso que cada vez mais alunos escolhiam olhar para a muda tentativa de Hermione de atrair a atenção da professora Umbridge do que do que lutar com "Básico Para Iniciantes".

Quando mais do que a metade da classe estava encarando Hermione em vez de ler seus livros, a professora Umbridge pareceu decidir que não podia ignorar a situação por mais tempo.

- Você deseja perguntar algo sobre o capítulo, querida? - perguntou para Hermione, como se só agora a notasse.

- Não sobre o capitulo, não.

- Bem, nós agora estamos lendo - disse a Professora Umbridge, mostrando seus dentes pontudos. - Se você tem outras dúvidas nós podemos lidar com isso ao fim da aula.

- Eu tenho uma dúvida sobre os propósitos do curso.

A professora Umbridge levantou suas sobrancelhas.

- E seu nome é?

- Hermione Granger.

- Bem, Srta. Granger, eu acho que os propósitos do curso estão claros se você os ler cautelosamente - disse a professora Umbridge com uma voz de determinada doçura.

- Bem, eu não acho isso - disse Hermione asperamente. - Não há nada escrito ali sobre o uso de feitiços defensivos.

Houve um pequeno silêncio durante o qual vários alunos da classe viraram suas cabeças para ler mais atentamente os três pontos dos propósitos do curso que ainda estavam escritos no quadro.

- Usar feitiços defensivos? - a professora repetiu com uma curta risada. - Porque, não posso imaginar qualquer situação surgindo na minha sala de aula que exigiria o uso de feitiços defensivos, Srta. Granger. Você certamente não está esperando ser atacada durante as aulas?

- Nós não vamos usar mágica? - Rony exclamou alto.

- Estudantes levantam suas mãos quando desejam falar em minha classe, Sr...?

- Weasley - disse Rony, jogando sua mão para o alto.

A professora Umbridge, sorrindo ainda mais abertamente, virou suas costas para ele. Harry e Hermione imediatamente levantaram suas mãos também. Os olhos de sapo da professora pousaram em Harry por um momento antes de se voltar para Hermione.

- Sim, Sra. Granger? Deseja perguntar alguma coisa mais?

- Sim. Claramente todo o objetivo de Defesa Contra as Artes das Trevas é praticar feitiços defensivos?

- Você é uma expert educacional treinada do Ministério, Srta. Granger? - perguntou o professor Umbridge, em sua falsa voz doce.

- Não, mas...

- Então temo que não esteja capacitada para decidir sobre "todo objetivo" de qualquer matéria. Bruxos mais velhos e espertos do que você aconselharam nosso novo programa de estudos. Vocês estarão aprendendo sobre feitiços defensivos de uma maneira livre de riscos...

- Que uso tem isso? - disse Harry alto. - Se formos atacados, não vai ser em...

- Mão, Sr. Potter! - cantou a professora Umbridge.

Harry jogou seu punho para o ar. Novamente a professora deliberadamente deu as costas a ele, mas agora vários outros alunos tinham as mãos levantadas também.

- E seu nome é? - a professora perguntou a Dino.

- Dino Thomas.

- Bem, Sr. Thomas?

- Bom, é como Harry disse, não é? Se nós formos ser atacados, não vai ser num ambiente livre de risco.

- Eu repito - disse a Professora Umbridge, sorrindo de um modo irritando para Dino. - Você espera ser atacado em minha aula?

- Não, mas...

A Professora o cortou.

- Eu não desejo criticar a maneira que as coisas estão correndo nessa escola - disse, um falso sorriso rasgando sua boca - mas vocês têm sido expostos a bruxos muito irresponsáveis nessa matéria, muito irresponsáveis mesmo. Pra não mencionar - ela deu uma risada maldosa - raças extremamente perigosas.

- Se você se refere ao professor Lupin - silvou Dino com raiva - ele foi o melhor que nós...

- Mão, Senhor Thomas! Como eu ia dizendo... Vocês foram introduzidos em feitiços que foram complexos, inapropriados para sua idade e potencialmente letais. Vocês foram levados por medo a acreditar que poderiam estar sendo atacados pelo mal a cada dia...

- Não, não fomos - disse Hermione. - Nós somente...

- Sua mão não está levantada Srta. Granger!

Hermione levantou a mão. A Professora Umbridge deu as costas a ela.

- É do meu conhecimento que meu predecessor não só praticou feitiços ilegais em frente a vocês, também os praticou em vocês.

- Bom, ele se revelou um louco, não foi? - Disse Dino alterado. - Mas, mesmo assim aprendemos muita coisa.

- Sua mão não está levantada, Sr. Thomas! - ralhou a Professora Umbridge. - Agora, essa é a visão do Ministério que o ensinamento teórico mais do que suficiente para vocês passarem pelo exame, que, afinal, é para o que serve a escola. E seu nome é? - disse, apontando para Pavarti, que acabara de levantar a mão.

- Pavarti Patil, e não há exame pratico de Defesa Contra as Artes das Trevas nos N.O.M.s? Nós não devemos mostrar que podemos realmente fazer um contra feitiço e outras coisas?

- Contanto que vocês estudem a teoria com afinco, não há motivo para que não aptos a praticar feitiços sobre condições cautelosamente controladas - disse a professora, dando por encerrado o assunto.

- Sem nem mesmo praticarmos antes? - disse Pavarti, incrédula. - Está dizendo pra nós que a primeira vez que faremos os feitiços vai ser no exame?

- Eu repito, contanto que estudem com afinco a teoria...

- E que bem a teoria pode fazer no mundo real? - disse Harry alto, seu punho no ar.

A professora Umbridge olhou para ele.

- Isso é a escola, Sr. Potter, não o mundo real - disse suavemente.

- Então nós não devemos estar preparados para o que está esperando por nós lá fora?

- Não há nada lá fora, Sr. Potter.

- Ah, é? - disse Harry, seu humor, que parecia estar borbulhando abaixo da superfície o dia todo, estava chegando ao ponto de fervura.

- Quem você imagina que atacaria crianças como vocês? - inquiriu a professora Umbridge numa voz horrivelmente melada.

- Hum, deixa eu ver... - disse Harry em voz de escárnio. Talvez... Lord Voldemort!

Rony engasgou; Lilá Brown soltou um pequeno grito; Neville escorregou do seu banco. A professora Umbridge, entretanto, nem piscou. Estava encarando Harry com um sorriso de satisfação no seu rosto.

- Dez pontos da Grifinória, Sr. Potter.

A classe estava silenciosa e parada. Todos estavam encarando Umbridge e Harry.

- Agora, vamos deixar algumas coisas claras.

A professora levantou e se inclinou para eles, seus dedos gorduchos espalmados em sua mesa.

- Foi dito a vocês que certo mago negro retornara dos mortos...

- Ele não estava morto - disse Harry com raiva - mas é, ele retornou!

- Senhor Potter, você já perdeu para sua casa dez pontos, não faça as coisas piores para você mesmo - disse a professora Umbridge em um só fôlego, sem olhá-lo. - Como eu dizia, vocês foram informados que certo bruxo negro está ao largo novamente. Isso é mentira.

- Não é mentira - gritou Harry. - Eu o vi, Eu lutei com ele!

- Detenção, Sr. Potter! - disse a Professora Umbridge triunfante. - Amanhã de tarde. Cinco horas. Meu escritório. Eu repito, isso é uma mentira. O Ministério da Magia garante que vocês não estão em perigo vindo de nenhum bruxo das trevas. Se ainda estiveram preocupados sobre qualquer coisa venham me ver depois das aulas. Se alguém está alarmando vocês com besteiras sobre bruxos das trevas eu vou gostar de ouvir sobre isso. Estou aqui para ajudar. Eu sou sua amiga. E agora, vocês vão amavelmente continuar lendo a pagina cinco, "Básico Para Iniciantes".

A professora Umbridge sentou atrás de sua mesa. Harry, entretanto, continuou em pé. Todos estavam olhando para ele. Simas parecia meio-assustado, meio fascinado.

- Harry, não! - Hermione sussurrou numa voz de aviso, puxando sua manga, mas Harry puxou o braço longe do seu alcance.

- Então, de acordo com você, Cedrico Diggory caiu morto de acordo com ele mesmo, não foi? - Harry perguntou, sua voz tremendo.

Houve uma coletiva tomada de ar da classe, pois nenhum deles, fora Rony e Hermione, nunca escutaram Harry falar sobre o que acontecera na noite que Cedrico havia morrido. Eles olhavam avidamente de Harry para a professora Umbridge, que havia levantado seus olhos e o estava encarando sem um traço do sorriso falso no rosto.

- A morte de Cedrico Diggory foi um trágico acidente - disse friamente.

- Foi assassinato - disse harry. Podia sentir todo seu corpo tremendo. Mal havia falado com alguém sobre isso, muito menos para os trinta companheiros de classe ouvindo ansiosos. - Voldemort o matou e você sabe disso.

A rosto da professora Umbridge estava sem expressão. Por um momento Harry pensou que ela ia gritar com ele. Mas ela disse no seu macio, mais doce tom de voz:

- Venha aqui, Sr. Potter, querido.

Ele chutou sua cadeira para o lado, passou por Rony e Hermione e foi até a mesa da professora. Podia sentir o resto da classe segurando a respiração. Estava com tanta raiva que nem se importava com o que aconteceria depois.

A professora puxou um pequeno pergaminho rosa de sua bolsa, esticou-o na mesa, molhou sua pena na tinta e começou a escrever, curvando-se para Harry não ver o que estava escrevendo. Ninguém falava. Depois de um minuto ou quase ela enrolou o pergaminho e bateu nele com a varinha; ele se selou, assim Harry não poderia lê-lo.

- Leve isso à professora McGonagall, querido - disse, estendendo a nota para ele.

Harry pegou sem dizer uma palavra, deu a volta e deixou a sala, nem mesmo olhando de volta para Rony e Hermione, batendo a porta da classe atrás de si. Andou muito rápido pelo corredor, a nota para McGonagall apertada em sua mão, e virando um canto deu de cara com Pirraça, o poltergeist, um pequeno homem de boca grande flutuando de costas no ar, jogando vidrinhos de tinta para cima.

- É Potter Wee Potter! - caçoou Pirraça. Deixando os vidros de tinta caírem no chão onde eles se quebraram e espalharam tinta pelas paredes; Harry pulou para trás com um rosnado.

- Sai fora Pirraça.

- Oooohh, malucão tá mal humorado!!! - disse Pirraça, perseguindo Harry pelo corredor, olhando de soslaio enquanto passava debaixo dele. - Que foi dessa vez, meu grande amigo Potter? Ouvindo vozes? Tendo visões? Falando em... - Pirraça cuspiu uma framboesa. - Línguas?

- Eu disse, me deixa em paz - Harry gritou, correndo para a escada mais próxima, mas Pirraça escorregava contente no corrimão ao seu lado.

- Oh, pensam que ele late, o coitado do Pottynho, outros são mais gentis e dizem que ele só está triste, mas Pirraça, que sabe melhor, diz que ele é louquinho...

- CALA A BOCA!

Uma porta à esquerda abriu de repente e a professora McGonagall emergiu do seu escritório, parecendo severa e um pouco perturbada.

- Pelos céus, por que você está gritando, Harry? - ela vociferou, enquanto Pirraça gargalhava alegremente e sumia de vista. - Por que você não está em aula?

- Fui mandado pra vê-la - disse Harry cerimoniosamente.

- Mandado? O que você quer dizer, mandado?

Ele mostrou a nota da professora Umbridge. A professora McGonagall a pegou, franzindo o cenho, abriu a nota com um toque da sua varinha, esticou o pergaminho e começou a ler. Seus olhos corriam de um lado a outro atrás de seus óculos quadrados enquanto lia o que Umbridge havia escrito, e a cada linha seus olhos se estreitavam mais.

- Venha aqui Potter.

Ele a seguiu para dentro de seu escritório. A porta fechou automaticamente atrás dele.

- Bem? - disse a Professora McGonagall, passando por ele. - É verdade?

- O que é verdade? - Harry perguntou, mais agressivo do que pretendia. - Professora? - ele juntou na tentativa de soar mais polido.

- É verdade que você gritou com a professora Umbridge?

- É.

- Você a chamou de mentirosa?

- Sim.

- Você disse que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado está de volta?

- Sim.

A professora McGonagall sentou atrás de sua mesa, olhando atentamente para Harry.

- Pegue um biscoito, Potter.

- Pegar... O quê?

- Pegue um biscoito - repetiu impaciente, indicando uma lata em cima de uma pilha de papéis em sua mesa. - E sente-se.

Houvera uma outra ocasião em que Harry, esperando ser punido pela professora McGonagall, havia em vez disso sido indicado por ela para apanhador do time de quadribol da Grifinória. Ele afundou na cadeira à frente dela e pegou um biscoito da lata, sentindo-se confuso e meio sem pé como fora naquela ocasião.

A professora McGonagall abaixou a nota da professora Umbridge e olhou séria para ele.

- Potter, você precisa ser cauteloso.

Harry engoliu sua boca cheia de biscoito e olhou para ela. O tom de voz não era o que ele estava acostumado, não estava forte, nítido e severo; estava baixo e ansioso e de alguma maneira mais humana que o usual.

- Mal comportamento na aula de Dolores Umbridge pode te custar muito mais do que alguns pontos da casa e detenção.

- O quê...?

- Potter, use a cabeça - rebateu a professora McGonagall, com um abrupto retorno às suas maneiras usuais. - Você sabe de onde ela vem, você deve saber a quem ela está se reportando.

O sino tocou anunciando o fim da aula. Por todo lado se escutavam os sons de centenas de estudantes se movimentando.

- Aqui diz que ela colocou você de detenção por toda semana, começando amanhã - a professora falou, olhando para a nota da professora Umbridge.

- Toda tarde essa semana! - Harry repetiu horrorizado. - Mas professora, a senhora não poderia...?

- Não, não posso.

- Mas...

- Ela é sua professora e tem todo direito de te dar detenção. Você vai ao escritório dela amanhã às cinco horas para a primeira. Apenas lembre: tenha cuidado com Dolores Umbridge.

- Mas eu estava falando a verdade! - disse harry ofendido. - Voldemort está de volta, a senhora sabe que está; o professor Dumbledore sabe que ele está...

- Pelos amor de Deus, Potter! - disse a professora McGonagall, arrumando os óculos, que balançaram horrivelmente ao som do nome de Voldemort. - Você realmente pensa que isso é sobre verdades e mentiras? Isso é sobre manter sua cabeça fria e seu temperamento sob controle!

Ela se levantou, suas narinas abertas e sua boca em um rasgo, e Harry levantou também.

- Pegue outro biscoito Potter - disse irritada, empurrando a lata para ele.

- Não, obrigado - disse Harry friamente.

- Não seja ridículo.

Ele pegou um.

- Obrigado - disse mal humorado.

- Você não ouviu o discurso de Umbridge no banquete de início do ano, Potter?

- É - disse Harry. - Ouvi... Ela disse... Que o progresso ia ser proibido ou... Bem, quer dizer... Que o Ministério está interferindo em Hogwarts.

A professora McGonagall o olhou atentamente por um momento, então fungou, deu a volta na sua mesa e segurou a porta aberta.

- Bem, fico feliz que você escute Hermione Granger em qualquer medida - disse ela, indicando a porta a ele.

-- CAPITULO 13 --
DETENÇÃO COM DOLORES


O jantar no Salão Principal aquela noite não foi uma experiência prazerosa para Harry. As notícias sobre sua briga gritante com Umbridge tinham voado excepcionalmente rápido, mesmo para os padrões de Hogwarts. Ele ouviu boatos em toda sua volta enquanto estava sentado entre Rony e Hermione.

O mais engraçado era que nenhum dos boatos parecia ser considerado por ele, ouvindo por acaso o que estavam dizendo sobre si. Ao contrário, foi como se acreditassem que ele ficaria brabo e começaria a gritar novamente, e assim eles poderiam ouvir sua história em primeira mão.

- Ele diz que viu Cedrico Diggory morto...

- Ele conta que duelou com Você-Sabe-Quem...

- Deixa isso pra lá...

- Com quem ele pensa que está brincando?

- Pobrezinho...

- O que eu não entendo - disse Harry entre dentes, largando sua faca e garfo na mesa (suas mãos estavam tremendo muito para segurá-los firme) - é por que todos acreditam na história de dois meses atrás quando Dumbledore contou a eles...

- O fato é que, Harry, eu não estou certa se eles acreditam - disse Hermione de modo assustador. - Ah, vamos embora daqui.

Ela tacou com força sua faca e garfo na mesa; Rony olhou ansioso para seu meio pedaço de torta de maçã mas fez o mesmo que ela. As pessoas ficaram para olhando eles em todo o caminho para fora do Salão.

- O que você quer dizer, você não está certa de que eles acreditam em Dumbledore? - Harry perguntou a Hermione quando alcançaram o primeiro andar.

- Olha, você não entende o que foi exatamente depois que já aconteceu - disse Hermione calmamente. - Você voltou no meio do gramado agarrando com força o corpo morto do Cedrico... Nenhum de nós viu o que aconteceu no labirinto... Temos apenas as palavras de Dumbledore sobre isso, que Você-Sabe-Quem  tinha voltado, matado o Cedrico e lutado com você.

- O que é a verdade! - disse Harry bem alto.

- Eu sei que é, Harry, então você pode por favor parar de bater na mesma tecla? - pediu Hermione cansada. - É só que antes que a verdade pudesse ser entendida todo mundo foi pra casa pr'as férias, onde gastaram dois meses lendo sobre como você é um cabeça-de-noz e Dumbledore está ficando caduco!

A chuva golpeou as vidraças enquanto caminharam ao longo dos corredores vazios de volta à Torre da Grifinória. Harry sentiu como se seu primeiro dia tivesse durado uma semana, mas ainda tinha uma montanha de lição de casa para fazer antes de dormir. Uma dor estúpida estava se desenvolvendo sobre seu olho direito. Deu uma espiada lá fora através de uma janela molhada de chuva e viu as terras escuras enquanto passavam pelo corredor da Mulher Gorda. Ainda não havia nenhuma luz na cabana do Hagrid.

- Mimbulus mimbletonia - disse Hermione antes que a Mulher Gorda pudesse perguntar.

O retrato se abriu balançando para revelar todo o buraco por trás dele e os três se arrastaram para dentro.

O salão comunal estava quase vazio; quase todos ainda estavam lá embaixo no jantar. Bichento se desenrolou de uma cadeira e correu devagar para encontrá-los, ronronando alto, e quando Harry, Rony e Hermione pegaram suas três cadeiras favoritas diante da lareira ele saltou levemente em cima da capa da garota e encaracolou-se ali como um travesseiro avermelhado e peludo. Harry ficou observando as chamas, sentindo-se vazio e exausto.

- Como Dumbledore deixou isso acontecer? - Hermione gritou de repente, fazendo Harry e Rony pularem; Bichento saltou pra longe dela, sentindo-se afrontado. Ela golpeou os braços da sua cadeira tão furiosamente que um monte de poeira saiu pelos buracos. - Como ele deixa aquela mulher terrível nos ensinar? E no nosso ano de N.O.M.s também!

- Bom, nós nunca tivemos grandes professores de Defesa Contra as Artes das Trevas, tivemos? - disse Harry. - Você sabe como é, Hagrid nos contou, ninguém quer o cargo; dizem que é amaldiçoado.

- Sim, mas para empregar alguém que atualmente se recusa a nos deixar fazer mágica! O que Dumbledore pretende?

- E ela está tentando pegar pessoas para espiar para ela - disse Rony em tom da ameaça.

- Vocês lembram quando ela disse que queria que nós fôssemos e contássemos a ela se tínhamos ouvido alguém dizer que Você-Sabe-Quem estava de volta?

- É claro que ela está aqui para espionar nós todos, isso é obvio, por que mais o Fudge iria querer que ela viesse? - repreendeu Hermione.

- Não comecem a discutir de novo - disse Harry cansadamente, quando Rony abriu a boca para revidar. - Nós não podemos apenas... Vamos apenas fazer as lições, tirando isso do caminho...

Recolheram suas mochilas de um canto e retornaram às suas cadeiras diante do fogo. As pessoas estavam voltando do jantar agora. Harry evitou olhar o buraco do retrato mas podia ainda assim sentir a atração de olhos o encarando.

- Podemos fazer a lição do Snape primeiro? - disse Rony, mergulhando sua pena na tinta. - As propriedades... Da pedra-da-lua... E suas utilidades... Nas poções... - ele murmurou, escrevendo as palavras no topo de seu pergaminho enquanto as falava. Ele sublinhou o título e então olhou expectativo para Hermione. - Então, quais as propriedades da pedra-da-lua e suas utilidades nas poções?

Mas Hermione não estava ouvindo; estava dando uma olhada no canto mais distante da sala, onde Fred, Jorge e Lino Jordan estavam agora no meio de uma reunião de alunos inocentes do primeiro ano, todos mastigando algo que parecia vir de uma sacola larga que Fred estava segurando.

- Não, me desculpem, eles foram muito longe - ela disse, levantando e olhando absolutamente furiosa. - Venha, Rony.

- Eu... O quê? - disse Rony, claramente pedindo um tempo. - Não... Vamos, Hermione... Não podemos censurá-los por darem nossas guloseimas.

- Você sabe perfeitamente bem que aquelas são Barras de Hemorragia Nasal ou... Ou Pastilhas de Vômito ou...

- Ilusões de Desmaio? - Harry sugeriu calmamente.

Um por um, como se tivessem batido a cabeça numa maleta invisível, os primeiranistas iam desmoronando inconscientes em seus assentos; alguns escorregaram direto ao chão, outros simplesmente se penduraram nos braços de suas cadeiras, suas línguas se estendendo para fora. Muitas das pessoas que estavam assistindo estavam também rindo; Hermione, porém, levantou os ombros e marchou diretamente onde Fred e Jorge estavam agora com quadros de edição, observando atentamente os primeiranistas inconscientes. Rony se levantou um pouco de sua cadeira, revoltado duvidosamente por um momento ou outro, então murmurou a Harry.

- Ela tem tudo sob controle - antes de afundar tão devagar na cadeira quanto sua forma magra permitia.

- Já chega! - Hermione disse poderosamente para Fred e Jorge, e ambos olharam numa leve surpresa.

- É, você está certa - disse Jorge, apontando -, essa dosagem parece forte o bastante, não?

- Eu disse a você essa manhã, você não pode testar suas besteiras nos estudantes!

- Nós estamos pagando a eles! - disse Fred indignado.

- Não me importa, pode ser perigoso!

- Besteiras - disse Fred.

- Acalme-se, Hermione, eles estão bem! - disse Lino tranqüilamente enquanto andava de um primeiranista a outro, inserindo doces púrpuras dentro de suas bocas abertas.

- Sim, veja, eles estão voltando a normal agora - disse Jorge.

Alguns dos primeiranistas estavam de fato se mexendo. Muitos ficaram tão chocados por se encontrarem deitados no chão ou pairados nas cadeiras que Harry tinha certeza de que Fred e Jorge não tinham os prevenido do que os doces fariam.

- Sente-se bem? - disse Jorge gentilmente a uma garota pequenina de cabelos escuros deitada a seus pés.

- Eu... Eu acho que sim - ela disse meio tremendo.

- Excelente - disse Fred contente, mas no segundo seguinte Hermione já tinha agarrado ambos seus quadros de edição e a sacola de Ilusões de Desmaio de suas mãos.

- Não é NADA excelente!

- Claro que é, eles estão vivos, não estão? - disse Fred brabo.

- Vocês não podem fazer isso, e se vocês deixassem um deles realmente mal?

- Não vamos deixá-los maus, nós já testamos todas elas em nós mesmos, isso é apenas para ver se todo mundo reage da mesma...

- Se você não parar de fazer isso, eu vou...

- Nos colocar em detenção? - disse Fred, numa voz de eu-quero-ver-se-você-tem-coragem.

- Nos fazer escrever linhas? - disse Jorge, num sorriso falso.

Espectadores de toda a sala estavam rindo. Hermione se pôs de pé ainda mais; seus olhos estavam cortantes e seu cabelo espesso parecia que ia estalar com a eletricidade.

- Não - ela disse, sua voz tremendo de raiva -, mas eu vou escrever para sua mãe.

- Você não se atreveria - disse Jorge, horrorizado, dando um passo atrás para longa dela.

- Ah, sim, eu me atreveria - respondeu com raiva. - Não posso parar de fazer vocês mesmos comerem essas coisas estúpidas mas não é pra dá-las aos primeiranistas.

Fred e Jorge olharam estupefatos. Estava claro que por mais longe que eles tinham ido, a ameaça de Hermione era por debaixo dos panos. Com um último olhar de ameaça a eles, ela empurrou o quadro de Fred e a sacola de Ilusões de volta a eles e andou de volta a sua cadeira perto do fogo.

Rony estava agora tão enfiado em seu assento que seu nariz estava praticamente no mesmo nível que seus joelhos.

- Obrigada por seu apoio, Rony - Hermione disse secamente.

- Você cuidou de tudo sozinha - ele resmungou.

Hermione fitou os olhos em seu pedaço branco de pergaminho por alguns segundos, então disse preocupada:

- Ah, isso não é bom, não consigo me concentrar agora. Vou dormir.

Ela puxou violentamente sua mochila aberta; Harry pensou que ela colocaria seus livros para fora mas em vez disso puxou para fora dois objetos lanosos meio desfigurados, pondo-os cuidadosamente numa mesa perto da lareira, cobrindo-os com uns pedaços inúteis de pergaminho e uma pena quebrada e se levantou para admirar o efeito.

- O que, em nome de Merlin, você está fazendo? - disse Rony, assistindo-a como que temeroso de sua sanidade.

- São chapéus para elfos domésticos - ela disse rapidamente, agora entulhando seus livros de volta na mochila. - Eu os fiz durante o verão. Sou realmente uma tricoteira vagarosa sem mágica, mas agora que estou de volta à escola serei capaz de fazer muitos mais.

- Você está escondendo chapéus para os elfos domésticos? - disse Rony devagar. - E está cobrindo-os com porcarias primeiro?

- Sim - disse Hermione audaciosamente, balançando sua mochila até suas costas.

- Não é possível - disse Rony, irritado. - Você está tentando enganá-los para apanhar os chapéus. Está deixando-os livres quando eles podem não querer ser livres.

- Mas é claro que eles querem ser livres! - disse Hermione de uma vez, enquanto sua face estava ficando vermelha. - Não se atreva a tocar naqueles chapéus, Rony!

Ela bateu os calcanhares e saiu. Rony esperou que ela desaparecesse pela porta que dava ao dormitório feminino e então limpou a porcaria para fora dos chapéus lanosos.

- Eles deviam pelo menos ver o que estão catando - ele disse firme. - De qualquer forma... - ele enrolou o pergaminho em que tinha escrito o título da lição de Snape. - Não tem como eu terminar isso agora, não consigo sem a ajuda da Hermione, não tenho a menor idéia do que temos de fazer com uma pedra-da-lua, você tem?

Harry sacudiu a cabeça e ao fazer isso notou que a dor na têmpora direita estava ficando pior. Pensou na lição enorme sobre as guerras de gigantes e a dor o apunhalou severamente. Sabendo perfeitamente bem que quando a manhã chegasse se arrependeria de não ter terminado sua lição de casa aquela noite, empilhou seus livros para dentro da sua mochila.

- Eu vou dormir também.

Passou por Simas no caminho para a porta que levava aos dormitórios mas não olhou para ele. Harry tinha uma leve impressão de que Simas tinha aberto a boca para falar mas apertou o passo e alcançou o degrau silencioso da escadaria em espiral sem ter de agüentar mais nenhuma provocação.

*

O dia seguinte amanheceu cinzento e chuvoso como o anterior. Hagrid ainda estava ausente da mesa dos professores no café da manhã.

- Mas, por outro lado, nada do Snape hoje - disse Rony estimulado.

Hermione bocejou abertamente e se serviu de um pouco de café. Ela parecia um pouco satisfeita com alguma coisa e quando Rony perguntou o que tinha feito pra estar tão feliz, ela simplesmente disse.

- Os chapéus sumiram. Parece que os elfos domésticos querem liberdade apesar de tudo.

- Eu não apostaria nisso - Rony a interrompeu. - Eles podem não ter acreditado que eram roupas. Eles não eram nada parecidos com chapéus para mim, eram mais como bexigas lanosas.

Hermione não falou com ele a manhã toda.

A dobradinha de Feitiços foi sucedida pela dobradinha de Transfiguração. Ambos, professor Flitwick e professora McGonagall, gastaram os primeiros quinze minutos de suas aulas palestrando à classe sobre a importância dos N.O.M.s.

- O que vocês devem ter em mente - disse o pequeno professor Flitwick num grunhido, empoleirado como sempre numa pilha de livros para assim poder ver por cima do alto de sua mesa - é que esses exames podem influenciar seus futuros por muitos anos que virão! Se vocês ainda não deram uma importância séria para suas carreiras agora é a hora de fazê-lo. E, por enquanto, estou preocupado, devíamos estar trabalhando mais árduo que nunca para assegurar que todos vocês farão justiça a vocês mesmos!

Então ele passou mais de uma hora revisando Feitiços Convocatórios, o qual conforme o professor Flitwick obrigava a aparecer em seu N.O.M., e terminou a aula passando a eles a maior lição de casa dada a Feitiços.

Foi a mesma coisa, senão pior, em Transfiguração.

- Você não pode passar nos N.O.M.s - disse a professora McGonagall amedrontante - sem aplicação séria, prática e estudo. Eu não vejo nenhuma razão por que todos nesta sala não deveriam manipular um N.O.M. em Transfiguração enquanto põem em prática - Neville fez um pequeno som de desacreditado. - Sim, você também, Longbottom. Não há nada errado com seu trabalho, exceto a falta de segurança. Então... Hoje vamos começar Feitiços para Desaparecer. Estes são mais fáceis que os Feitiços Conjurados, os quais vocês não devem tentar aprender antes do PRÓXIMO nível, mas eles estão ainda entre as mágicas mais difíceis que vocês terão de testar em seus N.O.M.s.

Ela estava meio certa; Harry achou os Feitiços para Desaparecer horrivelmente difíceis. Lá pelo final do período duplo nem ele nem Rony tinham conseguido fazer desaparecer as lesmas nas quais estavam praticando, apesar de Rony ter dito esperançoso que achava que a dele parecia um pouco pálida. Hermione, por sua vez, fez desaparecer com sucesso sua lesma na terceira tentativa, ganhando um bônus de dez pontos para a Grifinória da professora McGonagall. Ela foi a única que não ganhou lição de casa; o resto teve de praticar o feitiço durante a noite, preparados para uma nova tentativa em suas lesmas na tarde seguinte.

Agora um pouco em pânico sobre o amontoado de lição de casa que eles teriam de fazer, Harry e Rony gastaram a hora do almoço na biblioteca procurando as utilidades da pedra-da-lua em poções. Ainda irritada sobre a calúnia de Rony para com seus chapéus lanosos, Hermione não se juntou a eles. Assim que chegaram a Trato das Criaturas Mágicas naquela tarde a cabeça de Harry estava doendo novamente.

O dia tinha se tornado fresco e alegre e, enquanto desciam as planícies inclinadas em direção à cabana de Hagrid na beira da Floresta Proibida, sentiam uma ocasional gota de chuva em suas faces. A professora Grubbly-Plank estava parada, esperando a classe a mais ou menos cem metros da porta da frente da cabana, com uma tábua como suporte de mesa em frente a ela carregada de galhos. Assim que Harry e Rony a alcançaram uma longa e alta risada soou atrás deles; virando-se, viram Draco Malfoy caminhando em sua direção, cercado pela sua gangue de sempre de colegas da Sonserina. Ele tinha acabado de dizer claramente algo muito divertido, porque Crabbe, Goyle, Pansy Parkinson e o resto continuavam abafando o riso animadamente enquanto se reuniam em volta da tábua da mesa e, julgando pela maneira que todos dirigiam o olhar para Harry, ele era capaz de adivinhar o assunto da piada sem muita dificuldade.

- Estão todos aqui? - gritou a professora Grubbly-Plank, logo que todos da Sonserina e da Grifinória tinham chegado. - Vamos começar então. Quem poderia me dizer como essas coisas se chamam?

Ela indicou a pilha de galhos na sua frente. A mão de Hermione se lançou ao ar. Pelas suas costas, Malfoy fez uma imitação pobre dela se balançando no ímpeto de responder a questão. Pansy Parkinson deu um berro de risada que se tornou quase que imediatamente num grito, enquanto que os galhos na mesa saltaram no ar e se revelaram parecidos com criaturas duendes cuidadosas feitas de madeira, cada uma com braços e pernas em corcundas marrons, dois dedos de galho na ponta de cada mão e uma engraçada parte lisa, rosto de cortiça no qual um par de olhos-de-besouro reluziam.

- Oooooh! - disseram Pavarti e Lilá, irritando Harry profundamente. Nenhum deles imaginou que Hagrid nunca tinha mostrado a eles criaturas tão impressionantes; reconhecidamente, os Vermes-cegos tinham sido um pouco tediosos, mas as Salamandras e os Hipogrifos foram bastante interessantes, e os Explosivins talvez muito mais.

- Mantenham suas vozes mais baixas, garotas! - disse a professora Grubbly-Plank com severidade, espalhando um punhado de uma coisa parecida com arroz marrom entre as criaturas-varetas, que imediatamente se imaginou que era comida. - Então. Alguém sabe os nomes dessas criaturas? Srta. Granger?

- Tronquilhos - disse Hermione. - Eles são guardiões-das-árvores e vivem geralmente em árvores mágicas.

- Cinco pontos para a Grifinória - disse a professora Grubbly-Plank. - Sim, estes são Tronquilhos, e como a Srta. Granger corretamente falou, geralmente vivem em arvores cuja madeira é de qualidade mágica. Alguém sabe o que eles comem?

- Parasita de madeira - disse Hermione prontamente, o que explicou a Harry por que ele tinha visto que grãos do arroz marrom estavam se movendo. - Mas também ovos mágicos se os conseguirem.

- Boa menina, ganha mais cinco pontos. Então, sempre que vocês precisarem de folhas ou da madeira vinda da árvore onde um Tronquilho mora é bom ter um presente de parasitas de madeira prontos para distraí-los ou tranqüilizá-los. Eles podem não parecer perigosos mas se estão nervosos tentarão arrancar os olhos humanos com seus dedos, os quais, vocês podem ver, são muito pontiagudos e de modo algum desejáveis perto dos globos oculares. Então se vocês quiserem se reunir mais perto, peguem um pouco de parasitas de madeira e um Tronquilho, eu tenho o suficiente aqui para um entre três, vocês podem estudá-los mais atentamente. Eu quero uma anotação de cada um de vocês com todas as partes do corpo rotuladas no final da aula.

A classe se agitou adiante em volta da mesa. Harry deu a volta propositalmente do fundo onde estava para ficar bem ao lado da professora Grubbly-Plank.

- Onde está o Hagrid? - ele perguntou a ela enquanto todos os outros escolhiam seus Tronquilhos.

- Não se preocupe - disse a professora opressiva, o que tinha sido sua atitude da última vez que Hagrid tinha falhado em descobrir a classe, também. Dando um falso sorriso que cobria toda sua cara pontuda, Draco Malfoy se reclinou acima de Harry e agarrou o Tronquilho mais largo.

- Talvez - disse Malfoy em voz baixa, onde somente Harry podia ouvi-lo - o grande idiota estúpido esteja gravemente machucado.

- Talvez você ficará se não calar essa boca - disse Harry pelo canto da boca.

- Talvez ele esteja entretido com negócios que são muito grandes para ele, se é que você me entende.

Malfoy saiu com o sorriso falso por sobre os ombros a Harry, que se sentiu doente repentinamente. Será que Malfoy sabia de alguma coisa? Seu pai era um Comensal da Morte apesar de tudo; e se tivesse informação sobre o destino de Hagrid que ainda não tinham alcançado os ouvidos da Ordem? Ele voltou correndo à mesa para perto de Rony e Hermione, que estavam agachados na grama a alguma distância e tentavam persuadir um Tronquilho a permanecer ereto o suficiente para que o desenhassem. Harry arrancou seu pergaminho e sua pena, agachou-se ao lado dos outros e relatou num sussurro o que Malfoy tinha acabado de dizer.

- Dumbledore saberia se alguma coisa tivesse acontecido com Hagrid - disse Hermione rapidamente. - É só um jogo do Malfoy para que fiquemos aborrecidos; contaram a ele que nós não sabemos exatamente o que está se passando. Temos que ignorá-lo, Harry. Aqui, segure o Tronquilho um momento, para que eu possa desenhar seu rosto...

- Sim - a voz lenta de Malfoy vinha claramente do grupo perto deles. - Papai estava conversando com o Ministro apenas alguns dias atrás, você sabe, e me parece que o Ministro realmente determinou uma linha mais rígida no sub-padrão de ensino neste lugar. Então mesmo que aquele velho idiota resolva aparecer novamente, ele provavelmente será despedido imediatamente.

- Aaii!

Harry tinha segurado o Tronquilho tão forte que ele quase o mordeu, e tinha acabado de dar uma grande pancada na mão do Harry com seus dedos pontiagudos, deixando dois cortes profundos ali.

Harry caiu. Crabbe e Goyle, que já tinham rido da idéia de Hagrid estar demitido, riram mais ainda quando o Tronquilho saiu a toda velocidade em direção à Floresta, um pequenino homem-vareta já desaparecendo em meio à raiz das árvores. Quando o sino tocou distante por sobre a região, Harry enrolou seu desenho manchado do Tronquilho, marchou para a aula de Herbologia com sua mão enrolada num lenço da Hermione e a gargalhada ridícula de Malfoy ainda ecoando em seus ouvidos.

- Se ele chamar o Hagrid de idiota outra vez... - disse Harry com os dentes cerrados.

- Harry, não vá se meter em briga com o Malfoy, não se esqueça, ele é um monitor agora, e pode tornar a vida difícil pra você...

- Uau, eu imagino, como seria se minha vida fosse mais difícil? - disse Harry sarcasticamente. Rony riu, mas Hermione franziu as sobrancelhas.

Juntos, perambularam por entre a vegetação do campo. O céu ainda parecia incapaz de dizer a eles se ia chover ou não.

- Eu só espero que o Hagrid se apresse e esteja de volta, só isso - disse Harry em voz baixa, assim que alcançaram as estufas. - E não diga que aquela Grubbly-Plank é uma boa professora! - adicionou de modo ameaçador.

- Eu não ia dizer - disse Hermione calmamente.

- Porque ela nunca vai ser tão boa quanto o Hagrid - disse Harry firme, totalmente ciente de que ele tinha acabado de presenciar uma aula de Trato das Criaturas Mágicas exemplar e estava perfeitamente irritado por isso.

A porta da estufa mais perto abriu e alguns quartanistas saíram por ela, incluindo Gina.

- Oi - ela disse claramente assim que passou.

Alguns segundos depois, Luna Lovegood surgiu, seguindo o resto da classe, uma mancha de terra em seu nariz e seu cabelo preso num laço no topo da sua cabeça. Quando ela viu Harry seus olhos proeminentes se destacaram excitantes e ela andou em linha reta direto até ele. Muitos dos seus colegas de classe se viraram curiosos para assistir. Luna tomou fôlego e então disse, sem muitas palavras além de um oi.

- Eu acredito que Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado está de volta e acredito que você lutou com ele e escapou.

- Er... Certo - disse Harry sem jeito. Luna estava usando o que parecia ser um par de rabanetes laranjas para as orelhas, fato que Pavarti e Lilá pareciam ter notado, pois ambas estavam rindo e apontando para suas orelhas.

- Podem rir - Luna disse, sua voz se erguendo, aparentemente com a impressão de que Pavarti e Lilá estavam rindo do que ela tinha falado e não do que estava usando - mas as pessoas costumam acreditar que não há tantas coisas além de Blibbering Humdinger ou de Crumple-Horned Snorkack!

- Bom, ela está certa, não está? - disse Hermione impaciente. - Não há mesmo tantas coisas além de Blibbering Humdinger ou de Crumple-Horned Snorkack.

Luna dirigiu a ela um olhar fulminante e foi embora bruscamente, os rabanetes balançando loucamente. Pavarti e Lilá não eram as únicas que riam agora.

- Você se importa de não ofender mais a única pessoa que acredita em mim? - Harry pediu a Hermione enquanto caminhavam para a aula.

- Ah, pelo amor de Deus, Harry, você pode fazer melhor do que ela - disse Hermione. - Gina me contou tudo sobre ela; aparentemente só acredita nas coisas enquanto não há provas de jeito nenhum. Bom, eu não esperaria nada mais de alguém cujo pai escreve The Quibbler.

Harry se lembrou dos cavalos alados sinistros que tinha visto na noite em que chegou e em como Luna tinha dito que podia tê-los visto também. Seu espírito se afundou levemente. Será que ela estava mentindo? Mas antes que pudesse dar mais importância ao fato Ernie MacMillan se adiantou até ele.

- Quero que você saiba, Potter - ele disse em voz alta e contínua -, que não são somente os estranhos que te apóiam. Eu pessoalmente acredito em você cem por cento. Minha família sempre esteve apoiando firme o Dumbledore, assim como eu.

- Er... Muito obrigado, Ernie - disse Harry, embaraçado mas contente. Ernie podia parecer pomposo em ocasiões como essa mas Harry estava de maneira a apreciar profundamente um voto de confiança vindo de alguém que não tinha rabanetes pendurados em suas orelhas.

As palavras de Ernie certamente apagaram o sorriso da cara de Lilá Brown e, assim que se virou para conversar com Rony e Hermione, Harry captou a expressão de Simas, que parecia ao mesmo tempo confuso e desafiante.

Para a surpresa de ninguém, a professora Sprout começou sua aula palestrando-os sobre a importância dos N.O.M.s. Harry desejou que todos os professores parassem de fazer isso; estava começando a ter um sentimento ansioso e giratório no seu estômago toda vez que ele lembrava quanta lição de casa tinha pra fazer, um sentimento que piorou dramaticamente quando a professora Sprout deu outra lição no fim da aula. Cansados e cheirando a estrume de dragão, a professora preferia esse tipo de fertilizante, os alunos da Grifinória voltaram para o castelo uma hora e meia depois, nenhum deles conversando muito; tinha sido mais um dia difícil.

Como Harry estava faminto e tinha sua primeira detenção com Umbridge às cinco horas, seguiu direto para o jantar sem deixar sua mochila na Torre da Grifinória, e assim podia mastigar alguma coisa antes de encarar o que fosse que ela havia preparado. Ele mal tinha alcançado a entrada do Salão Principal, no entanto, quando uma voz alta e nervosa gritou.

- Oi, Potter!

- O que foi agora? - ele murmurou fraco, virando-se para encarar Angelina Johnson, que olhava como se estivesse num temperamento elevado.

- Eu te digo o que foi agora - ela disse, marchando mais pra perto dele e batendo com força em seu peito com o dedo. - Como você pôde pegar uma detenção para cumprir às cinco horas numa sexta-feira?

- O quê? - disse Harry. - Por que... Ah sim, treino de goleiro!

- Agora ele se lembra! - reclamou. - Eu não te disse que queria fazer um treino com o time todo e achar alguém que se encaixe com todo mundo? Eu não te falei que reservei a quadra de quadribol especialmente? E agora você decidiu que não vai estar lá!

- Eu não decidi que não estarei lá! - disse Harry, atormentado pela injustiça daquelas palavras. - Eu peguei detenção com aquela Umbridge, só porque eu disse a verdade sobre Você-Sabe-Quem.

- Bem, você pode ir direto a ela e pedir que te libere nesta sexta - disse violentamente - e não me importa como você vai fazer. Diga a ela que Você-Sabe-Quem é uma invenção da sua imaginação se quiser, apenas tenha certeza de que estará lá!

Ela bateu os calcanhares e saiu irritada.

- Sabe de uma coisa? - Harry disse a Rony e Hermione assim que entraram no Salão Principal. - Eu acho que nós devíamos checar com os Puddlemere United se o Olívio Wood está sendo destruído durante a sessão de treinamento, porque a Angelina parece que canalizou seu espírito.

- Você calcula quais são as chances da Umbridge deixar você se livrar na sexta? - disse Rony cético, quando se sentaram à mesa da Grifinória.

- Menos que zero - disse com tristeza, entornando costeletas de carneiro em seu prato e começando a comer. - Melhor tentar, então, não é? Eu vou oferecer para cumprir mais duas detenções ou algo assim, não sei... - engoliu um bocado de batatas e acrescentou. - Tomara que ela não me mantenha por muito tempo lá esta noite. Vocês sabem que temos de escrever três lições, praticar os Feitiços para Desaparecer da professora McGonagall, trabalhar numa porção de feitiços do Flitwick, terminar o desenho do Tronquilho e começar aquele diário de sonhos estúpido para a Trelawney?

Rony lamentou e pela mesma razão passou a olhar para o teto.

- E parece que vai começar a chover.

- O que devemos fazer com nossa lição de casa? - disse Hermione, seus olhos se destacaram.

- Nada - disse Rony rapidamente, suas orelhas avermelhando.

Às cinco para as cinco Harry se despediu dos outros dois e se pôs a caminho do escritório de Umbridge no terceiro andar. Quando bateu à porta ela chamou "Entre" numa voz açucarada. Entrou cautelosamente, olhando em volta.

Conhecia seu escritório sob o aspecto dos três ocupantes anteriores.

Nos dias em que Gilderoy Lockhart passou ali a sala era emplastrada de retratos brilhantes dele mesmo. Quando Lupin a ocupou era como você encontraria alguma criatura das trevas fascinante numa gaiola ou tanque se viesse chamá-lo. Nos dias do Moody impostor era atulhada com vários instrumentos e artefatos para a detecção de injustiças e esconderijos.

Agora, no entanto, parecia totalmente irreconhecível. As superfícies tinham sido todas enfeitadas com uma cobertura rendada e roupas. Havia alguns vasos cheios de flores secas, cada um residindo em seu próprio adereço, e numa das paredes uma coleção de pratos ornamentais, cada um decorado com um gatinho de cor berrante usando uma gravata diferente em torno do pescoço. Eles eram tão grosseiros que Harry não tirou os olhos deles, paralisado, até a professora Umbridge falar de novo.

- Boa noite, Sr. Potter.

Harry acordou e olhou em volta. Ele não a tinha notado num primeiro momento por que ela estava usando um conjunto de manto fúnebre de flores que combinavam muito bem com a toalha da mesa atrás.

- Boa noite, professora Umbridge - Harry disse com rigor.

- Bem, sente-se - ela disse, apontando em direção a uma mesa ornamentada de renda ao lado de uma cadeira bem alta. Um pedaço de pergaminho se encontrava em cima da mesa, aparentemente esperando por ele.

- Er... - disse Harry, sem se mexer. - Professora Umbridge. Er... Antes de começarmos, eu... Eu queria lhe pedir um... Um favor.

Seus olhos arregalados se encolheram.

- Ah, sim?

- Bem, Eu... Eu estou no time de quadribol da Grifinória. E eu teria de estar no treino para o novo goleiro às cinco horas da sexta e eu estava... Estava pensando se eu poderia pular a detenção esta noite e fazê-la... Fazê-la outra noite... Em vez de...

Ele sabia bem antes de alcançar o fim da sua frase que aquilo não estava bom.

- Oh, não - disse Umbridge, sorrindo tão abertamente que ela parecia como se tivesse engolido particularmente uma suculenta mosca. - Oh, não, não, não. Esta é a sua punição por ter propagado histórias más, indecentes, e para chamar a atenção, Sr. Potter, e punições certamente não podem ser ajustadas de modo a se adaptarem à conveniência de alguém culpado. Não, você virá aqui às cinco horas amanhã e depois de amanhã e na sexta também, e você cumprirá suas detenções como combinado. Eu acho que é uma boa idéia você estar perdendo algo que realmente queira fazer. Isso serve para reforçar a lição que eu estou tentando lhe passar.

Harry sentiu o sangue subindo na cabeça e ouviu um barulho de soco em suas orelhas. Então contou "histórias más, indecentes e para chamar a atenção", não foi?

Ela o estava observando com sua cabeça levemente para um lado, ainda sorrindo abertamente, como se soubesse exatamente o que ele estava pensando e esperando para ver quando ele começaria a falar novamente. Com um tremendo esforço, Harry desviou o olhar dela, jogou sua mochila ao lado da cadeira alta e se sentou.

- Aí está - disse Umbridge docemente -, estamos indo melhor controlando nosso temperamento, não acha? Agora, você fará algumas linhas para mim, Sr. Potter. Não, não com sua pena - ela acrescentou quando Harry se curvou para abrir sua mochila. - Você usará uma minha especial de preferência. Aqui está.

Ela lhe estendeu uma pena longa e fina com uma ponta extraordinariamente pontiaguda.

- Eu quero que você escreva "Eu não devo contar mentiras" - ela lhe disse suavemente.

- Quantas vezes? - Harry perguntou, com uma imitação creditável de delicadeza.

- Ah, quantas vezes forem necessárias para a mensagem entrar em sua cabeça - disse Umbridge docemente. - Pode começar agora.

Ela se moveu até sua mesa, sentou-se e se inclinou num amontoado de pergaminhos que pareciam lições para corrigir. Harry levantou a pena preta pontiaguda, então percebeu algo errado.

- Você não me deu nenhuma tinta.

- Oh, você não precisa de tinta - disse com a menor sugestão de riso em sua voz.

Harry posicionou a ponta da pena no papel e escreveu: "Eu não devo contar mentiras".

Deixou escapar um gemido de dor. As palavras tinham aparecido no pergaminho no que parecia ser tinta vermelha brilhante. Ao mesmo tempo, as palavras tinham aparecido nas costas da mão direita de Harry, cortando sua pele como se traçadas por um bisturi - e ainda quando ele olhava fixamente para o corte brilhante a pele cicatrizou, deixando o lugar onde estava menos vermelho do que antes mas completamente liso.

Harry olhou em volta para Umbridge. Ela o estava observando com sua boca larga de sapo esticada num sorriso.

- Sim?

- Nada - disse Harry baixinho.

Ele olhou de volta ao pergaminho, posicionou a pena mais uma vez, escreveu "Eu não devo contar mentiras", e sentiu a dor queimando nas costas da sua mão pela segunda vez; de novo as palavras cortaram dentro da sua pele; de novo cicatrizaram segundos depois.

E assim ele foi. De novo e de novo Harry escreveu as palavras no pergaminho no que ele logo percebeu que não era tinta, mas seu próprio sangue. E, de novo e de novo, as palavras cortavam dentro das costas da sua mão, cicatrizavam e reapareciam toda vez que ele punha a pena no pergaminho.

Uma escuridão caiu lá fora pela janela de Umbridge. Harry não perguntou quando poderia parar. Tampouco checou seu relógio. Sabia que ela estava procurando nele algum sinal de fraqueza e não mostraria nenhum, nem mesmo se tivesse de ficar sentado lá a noite toda, cortando sua própria mão com aquela pena...

- Venha cá - ela disse, depois do que pareceram horas.

Ele se levantou. Sua mão estava doendo aflitivamente. Quando olhou para baixo, para a mão, viu que o corte cicatrizara, mas a pele ali estava com uma ferida vermelha.

- Mão - ela disse.

Ele a estendeu. Ela a colocou em cima da sua própria mão. Harry conteve um calafrio enquanto ela o tocava com seus dedos curtos e grossos nos quais usava alguns anéis feios e velhos.

- Tsc, tsc, não vejo que causei muita impressão, ainda - disse, sorrindo. - Bom, teremos que tentar novamente amanhã à noite, não é? Pode ir.

Harry deixou seu escritório sem dizer uma palavra. A escola estava completamente deserta; já tinha com certeza passado da meia noite. Caminhou lentamente pelo corredor, então, quando tinha virado a esquina e tinha certeza de que ela não o ouviria, saiu correndo.

*

Não tinha tido tempo para praticar os Feitiços para Desaparecer, não tinha escrito um único sonho em seu diário de sonhos e não tinha terminado o desenho do Tronquilho, nem tinha efeito suas lições. Pulou o café da manhã na manhã seguinte para rabiscar alguns sonhos prontos para Adivinhação, sua primeira aula, e estava surpreso por encontrar um Rony despenteado em sua companhia.

- Por que você não fez isso a noite passada? - Harry perguntou enquanto Rony olhava em todos os cantos do salão comunal procurando inspiração.

Rony, que estava dormindo profundamente quando Harry tinha voltado ao dormitório, murmurou algo sobre "fazendo outras coisas", curvou-se devagar sobre seu pergaminho e rabiscou algumas palavras.

- É isso que temos de fazer - ele disse, batendo o diário fechando-o. - Eu direi que sonhei que estava comprando um par de sapatos novos, ela não pode dizer nada estranho sobre isso, pode?

Eles correram até a Torre Norte juntos.

- Como foi a detenção com a Umbridge, de qualquer forma? O que ela te obrigou a fazer?

Harry hesitou por uma fração de segundos, então disse.

- Linhas.

- Não foi tão ruim assim, então, hein?

- Não.

- Hey, me esqueci, ela te deixou sair na sexta?

- Não.

Rony grunhiu simpaticamente.

Foi um outro dia ruim para Harry; foi um dos piores em Transfiguração, não tendo praticado os Feitiços para Desaparecer de forma alguma. Teve de se abster da sua hora do almoço para completar a figura do Tronquilho e, enquanto isso, os professores McGonagall, Grubbly-Plank e Sinistra deram ainda mais lição de casa, as quais ele não tinha prospecções de acabar aquela noite por causa de sua segunda detenção com Umbridge. Para completar, Angelina Johnson o seguiu no jantar novamente e, descobrindo que ele não estaria presente nos treinos de goleiro nas sextas, contou a ele que não estava de toda impressionada por sua atitude, que esperava jogadores que desejavam permanecer no time e que pusessem o treino antes de quaisquer outros compromissos.

- Eu estou em detenção! - Harry gritou depois que ela saiu afetadamente. - Você acha que eu prefiro estar trancafiado numa sala com aquele sapo velho ou jogando quadribol?

- Ao menos são só linhas - disse Hermione, consolando-o, enquanto Harry se afundava no banco e olhava para seu bife e seu bolo de carne, os quais não havia pensado muito.

- Não é, não, é uma punição horrorosa, realmente...

Harry abriu a boca, fechou-a novamente e pendeu a cabeça. Ele não estava muito certo por que não estava contando a Rony e Hermione exatamente o que estava acontecendo na sala da Umbridge: ele só sabia que não queria ver suas caras de espanto; o que faria a coisa toda parecer pior e então mais difícil de encarar. Também sentiu que isso era entre ele e Umbridge, uma batalha privada de testamentos, e não daria a ela a satisfação de escutar suas reclamações.

- Não acredito em quanta lição de casa nós temos - disse Rony miseravelmente.

- Bem, por que você não fez nada a noite passada? - Hermione perguntou a ele. - Onde você estava, de qualquer forma?

- Eu estava... Eu fui dar uma volta - disse Rony de modo astuto.

Harry teve a distinta impressão de que ele não estava sozinho ocultando as coisas naquele momento.

*

A segunda detenção foi tão ruim quanto a primeira. A pele nas costas da mão de Harry ficara irritada mais rapidamente agora e logo estava vermelha e inflamada. Harry achou pouco provável que aquilo pudesse estar cicatrizando mais efetivamente por um tempo. Logo o corte remanesceria em sua mão e a Umbridge poderia, talvez, ficar satisfeita. Não deixou escapar nenhum gemido de dor, no entanto, e do momento em que ele entrou na sala ao momento em que ele partiu, de novo se passara da meia noite, não disse nada além de "boa noite" e "boa noite".

A situação da sua lição de casa, no entanto, era agora desesperadora e quando retornou ao salão comunal da Grifinória não foi, apesar de exausto, dormir, mas abriu seus livros e começou a lição da pedra-da-lua do Snape. Já se passavam das duas e meia quando a terminou. Sabia que tinha feito um trabalho pobre mas não teve ajuda para tal; a não ser que tivesse algo para ceder estaria em detenção com o Snape depois. Então escreveu apressadas respostas às perguntas que a professora McGonagall tinha passado, emendando junto algo com o manejo certo de Tronquilhos para a professora Grubbly-Plank, e subiu exausto para a cama, onde caiu completamente vestido por cima dos cobertores e adormeceu imediatamente.

*

Quinta passou num nevoeiro de cansaço. Rony parecia muito sonolento também, e Harry não via por que deveria estar. A terceira detenção de Harry passou do mesmo modo que as outras duas primeiras, exceto que depois de duas horas as palavras "Eu não devo contar mentiras" não perderam a cor das costas da mão de Harry, mas permaneciam arranhadas lá, deixando escapar gotas de sangue. A pausa das penas apontadas arranhando fez a professora Umbridge levantar os olhos.

- Ah - ela disse suavemente, saindo de sua mesa para examinar ela mesma sua mão. - Bom. Isso serve como um lembrete para você, não serve? Você pode sair por hoje.

- Eu ainda preciso voltar amanhã? - disse Harry, levantando sua mochila com a mão esquerda do que com sua outra esperta.

- Ah sim - disse a professora Umbridge, sorrindo tão abertamente quanto antes. - Sim, eu acho que podemos entalhar a mensagem um pouco mais fundo com uma outra noite de trabalho.

Harry nunca tinha considerado a possibilidade que haver outro professor no mundo que odiasse mais do que Snape mas enquanto caminhava de volta à Torre da Grifinória tinha de admitir que havia encontrado uma forte candidata. "Ela é cruel", ele pensou enquanto subia a escadaria para o sétimo andar, "ela é uma cruel, feia, má e velha...".

- Rony?

Tinha alcançado o topo da escada, virado à direita e quase andado até o Rony, que estava se escondendo atrás de uma estátua de Lachlan, o Esbelto, segurando com força seu cabo de vassoura. O amigo deu um grande salto de surpresa quando viu Harry e tentou esconder sua nova Cleansweep 11 em suas costas.

- O que você está fazendo?

- Er... Nada. O que você está fazendo?

Harry franziu as sobrancelhas para ele.

- Vamos lá, você pode me contar! Do que você está se escondendo aqui?

- Eu... Eu estou me escondendo do Fred e do Jorge, que você deve saber - disse Rony. - Eles acabaram de passar com um monte de primeiranistas, aposto que estão testando coisas neles novamente, digo, eles não podem fazer isso no salão comunal agora, não com a Hermione lá - estava falando de um modo rápido e febril.

- Mas por que você trouxe junto sua vassoura, você não estava voando, estava? - Harry perguntou.

- Eu... Tá bom... Tá bom, ok, eu vou te contar, mas não ria, certo? - Rony disse defensivamente, ficando vermelho a todo minuto. - Eu... Eu pensei que poderia tentar ser o goleiro da Grifinória agora que tenho uma vassoura decente. Vai. Vai em frente. Pode rir.

- Não estou rindo - disse e Rony vacilou. - É uma idéia brilhante! Eu ficaria muito contente se você entrasse para o time! Eu nunca te vi jogando como goleiro, você é bom?

- Não sou ruim - disse Rony, que sentiu um alívio imenso diante da reação de Harry. - Carlinhos, Fred e Jorge sempre me fizeram defender para eles quando estavam treinando durante as férias.

- Então você andou praticando esta noite?

- Toda noite desde terça... Apenas por conta própria. Tenho tentado enfeitiçar as goles para voarem até mim, mas não tem sido fácil e eu não sei quanta utilidade ela terá - Rony olhou nervoso e ansioso. - Fred e Jorge se acharão estúpidos quando me virem nos treinos. Eles não pararam de tirar sarro de mim desde que me tornei monitor.

- Tomara que eu esteja lá - disse Harry amargamente, enquanto caminhavam juntos em direção ao salão comunal.

- É, eu também desejo... Harry, o que é isso nas costas da sua mão?

Harry, que tinha coçado seu nariz com a mão livre direita, tentou escondê-la, mas obteve tanto sucesso quanto Rony com sua Cleansweep.

- É só um corte... Não é nada... É...

Mas Rony havia agarrado à força seu antebraço e puxou as costas da mão de Harry ao nível dos seus olhos. Houve uma pausa, durante a qual ele olhou atentamente as palavras cravadas na pele, então, sentindo-se enjoado, soltou Harry.

- Eu achei que você tinha dito que ela estava apenas lhe dando linhas?

Harry hesitou mas, apesar de tudo, Rony tinha sido honesto com ele, então contou a verdade sobre as horas que estava passando no escritório da Umbridge.

- A bruxa velha! - Rony disse num sussurro revoltado assim que pararam em frente à Mulher Gorda, que estava cochilando em paz com sua cabeça contra a moldura. - Ela é doente! Vá até a McGonagall, diga algo!

- Não - disse Harry rapidamente. - Não vou dar a ela a satisfação de saber que ela me pegou.

- Pegou você? Você não pode deixar ela se safar dessa maneira!

- Eu não sei quanto poder McGonagall tem sobre ela.

- Dumbledore, então, conte a Dumbledore!

- Não - disse Harry sem rodeios.

- Por que não?

- Ele tem o bastante em sua mente - disse Harry, mas essa não era a verdadeira razão. Não iria até Dumbledore pedir ajuda quando o diretor não havia falado com ele desde junho.

- Bom, eu calculo que posso... - Rony começou mas foi interrompido pela Mulher Gorda, que estava os olhando sonolenta e agora explodiu.

- Você me darão a senha ou eu terei de ficar acordada a noite toda esperando vocês terminarem essa conversa?

*

A sexta-feira amanheceu triste e molhada como o resto da semana. Apesar de Harry automaticamente ter dado uma espiada em direção à mesa dos professores quando entrou no Salão Principal não tinha nenhuma esperança de ver Hagrid, e imediatamente voltou a mente para seus problemas mais urgentes, como a gigantesca pilha de lição de casa que ele tinha de fazer e a possibilidade de mais uma detenção com Umbridge.

Duas coisas sustentaram Harry aquele dia. Uma era o fato de que era quase fim de semana; a outra era que, temeroso apesar da sua detenção final com a Umbridge ser certeza de acontecer, tinha tido uma visão distante da quadra de quadribol de sua janela e podia, com sorte, ser capaz de ver algo do treino de Rony. Este era apenas um raio de esperança, era verdade, mas Harry estava grato por qualquer coisa que pudesse brilhar na sua escuridão presente; ele nunca tinha tido uma primeira semana pior em termos de Hogwarts.

Às cinco horas daquela tarde ele bateu à porta do escritório da professora Umbridge para o que esperava sinceramente ser a última vez, e foi convidado a entrar. O pergaminho branco estava pronto para ele na mesa coberta de renda, a pena preta e pontiaguda a seu lado.

- Você sabe o que fazer, Sr Potter - disse Umbridge, sorrindo docemente para ele.

Harry pegou a pena e deu uma olhada através da janela. Se deslocasse sua cadeira alguns centímetros ou mais para a direita... Com o pretexto de se mover mais para perto da mesa, ele conseguiu.

Agora tinha uma vista distante do time de quadribol da Grifinória voando pra cima e pra baixo na quadra, enquanto que meia dúzia de figuras pretas estavam ao pé dos três postes de gol, aparentemente esperando sua vez para ser o goleiro. Era impossível distinguir qual deles era o Rony à distância.

"Eu não devo contar mentiras", Harry escreveu. O corte nas costas da sua mão direita se abriu e começou a sangrar mais uma vez.

"Eu não devo contar mentiras." O corte cavou mais profundo, ferroando e ferindo.

"Eu não devo contar mentiras." O sangue escorregou em seus pulsos.

Arriscou uma nova espiada lá fora pela janela. Quem fosse que estivesse defendendo os aros de gol agora estava fazendo um trabalho pobre de fato. Katie Bell marcou duas vezes em poucos minutos. Harry se atreveu a assistir. Torcendo muito que o goleiro não fosse o Rony, voltou os olhos ao pergaminho brilhando de sangue.

"Eu não devo contar mentiras."

"Eu não devo contar mentiras."

Deu uma espiada sempre que achava que podia se arriscar; quando podia ouvir o arranhão da pena de Umbridge ou a abertura de uma gaveta da escrivaninha. A terceira pessoa a treinar foi muito bem, a quarta foi terrível, a quinta se desviou de um balaço excepcionalmente bem mas então achou a partida muito fácil. O céu estava escurecendo e Harry duvidou que pudesse ver a sexta e a sétima pessoas de jeito nenhum...

"Eu não devo contar mentiras."

"Eu não devo contar mentiras."

O pergaminho estava agora salpicado de gotas de sangue vindas das costas de sua mão, a qual estava queimando de dor. Quando deu uma nova espiada a noite havia chegado e a quadra da quadribol não estava mais visível.

- Vamos ver se você já recebeu a mensagem, vamos? - disse a voz suave de Umbridge meia hora depois.

Ela se moveu em direção a ele, alongando seus dedos curtos com anéis até seu braço. E então, enquanto ela o segurou para examinar as palavras agora cortadas em sua pele, a dor queimou, não através das costas da sua mão, mas através da cicatriz em sua testa. Ao mesmo tempo, ele teve uma mesma sensação peculiar em algum lugar em torno da barriga.

Ele arrancou seu braço pra fora do alcance dela e saltou de pé, fitando-a. Ela olhou de volta para ele, um sorriso largamente esticado, com a boca frouxa.

- Sim, isso dói, não é? - ela disse suavemente.

Ele não respondeu. Seu coração estava batendo muito forte e rápido. Ela estava falando de sua mão ou sabia o que ele acabara de sentir em sua testa?

- Bem, acho que já estou satisfeita, Sr. Potter. Pode ir.

Ele catou sua mochila e deixou a sala o mais rápido que pôde.

"Fique calmo", ele disse a si mesmo, assim que corria a toda velocidade para cima nas escadas. "Fique calmo, não significa necessariamente o que você acha que significa..."

- Mimbulus mimbletonia! - ofegou para a Mulher Gorda, que se balançou adiante mais uma vez.

Um som de urro veio recebê-lo. Rony veio correndo em sua direção, reluzindo alegria em todo seu rosto e derramando cerveja amanteigada adiante da taça que estava agarrado.

- Harry, Eu consegui, estou dentro, eu sou o goleiro!

- O quê? Oh... Brilhante! - disse Harry, tentando sorrir naturalmente, enquanto que seu coração continuava acelerado e sua mão pulsando e sangrando.

- Tome uma cerveja amanteigada - Rony pressionou uma garrafa nele. - Eu não posso acreditar... Aonde a Hermione foi?

- Ela está ali - disse Fred, que também estava bebendo cerveja amanteigada, e apontou para uma poltrona perto do fogo.

Hermione estava cochilando, sua bebida entornando precariamente de sua mão.

- Bom, ela disse que estava contente quando contei a ela - disse Rony, olhando levemente desligado.

- Deixe-a dormir - disse Jorge apressadamente.

Alguns momentos antes Harry notou que muitos dos primeiranistas que se reuniram em volta deles sustentavam sinais evidentes de uma recente hemorragia nasal.

- Venha aqui, Rony, e veja se o uniforme antigo do Olívio lhe serve - chamou Katie Bell. - Nós podemos tirar o nome dele e colocar o seu no lugar...

Assim que Rony se moveu para longe, Angelina veio caminhando até Harry.

- Desculpe-me por ter sido tão rude com você cedo, Potter - ela disse abruptamente. - É bem estressante esse negócio de comandar, você entende, eu começo a achar que pareço um pouco com o Wood na dureza algumas vezes - ela estava observando Rony por cima da borda da sua taça com as sobrancelhas levemente franzidas em seu rosto. - Olha, eu sei que ele é seu melhor amigo, mas ele não é fabuloso - disse de modo áspero. - Acho que com um pouco de treino ele estará bem, apesar de tudo. Ele vem de uma família de bons jogadores de quadribol. Aposto que ele demonstrará um pouco mais de talento do que o que mostrou hoje, para ser sincera. Vicky Frobisher e Geoffrey Hooper ambos voaram melhor essa noite, mas Hooper é um resmungão, está sempre lamentando sobre alguma coisa ou outra, e Vicky está envolvida com a alta sociedade. Ela mesma admitiu que se os treinos confrontassem com seu Clube de Feitiços colocaria o Clube em primeiro lugar. De qualquer forma, teremos uma aula prática amanhã às duas horas, então apenas tenha certeza de que estará lá desta vez. E me faça um favor e ajude Rony o mais que puder, ok?

Ele inclinou a cabeça e Angelina voltou em companhia de Alicia Spinnet. Harry se deslocou para se sentar ao lado de Hermione, que acordou com o arremesso da mochila dele ao chão.

- Oh, Harry, é você... Bom sobre o Rony, não acha? - ela disse ofuscante. - Estou tão... Tão... Tão cansada - ela bocejou. - Estava de pé antes da uma hora fazendo mais chapéus. Eles estão desaparecendo como loucos!

E, sem dúvida, agora que ele olhou, Harry viu que havia chapéus de lã escondidos em toda a volta do salão onde elfos descuidados pudessem acidentalmente pegá-los.

- Ótimo - disse Harry distraído; se não contasse a alguém logo ia explodir. - Escuta, Hermione, eu acabei de vir do escritório da Umbridge e ela tocou meu braço...

Hermione escutou com atenção. Quando Harry terminou, ela disse devagar.

- Você está preocupado se Você-Sabe-Quem a está controlando como controlou Quirrell?

- Bom - disse Harry, baixando a voz -, é uma possibilidade, não é?

- Suponho que sim - disse Hermione, apesar de soar inconvincente. - Mas eu não acho que ele a vem controlando da mesma forma que controlava o Quirrell, digo, ele está propriamente vivo de novo agora, não é, tem seu próprio corpo, ele não precisaria partilhar o de outra pessoa. Ele pode tê-la sob o domínio da Maldição Imperius, eu suponho...

Harry observou Fred, Jorge e Lino Jordan fazendo malabarismos com garrafas de cerveja amanteigada por um momento. Então Hermione disse.

- Mas no ano passado sua cicatriz doeu quando ninguém estava te tocando, e Dumbledore não disse que tinha a ver com o sentimento de Você-Sabe-Quem no momento? Digo, talvez isso não tenha nada a ver com a Umbridge apesar de tudo, talvez seja apenas coincidência na hora que você estava com ela?

- Ela é cruel - disse Harry sem rodeios. - Horrível.

- Ela é horrível, sim, mas... Harry, acho que você deveria contar a Dumbledore que sua cicatriz doeu.

Era a segunda vez em dois dias que ele havia sido alertado para ir até Dumbledore e sua resposta a Hermione foi a mesma dada a Rony.

- Não vou incomodá-lo com isto. Como você mesmo disse, não é grande coisa. Ela tem doído de vez em quando todo o verão... Foi só um pouco pior esta noite, só isso...

- Harry, tenho certeza de que Dumbledore ia querer ser incomodado com isto...

- Tá - disse Harry, antes que pudesse parar -, é o único pedaço de mim que Dumbledore se importa, não é, minha cicatriz?

- Não diga isso, não é verdade!

- Acho que vou escrever a Sirius sobre isso, ver o que ele acha...

- Harry, você não pode colocar algo assim numa carta! - disse Hermione, parecendo amedrontada. - Não se lembra, Moody nos disse para sermos cuidadosos no que colocamos nas cartas! Não podemos garantir que as corujas não estejam mais sendo interceptadas!

- Tá bom, tá bom, eu não contarei a ele, então! - disse irritado. Ele se levantou. - Eu vou dormir. Conte a Rony por mim, está bem?

- Ah não - disse Hermione, parecendo aliviada -, se você se vai dessa maneira eu também posso ir, sem ser rude. Estou absolutamente exausta e quero fazer mais alguns chapéus amanhã. Escuta, você pode me ajudar, se quiser, é bem engraçado, estou ficando melhor, consigo fazer moldes e bobbles e todo tipo de coisas agora.

Harry olhou para seu rosto, que estava brilhando de alegria, e tentou parecer como se estivesse vagamente tentado por sua oferta.

- Er... Não, não sei vou poder, obrigado - ele disse. - Er... Não amanhã. Tenho uma porção de lição de casa para fazer...

E ele escapou para as escadas do dormitório masculino, deixando-a levemente desapontada.

-- CAPÍTULO 14 --
PERCY E ALMOFADINHAS


Harry foi o primeiro a acordar no dormitório na manhã seguinte. Ficou deitado por um tempo, observando um redemoinho de poeira no meio do raio de luz vindo dos pregos de seus quatro pôsteres, saboreou o pensamento de que era sábado. A primeira semana de fato pareceu ter se esticado para sempre, como uma gigantesca aula de História da Magia.

Julgando pelo silêncio adormecido e o leve frescor daquele raio de luz, era antes do amanhecer. Puxou as cortinas ao lado da cama, levantou-se e começou a se vestir. O único som audível além do gorjeio distante dos pássaros era a respiração lenta e profunda de seus colegas da Grifinória. Abriu sua mochila cuidadosamente, retirou pergaminho e pena e deixou o dormitório em direção à sala comunal.

Indo direto até sua poltrona amassada e velha ao lado do agora extinto fogo, Harry se acomodou confortavelmente e desenrolou seu pergaminho enquanto olhava ao redou do salão. Os detritos de pedaços destruídos de pergaminho, Gobstones velhos, jarras de ingredientes vazias e pequenos papéis que geralmente se espalham pela sala comunal no fim de cada dia tinham sumido, assim como todos os chapéus de elfos da Hermione. Perguntando-se vagamente quantos elfos tinham agora se libertado querendo ser livres ou não, Harry destampou seu tinteiro, mergulhou sua pena nele, então a segurou suspensa uns trinta centímetros acima da superfície suave e amarelada de seu pergaminho, pensando muito... Mas depois de um minuto ou mais se achou parado diante da lareira vazia, num completo fracasso do que dizer.

Podia agora apreciar como devia ter sido difícil para Rony e Hermione escreverem cartas para ele durante o verão. Como contaria a Sirius tudo o que havia se passado durante a semana passada e posicionar todas as perguntas que ansiava em fazer sem dar a potenciais ladrões de carta um monte de informações as quais não queria dá-los?

Ele ficou sentado, quieto e imóvel por um tempo, encarando a lareira, então, finalmente veio a resposta, mergulhou a pena no tinteiro mais uma vez e a posicionou definitivamente no pergaminho.

"Caro Snuffles,

Espero que esteja bem, a primeira semana de volta aqui tem sido terrível, estou muito contente que é o fim de semana.

Temos uma nova professora de Defesa Contra as Artes das Trevas, professora Umbridge. Ela é quase tão gentil como sua mãe. Estou escrevendo porque aquilo que eu lhe escrevi no verão passado aconteceu de novo a noite passada, quando estava cumprindo uma detenção com a Umbridge.

Todos nós sentimos falta do nosso maior amigo, esperamos que ele esteja de volta logo.

Por favor, me responda rapidamente.

Do seu querido,

Harry"

Harry releu a carta diversas vezes, tentando vê-la do ponto de vista de um desconhecido. Não conseguia ver como saberiam sobre o que ele estava falando - ou com quem estava falando - apenas lendo-a. Esperava que Sirius entendesse a dica sobre Hagrid e contasse quando ele poderia estar de volta. Harry não queria perguntar diretamente para o caso de não chamar muita atenção ao que Hagrid estaria tramando enquanto não estava em Hogwarts.

Considerando que aquela era uma carta muito pequena, ela demorou um bocado para ser escrita; o sol já tinha se arrastado até o meio do salão enquanto trabalhava nela e podia agora ouvir sons distantes de movimento vindos do dormitório acima. Guardando o pergaminho cuidadosamente, passou pelo buraco do retrato e se deslocou até o Corujal.

- Eu não iria por aí se fosse você - disse Nick Quase Sem Cabeça, sendo levado pela corrente desconcertantemente através de uma parede bem acima de Harry enquanto caminhava pela passagem. - Pirraça está planejando pregar uma peça na primeira pessoa que passar perto do busto do Paracelsus a meio caminho do corredor.

- Isso envolve o Paracelsus caindo na cabeça de alguém?

- Muito engraçado, isso sim - disse Nick Quase Sem Cabeça numa voz aborrecida. - Sutileza nunca foi o ponto forte do Pirraça. Estou tentando encontrar o Barão Sangrento.... Ele deve ser capaz de acabar com isso... Te vejo mais tarde, Harry...

- É, tchau - disse Harry e, em vez de virar à direita, virou à esquerda, pegando um caminho mais longo mas mais seguro até o Corujal lá em cima.

Seu espírito se levantou enquanto passava janela por janela que mostrava o céu azul e brilhante; tinha treino mais tarde, podia estar de volta à quadra de quadribol finalmente.

Alguma coisa roçou seus tornozelos. Olhou para baixo e viu a gata cinza esquelética e bem cuidada, Madame Nor-r-ra, passando por ele. Ela fitou seus olhos amarelos e brilhantes nele por um tempo antes de desaparecer atrás de uma estátua de Wilfred, o Triste.

- Não estou fazendo nada de errado - Harry falou atrás dela. Tinha um ar de gato evidente que estava saindo fora para reportar ao dono, ainda que Harry não pudesse entender por quê; estava perfeitamente designado a andar até o Corujal numa manhã de sábado.

O sol estava alto no céu agora e quando Harry adentrou o Corujal os reflexos das janelas ofuscaram seus olhos; grossos raios prateados de luz cruzavam a sala circular na qual centenas de corujas se aconchegavam em abrigos, poucas descansavam na luz da manhã, algumas claramente retornadas da caça. O chão coberto de palha fez um pouco de barulho enquanto andava por entre ossos de pequenos animais, levantando o pescoço à procura de Edwiges.

- Aí está você - disse, localizando-a em algum lugar perto do bem alto teto abobadado. - Desça aqui, eu tenho uma carta para você.

Com um pequeno assovio ela abriu suas grandes asas e levantou vôo até seu ombro.

- Certo, eu sei que está escrito Snuffles fora - contou a ela, dando-lhe a carta para prender em seu bico e, sem saber exatamente por quê, sussurrou -, mas é para o Sirius, ok?

Ela piscou uma vez seus olhos âmbar, dando-o a entender que havia compreendido.

- Tenha um vôo seguro, então - disse Harry e ele a carregou até uma das janelas; por alguns momentos pressionando seu braço, Edwiges decolou por entre o céu claro e ofuscante.

Observou-a até ela se tornar uma pequena mancha preta e desaparecer, então passou a contemplar a cabana de Hagrid, claramente visível daquela janela, e como estava claramente inabitada, a chaminé não soltava fumaça e as cortinas estavam fechadas.

O topo das árvores da Floresta Proibida lançaram uma brisa suave. Harry a sentiu, saboreando o ar fresco em sua face, pensando sobre o quadribol mais tarde... Então ele o viu. Um grande e reptiliano cavalo alado, como aqueles que puxam as carroças de Hogwarts, com asas pretas e rígidas se estendendo como as de um pterodátilo, levantou-se dentre as árvores como um pássaro grotesco e gigante. Planou num grande círculo, então mergulhou de volta às árvores. A coisa toda aconteceu muito rápido, Harry mal podia acreditar, exceto que seu coração estava martelando loucamente.

A porta do Corujal abriu atrás dele. Saltou de susto e, virando rapidamente, viu Cho Chang segurando uma carta e um pacote nas mãos.

- Oi - disse Harry automaticamente.

- Ah... Oi - ela disse ofegante. - Eu não achei que alguém pudesse estar aqui em cima tão cedo... Me lembrei há apenas cinco minutos atrás, é o aniversário de minha mãe.

Ela levantou o pacote.

- Certo - disse Harry. Seu cérebro parecia que tinha se comprimido. Ele queria dizer algo engraçado e interessante, mas a lembrança daquele terrível cavalo alado estava fresca em sua mente. - Belo dia - ele disse, apontando para a janela. Suas entranhas pareciam ter se comprimido com o embaraço. O tempo. Ele estava falando sobre o tempo...

- Sim - disse Cho, procurando ao redor por uma coruja adequada. - Boas condições para quadribol. Eu não tenho saído durante toda a semana, você tem?

- Não.

Cho escolheu uma das corujas da escola. Ela a atraiu até seu braço, onde estendeu uma perna gentil para que Cho pudesse prender o pacote.

- Hey, a Grifinória já tem um novo goleiro? - ela perguntou.

- Sim. É o meu amigo, Rony Weasley, você o conhece?

- O que odeia os Tornados? - disse Cho de um modo meio frio. - Ele é bom?

- Sim - disse Harry -, eu acho que sim. Apesar de não ter visto seu treino. Eu estava em detenção.

Cho levantou os olhos, o pacote preso apenas pela metade nas pernas da coruja.

- Aquela Umbridge é nojenta! - disse em voz baixa. - Pondo você em detenção só porque você contou a verdade sobre como... Como... Como ele morreu. Todo mundo ouviu falar sobre isso, está por toda a escola. Você foi muito corajoso a encarando daquele jeito.

As entranhas de Harry re-inflaram tão rapidamente que ele sentiu como se estivesse realmente alguns centímetros fora do chão. Quem se importa com um cavalo alado estúpido? Cho achava que ele tinha sido realmente corajoso. Por um momento, considerou mostrá-la acidentalmente-de-propósito sua mão ferida enquanto a ajudava a prender o pacote em sua coruja... Mas no mesmo instante em que esse pensamento receoso lhe ocorreu a porta do Corujal se abriu novamente.

Filch, o zelador, veio ofegante para dentro da sala. Havia manchas violetas em suas bochechas fundas e cheias de veias, seu queixo estava tremendo e seu cabelo cinza e fino desgrenhado; tinha obviamente corrido até lá. Madame Nor-r-ra veio trotando atrás dele, encarando as corujas no alto e miando faminta. Houve um impaciente agito de asas vindo de cima e uma coruja grande e marrom estalou o bico numa atitude ameaçadora.

- Ahá! - disse Filch, dando um grande passo em direção a Harry, suas bochechas violetas tremendo de raiva. - Recebi um aviso de que você pretende restaurar uma desordem com bombas de bosta!

Harry cruzou os braços e encarou o zelador.

- Quem te disse que eu estou pretendendo soltar bombas de bosta?

Cho olhava de Harry para Filch também com o olhar carrancudo; a coruja em seu braço, cansada de ficar numa perna só, deu-lhe um pio de censura mas ela ignorou.

- Eu tenho minhas fontes - disse Filch num assovio de satisfação. - Agora me entregue o que quer que você esteja mandando.

Sentindo-se imensamente grato por não ter se demorado em postar sua carta, Harry disse.

-Não posso, já foi embora.

- Embora? - disse Filch, seu rosto se contorcendo de raiva.

- Embora - disse Harry calmamente.

Filch abriu a boca furiosamente, balbuciou por alguns segundos, então varreu o uniforme de Harry com os olhos.

- Como eu vou saber se você não as tem em seus bolsos?

- Porque...

- Eu o vi mandando - disse Cho nervosamente.

Filch se virou até ela.

- Você o viu...?

- Isso mesmo, eu o vi - ela disse violentamente.

Houve um momento de pausa no qual Filch olhou furiosamente para Cho e ela olhou furiosamente bem de volta para ele, então o zelador bateu os calcanhares e se arrastou em direção à porta. Ele parou com sua mão em punho e olhou de volta para Harry.

- Se eu pegar um sopro sequer de uma bomba de bosta...

Ele caminhou pesadamente nas escadas abaixo. Madame Nor-r-ra arremessou um último olhar para as corujas e o seguiu.

Harry e Cho se entreolharam.

- Obrigado -Harry disse.

- Sem problemas - disse Cho, finalmente prendendo o pacote na outra perna da coruja, sua face levemente avermelhada. - Você não estava pretendendo soltar bombas de bosta, estava?

- Não.

- Fico imaginando, por que ele achou que você estava, então? - disse enquanto carregava a coruja à janela.

Harry encolheu os ombros. Estava um tanto assustado por aquela atitude que ela teve, apesar de aquilo não o estar incomodando muito no momento.

Eles deixaram o Corujal juntos. Na entrada de um corredor que dava para a parte leste do castelo, Cho disse.

- Eu vou por esse caminho. Bom, eu... Eu te vejo por aí, Harry.

- Sim... Até mais.

Ela sorriu para ele e partiu. Harry caminhou em frente, sentindo-se completamente glorificado. Ele tinha conseguido ter uma conversa inteira com ela sem ficar envergonhado uma vez... Você foi muito corajoso encarando-a daquele jeito... Cho o tinha chamado de corajoso... Ela não o odiava por estar vivo...

É claro, ela havia preferido Cedrico, ele sabia disso... De qualquer forma se ele a tivesse convidado para o Baile antes de Cedrico as coisas poderiam ter sido diferentes... Ela sinceramente parecia ter sentido muito por ter de recusar quando Harry a convidou...

- Dia - Harry disse claramente para Rony e Hermione assim que se juntou a eles à mesa da Grifinória no Salão Principal.

- O que está te fazendo tão satisfeito? - disse Rony, olhando Harry com surpresa.

- Er... Quadribol mais tarde - disse Harry alegremente, puxando um prato largo de bacon e ovos em sua direção.

- Ah... É... - disse Rony. Largou o pedaço de torrada que estava comendo e tomou um grande gole de suco de abóbora. -  Escuta... Você não pretende sair um pouco mais cedo comigo, pretende? Apenas para... Er... Me dar um pouco de prática antes do treino? Para que eu possa, você sabe, ficar mais esperto um pouco.

- Sim, tá bem.

- Olha, eu não acho que vocês deveriam - disse Hermione seriamente. - Ambos estão atulhados de lição de casa para...

Mas ela parou de falar; o correio da manhã estava chegando e, como sempre, o Profeta Diário veio planando sua em direção no bico de uma coruja ruidosa, a qual aterrissou perigosamente perto do açucareiro e estendeu a perna. Hermione enfiou um nuque em sua bolsa de couro, pegou o jornal e examinou a primeira página criticamente enquanto a coruja ia embora.

- Alguma coisa interessante? - disse Rony. Harry forçou um sorriso, sabendo que Rony estava ansiando por mantê-la longe do assunto da lição de casa.

- Não - ela suspirou -, apenas alguma baboseira sobre a baixista das Weird Sisters estar se casando.

Hermione abriu o jornal e desapareceu atrás dele. Harry se dedicou a mais um pouco de ovos e bacon. Rony estava observando no alto as altas janelas, parecendo ligeiramente preocupado.

- Espere um pouco - disse Hermione de repente. - Ah não... Sirius!

- O que aconteceu? - disse Harry, agarrando o jornal tão violentamente que ele se rasgou ao meio, com ele e Hermione cada um segurando uma metade.

- "O Ministério da Magia recebeu uma pista vinda de fonte confiável que Sirius Black, o famoso assassino em massa... blá blá blá... Está aparentemente escondido em Londres!" - Hermione leu de sua metade num sussurro angustiado.

- Lúcio Malfoy, eu aposto - disse Harry em voz baixa e furiosa. - Ele deve ter reconhecido Sirius na plataforma...

- O quê? - disse Rony, parecendo alarmado. - Você não disse...

- Shh! - disseram os outros dois.

- ..."O Ministério alerta à comunidade dos bruxos que Black é muito perigoso... Matou treze pessoas... Fugiu de Azkaban..." A baboseira de sempre - Hermione concluiu, baixando sua metade do jornal e olhando horrivelmente para Harry e Rony. - Bom, ele apenas não vai mais poder deixar a casa novamente, só isso - sussurrou. - Dumbledore o preveniu disso.

Harry olhou mal humorado para o pedaço do Profeta que ele tinha rasgado. Muitas das páginas eram dedicadas a um anúncio da Madame Malkin - Roupas Para Todas as Ocasiões, a qual aparentemente estava tendo uma promoção.

- Hey! - disse, achatando o jornal para baixo para que Hermione e Rony pudessem ver. - Vejam isto!

- Eu tenho todas as roupas que quero - disse Rony.

- Não. Olhe... Este pedacinho aqui... - Rony e Hermione se curvaram mais para perto para ler; o item tinha apenas alguns centímetros de largura e se postava na parte inferior de uma coluna. Estava intitulado:

VIOLAÇÃO NO MINISTÉRIO

Sturgis Podmore, 38, do número dois do Jardim Laburno, Clapham, apareceu em frente a Wizengamot acusado de violar a lei numa tentativa de assalto ao Ministério da Magia em 31 de agosto. Podmore foi preso pelo bruxo-olheiro do Ministério da Magia, Eric Munch, que o encontrou tentando forçar caminho através de uma porta ultra-secreta à uma hora da madrugada. Podmore, que se recusa a falar em sua própria defesa, foi culpado em ambas as acusações e sentenciado a seis meses em Azkaban.

- Sturgis Podmore? - disse Rony devagar. - Ele é aquele sujeito que parece que sua cabeça está coberta da palha, não é? Ele é um dos da Ord...

- Rony, shhh! - disse Hermione, lançando um olhar apavorado em torno deles.

- Seis meses em Azkaban! - sussurrou Harry, chocado. - Apenas por estar tentando atravessar uma porta!

- Não seja burro, não é apenas por estar tentando atravessar uma porta. O que diabos ele estava fazendo no Ministério da Magia à uma hora da madrugada? - sussurrou Hermione.

- Vocês supõem que ele estava fazendo algo para a Ordem? - Rony murmurou.

- Espera um pouco... - disse Harry devagar. - Sturgis é que era esperado para vir e nos ver ir embora, lembram?

Os outros dois olharam para ele.

- Sim, ele é que era esperado para ser parte da nossa guarda indo para King's Cross, lembram? E Moody está todo perturbado porque ele não apareceu; então ele não poderia estar numa tarefa para eles, poderia?

- Bem, talvez eles não esperassem que ele fosse pego - disse Hermione.

- Poderia ser uma armação! - Rony exclamou excitado. - Não... Ouçam! - continuou, baixando a voz dramaticamente diante do olhar ameaçador no rosto de Hermione. - O Ministério suspeita que ele é um dos que estão do lado do Dumbledore então... Não sei... Eles o atraíram até o Ministério, e ele não estava tentando atravessar uma porta realmente! Talvez eles apenas armaram algo para pegá-lo!

Houve uma pausa enquanto Harry e Hermione consideravam aquilo. Harry achou que parecia um absurdo. Hermione, por sua vez, pareceu particularmente impressionada.

- Vocês sabem, eu não ficaria de toda surpresa se isso for verdade.

Ela dobrou sua metade do jornal ponderadamente. Assim que Harry baixou sua faca e garfo ela parecia ter voltado de um sonho acordado.

- Certo, bem, eu acho que devemos cuidar daquela lição da Sprout de autofertilização de arbustos primeiro e se tivermos sorte seremos capazes de começar o Feitiço Inanimatus Conjurus da McGonagall antes do almoço...

Harry sentiu uma pontada de culpa no pensamento da pilha de lição de casa esperando por ele lá em cima, mas o céu estava de um azul claro e alegre e não voava em sua Firebolt há uma semana...

- Estou dizendo, podemos fazer isso à noite - disse Rony, enquanto ele e Harry caminhavam ao longo do gramado ondulado em direção à quadra de quadribol, suas vassouras por cima dos ombros e com os avisos terríveis de Hermione de que poderiam ser reprovados em seus N.O.M.s ainda ecoando em seus ouvidos. - E temos amanhã. Ela fica muito emotiva quando o assunto é os estudos, esse é o problema dela... - houve uma pausa e ele acrescentou, num tom suavemente mais ansioso. - Você acha que ela falou sério quando disse que nós não íamos copiar dela?

- Sim, acho. Mas, isto é importante, também, nós temos de praticar se quisermos permanecer no time de quadribol...

- É, tá certo - disse Rony, num tom encorajador. - E nós temos tempo de sobra pra fazer isso tudo...

Assim que se aproximaram da quadra de quadribol, Harry olhou atentamente à sua direita, onde as árvores da Floresta Proibida estavam oscilando obscuramente. Nada voou para fora delas; o céu estava vazio, mas a alguma distância corujas se agitavam ao redor da torre do Corujal. Não tinha com o que se preocupar; o cavalo voador não estava causando a ele nenhum dano; tirou aquilo da cabeça.

Eles tiraram bolas do armário no vestiário e se puseram a treinar, Rony guardando os três altos postes de gol, Harry jogando de artilheiro e tentando passar a goles por Rony. Harry achou que Rony era muito bom; ele bloqueou três quartos dos gols que Harry tentou passar e jogou melhor quanto mais praticavam. Depois de algumas horas retornaram ao castelo para o almoço - durante o qual Hermione deixou muito claro que os achava irresponsáveis - então retornaram à quadra de quadribol para o treino verdadeiro. Todos os seus colegas de time, exceto Angelina, já estavam no vestiário quando entraram.

- Tudo bem, Rony? - disse Jorge, piscando para ele.

- Sim - disse Rony, que foi ficando cada vez mais quieto em todo o caminho até a quadra.

- Pronto para nos mostrar tudo lá em cima, monitorzinho? - disse Fred, emergindo descabelado na nuca em seu uniforme de quadribol, um sorriso forçado e suavemente malicioso em sua face.

- Cala a boca - disse Rony, de cara fechada, vestindo seu próprio uniforme do time pela primeira vez. Serviu bem nele considerando que tinha sido do Olívio Wood, que era largo especialmente nos ombros.

- Ok, todo mundo - disse Angelina, vindo do escritório do Capitão, já vestida. - Vamos logo com isso; Alicia e Fred, peço a vocês se podem apenas lançar a bola na cesta para nós. Ah, e tem um monte de gente lá fora assistindo, mas eu quero que vocês os ignorem, certo?

Alguma coisa na sua voz casual de "séria" fez Harry achar que talvez soubesse quem eram os espectadores não convidados e, como previu, quando deixaram o vestiário para o céu aberto e brilhante na quadra para uma tempestade de vaias e zombarias vindas do time de quadribol da Sonserina e diversos puxa-sacos, que estavam agrupados no meio das arquibancadas vazias e cujas vozes ecoavam aos berros ao redor do estádio.

- O que aquele Weasley está montando? - Malfoy chamou com sua voz arrastada e de desprezo. - Por que ninguém põe um feitiço de vôo numa lenha velha e mofada como aquela?

Crabbe, Goyle e Pansy Parkinson gargalharam e gritaram com alegria. Rony montou em sua vassoura, saltou do chão e Harry o seguiu, observando suas orelhas ficando vermelhas por detrás.

- Ignore-os - disse, acelerando para alcançar Rony -, vamos ver quem vai estar rindo depois que nós jogarmos...

- Exatamente a atitude que eu quero, Harry - disse Angelina, com aprovação, planando ao redor deles com a goles debaixo do braço e diminuindo para pairar imediatamente em frente ao seu time aerotransportado. - Ok, todo mundo, vamos começar com alguns passes apenas para aquecer, o time inteiro, por favor...

- Hey, Johnson, o que é este corte de cabelo, de qualquer forma? - gritou Pansy Parkinson lá embaixo. - Por que alguém ia querer parecer que tem vermes saindo da cabeça?

Angelina arrastou seus longos cabelos ondulados pra longe do seu rosto e continuou calmamente.

- Posicionem-se, então, e vamos ver o que somos capazes de fazer...

Harry virou para trás, para longe dos demais, até o lado mais distante da quadra. Rony se reverteu em direção ao gol oposto. Angelina levantou a goles com uma mão e jogou com força para Fred, que passou para Jorge, que passou para Harry, que passou para Rony, que a deixou cair.

Os sonserinos, liderados por Malfoy, urraram e gritaram numa gargalhada. Rony, que se atirou em direção ao chão para catar a goles antes que ela aterrissasse, saiu do mergulho meio errado, de modo que escorregou de lado em sua vassoura e retornou para jogar lá no alto corado. Harry viu Fred e Jorge trocarem olhares, mas anormalmente nenhum dos dois disse nada, para o qual ele era grato.

- Passe para frente, Rony - chamou Angelina, como se nada tivesse acontecido.

Rony jogou a goles para Alicia, que passou de volta ao Harry, que passou ao Jorge...

- Hey, Potter, como vai sua cicatriz? - chamou Malfoy. - Certeza de que você não precisa descansar? Deveria, afinal, uma semana inteira sem visitar a ala do hospital, é um recorde pra você, não é?

Jorge passou para Angelina, que reverteu o passe para Harry, que não estava esperando a bola, mas a catou com as pontas dos dedos e a passou rapidamente a Rony, que se lançou a ela mas errou por centímetros.

- Vamos lá, Rony - disse Angelina, de mau humor, enquanto ele mergulhava ao chão novamente, seguindo a goles. - Preste atenção.

Teria sido difícil dizer o que estava mais escarlate: o rosto do Rony ou a goles quando ele voltou novamente para jogar lá no alto. Malfoy e o resto do time da Sonserina estavam uivando em gargalhadas.

Em sua terceira tentativa, Rony catou a goles; talvez por causa do alívio ele a passou tão entusiasmadamente que planou diretamente através da mão estendida da Katie e bateu com força em seu rosto.

- Desculpe! - Rony suspirou, zunindo adiante para ver se ele havia lhe causado algum dano.

- Voltem às posições, ela está bem! - berrou Angelina. - Mas enquanto estiverem passando para um membro do time tentem não golpeá-lo para fora de sua vassoura, está bem? Temos balaços para isso!

O nariz de Katie estava sangrando. Lá embaixo, os sonserinos estavam mostrando os pés e zombando. Fred e Jorge se dirigiram até Katie.

- Aqui, tome isso - Fred disse a ela, dando-lhe algo semelhante a uma pílula pequena e violeta vinda do seu bolso. - Vai resolver o problema num piscar de olhos.

- Está bem - chamou Angelina. - Fred, Jorge, vão pegar seus tacos e um balaço. Rony, apresse-se até os postes de gol. Harry, solte o pomo quando eu disser. Temos como objetivo o gol de Rony, obviamente.

Harry zuniu atrás dos gêmeos para trazer o pomo.

- Rony está fazendo um belo serviço de porco, não? - murmurou Jorge, enquanto os três aterrissavam ao lado do baú contendo as bolas e o abriram para retirarem um dos balaços e o pomo.

- Ele só está nervoso - disse Harry -, jogou bem quando eu estava praticando com ele esta manhã.

- É, bom, eu espero que ele não tenha se esforçado ao máximo tão cedo. - disse Fred melancolicamente.

Eles retornaram ao ar. Quando Angelina deu um assovio Harry soltou o pomo e Fred e Jorge deixaram o balaço voar. Daquele momento em diante, Harry não tinha muita noção do que os outros estavam fazendo. Era seu trabalho recapturar a bolinha dourada agitada que garantia cento e cinqüenta pontos ao time do apanhador e isso exigia uma enorme velocidade e habilidade. Ele acelerou, girando e desviando dos artilheiros pra cima e pra baixo, o ar morno do outono açoitando seu rosto e os gritos distantes e tão insignificantes dos sonserinos vibrando em seus ouvidos... Mas logo o assovio o fez parar novamente.

- Parem. Parem. PAREM! - bradou Angelina. - Rony, você não está cobrindo o poste do meio!

Harry olhou em volta para Rony, que estava pairando em frente ao aro à sua esquerda, deixando os outros dois completamente desprotegidos.

- Oh... Desculpa...

- Mantenha se deslocando em volta enquanto observa os artilheiros! - disse Angelina. - Também não fique parado no centro até que tenha de se mover para defender um aro, pelo contrário, circule os aros, mas não se mova vagamente para um lado, é assim que você estreita os três gols!

- Desculpa... - Rony repetiu, seu rosto vermelho brilhando como um farol contra o céu azul e brilhante.

- E Katie, você não pode fazer algo para parar essa hemorragia nasal?

- Está só piorando! - disse Katie à grosso modo, tentando obstruir a vazão com sua manga.

Harry deu uma espiada ao redor para Fred, que parecia ansioso e estava checando seus bolsos. Ele viu Fred puxar pra fora algo violeta, examiná-lo por um segundo e então olhar em volta até Katie, evidentemente golpeado de horror.

- Bom, vamos tentar de novo - disse Angelina. Ela estava ignorando os sonserinos, que tinham agora levantado um coro de "Grifinórios são perdedores, grifinórios são perdedores", mas havia uma certa rigidez sobre o seu assento na vassoura no entanto.

Desta vez tinham voado por apenas três minutos quando o assovio de Angelina soou. Harry, que tinha acabado de mirar o pomo circulando o aro oposto, parou, sentindo-se claramente irritado.

- O que foi agora? - disse impaciente para Alicia, que estava mais próxima.

- Katie - ela disse rapidamente.

Harry se virou e viu Angelina, Fred e Jorge todos voando o mais rápido que podiam em direção a Katie. Harry e Alicia aceleraram em direção a ela, também. Estava claro que Angelina tinha parado o treino bem em tempo; Katie estava agora branca como giz e coberta de sangue.

- Ela precisa ir para a ala do hospital - disse Angelina.

- Nós a levaremos - disse Fred. - Ela... Er... Pode ter engolido uma Pastilha de Hemorragia Nasal por engano...

- Bom, não tem cabimento continuar isso sem batedores e uma artilheira destruída - disse Angelina, de mau humor, assim que Fred e Jorge voaram em direção ao castelo carregando Katie entre eles. - Vamos lá, vamos embora e trocar de roupa.

Os sonserino continuaram a cantar enquanto se arrastaram para dentro dos vestiários.

- Como foi o treino? - perguntou Hermione de modo frio especialmente meia hora depois, assim que Harry e Rony subiram através do buraco do retrato para dentro da sala comunal da Grifinória.

- Foi... - Harry começou.

- Completamente abominável - disse Rony numa voz oca, afundando-se numa cadeira ao lado de Hermione. Ela ergueu os olhos até ele e sua expressão fria pareceu se dissolver.

- Bom, foi apenas o seu primeiro - ela disse consoladamente -, costuma levar um tempo para...

- Quem disse que fui eu quem o tornou abominável? - repreendeu Rony.

- Ninguém - disse Hermione, parecendo embaraçada. - Eu achei...

- Você achou que eu estava restrito a ser uma porcaria?

- Não, é claro que não! Olhe, você disse que foi abominável então eu apenas...

- Eu vou começar a fazer alguma lição de casa - disse Rony, irritado, andou até a escadaria que dava ao dormitório masculino e desapareceu de vista. Hermione se virou para Harry.

- Ele foi abominável?

- Não - disse Harry lealmente.

Hermione levantou as sobrancelhas.

- Bom, eu suponho que ele poderia ter jogado melhor - Harry murmurou -, mas foi apenas o primeiro treino, como você disse...

Nem Harry nem Rony pareciam ter feito muito progresso com a lição de casa aquela noite. Harry sabia que o amigo estava muito preocupado com o quão mal tinha atuado no treino de quadribol e ele mesmo estava tendo dificuldade em tirar o coro "os grifinórios são perdedores" de sua cabeça.

Gastaram o domingo inteiro na sala comunal, enterrados em seus livros enquanto a sala ao redor deles encheu e então esvaziou. Foi mais um dia claro e bom e muitos dos seus colegas da Grifinória o passaram fora nos gramados, aproveitando muito bem um pouco da última luz do sol possível aquele ano. Mais à noite, Harry sentiu como se alguém tivesse batido em seu cérebro contra o interior do seu crânio.

- Você sabe, provavelmente devemos tentar deixar mais lições de casa prontas durante a semana - Harry murmurou a Rony, quando finalmente puseram de lado a longa lição de Feitiço Inanimatus Conjurus da professora McGonagall e se viraram miseravelmente para a igualmente longa e difícil lição sobre as várias luas de Júpiter da professora Sinistra.

- É - disse Rony, esfregando levemente os olhos vermelhos e atirando seu quinto pedaço estragado de pergaminho no fogo ao lado deles. - Escuta... Vamos apenas perguntar a Hermione se podemos dar uma olhada no que ela fez?

Harry a espiou; estava sentada com Bichento em seu colo e conversando alegremente com Gina quando um par de agulhas de tricô brotou no espaço à sua frente, agora tricotando um par de meias de elfo amorfas.

- Não - ele disse pesadamente -, você sabe que ela não nos deixará.

E então continuaram trabalhando enquanto o céu pra fora das janelas se tornou constantemente mais escuro. Devagar, a multidão na sala comunal começou a rarear de novo. Às onze e meia, Hermione se desviou até eles, bocejando.

- Quase acabado?

- Não - disse Rony rapidamente.

- A maior lua de Jupiter é Ganymede, e não Callisto - ela disse, apontando por cima dos ombros de Rony numa linha em sua lição de Astronomia. - E é a que tem os vulcões.

- Obrigado - reclamou Rony, apagando as sentenças ofensivas.

- Desculpa, eu só...

- É, bom, se você veio até aqui para criticar...

- Rony...

- Não tenho tempo para ouvir sermões, está bem, Hermione, estou até o pescoço com isso daqui...

- Não... Veja!

Hermione estava apontando para a janela mais próxima. Harry e Rony ambos a examinaram. Um imponente chiado de coruja vinha do parapeito da janela, observando Rony dentro da sala.

- Não é o Errol? - disse Hermione, parecendo espantada.

- Meu Deus, é! - disse Rony calmamente, jogando abaixo sua pena e vindo a seus pés. - Para que será que o Percy está escrevendo para mim?

Ele cruzou até a janela e a abriu; Errol voou para dentro, aterrissou na lição do Rony e estendeu uma perna na qual uma carta estava presa. Rony tirou a carta e a coruja partiu rapidamente, deixando pegadas de tinta acima do desenho da lua Io de Rony.

- Esta é definitivamente a letra de Percy - disse Rony, afundando de volta na sua cadeira e olhando atentamente para as palavras do lado de fora do rolo de pergaminho: "Ronald Weasley, Casa da Grifinória, Hogwarts". Levantou os olhos até os outros dois. - O que vocês imaginam que seja?

- Abra! - disse Hermione avidamente e Harry indicou com a cabeça.

Rony desenrolou o pergaminho e começou a ler. Quanto mais abaixo do pergaminho seus olhos viajavam mais pronunciada ficava sua cara de mau humor. Quando terminou de ler parecia enojado. Empurrou a carta para Harry e Hermione, que se inclinaram mais para junto um do outro para lê-la.

"Caro Rony,

Eu acabei de ouvir neste momento (por ninguém mais que o Ministro da Magia pessoalmente, o que obteve de sua nova professora, Umbridge) que você se tornou um monitor em Hogwarts.

Fiquei agradavelmente muito surpreso quando ouvi essa notícia e devo primeiramente lhe oferecer meus parabéns. Tenho de admitir que sempre tive medo de que você pudesse pegar o que podemos chamar de 'jeito' do Fred e do Jorge, em vez de seguir meus passos, então você pode imaginar meus sentimentos em ouvir que você parou de desprezar as autoridades e decidiu carregar nos ombros alguma responsabilidade verdadeira.

Mas quero lhe dar mais do que parabéns, Rony, quero lhe dar alguns conselhos, que é o porquê de eu estar lhe mandando esta à noite em vez do usual correio da manhã. Com esperança, você poderá ler esta longe de olhos curiosos e evitar questões impertinentes.

Por alguma razão o Ministro deixou escapar quando me contou que você agora é monitor que você ainda tem se encontrado muito com o Harry Potter. Devo lhe contar, Rony, que nada mais pode por em perigo de você perder sua patente do que continuar a se fraternizar com esse garoto. Sim, eu tenho certeza de que você está surpreso em ouvir isso - sem dúvida você dirá que Potter sempre foi um dos favoritos de Dumbledore - mas eu me sinto obrigado a lhe contar que Dumbledore pode não estar mais no cargo em Hogwarts por muito tempo e as pessoas com as quais ele conta têm uma diferente (e provavelmente mais apurada) visão do comportamento do Potter. Não direi mais nada aqui, mas se você olhar o Profeta Diário amanhã terá uma boa noção do modo como o vento está soprando - e verá se você identifica quem realmente lhe quer bem!

Falando sério, Rony, você não quer ser tachado como mais um da laia do Potter, isso poderá ser muito perigoso para suas prospecções futuras e eu estou falando aqui da vida depois da escola, também. Como você deve estar ciente, supondo que nosso pai fez a corte para ele, Potter teve uma audiência disciplinar este verão na frente de toda a Wizengamot e ele não saiu de lá parecendo muito bem. Ele saiu de lá inocente por um mero detalhe, se você quer saber minha opinião, e muitas das pessoas com as quais eu conversei continuam convincentes de sua culpa.

Pode ser que você esteja com medo de cortar relações com o Potter - eu sei que ele pode ser meio desequilibrado e, até onde eu conheço, violento - mas se você tiver quaisquer problemas a respeito disso, ou tiver identificado qualquer coisa a mais no comportamento do Potter que está lhe perturbando, eu lhe imploro que fale para a Dolores Umbridge, uma mulher realmente adorável que eu sei que ficaria muito feliz em lhe dar conselhos.

Isto me leva ao meu outro conselho. Assim como eu ouvi falar, o regime de Dumbledore em Hogwarts talvez acabe logo. Sua lealdade, Rony, não deveria ser para com ele, mas para com a escola e o Ministério. Fico muito triste em ouvir que, de longe, a professora Umbridge está encontrando muito pouca cooperação da equipe enquanto se esforça para fazer as mudanças necessárias no interior de Hogwarts que o Ministério anseia ardentemente (ainda que ela teria achado mais fácil à partir da próxima semana - novamente, leia o Profeta Diário amanhã!). Devo dizer apenas isto - um estudante que se mostre disposto a ajudar a professora Umbridge agora poderá ser muito bem visto para o cargo de Monitor-Chefe daqui a poucos anos!

Eu lamento ter estado incapacitado de lhe ver mais durante o verão. Me dói criticar nossos pais, mas eu receio que não possa mais viver sob aquele teto enquanto continuam ligados com o grupo perigoso ao redor do Dumbledore. (Se você estiver escrevendo a Mamãe em algum momento, deveria contar a ela que um certo Sturgis Podmore, que é um grande amigo do grupo do Dumbledore, foi mandado recentemente para Azkaban por violação no Ministério. Talvez isto possa abrir os olhos deles para os tipos de crimes insignificantes dos quais eles estão freqüentemente carregando nas costas.) Levo em consideração que sou muito sortudo por ter escapado do estigma da associação com tais pessoas - o Ministro realmente não poderia ser mais grato a mim - e eu espero mesmo, Rony, que você não permita que os laços familiares lhe ceguem da natureza enganada das crenças e ações de nossos pais também. Espero sinceramente que, em tempo, eles perceberão o quão errados estão e eu estarei, é claro, pronto para aceitar sinceras desculpas quando esse dia chegar.

Por favor reflita sobre o que eu disse muito cuidadosamente, especialmente a parte sobre o Harry Potter, e parabéns novamente por ter se tornado monitor.

Seu irmão,

Percy"

Harry ergueu os olhos para Rony.

- Bom - disse, tentando fazer soar que ele havia achado a coisa toda uma piada -, se você quiser... Er... Onde está? - checou a carta de Percy. - Ah, sim... "Cortar relações" comigo, eu juro que não ficarei violento.

- Me devolva - disse Rony, estendendo sua mão. - Ele é... - disse estupidamente, rasgando a carta de Percy ao meio. - O maior... - rasgou-a em quatro. - Idiota ... - rasgou-a em oito. - Do mundo! - jogou os pedaços no fogo. - Vamos lá, temos que deixar isso terminado alguma hora antes do amanhecer - disse bruscamente para Harry, puxando a lição da professora Sinistra de volta em sua direção.

Hermione estava olhando para Rony com uma expressão estranha em seu rosto.

- Oh, me dêem isso aqui - disse bruscamente.

- O quê? - disse Rony.

- Me dêem, eu as examinarei e corrigirei.

- Você fala sério? Ah, Hermione, você é uma salva-vidas - disse Rony -, o que poss...?

- O que você pode dizer é "Nós prometemos que nunca mais deixaremos nossa lição da casa atrasar desse jeito de novo" - disse, estendendo ambas as mãos para suas lições, mas parecia ligeiramente se divertir com o fato de tudo aquilo ser igual.

- Obrigado um milhão de vezes, Hermione - disse Harry fracamente, passando à frente sua lição e afundando de volta em sua poltrona, esfregando seus olhos.

Agora já se passava da meia noite e a sala comunal estava deserta, exceto pelos três e Bichento. O único som era o da pena de Hermione rabiscando sentenças aqui e ali nas lições e da desordem das páginas enquanto checava fatos variados nos livros de referência espalhados ao redor da mesa. Harry estava exausto. Ele, além disso, experimentou uma sensação vazia, estranha e nauseada em seu estômago que nada tinha a ver com cansaço e tudo o mais da carta agora se enrolando maldosamente no coração do fogo.

Sabia que metade das pessoas no interior de Hogwarts o achava esquisito, até mesmo maluco; sabia que o Profeta Diário tinha estado fazendo insinuações falsas a seu respeito por meses, mas havia algo mais vendo aquilo escrito daquele jeito nas palavras de Percy, sobre saber que estava advertindo Rony a abandoná-lo e até mesmo contar histórias a seu respeito para a Umbridge, que fez sua situação mais real para ele do que ninguém jamais tinha feito. Conhecia Percy há quatro anos, tinha ficado em sua casa durante as férias de verão, partilhado a mesma tenda com ele durante a Copa do Mundo de Quadribol, tinha até mesmo lhe premiado com pistas boas na segunda tarefa do Torneio Tribruxo no ano anterior, e agora, Percy o achava desequilibrado e possivelmente violento.

E com uma onda de simpatia pelo seu padrinho, Harry achou que Sirius era provavelmente a única pessoa que conhecia que podia realmente entender como se sentia naquele momento, porque Sirius estava na mesma situação. Quase todos no mundo dos bruxos achavam Sirius um assassino perigoso, um grande aliado de Voldemort e tinha tido de viver com aquele conhecimento há quatro anos...

Harry piscou. Tinha acabado de ver algo no fogo que não poderia estar ali. Tinha relampejado de vista e desapareceu imediatamente. Não... Não poderia ser... Tinha imaginado isso porque tinha estado pensando em Sirius...

- Ok, escreva isso aí embaixo - Hermione disse para Rony, empurrando a lição dele e uma folha coberta com sua própria letra de volta ao Rony -, então acrescente esta conclusão que escrevi para você.

- Hermione, você honestamente é a pessoa mais maravilhosa que eu já conheci - disse Rony fracamente - e se eu algum dia for rude com você novamente...

- Eu saberei que você voltou ao normal - disse Hermione. - Harry, a sua está boa, exceto por esse pedaço no final, acho que você escutou errado a professora Sinistra, a Europa é coberta de gelo, não pêlo... Harry?

Harry tinha escorregado de sua cadeira, ficado de joelhos e estava agora encolhido no tapete da lareira tostado e surrado se curvando, encarando o fogo lá dentro.

- Er... Harry? - disse Rony incerto. - Por que você está aí embaixo?

- Porque eu acabei de ver a cabeça de Sirius no fogo - disse Harry.

Falou muito calmamente; afinal, havia visto a cabeça de Sirius naquele fogo enorme no ano anterior e falara com ela, também; apesar disso, não podia estar certo que a havia realmente visto dessa vez... Tinha desaparecido tão rapidamente...

- A cabeça de Sirius? - Hermione repetiu. - Você quis dizer como quando ele quis conversar com você durante o Torneio Tribruxo? Mas ele não faria isso agora, poderia ser muito... Sirius!

Ela arfou, encarando o fogo; Rony derrubou sua pena. Lá, no meio das chamas dançantes, situava-se a cabeça de Sirius, os longos cabelos escuros caindo ao redor de seu rosto sorridente.

- Eu estava começando a pensar que vocês tinham ido para a cama antes de todo o resto desaparecer - ele disse. - Tenho estado checando toda hora.

- Você vem estalando no fogo toda hora? - Harry disse, meio rindo.

- Apenas por poucos segundos para checar se o caminho estava limpo.

- Mas e se alguém te visse? - disse Hermione ansiosa.

- Bom, acho que uma garota... Do primeiro ano, pela sua aparência... Talvez teve um relampejo de mim cedo, mas não se preocupe - Sirius disse com pressa, assim que Hermione levou uma mão à boca -, eu já tinha ido no momento em que ela olhou de volta para mim e aposto que somente achou que eu era uma lenha de formato estranho ou algo parecido.

- Mas, Sirius, isto está sendo um risco terrível... - Hermione começou.

- Você fala como a Molly - disse Sirius. - Esta foi a única maneira que eu poderia propor em responder a carta de Harry sem lançar mão de códigos... E códigos são quebráveis.

À menção da carta de Harry, Hermione e Rony se viraram para encará-lo.

- Você não disse que tinha escrito para o Sirius! - disse Hermione em tom acusador.

- Eu esqueci - disse Harry, o que era perfeitamente verdade; seu encontro com Cho no Corujal tinha levado tudo antes daquilo embora de sua mente. - Não me olhe desse jeito, Hermione, não tinha como ninguém tirar informações secretas de dentro dela, tinha, Sirius?

- Não, ela estava muito boa - disse Sirius, sorrindo. - De qualquer forma, temos de ser rápidos, apenas no caso de sermos perturbados... Sua cicatriz.

- O que tem...? - Rony começou, mas Hermione o interrompeu.

- Nós lhe contamos mais tarde. Vá em frente, Sirius.

- Bem, eu sei que não pode ser divertido quando ela dói, mas não achamos que seja realmente uma coisa a se preocupar. Ela ficou doendo sempre no ano passado, não ficou?

- Sim, e Dumbledore disse que isso acontecia toda vez que Voldemort estava sentindo uma emoção poderosa - disse Harry, ignorando, como sempre, os receios de Rony de Hermione. - Então talvez ele estivesse, não sei, muito bravo ou algo assim na noite em que tive aquela detenção.

- Bom, agora que ele está de volta isso está destinado a acontecer mais freqüentemente - disse Sirius.

- Então, você não acha que tem algo a ver com o fato da Umbridge me tocando quando eu estava em detenção com ela?

- Eu duvido - disse Sirius - Conheço sua reputação e tenho certeza de que ela não é uma Comensal da Morte...

- Ela é grosseira o bastante para ser uma - disse Harry ameaçadoramente e Rony e Hermione balançaram as cabeças vigorosamente em acordo.

- Sim, mas o mundo não está dividido entre pessoas boas e Comensais da Morte - disse Sirius com um sorriso amargo. - Eu sei que ela é um pedaço de trabalho fedorento, apesar disso... Vocês deveriam ouvir o Remo falar sobre ela.

- O Lupin a conhece? - perguntou Harry rapidamente, relembrando-se dos comentários da Umbridge sobre mestiços perigosos durante sua primeira aula.

- Não, mas ela traçou algumas legislações antilobisomens dois anos atrás que tornou praticamente impossível para ele conseguir um emprego.

Harry se lembrou do quão desgastado Lupin parecia nesses dias e sua antipatia pela Umbridge aprofundava ainda mais.

- O que ela tem contra lobisomens? - disse Hermione irritada.

- Medo deles, eu suponho - disse Sirius, sorrindo para a indignação dela. - Aparentemente, ela odeia meio-humanos; ela fez campanha para ter os sereianos recolhidos e tachados ano passado, também. Imaginem, perdendo tempo e energia perseguindo os sereianos quando há pequenos vagabundos como o Kreacher soltos por aí.

Rony riu, Hermione pareceu preocupada.

- Sirius! - ela disse de forma repreendedora. - Honestamente, se você fizesse um pouco mais de esforço com o Kreacher tenho certeza de que ele reagiria. Afinal, você é o único membro da família dele que ainda resta, e o professor Dumbledore disse...

- Então, como são as aulas da Umbridge? - Sirius interrompeu. - Ela está treinando vocês apenas para matar mestiços?

- Não - disse Harry, ignorando o olhar ofendido de Hermione por ter sido cortada em sua defesa ao Kreacher. - Ela não está nos deixando usar mágica de nenhuma maneira!

- Tudo o que fazemos é ler o livro escolar estúpido - disse Rony.

- Ah, bem, isso se explica, Nossa informação vinda de dentro do Ministério é que o Fudge não quer vocês treinados em combate.

- Treinados em combate! - repetiu Harry, incrédulo. - O que ele pensa que estamos fazendo aqui, formando alguma espécie de exército de bruxos?

- É exatamente o que ele acha que estão fazendo ou senão é exatamente o que ele teme que Dumbledore esteja fazendo: formando seu próprio exército privado, com o qual ele poderá enfrentar o Ministério da Magia.

Houve uma pausa depois disto, então Rony disse.

- Esta é a coisa mais estúpida que eu já ouvi, incluindo todas as besteiras que a Luna Lovegood confessa.

- Então estamos sendo privados de aprender Defesa Contra as Artes das Trevas porque o Fudge está receoso que usaremos magia contra o Ministério? - disse Hermione, parecendo furiosa.

- É. Fudge acha que Dumbledore não saberá o limite para dominar o poder. Está ficando cada dia mais paranóico sobre o Dumbledore. É uma questão de tempo antes de ele colocar Dumbledore preso em alguma acusação inventada.

Isto relembrou a Harry a carta de Percy.

- 'Cê sabe se vai ter qualquer coisa a respeito do Dumbledore no Profeta Diário amanhã? O irmão do Rony, Percy, supõe que haverá...

- Não sei, não sou vidente, todos da Ordem estavam muito ocupados a semana toda. Tem sido apenas entre Kreacher e eu aqui...

Houve um tom definitivamente amargo na voz de Sirius.

- Então vocês não têm tido nenhuma notícia sobre o Hagrid, tampouco?

- Ah... Bom, ele era esperado para estar de volta por agora, ninguém tem certeza do que aconteceu com ele - então, vendo suas caras chocadas, acrescentou rapidamente. - Mas Dumbledore não está preocupado, então não fiquem vocês três em estado de alerta; garanto que Hagrid está bem.

- Mas se ele era esperado para estar de volta por agora... - disse Hermione numa voz pequena e ansiosa.

- Madame Maxime está com ele, estamos em contato com ela e ela disse que eles se separaram na volta para casa, mas não há nada que sugira que ele está machucado ou... Bem, nada que sugira que ele não está perfeitamente bem.

Não convincentes, Harry, Rony e Hermione trocaram olhares preocupados.

- Escutem, não fiquem fazendo muitas perguntas sobre o Hagrid - disse austeramente -, isso só vai atrair muito mais a atenção para o fato de ele não estar de volta e eu sei que Dumbledore não quer isso. Hagrid é forte, ele estará bem - e quando eles não pareciam animados por causa disso, Sirius acrescentou. - Quando é o próximo final de semana de vocês em Hogsmeade, hein? Estava pensando, nós escapamos com o disfarce do cão na estação, não escapamos? Acho que poderia...

- NÃO! - disseram Harry e Hermione juntos, em voz bem alta.

- Sirius, você não viu o Profeta Diário? - disse Hermione ansiosa.

- Ah, aquilo - disse Sirius, num sorriso forçado -, eles estão sempre adivinhando onde estou, na verdade não têm uma pista...

- Sim, mas achamos que desta vez eles têm - disse Harry. - Alguma coisa que Malfoy disse no trem nos fez pensar que ele sabia que era você, e o pai dele estava na plataforma, Sirius... Você sabe, Lúcio Malfoy... Então o que quer que você faça, não apareça aqui. Se o Malfoy lhe reconhecer novamente...

- Tá bom, tá bom, já entendi - disse Sirius; parecia muito descontente. - Só uma idéia, acredito que talvez possamos nos reunirmos...

- Já disse, eu simplesmente não quero você enfiado de volta em Azkaban! - disse Harry.

Houve uma pausa na qual Sirius olhou fora do fogo para Harry, com uma ruga entre os olhos afundados.

- Você é menos parecido com seu pai do que imaginei - ele disse finalmente, com uma frieza definitiva em sua voz. - O risco teria sido o que faria ser divertido para Tiago.

- Olhe...

- Bom, é melhor eu ir andando, posso ouvir Kreacher vindo descendo as escadas - disse Sirius, mas Harry tinha certeza de que era mentira. - Escreverei para lhes contar quando poderei voltar à lareira, então, posso? Se vocês puderem correr esse risco?

Houve um pequeno estalo e no lugar em que a cabeça de Sirius tinha estado estava tremeluzindo em chamas mais uma vez.

-- CAPÍTULO 15 --
A GRANDE INQUISIDORA DE HOGWARTS


Eles esperavam procurar cuidadosamente no Profeta Diário de Hermione na manhã seguinte para encontrar o artigo que Percy havia mencionado em sua carta. A coruja de entrega planou pelo teto e posou junto à jarra de leite, entretanto Hermione se engasgou e abriu o jornal, que mostrava uma grande figura de Dolores Umbridge com um enorme sorriso e piscando levemente para eles sob a manchete:

"MINISTÉRIO VISA REFORMA EDUCACIONAL

DOLORES UMBRIDGE APROVADA COMO GRANDE INVESTIGADORA"

- Umbridge, grande Investigadora? - disse Harry sombriamente, a torrada comida pela metade escorregando entre seus dedos.

- O que isso significa?

Hermione continuou a ler:

"Num movimento surpreendente na noite passada o Ministério da Magia aprovou nova legislação dando a si um nível de controle sem precedentes sobre a Escola de Magia e Bruxaria Hogwarts.

'O Ministério está ficando preocupado com o que vem acontecendo em Hogwarts', disse o Assistente Junior do Ministro, Percy Weasley. 'Ele está agora respondendo à inquietação proclamada por pais ansiosos, que sentem que a escola esteja indo em uma direção que eles não aprovam'.

Essa não é a primeira vez nas últimas semanas que o Ministro, Cornélio Fudge, tem usado novas leis para executar melhoras na escola de Magia. Em 30 de agosto o Decreto Educacional número 22 foi aprovado para assegurar que, caso o atual diretor não possa colocar um candidato para o posto de professor, o Ministério deve selecionar uma pessoa apropriada. 'Foi assim que Dolores Umbridge foi apontada para o corpo de professores de Hogwarts', disse Weasley na noite passada. 'Dumbledore não conseguiu encontrar alguém então o Ministério colocou Umbridge e, lógico, ela está sendo um sucesso imediato.'"

- Ela está sendo O QUÊ??? - disse Harry alto.

- Espere, há mais - disse Hermione.

"Revolucionou totalmente o ensino de Defesa contra Artes das Trevas e providencia ao Ministério um relatório completo sobre o que realmente acontece em Hogwarts.

'É a última função que o Ministro formalizou com a aprovação do Decreto Educacional número 23, que cria a nova posição de Grande Investigador de Hogwarts.'

'É uma excitante nova fase no plano do Ministro para identificar o que alguns chamam de decaimento moral em Hogwarts', disse Weasley. 'O Investigador terá poderes para investigar seus companheiros educadores e ter certeza ele correrá riscos. Foi oferecida essa posição a professora Umbridge em adição ao seu posto de educadora e estamos felizes de saber que ela aceitou.'

As últimas cartadas do Ministério receberam apoio entusiástico de pais de estudantes de Hogwarts

'Eu estou mais tranqüilo agora que eu sei que Dumbledore está sendo sujeito a uma avaliação justa e objetiva', disse Lúcio Malfoy, de sua mansão Wiltshire na noite passada. 'Muitos de nós, visando o melhor interesse de nossas crianças, estamos a par de algumas decisões excêntricas de Dumbledore nos últimos anos e estamos satisfeitos de saber que o Ministério está sendo mais vigilante.'

Junto a decisões excêntricas está sem dúvida alguma a indicação controversa de alguns professores previamente descritas nesse jornal, que inclui o emprego do lobisomem Remo Lupin, do meio-gigante Rúbeo Hagrid e do ex-Auror 'Olho-Tonto' Moody.

Rumores dizem, é claro, que Alvo Dumbledore, anteriormente Bruxo Chefe Cacique Supremo, Confederação Internacional de Bruxos, não é mais apto para dirigir a prestigiada escola de Hogwarts.

'Eu acho que a indicação do Investigador é o primeiro passo para assegurar que Hogwarts tenha um diretor em que possamos confiar'disse o Ministro noite passada.'

Membros da Confederação Internacional de Bruxos, Griselda Marchbanks e Tibério Ogden renunciaram em protesto à introdução do posto de Investigador em Hogwarts.

'Hogwarts é uma escola, não um posto avançado do escritório de Cornélio Fudge', disse Madame Marchbanks. 'Isso é um absurdo, nojenta maneira de desacreditar Alvo Dumbledore.' (Para uma versão completa sobre a alegação de Madame Marchbanks sobre a subversão de grupos de duendes veja a página 17)"

Hermione acabou de ler e olhou através da mesa para Harry e Rony.

- Agora nós sabemos por que aturamos Umbridge! Fudge aprovou esse "Decreto Educacional" e a forçou para nós! E agora ela tem o poder de inspecionar os outros professores! - Hermione respirava rapidamente e seus olhos brilhavam. - Eu não acredito nisso, é ultrajante...

- Eu sei que é - disse Harry. Ele olhou para a sua mão direita, pousada sobre o tampo da mesa, e viu nela esboçado as palavras que Umbridge tinha forçado a cortar sua pele.

Mas um sorriso se formou na face de Rony.

- Que foi? - disseram Harry e Hermione juntos, encarando-o.

- Mal posso esperar para ver McGonagall inspecionada - disse com alegria. - Umbridge nunca saberá o que lhe atingiu.

- Bem, vamos lá - disse Hermione, saltando da cadeira -, melhor nos apressarmos, se ela inspecionar a aula de Binns não queremos nos atrasar.

Mas a professora Umbridge não estava inspecionando a aula de História da Magia, que foi tão chata quanto a da última segunda-feira, nem estava na masmorra de Snape quando chegaram para a aula dupla de Poções, onde a redação de Harry sobre a pedra-da-lua lhe foi devolvida com um grande e negro "H", marcado no canto superior.

- Eu lhes dei as notas que vocês teriam recebido se tivessem apresentado esse trabalho em seus N.O.M.s - disse Snape enquanto caminhava entre eles, devolvendo suas tarefas. - Isso deve dar a vocês uma idéia realista do que esperar em seus exames.

Snape chegou na frente da classe e se virou para encarar a turma.

- O rendimento geral dessa tarefa foi horroroso. A maioria de vocês teria falhado se isso fosse seu exame. Espero que haja um maior esforço para a redação dessa semana sobre a grande variedade de antídotos contra venenos, ou eu terei que começar a dar detenções para os idiotas que tiraram H.

Ele sorriu enquanto Malfoy ria e disse num sussurro.

- Alguém tirou H? Ha!

Harry percebeu que Hermione estava olhando de lado para ver que nota ele recebera; escorregou sua redação para dentro de sua mochila o mais rápido possível, sentido que manteria aquela informação para si.

Determinado a não dar desculpa para Snape prejudicá-lo, Harry leu e releu cada linha das instruções no quadro-negro pelo menos três vezes antes de seguí-las. Sua Poção de Força não estava precisamente como o claro turquesa sombra de Hermione, mas ao menos estava azul e não rosa, como a de Neville, e levou um frasco para a mesa de Snape no fim da aula sentindo uma mistura de provocação e alívio.

- Bem, não foi tão mal como na última semana, foi? - disse Hermione enquanto subiam as escadas pra fora das masmorras e caminhavam para o Salão Principal para o almoço. - E o dever de casa não foi tão ruim também, foi?

Quando nem Rony nem Harry responderam Hermione continuou.

- Quer dizer, tudo bem, eu não esperava a maior nota, não se ele corrigiu como corrigiria os N.O.M.s, mas isso nos incentiva a essas alturas, vocês não acham?

Harry fez um som de discordância com sua garganta.

- Lógico, muita coisa pode acontecer entre agora e o exame, temos muito tempo para melhorar, mas essas notas que nós conseguimos são meio que uma base, não acham? Algo que podemos trabalhar...

Eles se sentaram na mesa da Grifinória.

- Mas com certeza eu ficaria surpresa se tirasse um "I"...

- Hermione - disse Rony bruscamente -, se você quiser saber que notas tiramos, pergunte.

- Eu não... Eu não disse... Bem se vocês quiserem me dizer...

- Eu tirei "P" - disse Rony, colocando sopa em sua tigela. - Está feliz agora?

- Bem, não é nada para se envergonhar - disse Fred, que tinha acabado de chegar à mesa com George e Lino Jordan e se sentou à direta de Harry. - Não há nada de errado com um belo "P".

- Mas... - disse Hermione. - "P não significa...

- "Pobre", isso mesmo - disse Lino Jordan. - Ainda assim, melhor que H, não é? "Horrível"?

Harry sentiu seu rosto corar e fingiu um pequeno acesso de tosse. Quando ele acabou, ficou infeliz ao saber que Hermione ainda queria falar das notas dos N.O.M.s.

- Então, a nota "I" é o mesmo que "impressionante" - disse ela. - E depois há a nota "A"...

- Não, é "E" - Jorge a corrigiu. - "E" corresponde à "Excede Expectativas". E eu sempre achei que Fred e eu deveríamos receber "E" em tudo, pois nós excedemos expectativas apenas por aparecer nos exames.

Todos riram, menos Hermione, que continuou.

- Então, depois de "E" vem "A", que significa "aceitável", e essa é a última nota para passar, não é?

- É sim - disse Fred, pegando uma boa porção de sopa, colocando na boca e engolindo.

- Depois vem "P" para "pobre" - Rony levantou seus braços, celebrando - e "H" de "horrível".

- Ainda tem o "T" - Jorge o lembrou.

- "T"? - perguntou Hermione, parecendo chocada. - Há nota menor que "H"? O que significa esse "T"?

- "Trasgo" - disse Jorge prontamente.

Harry riu novamente, apesar de não estar certo se Jorge estava brincando ou não. Ele se imaginou tentando esconder de Hermione que tinha recebido "T" em todos os seus N.O.M.s e imediatamente resolveu trabalhar mais duro dali em diante.

- Vocês já tiveram alguma aula inspecionada? - Fred perguntou.

- Não - disse Hermione rapidamente. - Vocês já?

- Há pouco tempo, antes do almoço - disse Jorge. - Feitiços.

- Como foi? - Harry e Hermione perguntaram juntos.

Fred encolheu os ombros.

- Nada mal. Umbridge apenas ficou num canto tomando notas em um bloco. Vocês sabem como é Flitwick, ele a tratou como convidada, não pareceu perturbado com ela. Ela não disse muita coisa. Perguntou à Alicia algumas coisas sobre como as aulas são lecionadas, Alicia lhe disse que eram muito boas e foi isso.

- Não consigo ver o velho Flitwick sendo prejudicado - disse Jorge -, ele usualmente faz com que todos passem em seus exames tranqüilamente.

- Quem será sua próxima aula? - Fred perguntou Harry.

- Trelawney...

- Um "T", como se eu sempre visse um...

- E Umbridge depois.

- Bem, seja um bom garoto e não se indisponha com Umbridge hoje - disse Jorge. - Angelina vai enlouquecer se você perder mais um treino de quadribol.

Mas Harry não teve que esperar até a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas para se encontrar com Umbridge. Estava tirando seu Diário dos Sonhos no fundo da sombria sala de Adivinhação quando Rony cutucou suas costelas. Harry se viro e viu a professora Umbridge emergindo através da escada. A classe, que vinha falando alto, de repente se calou. A queda abrupta do nível sonoro fez a professora Trelawney, que vinha distribuindo cópias de O Oráculo dos Sonhos, olhasse.

- Boa tarde professora Trelawney - disse a professora Umbridge com seu largo sorriso. - Você recebeu meu aviso, eu suponho? Dando-lhe a data e a hora de sua inspeção?

A professora Trelawney concordou rapidamente e, parecendo muito desgostosa, deu às costas à professora Umbridge e continuou a distribuir livros. Ainda sorrindo, Umbridge pegou a poltrona mais próxima e a colocou em frente à classe. para que ficasse poucos centímetros atrás da professora Trelawney. Ela se sentou, tirou seu bloco de notas da sua bolsa florida e olhou com expectativa, esperando a aula começar.

Professora Trelawney apertou suas vestes contra o corpo, as mãos ligeiramente trêmulas, e inspecionou a classe com seus olhos aumentando imensamente por trás das lentes.

- Hoje nós continuaremos a estudar os sonhos proféticos - disse numa brava tentativa com seu usual tom místico, apesar de sua voz ter tremido levemente. - Dividam-se em pares, por favor, e interpretem as últimas visões de cada um com a ajuda do livro.

Ela pensou em voltar ao seu assento mas, vendo a professora Umbridge sentada logo ao lado dele, imediatamente virou à esquerda, ficando ao lado de Parvati e Lilá, que já estavam discutindo profundamente sobre o sonho recente de Parvati.

Harry abriu sua cópia de "O Oráculo dos Sonhos", olhando Umbridge avidamente. Ela já estava tomando notas em seu bloco. Depois de alguns minutos se levantou e começou a rondar a sala na cola de Trelawney, ouvindo suas conversas com os alunos e perguntando aqui e ali.

Harry colocou sua cabeça acima do livro.

- Pense num sonho, rápido - disse ele a Rony -, no caso daquele sapo velho vir aqui.

- Eu fiz isso da última vez - protestou Rony. - É a sua vez, me diga um.

- Não sei... - disse Harry desesperado, pois não se lembrava de ter sonhado algo nos últimos dias. - Vamos ver. Eu sonhei que estava... Afogando Snape no meu caldeirão. Isso mesmo...

Rony riu enquanto abria seu "Oráculo dos Sonhos".

- Ok, nós precisamos adicionar sua idade à data em que você teve o sonho, o número de letras no caso... Seria "afogando" ou "caldeirão" ou "Snape"?

- Não importa, pegue qualquer uma - disse Harry, arriscando um olhar atrás dele. A professora Umbridge estava nos calcanhares da professora Trelawney, tomando notas enquanto a professora de Adivinhação questionava Neville sobre o seu diário dos sonhos.

- Que noite você sonhou isso de novo? - disse Rony, imerso em cálculos.

- Não sei, noite passada, coloca aí qualquer coisa - disse Harry, tentando escutar o que Umbridge estava dizendo a Trelawney. Estavam apenas a uma mesa de distância dos dois garotos. Umbridge estava fazendo outra nota no seu bloco e a professora Trelawney pareceu muito fora de si.

- Agora - disse Umbridge, olhando Trelawney -, há quanto tempo você ocupa esse posto, exatamente?

Trelawney franziu a testa, os braços cruzados e os ombros encurvados, talvez desejando se proteger o máximo possível da indigna inspeção. Depois de uma pequena pausa, em que parecia decidir se a pergunta não era tão ofensiva que poderia com razão ignorar, finalmente disse numa voz muito ressentida.

- Quase dezesseis anos.

- Já é um bom tempo - disse a Professora Umbridge, tomando nota em seu bloco. - Foi o professor Dumbledore quem indicou você?

- Isso mesmo - respondeu rapidamente.

Umbridge fez outra anotação.

- E você é tataraneta da famosa vidente Cassandra Trelawney?

- Sim - disse a Professora Trelawney, com sua cabeça posta mais alta.

Outra anotação no bloco.

- Mas eu acho, Corrija-me se estiver errada, que você é a primeira na sua família desde Cassandra a possuir Visão Interior?

- Essas coisas costumam pular... Er... Três gerações.

O sorriso de Umbridge, que era igual a de um sapo, aumentou.

- Claro - disse ela docemente, fazendo mais uma anotação. - Bem, gostaria de saber se você pode predizer alguma coisa para mim, sim? - ela olhou maliciosamente, ainda sorrindo.

Sibila enrijeceu como se não pudesse acreditar no que ouvira.

- Eu não entendi - disse ela, apertando convulsivamente seu xale ao redor do seu fino pescoço.

- Gostaria que você fizesse uma previsão para mim - disse umbridge claramente.

Harry e Rony agora não eram os únicos que olhavam e ouviam atentamente atrás de seus livros. A maioria da classe estava encarando fixamente a professora Trelawney, enquanto ela se levantava completamente, suas contas e colares tilintando.

- O Olho Interior não vê sob pressão! - disse ela em tom escandalizado.

- Eu entendi - disse a professora Umbridge, já tomando outra nota.

- Eu... Mas-mas... Espere! - disse a professora Trelawney de repente, tentando manter sua voz etérea, apesar do efeito místico estar arruinado, pois estava tremendo de raiva. - Eu.. Eu acho que estou vendo algo... Algo a seu respeito.. Sinto algo... Algo obscuro... Algo grave...

Sibila apontou um dedo trêmulo para Umbridge, que continuava a sorrir brandamente, suas sobrancelhas erguidas.

- Acho que... Acho que você corre grande perigo! - finalizou Sibila dramaticamente.

Houve uma pausa. A professora Umbridge encarava a professora Trelawney.

- Certo - ela disse levemente, escrevendo em seu bloco mais uma vez. - Bem se é o melhor que pode fazer...

Ela se virou, deixando Sibila em seu canto, respirando pesadamente. Os olhos de Harry encontraram os de Rony, notou que o amigo pensando a mesma coisa que ele: os dois sabiam que Sibila era uma velha fraude mas, por outro lado, odiavam tanto Umbridge que sentiram muita pena da professora Trelawney - até ela vir à mesa deles segundos depois.

- Bem? - disse, estalando seus longos dedos em frente de Harry, incomumente elétrica. - Deixe-me ver como você começou o seu diário dos sonhos, sim?

E enquanto ela interpretava os sonhos de Harry (todos eles, mesmo aqueles que envolviam comer mingau de aveia, aparentemente sempre acabavam em mortes terríveis), ele sentiu bem menos simpatia para com ela. Para completar, a professora Umbridge ficava um passo atrás, tomando notas em seu bloco. Quando a sineta tocou, ela desceu a escadaria de prata primeiro e já esperava pelos alunos da Grifinória quando alcançaram a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas dez minutos depois.

Umbridge estava murmurando e sorrindo consigo mesma quando todos entraram na sala. Harry e Rony contaram para Hermione, que estava na aula de Aritmancia, exatamente o que havia acontecido na aula de Adivinhação enquanto tiravam seus exemplares de "Teoria da Defesa Mágica", mas antes que ela pudesse perguntar alguma coisa a professora Umbridge pediu ordem à classe e todos fizeram silêncio.

- Guardem as varinhas - instruiu ela a todos com um sorriso e aqueles que pensaram que poderiam tirar as varinhas tristemente as colocaram de volta às mochilas. - Como acabamos com a última lição do Capítulo 1 gostaria que todos fossem à página 19 e começassem o Capítulo 2, Teorias de Defesa Comum e Suas Derivações. Não há necessidade de conversa.

Ainda com um sorriso largo no rosto ela se sentou em sua cadeira. A classe deu um suspiro audível enquanto virava folha por folha até a página 19. Harry se perguntou bobamente se haviam capítulos suficientes no livro para continuar lendo durante todas as lições do ano e estava a ponto de checar o conteúdo da página quando notou que Hermione tinha sua mão levantada novamente.

A professora Umbridge notou isso também, e havia mais, parecia que havia trabalhado em uma estratégia para essa eventualidade. Ao invés de tentar fingir que não tinha notado Hermione ela se levantou e andou ao redor das cadeiras da frente até ficarem face a face. Depois se agachou e sussurrou para o resto da sala não poder ouvir.

- O que foi agora, Srta. Granger?

- Eu já li o Capítulo 2 - disse Hermione.

- Bom, então proceda ao Capítulo 3.

- Já o li também. Aliás, já li o livro inteiro.

A professora Umbridge piscou mas logo recuperou sua pose.

- Muito bem. Então você é capaz de me dizer o que Slinkhard diz sobre contra-azarações no capítulo 15.

- Ele diz que contra-azarações são impropriamente nomeadas - disse Hermione prontamente. - Que contra-azaração é só um nome que as pessoas dão para suas azarações quando querem fazer com que soem mais aceitáveis.

Umbridge levantou suas sobrancelhas e Harry sabia que ela estava impressionada, mesmo contra sua vontade.

- Mas eu discordo - continuou Hermione.

Umbridge levantou ainda mais as sobrancelhas e seu olhar se tornou mais frio.

- Você discorda? - repetiu

- Sim, eu discordo - disse Hermione que, ao contrário de Umbridge, não sussurrava, mas dizia em voz alta, que agora atraía atenção de toda a sala. - O Sr. Slinkhard não gosta de azarações, não é? Mas eu acho que elas podem ser bem úteis quando usadas defensivamente.

- Ah, você acha, não é? - disse a professora, esquecendo de sussurrar e se levantando. - Mas eu acho que a opinião do Sr. Slinkhard, e não a sua, é a que conta para a classe, Srta. Granger.

- Mas... começou Hermione.

- Já chega - disse a professora. Ela voltou para a frente da sala e ficou de frente para todos, toda a alegria que mostrava no início da aula desapareceu. - Srta. Granger, eu vou tirar cinco pontos da Grifinória.

Houve um início de vários murmúrios.

- Por quê? - disse Harry com raiva.

- Não se envolva! - cochichou Hermione com urgência.

- Por perturbar minha aula com interrupções bobas - disse a professora suavemente. - Estou aqui para ensinar vocês usando um método aprovado pelo Ministério que não inclui convidar os alunos para darem suas opiniões em assuntos que entendem pouco. Seus últimos professores nessa matéria podem ter sido mais displicentes mas nenhum deles, com a possível exceção do Professor Quirrell, que ao menos aparentava restringir as lições devido à idade, teria passado por uma inspeção ministerial...

- Ah, claro, Quirrell era um excelente professor - disse harry em voz alta - mas ele tinha o problema de ter Lord Voldemort grudado na parte de trás da cabeça!

Esse pronunciamento foi seguido por um dos silêncios mais audíveis que Harry já escutou. Então...

- Acho que mais uma semana de detenção fará bem pra você, Sr. Potter - disse Umbridge suavemente.

*

O corte na palma da mão de Harry mal havia se curado e, pela manhã seguinte, estava sangrando de novo. Ele não reclamou durante suas detenções à noite; estava determinado a não dar à Umbridge satisfação; várias e várias vezes escreveu "Eu não devo mentir" e nenhum som escapou de seus lábios, apesar do corte aumentar a cada letra.

A pior parte dessa segunda semana de detenções foi o que Jorge havia previsto, a reação de Angelina. Ela o pegou assim que chegou para tomar café na mesa da Grifinória na terça e gritou tão alto que a professora McGonagall veio separar os dois da mesa.

- Srta. Johnson, como se atreve a fazer esse escândalo no Salão Principal? Cinco pontos a menos para a Grifinória!

- Mas professora, ele pegou detenção de novo...

- O que é isso, Potter? - disse McGonagall bruscamente, se virando para Harry. - Detenção? De quem?

- Da professora Umbridge - murmurou Harry, não encarando os olhos furiosos da professora McGonagall.

- Você está me dizendo - disse ela, baixando a voz para que um grupo curioso da Corvinal que estava atrás deles não ouvisse - que mesmo depois do aviso que lhe dei na última segunda você perdeu a calma na aula da professora Umbridge de novo?

- Sim - murmurou Harry, falando para o chão.

- Potter, você deve se controlar! Você está se metendo em sérios problemas! Outros cinco pontos da Grifinória.

- Mas... O quê? Professora, não! - disse Harry, furioso com a injustiça. - Eu já estou sendo punido por ela, por que a senhora ainda tem que me tirar pontos?

- Porque parece que as detenções não causam efeito em você! - disse azedamente a Professora McGonagall. - Não, nem mais uma queixa, Potter! E quanto a você, Srta. Johnson, você vai guardar seus gritos para o campo de quadribol ou vai perder o posto de capitã!

A professora saiu de volta para sua mesa. Angelina lançou um olhar extremamente feio a Harry e saiu. Depois Harry se sentou ao lado de Rony, fumegando.

- Ela tirou pontos da Grifinória porque minha mão vem sendo cortada toda noite! Isso é justo?

- Eu sei, cara - disse Rony simpaticamente, colocando bacon no prato de Harry. - Ela está ficando fora de si.

Mas Hermione meramente passou os olhos pelas páginas do Profeta Diário e não disse nada.

- Você acha que McGonagall está certa, não acha? - disse Harry com raiva para a figura de Cornélio Fudge tampando a cara de Hermione.

- Gostaria que ela não tivesse tirado pontos de você, mas acho que ela está certa em advertir você para não perder a paciência com Umbridge - disse a voz de Hermione enquanto Fudge gesticulava com força na primeira página, claramente fazendo um discurso.

Harry não falou com Hermione durante a aula de Feitiços, mas quando entraram na aula de Transfiguração ele esqueceu que estava de mal com ela. A professora Umbridge estava junto de seu bloco, sentada num canto e a imagem dela reavivou a memória de Harry sobre o que aconteceu no café da manhã.

- Excelente - sussurrou Rony, enquanto se sentavam no lugar de sempre. - Umbridge vai ter o que merece.

A professora Minerva marchou para dentro da sala sem ao menos dar sinais de que tinha notado Umbridge.

- Isso vai servir - disse ela e o silêncio se fez imediatamente. - Sr. Finningan, venha cá e devolva os deveres de casa. Srta. Brown, por favor pegue aquela caixa de ratos. Não seja boba, menina, eles não vão lhe morder. E dê um para cada estudante...

- Hum, hum - disse a Profa Umbridge, usando a mesma tossida idiota que usou para interromper Dumbledore na primeira noite. A professora McGonagall a ignorou. Simas devolveu o dever de Harry, que o pegou sem olhar o garoto e viu, para seu alívio, que tinha tirado um "A".

- Muito bem, escutem todos com atenção. Dino Thomas, se você fizer isso com esse rato de novo vou colocá-lo em detenção. A maioria de vocês já fez desaparecer com sucesso seus caracóis e mesmo aqueles que deixaram um pouco da concha visível pegaram o jeito. Hoje, nós devemos...

- Hum, hum - disse Umbridge.

- Sim? - disse a professora Minerva, virando-se. Suas sobrancelhas estavam tão juntas que pareciam formar uma única e severa linha.

- Eu estava imaginando, professora, se você recebeu minha nota dizendo a data e a hora de sua inspeç...

- Obviamente eu recebi ou teria perguntado o que a senhora está fazendo aqui - disse a McGonagall, virando firmemente as costas para Umbridge. Muitos estudantes trocaram olhares de satisfação. - Como eu dizia, hoje nós praticaremos um desaparecimento mais difícil, o de ratos. Agora, o Feitiço do Desaparecimento...

- Hum, hum.

- Eu estava pensando - disse Minerva com uma fúria gelada, virando-se para a professora Umbridge - como a senhora espera ter uma idéia da meu método de ensino usual se continua a me interromper? Você vê, eu geralmente não permito que as pessoas falem enquanto eu falo.

A professora Umbridge parecia que tinha levado um tapa na cara. Ela não falou mas estreitou o pergaminho do seu bloco e começou a escrever furiosamente.

Parecendo muito desinteressada, a professora McGonagall dirigiu-se à classe mais uma vez.

- Como eu dizia, o feitiço do desaparecimento fica muito mais difícil devido à complexidade do animal a se fazer desaparecer. O caracol, que é um invertebrado, não apresenta muita dificuldade; o rato, que é um mamífero, oferece mais desafio. Mas isso não é uma mágica que você pode executar com seus pensamentos no jantar. Então, vocês sabem o encantamento, deixem-me ver do que são capazes...

- Como ela pode me dar sermão sobre não perder a paciência com Umbridge! - Harry murmurou para Rony, mas ele estava sorrindo, sua raiva com a professora Minerva se evaporou quase completamente.

Umbridge não seguiu Minerva ao redor da sala como seguiu a professora Sibila; talvez tenha notado que McGonagall não permitiria. Mas tomou mais notas enquanto estava sentado no canto e quando Minerva disse que podiam sair mostrou uma expressão sorridente no rosto.

- Bem, é um começo - disse Rony, segurando um longo rabo de rato e jogando na caixa que Lilá estava segurando.

Enquanto saíam da sala de aula Harry viu Umbridge se aproximar da mesa de McGonagall; cutucou Rony, que cutucou Hermione e os três deliberadamente foram espreitar.

- Há quanto tempo você ensina em Hogwarts? - perguntou Umbridge.

- Fará trinta e nove anos em dezembro - disse a professora Minerva bruscamente, fechando sua bolsa.

Umbridge fez uma anotação.

- Muito bem. Você receberá os resultados de sua inspeção em dez dias.

- Mal posso esperar - disse a professora Minerva, numa voz fria e indiferente, e saiu em direção à porta. - Apressem-se vocês três - adicionou, alcançando Harry, Rony e Hermione.

Harry não pôde deixar de dar um sorriso e podia jurar que recebeu um de volta.

Pensou que a próxima vez que veria Umbridge seria na sua detenção à noite, mas estava errado. Quando caminhavam em direção à floresta, para Trato de Criaturas Mágicas, encontraram-na com seu bloco esperando ao lado da professora Grubbly-Plank.

- Você não costuma dar essa aula, não é? - Harry a ouviu perguntando quando eles chegaram próximos a um grupo de Tronquilhos encarapitados em um tronco como muitos galhos vivos.

- Correto - disse Grubbly-Plank, as mãos nas costas batendo ligeiramente os pés*. - Eu sou a professora substituta. Estou no lugar do professor Hagrid.

Harry trocou olhares inseguros com Rony e Hermione. Malfoy estava cochichando com Crabbe e Goyle; com certeza adoraria essa oportunidade para mentir sobre Hagrid para um membro do Ministério.

- Hmmm - disse umbridge, baixando a voz, apesar de Harry poder continuar ouvindo-a. - Eu estava pensando... O diretor parece extremamente relutante de me dar alguma informação a respeito. Você poderia me contar o que está causando a longa ausência do professor Hagrid?

Harry viu Malfoy levantar a cabeça ansiosamente e olhar de perto Umbridge e Grubbly-Plank.

- Acho que não - disse rapidamente a professora Grubbly-Plank. - Não sei de nada além do que a senhora sabe. Recebi uma coruja de Dumbledore perguntando se eu gostaria de ensinar aqui por algumas semanas. Aceitei. É isso que eu sei. Bom... Posso começar a aula agora?

- Sim, por favor - disse a professora Umbridge, escrevendo em seu bloco.

Umbridge agiu diferente nessa inspeção e circulou através dos estudantes, questionando-os sobre criaturas mágicas. A maioria foi capaz de responder bem e o espírito de Harry se animou; ao menos a sala não estava deixando Hagrid na mão.

- No geral - disse a professora Umbridge, retornando à professora Grubbly-Plank depois de interrogar Dino Thomas -, como é que você, como um membro temporário do corpo docente, uma pessoa de fora, eu suponho que você possa dizer, o que você acha de Hogwarts? Você acha que recebe apoio suficiente da direção?

- Ah, sim, Dumbledore é excelente - disse Grubbly-Plank de coração. - Sim, eu estou muito feliz como as coisas vêm sendo guiadas, por assim dizer.

Mostrando-se educadamente incrédula, Umbridge fez uma pequena nota no seu bloco e continuou.

- E você está planejando assumir essa matéria este ano, pretendendo, é claro, que o professor Hagrid não retorne?

- Oh, eu vou mostrar no decorrer do ano criaturas que costumam ser cobradas nos N.O.M.s. Não há muito a fazer, eles já estudaram unicórnios e pelúcios, eu pensei em mostrar-lhes pocotós e amassos, ter certeza que podem reconhecer crupes e ouriços, você sabe...

- Bem, VOCÊ parece saber o que está fazendo - disse Umbridge, fazendo um anotação muito óbvia no seu bloco. Harry não gostou na ênfase que ela colocou no "você" e gostou ainda menos quando fez a próxima pergunta para Goyle. - Agora, eu ouvi dizer que houveram ferimentos nessa aula?

Goyle deu um estúpido sorriso. Malfoy se apressou para responder a pergunta.

- Fui eu - disse ele. - Fui atacado por um hipogrifo.

- Um hipogrifo? - disse umbridge, escrevendo freneticamente.

- Apenas porque ele foi idiota de não ouvir o que Hagrid havia dito! - disse Harry raivoso.

Rony e Hermione gemeram. Umbridge virou sua cabeça devagar na direção de Harry.

- Mais noites de detenção, eu suponho - disse ela calmamente. - Bem, muito obrigada professora Grubbly-Plank, eu acho que já vi tudo aqui. Você receberá os resultados de sua inspeção em dez dias.

- Tudo bem - disse Grubbly-Plank e Umbridge saiu em direção ao castelo.

*

Era quase meia-noite quando Harry deixou o escritório de Umbridge naquela noite. Sua mão sangrava tanto que estava manchando o lenço que havia amarrado nela. Esperava que o salão comunal estivesse vazio quando retornasse, mas Rony e Hermione haviam se sentado e esperado por ele. Estava feliz em vê-los, especialmente quando Hermione estava disposta a ser mais simpática do que crítica.

- Aqui - disse ela ansiosamente, empurrando um pequeno recipiente cheio de líquido amarelo para perto dele. - Mergulhe sua mão nisso, é uma solução de tentáculos de murtisco amassados e picados, deve ajudar.

Harry colocou a mão sangrenta e dolorida dentro do recipiente e experimentou um enorme sentimento de alívio. Bichento passava entre suas pernas, ronronando alto, depois subiu nas suas pernas e se deitou.

- Obrigado - disse Harry grato, coçando as orelhas de Bichento com sua mão esquerda.

- Ainda acho que você deveria reclamar sobre isso - disse Rony em voz baixa.

- Não - respondeu prontamente.

- McGonagall iria à loucura se soubesse...

- É, ela provavelmente iria - disse Harry. - E quanto tempo você acha que levará para Umbridge passar outro decreto dizendo que qualquer um que reclame da Grande Investigadora é retaliado imediatamente?

Rony abriu a boca para retorquir mas nada saiu e, depois de algum tempo, ele a fechou, sentindo-se derrotado.

- Ela é uma mulher terrível - disse Hermione em voz baixo. - Terrível. Você sabe, eu estava justamente dizendo isso para o Rony quando você chegou... Nós temos que fazer algo em relação a ela.

- Eu sugiro envenenamento - disse Rony sorrindo.

- Não... Eu digo algo sobre como ela é uma professora horrorosa e que nós não vamos aprender nada sobre Defesa Contra as Artes das Trevas com ela.

- Bem, o que podemos fazer? - disse Rony, bocejando. - Tá muito tarde, né? Ela pegou o emprego e vai ficar. Além do mais, Fudge vai mantê-la.

- Bem - disse Hermione hesitante. - Você sabe, eu estive hoje pensando... - ela lançou um olhar meio nervoso a Harry e depois continuou. - Eu estive pensando que... Talvez tenha chegado a hora onde nós simplesmente devíamos... Devíamos tomar a iniciativa.



- Tomar a iniciativa pra quê? - disse Harry, sua mão ainda boiando na poção.

- Bem... Aprender Defesa Contra as Artes das Trevas por nós mesmos.

- Sem chance! - gemeu Rony. - Você quer trabalho extra pra nós? Não vê que Harry e eu estamos entupidos de dever de casa e é apenas a segunda semana?

- Mas há coisa mais importante do que nossos deveres de casa!

Harry e Rony arregalaram os olhos.

- Eu não sabia que havia coisa mais importante no universo que dever de casa! - disse Rony.

- Não seja ridículo, é claro que há - Harry viu, com um sentimento penoso, que a garota tinha a face iluminada com o mesmo fervor que o F.A.L.E lhe inspirava. - E tipo nos prepararmos bem para, como disse o Harry na primeira aula da Umbridge, o que nos espera lá fora. É ter certeza de que nós podemos nos defender bem. Se nós não aprendermos nada durante o ano inteiro...

- Não podemos fazer muito por nós mesmo - disse rony numa voz derrotada. - Quer dizer, tudo bem, nós podemos ir e ver azarações na biblioteca e tentar praticar, eu acho...

- Não, eu concordo, nós já passamos da fase de aprender algo apenas dos livros. Precisamos de um professor apropriado, que possa nos mostrar como usar os feitiços e nos corrigir quando estivermos errados.

- Se você estiver falando de Lupin.. - Harry começou.

- Não, não estou falando de Lupin. Ele está muito ocupado com a Ordem, além do mais só poderíamos vê-lo durante as visitas a Hogsmeade e isso não é uma boa freqüência.

- Quem, então? - disse Harry, franzindo as sobrancelhas.

Hermione deu um grande e longo suspiro.

- Não é óbvio? Estou falando de você, Harry.

Houve um momento de silêncio. Uma brisa noturna sacudiu a vidraça atrás de Rony.

- De mim o quê?

- Estou falando de você nos ensinar Defesa Contra as Artes das Trevas.

Harry encarou Hermione. Depois se virou para Rony, pronto para trocar os olhares exasperados que sempre aconteciam quando Hermione tinha idéias malucas como a do F.A.L.E. Mas, para sua frustração, Rony não parecia exasperado.

Franziu um pouco a testa, aparentemente pensando. Depois disse:

- É uma boa idéia.

- Como assim uma boa idéia? - disse Harry.

- Você nos ensinar - disse Rony.

- Mas...

Harry estava sorrindo agora; tinha certeza que os dois estavam tirando sarro.

- Mas eu não sou professor, eu não...

- Harry, você foi o melhor do ano em Defesa Contra as Artes das Trevas! - disse Hermione.

- Eu? - disse Harry, o sorriso ainda maior no rosto. - Não, eu não sou, você me bateu em todos os testes...

- Acho que não - disse Hermione friamente. - Você me derrotou no terceiro ano, o único ano onde nós dois fizemos o teste juntos e tivemos um professor que realmente sabia da matéria. Mas eu não estou falando de resultados de testes, Harry. Pense no que você já fez...

- O que você quer dizer?

- Quer saber, eu não estou certo se quero alguém tão burro assim me ensinado - disse Rony para Hermione, rindo discretamente. Ele se virou para Harry. - Vamos ver - disse, fazendo uma careta com se fosse Goyle se concentrando. - Hum... Primeiro ano. Você salvou a Pedra Filosofal de Você-Sabe-Quem.

- Mas isso foi sorte - disse Harry. - Eu não era habili...

- Segundo ano - interrompeu Rony. - Você matou o basilisco e destruiu Riddle.

- Certo, mas se Fawkes não tivesse aparecido, eu...

- Terceiro ano - disse Rony, mais alto. - Você lutou com mais de cem dementadores de uma vez.

- Você sabe que isso foi sorte, se o vira-tempo não...

- Último ano! - disse Rony quase gritando. - Você lutou com Você-Sabe-Quem de novo...

- Me escutem! - disse Harry, quase com raiva, porque Rony e Hermione estavam dando risadinhas.

- Simplesmente me ouçam, tá bom? Pode parecer incrível quando vocês falam assim mas tudo aquilo foi sorte. Na maioria das vezes eu não sabia o que eu estava fazendo, eu apenas fiz o que me deu na cabeça e muitas vezes tive ajuda...

Rony e Hermione ainda davam risadinhas e Harry sentiu o sangue subir à cabeça; nem ao menos estava certo por que estava com tanta raiva.

- Vocês ficam aí sentados como se soubessem melhor do que eu. Eu estava lá, não estava? - disse furioso. - Eu sei de tudo o que aconteceu, certo? E eu não passei por tudo isso porque eu era brilhante em Defesa Contra as Artes das Trevas, eu passei por tudo isso porque... Porque a ajuda veio em tempo, ou porque eu adivinhei certo. Mas eu fiz besteira demais nisso tudo, eu não tinha idéia do que eu estava fazendo... PAREM DE RIR!!!

O recipiente com a essência de murtisco caiu no chão e quebrou. Harry logo notou que estava de pé, apesar de não se lembrar com se levantou. Bichento se escondeu debaixo do sofá. Os sorrisos de Rony e Hermione sumiram.

- Vocês não sabem como é!!! Vocês... Nenhum de vocês... Nunca teve que enfrentá-lo, não é? Acham que é só aprender um bando de feitiços e jogar nele, como se estivessem na sala de aula? A toda hora você tem certeza que não há nada entre você e a morte exceto o seu... O seu próprio cérebro ou coragem ou sei lá, como se você pudesse pensar direito quando se está a um nanosegundo de ser morto ou torturado, ou vendo seus amigos morrerem... Eles nunca ensinaram isso em nossas aulas... E vocês dois sentados aí como se eu fosse um garotinho esperto por estar aqui, vivo, como Diggory foi idiota, como ele se acabou... Vocês não entendem, como poderia ter sido eu fácil, fácil, seria se Voldemort não precisasse de mim...

- Nós não dissemos nada disso, cara - disse Rony, que parecia espantado. - Nós não queríamos falar sobre Diggory, nós não... Você pensou errado, você...

Ele olhou desesperadamente para Hermione, cuja face estava paralisada.

- Harry - disse ela timidamente - Você não vê? Isso... Isso é exatamente por que precisamos de você... Precisamos saber como r-realmente é... Enfrentá-lo... Enfrentar V-Voldemort.

Era a primeira vez que ela havia dito o nome de Voldemort e foi isso, mais que qualquer outra coisa, que acalmou Harry. Ainda respirando fundo, afundou em sua cadeira, ficando alerta agora que sua mão doía demais. Desejou não ter quebrado o recipiente com a essência.

- Bem... Pense sobre isso - disse Hermione tranqüilamente. - Por favor.

Harry não conseguia pensar em nada para dizer. Sentia-se envergonhado de seu acesso de raiva. Concordou, embora pouco atento ao que acabava de concordar.

Hermione se levantou.

- Bem, eu vou dormir - disse ela, numa voz mais natural possível. - Er... Boa noite.

Rony se levantou também.

- Vai dormir? - disse cautelosamente para Harry.

- Sim - disse Harry. - Vou... Vou num minuto. Só vou limpar isso...

Ele indicou o recipiente quebrado. Rony concordou e saiu.

- Reparo - murmurou Harry, apontando sua varinha para as peças quebradas. Elas se juntaram, como se fosse novas, mas não havia como colocar a essência de volta.

De repente se sentiu tão cansado que ficou tentando a se deitar na poltrona e dormir ali mesmo, mas ao invés disso forçou a si mesmo a ficar em pé e seguiu Rony para o quarto. Sua noite mal-dormida foi seguida mais uma vez por sonhos com longos corredores e portas trancadas e acordou no dia seguinte com sua cicatriz doendo novamente.

26/20

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