terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Harry Potter e a Ordem da Fênix 6/10


-- CAPÍTULO 6 --
A ANTIGA E MUITO NOBRE FAMÍLIA BLACK


A Sra. Weasley os seguiu escada acima olhando desgostosa.

- Eu quero que todos vocês vão imediatamente para cama, sem conversa - disse ela quando eles chegaram ao primeiro andar. - Nós teremos um dia bem cansativo amanhã. Eu suponho que Gina está dormindo - disse para Hermione -, então tente não acordá-la.

- Dormindo, sim, tudo bem - disse Fred em voz baixa, depois que Hermione desejou boa noite e eles foram subindo para o andar seguinte. - Se Gina não estiver acordada esperando por Hermione para contar a ela tudo o que foi dito lá em baixo eu sou um verme-cego...

- Tudo bem, Rony, Harry - disse a Sra. Weasley no segundo andar, indicando o quarto deles e os fazendo entrar. - Já pra cama.

- Boa noite - Harry e Rony disseram aos gêmeos.

- Durma bem - disse Fred, piscando o olho.

A Sra. Weasley fechou a porta do quarto de Harry com uma batida forte. O quarto parecia, se é que poderia, ainda mais úmido e obscuro que à primeira vista. O retrato em branco na parede agora estava respirando bem lenta e profundamente, como se seus ocupantes invisíveis estivessem dormindo.

Harry vestiu seu pijama, tirou os óculos e subiu em sua cama fria enquanto Rony jogava comida para as corujas em cima do armário de roupas para acalmar Edwiges e Pichitinho, que estavam fazendo barulho e batendo suas asas friamente.

- Nós não podemos deixá-las sair para caçar todas as noites - Rony explicou enquanto vestia seu pijama marrom. - Dumbledore não quer muitas corujas descendo no quarteirão, ele acha que isso pode parecer suspeito. Ah, sim... Eu esqueci...

Ele foi até a porta e colocou o ferrolho.

- Por que você está fazendo isso?

- Kreacher - disse Rony enquanto apagava a luz. - Na primeira noite que eu estava aqui ele entrou vagando as três da manhã. Confie em mim, você não vai querer acordar e encontrá-lo rondando seu quarto. De qualquer forma... - ele subiu na cama, assentou-se sob as cobertas e voltou a olhar Harry na escuridão; Harry pôde ver seu contorno na luz da lua que entrava pela janela suja. - O que você acha?

Harry não precisou perguntar a Rony sobre o que queria dizer.

- Bem, eles não nos disseram mais do que nós poderíamos ter imaginado, não foi? - disse ele, pensando em tudo que havia sido dito lá em baixo. - Eu acho que tudo o que eles disseram foi que a Ordem está tentando evitar que mais gente se junte a Vol... - houve uma rápida alteração na respiração de Rony. - ...demort - disse Harry com firmeza. - Quando você vai começar a usar o nome dele? Sirius e Lupin usam.

Rony ignorou esse último comentário.

- Sim, você tem razão - disse ele -, nós já sabemos praticamente tudo o que eles nos contaram, por usarmos as Orelhas Extensíveis. A única coisa nova foi...

Crack.

- OUCH!

- Fale baixo, Rony, ou mamãe vai voltar aqui.

- Vocês dois acabaram de Aparatar nos meus joelhos!

- Sim, bem, é mais difícil no escuro.

Harry viu os contornos embaçados de Fred e Jorge descendo da cama de Rony. Houve um gemido das molas e o colchão de Harry desceu alguns centímetros quando Jorge sentou perto de seus pés.

- Então, já chegou lá? - disse Jorge avidamente.

- A arma que Sirius mencionou? - disse Harry.

- Digamos, mais ou menos assim - disse Fred com bastante gosto, agora sentado próximo a Rony. - Nós não ouvimos sobre isso nas velhas Extensíveis, não foi?

- O que você imagina que seja? - disse Harry.

- Pode ser qualquer coisa - disse Fred.

- Mas não poderia ser algo pior que a Maldição Avada Kedavra, não é? - disse

Rony. - O que é pior que a morte?

- Talvez seja algo que pode matar muitas pessoas de uma vez - sugeriu Jorge.

- Talvez seja um meio particularmente doloroso de matar pessoas - disse Rony.

- Ele tem a Maldição Cruciatus para causar sofrimento - disse Harry. - Não precisa de nada mais eficiente que isso.

Houve uma pausa e Harry percebeu que os outros, assim como ele, estavam imaginando que horrores essa arma poderia cometer.

- Então quem você acha que sabe sobre ela agora? - perguntou Jorge.

- Eu espero que esteja do nosso lado - disse Rony, soando levemente nervoso.

- Se estiver, Dumbledore provavelmente a está guardando - disse Fred.

- Onde? - disse Rony rapidamente. - Hogwarts?

- Aposto que sim! - disse Jorge. - Foi lá que ele escondeu a Pedra Filosofal.

- Uma arma é bem maior que a Pedra, no entanto! - disse Rony.

- Não necessariamente - disse Fred.

- É, tamanho não é garantia de poder - disse Jorge. - Olhe para Gina.

- O que você quer dizer? - disse Harry.

- Você nunca recebeu um de seus Feitiços de Morcego-Fantasma, recebeu?

- Shhh! - disse Fred, meio levantado da cama. - Ouçam!

Eles se calaram. Passos estavam subindo a escada.

- Mamãe - disse Jorge, sem mais cerimônias houve um alto barulho e Harry sentiu o peso sumir da ponta de sua cama. Alguns segundos depois ouviram a tábua do piso ranger do lado de fora da porta do quarto; a Sra. Weasley estava simplesmente ouvindo para verificar se eles não estavam conversando.

Edwiges e Pichitinho piaram tristemente. A tábua do piso rangeu novamente e eles a ouviram subindo as escadas para verificar Fred e Jorge.

- Ela não confia em nós, você sabe - disse Roney arrependido.

Harry tinha certeza que ele não seria capaz de dormir; o início da noite tinha sido tão cheio de coisas para se pensar que ele esperava ficar acordado por horas moendo tudo aquilo. Queria continuar falando com Rony, mas a Sra. Weasley agora estava fazendo as tábuas rangerem novamente no andar deles, e depois que ela se foi ele pôde ouvir os outros tomando seus caminhos escada acima...

De fato, muitas criaturas cheias de pernas estavam andando para cima e para baixo do lado de fora do quarto, e Hagrid, o Professor de Trato das Criaturas Mágicas, estava dizendo "Bonitinhas, não são, hein, Harry? Nós estudaremos armas nesse...", Harry viu que as criaturas tinham canhões no lugar das cabeças e que estavam virando e tentando acertá-lo... Ele se abaixou...

A última coisa que ele percebeu foi que estava enroscado numa bola quente por baixo da sua roupa de cama e a barulhenta voz de Jorge estava enchendo o quarto.

- Mamãe está mandando se levantar, seu café está na cozinha e ela precisa de você na sala de desenho, tem uma porção de Fadas Mordentes, muito mais do que ela pensava e encontrou um ninho de pelúcios embaixo do sofá.

Meia hora depois Harry e Rony, que tinham se vestido e tomado café rapidamente entraram na sala de desenho, uma comprida sala de teto alto no primeiro andar com paredes verde oliva cobertas de sujeira. O carpete exalava pequenas nuvens de poeira toda vez que alguém colocava o pé nele e as cortinas verde musgo estavam zumbindo como se fosse um enxame invisível de abelhas. E era ao redor dessas que a Sra. Weasley,  Hermione, Gina, Fred e Jorge estavam reunidos, todos olhando de forma particularmente estranha enquanto cada um tinha amarrada uma peça de roupa cobrindo o nariz e a boca. Cada um deles também segurava uma grande garrafa de um líquido preto com o bocal na ponta.

- Cubram seus rostos e peguem um spray – a Sra. Weasley disse para Harry e Rony assim que os viu, apontando para duas outras garrafas de líquido que estavam sobre uma mesa de pernas finas. - É fadamordentecida. Eu nunca vi uma infestação tão grande como essa. O que aquele elfo-doméstico esteve fazendo nos últimos dez anos...

O rosto de Hermione estava meio escondido por uma toalha fina, mas Harry viu que ela jogou um olhar repreensivo a Sra. Weasley.

- Kreacher é realmente velho, provavelmente ele não conseguiu manter...

- Você ficaria surpresa em saber o que Kreacher é capaz de fazer quando ele quer, Hermione - disse Sirius, que tinha acabado de entrar na sala carregando uma sacola ensangüentada do que aparentavam ser ratos mortos. - Eu apenas estou alimentando Bicuço - acrescentou ele, em resposta ao olhar investigativo de Harry. - Eu o deixo lá em cima, no quarto da minha mãe. De qualquer forma... Essa escrivaninha...

Ele soltou a sacola de ratos sobre uma poltrona, então se inclinou para examinar a gaveta trancada, a qual, Harry acabara de perceber, estava sacudindo levemente.

- Bem, Molly, eu tenho quase certeza que isso é um bicho-papão - disse Sirius, olhando pelo buraco da fechadura, mas talvez convenha deixarmos Olho-Tonto dar uma espiada antes de deixá-lo sair. Conhecendo minha mãe isso pode ser algo bem pior.

- Você tem razão, Sirius - disse a Sra. Weasley.

Ambos estavam falando com cautela, com vozes delicadas que deram a Harry a certeza de que nenhum dos dois havia esquecido os desentendimentos que tiveram na noite anterior.

Um alto ressoar de sino tocou no andar de baixo, seguido pela dissonância de gritos e gemidos que haviam sido despertados na noite anterior por Tonks caindo por cima do guarda-chuva.

- Eu continuo dizendo a eles para não tocar o sino da porta! - disse Sirius, irritado, saindo apressado da sala. Eles o ouviram trovejando pelos degraus enquanto os gritos da Sra. Black ecoavam mais uma vez pela casa inteira: "Mancha de desonra, mestiço asqueroso, traidor..."

- Feche a porta, por favor, Harry - disse a Sra. Weasley.

Harry demorou mais tempo do que precisava para fechar a porta, queria ouvir o que estava acontecendo no andar de baixo. Sirius obviamente estaria fechando as cortinas sobre o retrato de sua mãe, porque ela havia parado de gritar. Ele ouviu o padrinho andando pelo salão, depois o barulho do cadeado da porta de entrada e então uma voz profunda que ele reconheceu como sendo Kingsley Shacklebolt.

- Héstia acabou de me ajudar, agora ela está com a capa do Moody, acredito que tenho que informar a Dumbledore...

Sentindo os olhos da Sra. Weasley atrás de sua cabeça, Harry fechou a  porta arrependidamente e se juntou à festa das Fadas Mordentes.

A Sra. Weasley estava curvada para olhar a página sobre as Fadas Mordentes no Guia das Pestes Domésticas, de Gilderoy Lockhart, que estava aberto sobre o sofá.

- Certo, vocês todos, vocês precisam tomar muito cuidado, porque as Fadas Mordentes mordem e seus dentes são venenosos. Eu tenho um frasco de antídoto aqui, mas espero que ninguém precise usá-lo.

Ela se endireitou, posicionou-se bem em frente às cortinas e as puxou para frente.

- Quando eu der o sinal comecem a borrifar imediatamente - disse ela. – Elas virão voando para cima de nós, eu acho, mas no rótulo do spray diz que uma boa borrifada vai paralisá-las. Quando elas estiverem imobilizadas, apenas as joguem nesse balde.

Ela saiu cuidadosamente da linha de tiro e levantou seu próprio spray.

- Tudo pronto. Borrifem!

Harry tinha borrifado apenas alguns segundos quando uma Fada Mordente totalmente crescida veio voando de uma dobra no tecido, brilhante como um besouro com as asas zunindo, mostrando seus dentes afiados como agulhas, seu corpo de fada coberto de um grosso pêlo negro e seus quatro pequenos punhos cerrados com fúria. Harry a recebeu com uma borrifada de fadamordentecida bem no rosto. Ela ficou paralisada no meio do ar e caiu, com um surpreendente barulho, no velho carpete abaixo. Harry a pegou e jogou no balde.

- Fred, o que você está fazendo? - disse a Sra. Weasley com severidade. - Borrife de uma vez e jogue no balde!

Harry olhou ao redor. Fred estava segurando uma Fada Mordente que lutava entre seu dedo indicador e o polegar.

- Agora mesmo - disse Fred claramente, borrifando a Fada Mordente rapidamente no rosto para que ela desmaiasse, mas logo que a Sra. Weasley deu às costas ele colocou a fada no bolso, piscando um olho.

- Nós queremos fazer experiências com o veneno das fadas para nossas Caixinhas de Coceira - disse Jorge a Harry.

Borrifando duas Fadas Mordentes de uma vez só enquanto elas voavam bem em direção a seu nariz, Harry chegou mais perto de Jorge e murmurou pelo canto da boca.

- O que são Caixinhas de Coceira?

- Uma variedade de doces que deixam você doente - sussurrou Jorge, mantendo um olho atento nas costas da Sra Weasley. - Não doente de verdade, pense, apenas o suficiente para você não precisar ir a escola enquanto se sentir assim. Fred e eu temos trabalhado nisso durante o verão. Elas têm dois lados coloridos para mastigar. Se você comer a metade laranja das Pastilhas de Vômito você vomita tudo. Quando você for rapidamente retirado da sala de aula para ir a ala hospitalar, você engole a metade vermelha...

-...Que restaura sua saúde na hora, deixando que você continue suas atividades de lazer de sua própria escolha durante uma hora que de outra forma teria sido dedicada a um tédio nada proveitoso. É isso que nós estamos colocando nos anúncios - sussurrou Fred, que tinha desviado da linha de visão da Sra. Weasley e agora catando algumas Fadas Mordentes do chão e colocando em seu bolso. - Mas eles ainda precisam de um pouco de trabalho. No momento nossas cobaias estão tendo um pouco de dificuldade para parar de vomitar pelo tempo suficiente para engolir a metade vermelha.

- Cobaias?

- Nós - disse Fred. - Nós nos alternamos. Jorge testou os Desmaios Falsos e ambos tentamos os de Hemorragia Nasal...

- Mamãe pensou que nós estivéssemos duelando - disse Jorge.

- Então a loja de logros continua firme, não é? - murmurou Harry, fingindo estar ajustando o bocal de seu spray.

- Bem, nós não tivemos a chance de ter um local ainda - disse Fred, abaixando sua voz ainda mais enquanto a Sra. Weasley enxugava o suor do rosto com o cachecol antes de voltar ao ataque -, então nós estamos  trabalhando com pedidos via correio por enquanto. Nós colocamos anúncios no Profeta Diário da semana passada.

- Tudo graças a você, companheiro - disse Jorge. - Mas não se preocupe... Mamãe não suspeita de nada. Ela não lê mais o Profeta Diário, porque eles continuam falando mentiras sobre você e Dumbledore.

Harry deu uma risadinha. Ele forçou os gêmeos Weasley a pegar o prêmio de dez mil galeões que ele tinha ganhado no Torneio Tribruxo para ajudá-los com sua ambição de abrir uma loja de logros, mas ainda estava grato por saber que sua parte em promover os planos deles era desconhecido pela Sra. Weasley. Ela não achava que ter uma loja de gozações era uma carreira adequada para dois de seus filhos.

A desfadamordentização das cortinas tomou a maior parte da manhã. Já era mais de meio dia quando a Sra. Weasley finalmente tirou seu cachecol  protetor, afundou numa confortável poltrona e se levantou novamente com  um grito de desgosto, ela havia sentado em cima da sacola de ratos mortos.

As cortinas não estavam mais zumbindo; estavam fracas e úmidas da intensa borrifação. Aos seus pés as Fadas Mordentes inconscientes estavam enfiadas no balde ao lado de uma vasilha com seus ovos pretos, a qual Bichento estava cheirando e Fred e Jorge estavam jogando olhares de cobiça.

- Eu acho que cuidaremos desses depois do almoço – a Sra. Weasley apontou para os gabinetes com portas de vidro muito empoeiradas que ficavam ao lado da lareira. Eles estavam estufados de estranhos objetos: uma seleção de adagas enferrujadas, garras, uma pele de cobra enrolada, uma quantidade de caixas de prata manchadas com escritas em línguas que Harry não podia entender e, o mais desconfortável, uma garrafa de cristal ornamentada com uma opala na tampa, cheia do que Harry tinha certeza ser sangue.

O sino da porta tocou novamente. Todos olharam para a Sra. Weasley.

- Fiquem aqui - disse ela com firmeza, agarrando a sacola de ratos enquanto os berros da Sra. Black começaram novamente lá em baixo. - Eu trarei alguns sanduíches.

Ela saiu da sala, fechando a porta cuidadosamente atrás de si. Rapidamente todos correram para a janela para olhar a porta de entrada. Puderam ver uma cabeça de cabelos ruivos despenteados e uma porção de velhos Caldeirões.

- Mundungus! - disse Hermione. – Por que será que ele trouxe todos esses caldeirões?

- Provavelmente está procurando um lugar seguro para guardá-los – disse Harry. - Não era isso que ele estava fazendo na noite em que deveria estar me vigiando? Roubando caldeirões?

- É mesmo, você tem razão! - disse Fred, quando a porta da frente se abriu; Mundungus entrou com os caldeirões e sumiu de vista. - Blimey, mamãe não vai gostar disso...

Ele e Jorge foram em direção à porta e ficaram ao lado dela, ouvindo de perto. Os gritos da Sra. Black haviam parado.

- Mundungus está falando com Sirius e Kingsley - murmurou Fred, franzindo a testa ao se concentrar. - Não consigo ouvir bem... Você acha que podemos arriscar usar as Orelhas Extensíveis?'

- Pode valer a pena - disse Jorge. - Eu posso me esquivar até o andar de cima e pegar um par delas...

Mas no exato momento houve uma explosão de sons vindo do andar de baixo que fez com que as Orelhas Extensíveis deixassem de ser necessárias. Todos puderam ouvir exatamente o que a Sra. Weasley estava gritando com toda a força de sua voz.

- VOCÊ NÃO VAI ESCONDER ESSAS COISAS ROUBADAS AQUI!

- Eu adoro ouvir mamãe gritando com outras pessoas - disse Fred, com um sorriso satisfeito no rosto enquanto abria a porta alguns centímetros para deixar a voz da Sra. Weasley entrar melhor na sala. - Isso faz uma bela diferença.

-...COMPLETAMENTE IRRESPONSÁVEL, COMO SE JÁ NÃO TIVESSEMOS COM O QUE NOS PREOCUPAR SEM OS SEUS CALDEIRÕES ROUBADOS DENTRO DESTA CASA...

- Os idiotas vão deixar que ela chegue ao limite - disse Jorge balançando a cabeça. - Você precisa despistá-la logo senão ela vai ficar com a cabeça fervendo por horas. E ela está se mordendo para ter um momento como esses com o Mundungus cada vez que ele escapa, quando deveria estar vigiando você, Harry. E aí vão Sirius e mamãe novamente.

A voz da Sra. Weasley se perdeu em meio a novos gritos vindos dos retratos do salão. Jorge tentou fechar a porta para diminuir um pouco o barulho mas antes  que ele pudesse fazer isso um elfo-doméstico entrou na sala. Exceto pelo farrapo imundo amarrado como se fosse uma tanga ao redor de sua cintura, estava completamente nu. Parecia ser muito velho. A sua pele parecia ser muitas vezes maior que ele, apesar dele ser careca como todos os elfos-domésticos, havia uma certa quantidade de cabelos brancos crescendo e tinha orelhas de morcego. Seus olhos eram um pouco sangrentos e de um cinza aguacento, seu nariz mais parecia uma tromba.

O elfo não deu atenção a Harry e aos outros. Agindo como se não pudesse vê-los, andou com sua corcunda lentamente e com teimosia até o outro lado da sala, todo o tempo murmurando em seu rouco respirar, com uma voz profunda como o som de um sapo-boi.

-...Isso cheira mal, mas ela não é melhor, aquele traidor asqueroso com sua mal-criação estragando a casa de minha mestra, oh, minha pobre mestra, se ela soubesse, se ela soubesse a escória que eles deixam entrar em sua casa, o que ela diria ao velho Kreacher, oh, que vergonha, sangue-ruim e lobisomens e traidores e ladrões, pobre e velho Kreacher, o que ele pode fazer...

- Olá, Kreacher - disse Fred bem alto, fechando a porta com uma pancada.

O elfo-doméstico gelou em seu caminho, parou de murmurar e fez uma cara de surpresa que não conseguiu convencer ninguém.

- Kreacher não viu o jovem mestre - disse ele, virando-se e saudando Fred. Ainda batendo o carpete, ele adicionou de forma perfeitamente audível. - Asqueroso pirralho traidor é o que ele é.

- O quê? - disse Jorge. - Não entendi a última parte.

- Kreacher não disse nada - disse o elfo, com uma segunda ofensa para Jorge, falando num tom baixo, porém cálido. - E eles são idênticos, pequenas bestas não naturais eles são.

Harry não sabia se devia rir ou não. O elfo se endireitou, olhando todos eles com malevolência e aparentemente convencido que eles não podiam ouvi-lo enquanto continuava a murmurar.

-...E tem a sangue-ruim, ali de pé exibindo coragem, ah se minha mestra soubesse, oh, como ela choraria, e tem um novo garoto, Kreacher não sabe o nome dele. O que ele está fazendo aqui? Kreacher não sabe...

- Esse é Harry, Kreacher - disse Hermione. - Harry Potter.

Os pálidos olhos de Kreacher se abriram e ele murmurou mais rápido e mais furioso do que antes.

- A sangue-ruim está falando com Kreacher como se ela fosse minha amiga, se a mestra de Kreacher visse ele com essa desprezível companhia, oh, o que ela iria dizer...

- Não a chame de sangue-ruim! - disseram Rony e Gina juntos, com muita raiva.

- Não tem importância - sussurrou Hermione -, ele não está pensando direito, ele não sabe o que está...

- Não se engane, Hermione, ele sabe exatamente o que está dizendo – disse Fred, olhando Kreacher com grande desgosto.

Kreacher ainda murmurando e olhando para Harry, disse:

- Isso é verdade? Esse é Harry Potter? Kreacher pode ver a cicatriz, deve ser verdade, é o garoto que derrotou o Lord das Trevas, Kreacher gostaria de saber como ele fez...

- Nós todos gostaríamos, Kreacher - disse Fred.

- O que você está querendo aqui? - perguntou Jorge.

Os grandes olhos de Kreacher fitaram Jorge.

- Uma bela história - disse uma voz vinda de trás de Harry.

Sirius estava de volta; estava na porta olhando para o elfo. O barulho no salão tinha silenciado; talvez a Sra Weasley e Mundungus tivessem ido discutir na cozinha.

Ao ver Sirius, Kreacher se curvou numa ridícula corcunda que deixou seu nariz-tromba rente com o chão.

- Endireite-se - disse Sirius impaciente. - Agora, o que você quer?

- Kreacher está limpando - repetiu o elfo. - Kreacher vive para servir a Nobre Casa dos Black...

- E está ficando mais suja a cada dia, está imunda - disse Sirius.

- O mestre sempre gostou de fazer piadas - disse Kreacher, curvando-se novamente, e continuou em voz baixa. - O mestre é um porco asqueroso e ingrato que partiu o coração da sua mãe...

- Minha mãe não tinha coração, Kreacher - rebateu Sirius. - Ela se mantinha viva por pura maldade.

Kreacher se curvou novamente enquanto falava.

- O que quer que o mestre diga - murmurou furiosamente. - O mestre não é digno de limpar a lama dos sapatos de sua mãe, oh, minha pobre mestra, o que ela diria se visse Kreacher servindo ele, como ela o odiaria, que desapontamento ela teria...

- Eu perguntei o que você está querendo - disse Sirius com frieza. - Cada vez que você aparece fingindo estar limpando você rouba alguma coisa e esconde em seu quarto para que nós não joguemos fora.

- Kreacher nunca tirou nada de seu lugar na casa do mestre - disse o elfo, e murmurou bem rápido. - A mestra nunca perdoaria Kreacher se a tapeçaria fosse jogada fora, há sete séculos ela está na família, Kreacher precisa cuidar dela, Kreacher não vai deixar o Mestre e os traidores e os fedelhos a destruírem...

- Eu imaginei que fosse isso - disse Sirius, jogando um olhar desdenhoso para o outro lado. - Ela vai precisar colocar outro Feitiço de Fixação Permanente nela, eu não tenho dúvida, mas se eu puder me livrar dela certamente eu o farei. Agora vá embora, Kreacher.

Pareceu que Kreacher não desafiaria desobedecer a uma ordem direta, apesar disso o olhar que jogou para Sirius enquanto arrastava os pés ao passar por ele estava cheio do mais profundo ódio e murmurou por todo o caminho até sair da sala.

-...Volta de Azkaban mandando no Kreacher, oh, minha pobre mestra, o que ela diria se ela visse a casa agora, escória vivendo nela, seus tesouros jogados fora, ela jurou que ele não era mais filho dela e agora ele está de volta, eles disseram que ele era um assassino também...

- Continue murmurando e eu serei um assassino! - disse Sirius irritado enquanto batia a porta na cara do elfo.

- Sirius, ele não sabe o que está fazendo - alegou Hermione. - Eu não acho que ele saiba que nós podemos ouvi-lo.

- Ele esteve sozinho por muito tempo - disse Sirius -, recebendo ordens loucas do retrato de minha mãe e falando sozinho, mas ele sempre foi grosseiro assim...

- Se ao menos você o libertasse - disse Hermione esperançosa -, talvez...

Nós não podemos libertá-lo, ele sabe muito sobre a Ordem - disse Sirius de forma curta. - E de qualquer forma, o choque iria matá-lo. Sugira a ele deixar essa casa e veja o que ele faz.

Sirius atravessou a sala para onde a tapeçaria que Kreacher estava tentando proteger estava pendurada na extensão de toda a parede. Harry e os outros o seguiram.

A tapeçaria parecia imensamente velha; estava molhada e parecia que as Fadas Mordentes tinha mastigado em vários lugares. Apesar disso, os fios dourados com a qual foi bordada ainda cintilavam o suficiente para mostrá-los uma extensa árvore da família datada (até onde Harry podia dizer) até a Idade Média. Grandes palavras bem no alto da tapeçaria diziam:

A Nobre e Mais Antiga Casa dos Black

Toujours pur

- Você não está nela! - disse Harry, após verificar a parte baixa da árvore bem de perto.

- Eu costumava estar ali - disse Sirius, apontando para um pequeno detalhe arredondado, como um remendo que mais parecia uma queimadura de cigarro. - Minha doce mãe me expulsou após eu ter saído de casa. Kreacher é quem gosta de murmurar essas história por aí.

- Você saiu de casa?

- Quando eu tinha uns dezesseis anos - disse Sirius. - Eu não agüentava mais.

- E para onde você foi? - perguntou Harry, encarando-o.

- Para a casa do seu pai - disse Sirius. - Seus avós ficaram realmente satisfeitos com isso; eles praticamente me adotaram como um segundo filho. Sim, eu ia com o seu pai nos feriados da escola e quando eu tinha dezessete consegui um lugar só para mim. Meu tio Alphard me deixou uma boa quantidade de ouro. Ele também foi retirado da árvore, e provavelmente foi por ter feito isso. Em todo caso, depois disso eu fiquei por minha conta. Mas eu era sempre bem vindo na casa do Sr. e Sra. Potter para o almoço de domingo.

- Mas... Por que você...?

- Saí? - Sirius sorriu e correu seus dedos por seus longos cabelos despenteados. – Por que eu odiava todos eles: meus pais, com sua mania por puro-sangue, convencidos que ser um Black fazia de você praticamente da realeza... Meu irmão idiota, gentil o suficiente para acreditar neles... Aqui está ele.

Sirius apontou o dedo para a parte mais baixa da árvore, no nome "Regulus Black". Uma data de morte (por volta de quinze anos atrás) estava escrita ao lado da data de nascimento.

- Ele era mais novo que eu - disse Sirius - e um filho bem melhor, motivo pelo qual sempre me chamavam a atenção.

- Mas ele morreu - disse Harry.

- Sim - disse Sirius. - Estúpido e idiota... Ele se uniu aos Comensais da Morte.

- Você está brincando!

- Qual é, Harry, você não viu o suficiente nessa casa para dizer o tipo de bruxos que minha família era? - disse Sirius impaciente.

- Eram... Seus pais também eram Comensais da Morte?

- Não, não, mas acredite em mim, eles achavam que Voldemort tinha a idéia certa, eles eram a favor da purificação da raça dos bruxos, livrando-se dos nascidos trouxas e tendo apenas puros-sangues no lugar. Eles não estavam sozinhos, além deles havia algumas pessoas, antes de Voldemort mostrar sua verdadeira forma, que pensavam que ele tinha a idéia certa sobre as coisas... E vacilaram quando viram o que ele estava disposto a fazer para chegar ao poder. Mas eu aposto que meus pais achavam que Regulus era um herói por se unir a ele.

- Ele foi morto por um Auror? - perguntou Harry.

- Não, não - disse Sirius. - Não, ele foi assassinado por Voldemort. Ou por ordem dele, provavelmente; eu sempre duvidei que Regulus fosse importante o suficiente para ser morto por Voldemort em pessoa. Pelo que eu soube, depois que ele morreu, ele havia ido tão longe que entrou em pânico sobre o que estavam pedindo para ele fazer e então tentou sair. Bem, você não pode simplesmente pedir demissão a Voldemort. É um serviço para a vida inteira ou então a morte.

- Almoço - disse a voz da Sra. Weasley.

Ela estava segurando sua varinha erguida à sua frente, equilibrando uma gigantesca bandeja repleta de sanduíches e bolo na ponta da varinha. Ela estava com a cara vermelha e ainda parecia zangada. Os outros foram em sua direção, ansiosos por um pouco de comida, mas Harry ficou com Sirius, que ainda estava curvado próximo à tapeçaria.

- Há muito tempo eu não olhava isso. Tem o Phineas Nigelu; meu tataravô, está vendo?... O menos popular diretor que Hogwarts já teve... A Araminta Meliflua... Prima da minha mãe... Tentou fazer um projeto de lei para tornar a caça aos trouxas legal... E a querida tia Elladora... Ela começou a tradição da família de decapitar os elfos-domésticos quando eles ficavam velhos demais para carregar a bandeja de chá... É claro, qualquer um da família que produzisse algo que parecesse decente eles deserdavam. Estou vendo que Tonks não está aqui. Talvez seja por isso que Kreacher não aceita ordens dela. Ele supostamente faz qualquer coisa que alguém da família lhe peça...

- Você e Tonks são parentes? - perguntou Harry surpreso.

- Ah, sim, a mãe dela, Andrômeda, era minha prima favorita - disse Sirius, examinando a tapeçaria mais de perto. - Não, Andrômeda não está mais aqui, veja...

Ele apontou para outra marca de queimadura entre dois nomes, Bellatrix e Narcissa.

- As irmãs de Andrômeda ainda estão aqui porque tiveram um  respeitável casamento puro-sangue, mas Andrômeda casou com um trouxa, Ted Tonks, então...

Sirius imitou disparar um feitiço com sua varinha contra a tapeçaria e sorriu com mau humor. Harry, entretanto, não sorriu; ele estava muito ocupado olhando os nomes à direita da queimadura sobre o nome de Andrômeda.

Uma linha dupla bordada ligando Narcissa Black e Lúcio Malfoy e uma linha simples vertical saindo de seus nomes e levando ao nome Draco.

- Você é parente dos Malfoy!

- As famílias de puro-sangue são todas parentes - disse Sirius. - Se você só vai deixar seus filhos e filhas casarem com puros-sangues as escolhas são bem limitadas; dificilmente há algum de nós sobrando. Molly e eu somos parentes por causa de um casamento e Arthur é um tipo de primo segundo meu. Mas nem tente encontrá-los aqui. Se alguma vez uma família teve um ramo de traidores do sangue eles são os Weasley.

Mas Harry agora estava olhando para o nome à esquerda da queimadura sobre o nome de Andrômeda: Bellatrix Black, que estava ligada por uma linha dupla a Rodolphus Lestrange.

- Lestrange... - disse Harry bem alto. O nome mexeu com algo em sua memória; ele o conhecia de algum lugar, mas por um momento não podia lembrar de onde, sentiu um estranho arrepio em seu estômago.

- Ele está em Azkaban - disse Sirius.

Harry o olhou com curiosidade.

-Bellatrix e seu marido Rodolphus vieram com Bartô Crouch Jr. - disse Sirius, com a mesma voz apressada. - O irmão de Rodolphus, Rabastan, estava com eles também.

Então Harry lembrou. Tinha visto Bellatrix Lestrange dentro da penseira de Dumbledore, um estranho aparelho em que pensamentos e memórias podiam ser guardados: uma mulher alta com olhos encobertos estava de pé em seu julgamento e proclamou sua fidelidade a Lord Voldemort, o orgulho que tinha em buscar a ele imaginando que mesmo depois de sua queda, ainda convencida de que um dia seria recompensada por sua lealdade.

- Você nunca se referiu a ela como sua...

- Faz alguma diferença ela ser minha prima? - rebateu Sirius. - Até onde eu considero, eles não são minha família. Ela certamente não é minha família. Eu não a vi desde que eu tinha sua idade, a menos que você conte um relance que tive dela vindo para Azkaban. Você acha que eu tenho orgulho de ter parentes como ela?

- Desculpe - disse Harry rapidamente. - Eu não queria... Eu apenas fiquei surpreso, só isso...

- Não importa, não se desculpe - murmurou Sirius. Ele ficou de costas para a tapeçaria, com as mãos enfiadas nos bolsos. - Eu não gosto de estar aqui - disse, olhando através da sala. - Eu nunca pensei que pudesse ficar preso nessa casa outra vez.

Harry compreendeu completamente. Sabia como ele se sentia, quando cresceu pensou que estivesse livre daquele lugar para sempre, para voltar e viver no número quatro da Rua dos Alfeneiros.

- É ideal para o Quartel-General, sem dúvida - disse Sirius. - Meu pai colocava todo tipo de medidas de segurança conhecidas nela enquanto viveu aqui. É praticamente invisível, então os trouxas nunca puderam vir e tocar a campainha. Se é que eles iriam querer isso. E agora Dumbledore adicionou sua proteção, será muito difícil encontrar uma casa tão segura como esta em qualquer outro lugar. Dumbledore é o Fiel do Segredo da Ordem, você sabe, ninguém pode encontrar o Quartel-General a menos que Dumbledore em pessoa diga onde ele está, aquele bilhete que Moody lhe mostrou a noite passada era de Dumbledore... - Sirius deu uma risadinha. - Se meus pais pudessem ver o uso que a casa está tendo agora... Bem, o retrato de minha mãe pode te dar uma idéia.

Ele fez uma cara feia por um momento e então suspirou.

- Eu não me importaria se pudesse sair ocasionalmente para fazer algo de útil. Eu pedi a Dumbledore para poder escoltar você, em sua audiência, como Snuffles, certamente, para poder te dar um pouco de apoio moral, o que você acha?

Harry sentiu como se seu estômago tivesse afundado através do carpete empoeirado. Ele não tinha pensado sobre a audiência nenhuma vez desde o jantar da noite anterior; na excitação de estar de volta com as pessoas que ele mais gostava e ouvindo tudo sobre o que estava acontecendo, aquilo tinha lhe fugido da mente. Com as palavras de Sirius, no entanto, a pressão e o medo voltaram a ele. Olhou Hermione e os Weasley, todos enfiados entre os sanduíches, e pensou como se sentiria se voltassem para Hogwarts sem ele.

- Não se preocupe - disse Sirius. Harry olhou e percebeu que Sirius o esteve observando. - Eu tenho certeza que eles vão limpar sua barra, sei que existe algo no Estatuto Internacional da Magia sobre ser permitido usar magia para salvar sua própria vida.

- Mas se eles me expulsarem - disse Harry calmamente - eu posso voltar aqui e viver com você?

Sirius sorriu tristemente.

- Nós veremos.

- Eu me sentiria bem melhor sobre a audiência se eu soubesse que não teria que voltar para os Dursley - Harry o pressionou.

- Eles devem ser realmente maus se você prefere um lugar como esse – disse Sirius com tristeza.

- Apressem-se, vocês dois, ou não vai sobrar nenhuma comida - disse a Sra. Weasley.

Sirius deu outro grande suspiro, lançou um olhar sombrio para a tapeçaria então ele e Harry foram se juntar aos outros.

Harry fez o possível para não pensar sobre a audiência enquanto esvaziava os armários com portas de vidro durante a tarde. Felizmente, para ele era um trabalho que necessitava de um bocado de concentração, já que muitos dos objetos estavam muito relutantes em deixar suas prateleiras empoeiradas. Sirius sofreu uma mordida de uma caixa de rapé prateada; em poucos segundos sua mão ferida tinha criado uma desagradável cobertura como se fosse uma luva marrom.

- Está tudo bem - disse ele, examinando a mão com interesse antes de bater levemente sua varinha e restaurar a pele ao normal -, deve ter polvilho de verruga nela.

Ele jogou a caixa de lado dentro de um saco onde estavam depositando as ruínas dos armários; Harry viu Jorge embrulhar a mão cuidadosamente em um pano e colocar a caixa dentro de seu bolso, que já estava cheio de Fadas Mordentes.

Encontraram um instrumento prateado de formato desagradável, algo como um par de pinças com muitas pernas, que correu pelo braço de Harry como se fosse uma aranha quando a pegou, e tentou picar sua pele. Sirius agarrou e bateu nela com um pesado livro com o título Nobreza da Natureza: Uma Genealogia de Bruxos. Havia uma caixinha de música que emitia um fraco e sinistro toque quando se dava corda e todos se viram curiosamente fracos e sonolentos, até Gina teve o senso de fechar a tampa; um pesado medalhão que nenhum deles conseguiu abrir; uma grande quantidade de selos antigos e, numa caixa empoeirada, uma Ordem de Merlin, Primeira Classe, que havia sido ganha pelo avô de Sirius por "serviços prestados ao Ministério".

- Isso significa que deu a eles uma boa quantidade de ouro - disse Sirius desdenhosamente jogando a medalhão dentro do saco de lixo.

Muitas vezes Kreacher andou pela sala e tentou furtar algumas coisas, escondendo-as embaixo de sua tanga, murmurando maldições horríveis cada vez que eles o viam fazendo isso. Quando Sirius arrebatou de sua mão um grande anel de ouro que tinha o emblema dos Black, Kreacher explodiu em lágrimas furiosas e saiu da sala chorando e chamando Sirius de nomes que Harry nunca tinha ouvido antes.

- Era do meu pai - disse Sirius, jogando o anel no saco. - Kreacher não era tão devoto a ele quanto era à minha mãe, mas eu ainda o peguei escondendo um par de velhas calças do meu pai na semana passada.

***

A Sra. Weasley manteve todos trabalhando duro durante os dias que seguiram. A sala de desenho demorou três dias para ser desinfetada. Finalmente, a única coisa indesejável que sobrou foi a tapeçaria com a árvore genealógica da família Black, que resistiu a todas as tentativas de remoção da parede, e as pancadas na gaveta da escrivaninha. Moody ainda não tinha aparecido pelo Quartel-General, então não puderam se certificar do que tinha dentro dela.

Foram da sala de desenho para uma sala de jantar no andar térreo onde encontraram aranhas tão grandes quanto os pratos do guarda-louça (Rony saiu da sala apressadamente para fazer uma xícara de chá e não voltou por uma hora e meia). A porcelana, que tinha o símbolo dos Black e o lema, foi toda jogada sem nenhuma cerimônia dentro do saco por Sirius, e o mesmo destino teve uma porção de velhas fotografias que estavam em molduras prateadas manchadas, todos os seus ocupantes gritaram quando o vidro que os cobria se partiu.

Snape poderia se referir ao trabalho deles como "uma limpeza", mas na opinião de Harry estavam realmente declarando guerra à casa, que estava resultando numa boa briga, sendo ajudada e apoiada por Kreacher. O elfo-doméstico continuava aparecendo onde quer que se reunissem, seu murmúrio se tornando mais e mais ofensivo quando ele tentava remover qualquer coisa que pudesse dos sacos de lixo. Sirius foi o mais longe que pôde, ameaçando-o com roupas, mas Kreacher olhava fixamente para ele com seus olhos lacrimejantes e disse "O Mestre deve fazer o que desejar", antes de se virar e murmurar bem alto: "mas o mestre não vai dispensar o Kreacher, não, porque Kreacher sabe o que eles querem fazer, ah sim, eles estão tramando contra o Lord das Trevas, sim, com esse sangue-ruim e traidores e escória...". Então Sirius, ignorando os protestos de Hermione, agarrou Kreacher por trás de sua tanga e o jogou pessoalmente para fora da sala.

O sino da porta tocou várias vezes por dia, que era a deixa para a mãe de Sirius começar a gritar novamente, e para Harry e os outros a tentativa de ouvir a conversa do visitante por detrás da porta, para poder colher qualquer informação que pudessem antes que a Sra Weasley os chamasse de volta às suas tarefas. Snape entrou e saiu da casa diversas vezes, embora para o alívio de Harry eles nunca tivessem ficado frente a frente; Harry também avistou sua professora de Transfiguração, McGonagall, parecendo bem estranha em roupas de trouxa, e também parecia muito ocupada para se demorar. Algumas vezes, entretanto, os visitantes ficavam para ajudar. Tonks se juntou a eles para uma tarde memorável na qual eles encontraram um velho fantasma assassino escondido no banheiro do primeiro andar, e Lupin, que estava na casa com Sirius, mas que tinha saído por longos períodos para fazer trabalhos misteriosos para a Ordem, ajudou-os a consertar um relógio de pêndulo que tinha desenvolvido um hábito desagradável de atirar pesados parafusos em quem passasse perto. Mundungus se redimiu aos olhos da Sra. Weasley ao salvar Rony de um antigo conjunto de barretes vermelhos que tinham tentado estrangulá-lo enquanto ele os tirava do armário.

Apesar do fato de que ele estava dormindo mal, ainda tendo sonhos sobre corredores e portas trancadas que faziam sua cicatriz doer, Harry estava conseguindo se divertir pela primeira vez em todo o verão. Enquanto estivesse ocupado estaria feliz; quando a ação diminuía, entretanto, toda vez que baixava a guarda ou se deitava exausto na cama observando as sombras embaçadas se moverem através do teto, o pensamento sobre a audiência do Ministério que estava se aproximando retornava a ele. O medo golpeava seu interior como agulhas quando imaginava o que aconteceria com ele se fosse expulso. A idéia era tão terrível que não se atrevia a comentar nem mesmo com Rony e Hermione, que via freqüentemente cochichando juntos e jogando olhares inquietos em sua direção, seguido por sua determinação em não mencioná-lo. Às vezes ele não podia impedir sua imaginação de mostrá-lo um oficial anônimo do Ministério que estava partindo sua varinha em duas e ordenando a ele que voltasse a casa dos Dursley... Mas ele não iria. Estava determinado. Voltaria para Grimmauld Place e viveria com Sirius.

Ele sentiu como se um tijolo tivesse caído sobre seu estômago quando a Sra. Weasley virou-se para ele durante o jantar na quarta-feira e disse calmamente.

- Eu passei suas melhores roupas para amanhã de manhã, Harry, e eu quero que você lave seu cabelo hoje a noite, também. Uma boa primeira impressão pode fazer maravilhas.

Rony, Hermione, Fred, Jorge e Gina, todos pararam e olharam para ele.

Harry balançou a cabeça e tentou continuar comendo seu pedaço de carne, mas sua boca tinha ficado tão seca que ele não conseguia mastigar.

- Como eu vou chegar lá? - perguntou ele à Sra. Weasley, tentando parecer indiferente.

- Arthur vai levar você para o trabalho com ele - disse a Sra. Weasley com gentileza.

O Sr. Weasley sorriu de modo encorajador para Harry.

- Você pode aguardar em meu escritório até chegar a hora da audiência - disse ele.

Harry olhou para Sirius, mas antes que pudesse perguntar a Sra. Weasley já havia respondido.

- O Professor Dumbledore não acha uma boa idéia Sirius ir com você, e eu devo dizer que eu...

-...Acho que ele está com a razão - disse Sirius com os dentes trincados.

- Ele veio noite passada, quando você estava dormindo - disse o Sr. Weasley.

Sirius, com muito mau humor apunhalou uma batata com seu garfo. Harry baixou os olhos para seu prato. O pensamento de que Dumbledore tinha estado na casa na véspera de sua audiência e que não tinha pedido para vê-lo o fez se sentir ainda pior, se é que isso era possível.

-- CAPÍTULO 7 --
O MINISTÉRIO DA MAGIA


Harry acordou às cinco e meia da madrugada, tão abrupta e completamente como se alguém houvesse gritado em seus ouvidos. Por alguns momentos ele permaneceu imóvel, como se a visão da audiência disciplinar preenchesse cada minúscula partícula de seu cérebro; então, incapaz de suportar isso, saltou da cama e pôs os óculos. A Sra. Weasley havia separado sua recém-passada calça jeans e uma blusa ao pé da cama. Harry os vestiu rapidamente. O quadro em branco na parede ria dissimuladamente.

Rony estava esparramado, de barriga pra cima, com a boca aberta, dormindo. Ele não viu Harry atravessar o quarto, sair e fechar suavemente a porta atrás de si. Tentando não pensar em qual seria a próxima vez que veria Rony, quando poderiam não mais ser companheiros em Hogwarts, Harry desceu tranqüilamente as escadas, passando pelas cabeças dos ancestrais de Kreacher, até chegar à cozinha.

Ele esperava a encontrar vazia, porém quando chegou à porta escutou o ruído de vozes do outro lado. Empurrou a porta e viu o Sr. e a Sra. Weasley, Sirius, Lupin e Tonks sentados ali, quase que como o esperando. Todos estavam bem vestidos, exceto a Sra. Weasley, que trajava um vestido acolchoado púrpura. Ela deu um pequeno salto quando Harry entrou.

- Café da manhã - disse enquanto puxava sua varinha e ia em direção ao fogão.

- B-b-bom dia, Harry - bocejou Tonks. Seu cabelo estava loiro e encaracolado esta manhã. - Dormiu bem?

- Sim - disse Harry.

- Est-tive acordada a noite inteira - disse ela, com outro estremecido bocejo. - Venha, sente-se...

Ela alargou uma cadeira, tocando sobre a que estava a seu lado.

- O que você quer, Harry? – a Sra. Weasley perguntava. - Mingau? Sanduíche? Salmão? Bacon e ovos? Torradas?

- Apenas... Apenas as torradas, obrigado - disse Harry.

Lupin olhou Harry e então Tonks.

- O que vocês estavam dizendo sobre Scrimgeour?

- Ah, sim bem, nós precisamos ser um pouco mais cuidadosos, ele tem perguntado a mim e ao Kingsley algumas questões engraçadas...

Harry se sentiu vagamente grato por não ser requisitado a entrar na conversa. Estava se contorcendo por dentro. A Sra. Weasley pôs algumas torradas e marmelada à sua frente; ele tentou comer mas era como mastigar carpete. Ela se sentou a seu lado e começou a ajeitar sua blusa, pondo a etiqueta pra dentro e acertando a costura aos ombros. Ele desejou que ela não estivesse fazendo isso.

- ...e eu tenho de contar a Dumbledore que não posso ficar encarregada da noite de amanhã, eu estou muito cansada - encerrou Tonks, bocejando largamente uma vez mais.

- Eu te cubro - disse o Sr. Weasley. - Eu estou bem, e preciso reportar uma coisa mesmo...

Arthur Weasley não estava trajando roupas de bruxo, mas calças listradas e uma velha jaqueta de couro. Ele se virou para Tonks e Harry:

- Como vocês estão?

Harry encolheu os ombros.

- Estará tudo acabado logo - disse o Sr. Weasley reconfortantemente. - Em algumas horas você estará limpo.

Harry não disse nada.

- A audiência é no meu andar, no escritório de Amélia Bones. Ela é a chefe do Departamento de Cumprimento da Lei Bruxa, e quem lhe interrogará.

- Amélia Bones é OK, Harry - disse Tonks séria. - Ela é justa, ela o escutará.

Harry concordou com a cabeça, ainda incapaz de pensar em qualquer coisa pra dizer.

- Não perca a cabeça - disse Sirius abruptamente. - Seja polido e atenha-se aos fatos.

Harry fez que sim com a cabeça novamente.

- A lei está do seu lado - disse Lupin tranqüilamente. - Mesmo bruxos menores de idade podem usar magia em situações de risco de vida.

Algo muito frio pingou na parte inferior das costas do pescoço de Harry; por um momento pensou que alguém estivesse pondo-lhe sob um feitiço ilusório, mas então percebeu que a Sra. Weasley estava atacando seu cabelo com um pente molhado. Ela o apertava com força contra o seu cabelo.

- Ele nunca fica direito? - perguntou desesperada.

Harry balançou a cabeça de um lado para o outro. O Sr. Weasley checou seu relógio e olhou para ele.

- Acho que devemos ir agora, estamos um pouco adiantados mas é melhor você estar no Ministério que vagando por aqui.

- OK - disse Harry automaticamente, largando sua torrada e ficando de pé.

- Você vai ficar bem, Harry - falou Tonks, batendo em seu braço.

- Boa sorte - disse Lupin. - Tenho certeza de que sairá tudo bem.

- E se não sair - disse Sirius sinistramente - eu verei Amélia Bones pra você...

Harry sorriu fracamente. A Sra. Weasley o abraçou.

- Estamos todos com os dedos cruzados.

- Certo - disse Harry. - Bem... Vejo vocês depois então.

Seguindo o Sr. Weasley, pôde escutar a mãe de Sirius roncando em seu sono atrás das cortinas. O Sr. Weasley abriu a porta e saíram para a fria e cinzenta manhã.

- Normalmente o senhor não caminha até o trabalho, não é? - Harry perguntou enquanto deixavam rapidamente do quarteirão.

- Não, em geral eu aparato - disse ele - mas obviamente você não pode, e eu acho que o melhor é chegarmos lá por um meio não mágico... Dá uma impressão melhor, considerando-se a razão por que lá está...

O Sr. Weasley manteve a mão dentro da jaqueta enquanto caminhavam. Harry sabia que estava segurando sua varinha. As ruas estavam praticamente desertas porém quando chegaram à pequena estação do metrô estava cheia de passageiros. Como sempre que se aproximava de trouxas indo ao trabalho, o senhor Weasley mal continha seu entusiasmo.

- Simplesmente fabuloso – sussurrou, indicando a máquina de bilhetes automática. - Incrivelmente engenhoso.

- Elas estão quebradas - disse Harry, apontando para o aviso.

- É, mas mesmo assim... - disse o senhor Weasley, sorrindo radiante para elas.

Compraram seus bilhetes, então, de um guarda com cara de sono (foi Harry quem fez a transação, já que o Sr. Weasley não era muito competente no trato do dinheiro trouxa) e cinco minutos mais tarde estavam a bordo de um vagão que se dirigia ao centro de Londres. O Sr. Weasley ficava checando e re-checando ansiosamente o mapa acima das janelas.

- Mais quatro paradas, Harry... Mais três apenas agora... Só mais duas, Harry...

Desembarcaram numa estação bem no coração de Londres e deixaram o vagão numa maré de homens e mulheres bem vestidos carregando pastas. Tomaram as escadas rolantes, passaram pela roleta (o Sr. Weasley ficou impressionado com a maneira como engolia seu bilhete) e emergiram numa rua larga, com prédios impressionantes, plena de tráfego.

- Onde nós estamos - disse o Sr. Weasley e por um momento Harry escutou seu coração bater, pensou que haviam saltado na estação incorreta, a despeito das constantes observações do Sr. Weasley em relação ao mapa; mas um segundo depois ele disse. - Ah, sim... Por aqui, Harry - e desceram a rua. - Desculpe, mas eu nunca venho de trem e isso tudo parece diferente sob uma perspectiva trouxa. Aliás, eu nunca usei a entrada de visitantes antes.

Quanto mais caminhavam menores e menos impressionantes se tornavam as construções, até que finalmente atingiram uma rua que continha uns poucos escritórios maltrapilhos, um pub e uma grande caçamba de lixo transbordando. Harry esperava ter uma impressão bem melhor do local onde estava o Ministério da Magia.

- Aqui estamos - disse o Sr. Weasley animado, apontando para uma velha cabine telefônica vermelha que parecia bastante danificada, defronte a um muro totalmente pichado. - Primeiro você, Harry.

Ele abriu a portinhola da cabine e entrou pensando em que cargas d'água era aquilo. O Sr. Weasley entrou em seguida, apertando-se contra Harry e fechando a porta. Harry estava jogado contra o aparelho telefônico, que estava dependurado, como se um vândalo tivesse tentado puxá-lo. O Sr. Weasley conseguiu tirar o fone do gancho.

- Senhor Weasley, acho que isso deve estar quebrado também - disse Harry.

- Não, não, tenho certeza de que está bom - disse o Sr. Weasley, segurando o fone acima de sua cabeça e fitando o discador. - Vejamos... Seis... - ele discou o número. - Dois... Quatro... E outro quatro... E Outro dois...

Assim que a placa de discagem zumbiu suavemente para seu lugar uma voz feminina, fria, soou dentro da cabine, e não do fone na mão do Sr. Weasley, mas tão alta e claramente como se uma mulher invisível estivesse diante deles.

- Bem-vindos ao Ministério da Magia. Por favor, digam seus nomes e assuntos.

- Er... - disse o Sr. Weasley, claramente incerto sobre dever ou não responder no fone, que segurava ao contrário. - Arthur Weasley, Escritório de Mau Uso dos Artefatos Trouxas, escoltando Harry Potter para uma audiência disciplinar...

- Obrigado - disse a fria voz feminina. - Visitante, por favor, pegue a identificação e a coloque na parte da frente de sua roupa.

Houve um clique e uma batida e Harry viu algo sair pela parte onde as moedas eram normalmente devolvidas. Ele pegou: era um broche quadrado, prateado, com a inscrição: "Harry Potter, Audiência Disciplinar". Ele o prendeu à frente da camisa e a voz feminina falou novamente.

- Visitante, você será inspecionado e sua varinha deve ser apresentada para registro no balcão de segurança, localizado ao final do Átrio.

O chão da cabine estremeceu; começaram a afundar vagarosamente no solo. Harry olhava apreensivo enquanto o pavimento parecia subir através das janelas de vidro da cabine, até que uma completa escuridão se encerrou sobre suas cabeças. Não se podia ver coisa alguma; podia escutar um pequeno ruído enquanto a cabine seguia descendo pelo subsolo. Após cerca de um minuto - que pareceu muito mais longo para Harry - um feixe dourado de luz surgiu, iluminando seus pés, e foi aumentando, subindo através do corpo até alcançar sua face, de modo que teve de piscar.

- O Ministério da Magia lhe deseja um bom dia - disse a voz feminina.

A porta da cabine se abriu e o Sr. Weasley saiu, seguido por Harry, que estava de queixo caído. Estavam no final de um longo e esplêndido Hall, com um piso muito bem polido de madeira escura. O teto azul-esverdeado estava repleto de símbolos dourados, brilhantes, que se moviam, mudando de posição, como um enorme quadro de avisos no céu. As paredes, de cada lado, tinham painéis de madeira enegrecida brilhante e várias chaminés com bordas douradas. A cada poucos segundos um bruxo emergia de uma das chaminés à esquerda com um pequeno barulho de vento. Ao lado direito pequenas filas se formavam, à frente de cada chaminé, pessoas esperando para partir.

Ao meio do Hall havia uma fonte. Um grupo de estátuas douradas, maiores que o tamanho natural, estavam no meio do círculo de água. Maior que todos, havia um bruxo de nobre olhar, apontando sua varinha para o céu; ao seu lado uma bela bruxa, um centauro, um duende e um elfo-doméstico. Os últimos três olhavam, como que adorando, os bruxos. Jatos reluzentes de água jorravam das varinhas dos bruxos, da ponta da flecha do centauro, da ponta do chapéu do duende, e de cada uma das orelhas do elfo, de modo que o barulho de água corrente adicionava-se aos "cracks" das pessoas aparatando e aos passos das centenas de bruxos, em sua maior parte abatidos, com olhar madrugador, que se dirigiam para um conjunto de portões dourados ao fim do Hall.

- Por aqui - disse o Sr. Weasley.

Eles se juntaram à multidão, tomando seu caminho entre os empregados do Ministério, alguns dos quais carregavam pilhas de pergaminhos, outros suas pastas; alguns liam o Profeta Diário enquanto caminhavam. Ao passarem pela fonte, Harry viu sicles de prata e nuques de bronze, brilhando ao fundo. Uma pequena placa manchada dizia:

"TODAS  AS  CONTRIBUIÇÕES  PARA  A  FONTE  DA  FRATERNIDADE  MÁGICA  SERÃO  DOADOS  O  HOSPITAL   ST.  MUNGUS  PARA  DOENÇAS E ACIDENTES MÁGICOS"

"Se não for expulso de Hogwarts porei dez galeões", Harry se pegou pensando desesperadamente.

- Por aqui, Harry - disse o Sr. Weasley, e saíram da multidão que se dirigia aos portões dourados.

Sentaram-se à uma mesa à esquerda; sob um sinal que informava "Segurança", um bruxo mal barbeado, em traje azul-esverdeado, encarou-os quando se aproximavam e deixou de lado seu Profeta Diário.

- Estou escoltando um visitante - disse o Sr. Weasley, apontando Harry.

- Venha aqui - disse bruxo numa voz mal humorada.

Harry caminhou para próximo a ele; o bruxo segurava um longo bastão dourado, fino e flexível como uma antena, e o passou de cima a baixo de Harry, frente e costas.

- Varinha - grunhiu o segurança para Harry, pondo de lado o instrumento.

Harry entregou sua varinha. O bruxo a colocou num estranho instrumento de latão, que parecia com um conjunto de escalas com um prato. Ele começou a vibrar. Uma pequena tira de pergaminho saiu de um buraco na base. O bruxo o pegou e leu o que estava escrito:

- Vinte e oito centímetros, pena de fênix, em uso por quatro anos. Está correto?

- Sim - disse Harry nervosamente.

- Eu fico com isso - disse o bruxo, guardando o pergaminho. - Você leva isso - disse entregando a varinha de volta.

- Obrigado.

- 'Pera lá... - disse o bruxo vagarosamente.

Seus olhos foram do broche de prata no peito de Harry para sua testa.

- Obrigado, Eric - disse o Sr. Weasley firmemente, e pegando Harry pelo ombro o levou de volta para a multidão que caminhava rumo aos portões.

Ligeiramente empurrado pela multidão, Harry seguiu o Sr. Weasley através dos portões para um Hall menor adiante, onde pelo menos vinte elevadores esperavam atrás de grades de ferro douradas. Ambos se dirigiram a um deles, acompanhados por várias outras pessoas. Próximo, estava um bruxo com uma grande barba, segurando uma caixa de papelão que emitia um som de arranhões.

- Tudo bem, Arthur? - disse o bruxo, acenando com a cabeça para o Sr. Weasley.

- O que você tem aí, Bob? - perguntou o Sr. Weasley, olhando pra caixa.

- Não estamos muito certos - asseverou o bruxo, sério. - Pensávamos que fosse algum tipo de galinha do pântano, até que começou a cuspir fogo. Parece-me uma séria violação ao banimento da criação de espécies experimentais.

Com um ruído estridente, o elevador chegou; a grade dourada se retraiu e Harry e o Sr. Weasley entraram no elevador com o resto da multidão, Harry se viu preso contra a parede. Vários bruxos o olhavam, curiosos; ele observava os pés, evitando o olhar dos demais, mexendo na franja. A grade se fechou ruidosamente e o elevador ascendeu devagar, as correntes rangendo, enquanto a mesma voz feminina que Harry escutara na cabine tornava a falar.

- Sétimo andar, Departamento de Jogos e Desportos Mágicos, incluindo a Sede das Confederações Britânica e Irlandesa de Quadribol, o Clube Oficial de Pedra Pesada e o Escritório de Patentes Ridículas.

As portas se abriram. Harry vislumbrou o corredor desarrumado, com diversos pôsteres de times de Quadribol ornando as paredes. Um dos bruxos, que carregava inúmeras vassouras, escapou com dificuldade do elevador e desapareceu no corredor. As portas se fecharam e o elevador ascendeu ruidosamente de novo, a voz anunciou:

- Sexto andar. Departamento de Transporte Mágico, incluindo a Autoridade sobre a Rede de Flu, o Controle de Vassouras, o Escritório de Portais e o Centro para Testes de Aparatação.

As portas uma vez mais se abriram e quatro ou cinco bruxos saíram; ao mesmo tempo diversos aviõezinhos de papel adentraram o elevador. Harry os olhou adejarem preguiçosamente sobre sua cabeça; tinham um pálido tom violeta e podia-se ler "Ministério da Magia" estampado em suas asas.

- São memorandos interdepartamentos - sussurrou-lhe o Sr. Weasley. - Nós usávamos corujas mas a confusão era inacreditável... Derrubando tudo sobre as mesas...

Assim que o elevador pôs-se a subir os aviõezinhos se dirigiram para a luz do teto.

- Quinto andar, Departamento Internacional de Cooperação Mágica, incluindo o Corpo de Padronização de Artefatos Mágicos Internacionais, o Escritório de Direito Mágico Internacional e a Confederação Internacional da Magia, cadeiras britânicas.

Quando a porta se abriu dois memorando zuniram para fora, mas diversos outros entraram, de modo que a luz acima tremeluzia enquanto adejavam à sua volta.

- Quarto andar, Departamento para a Regulação de Criaturas Mágicas, incluindo as Divisões de Feras, Seres e Espíritos, o Escritório Ligado aos Duendes e o Bureau para a Prevenção de Pestes.

- Licença - disse o bruxo que carregava a galinha flamejante, e deixou o elevador seguido por uma esquadrilha de memorandos. As portas se fecharam novamente.

- Terceiro andar, Departamento de Catástrofes e Acidentes Mágicos, incluindo o Esquadrão para Reversão de Acidentes Mágicos, o Quartel de Obliviadores e o Comitê de Desculpas para Trouxas.

Todos deixaram o elevador neste andar, exceto o Sr. Weasley, Harry e uma bruxa que lia um pergaminho tão longo que se desenrolava pelo chão.

Os memorandos remanescentes continuaram voando em torno da lâmpada quando o elevador tornou a ascender e a voz fez seu anúncio.

- Segundo andar, Departamento para o Cumprimento do Direito Mágico, incluindo o Escritório do Uso Impróprio da Magia, o Quartel dos Aurores e a Administração dos Serviços Wizengamot.

- Somos nós, Harry - disse o Sr. Weasley e seguiram a bruxa para fora do elevador, para um corredor cheio de portas. - Meu escritório é do outro lado do andar.

- Sr. Weasley - disse Harry, enquanto passavam por uma janela através da qual a luz solar entrava -, nós ainda estamos no subsolo?

- Sim, estamos. Essas janelas estão encantadas. A Manutenção Mágica decide qual tempo teremos todo dia. Tivemos dois meses de furacões da última vez que pedimos aumento... Vire aqui, Harry.

Harry olhou sorrateiramente através das portas enquanto passavam. Os aurores haviam coberto as paredes de seus cubículos com desde figuras dos Bruxos Procurados e fotos de seus familiares a pôsteres de times de Quadribol e artigos do Profeta Diário. Um homem em escarlate, com um rabo-de-cavalo maior que o de Gui, estava sentado com suas botas em cima da mesa, ditando um relatório para sua pena. Um pouco adiante uma bruxa com um curativo sobre um dos olhos conversava por sobre seu cubículo com Kingsley Shacklebolt.

- 'Dia, Weasley - disse Shacklebolt despreocupadamente ao se aproximarem. - Eu gostaria de ter uma palavrinha com você, se tiver um segundo...

- Claro, se for realmente um segundo - disse o Sr. Weasley -, eu estou realmente com pressa.

Eles falavam como se parcamente conhecessem um ao outro e quando Harry abriu sua boca para dar bom dia a Kingsley o Sr. Weasley lhe pisou o pé. Eles seguiram Kingsley até o último cubículo.

Harry teve um pequeno choque ao ver Sirius lhe piscando de todas as direções. Recortes de jornais e velhas fotografias - mesmo uma em que aparecia como padrinho no casamento dos Potter - adornavam as paredes. O único espaço sem Sirius era um mapa-múndi em que pequenos pontos vermelhos piscavam como jóias.

- Aqui - disse Kingsley bruscamente para o Sr. Weasley, empurrando um maço de pergaminhos em suas mãos. - Eu preciso de toda a informação possível sobre veículos voadores nos últimos doze meses. Recebemos informação de que Black possa estar usando sua velha motocicleta.

Kingsley deu uma longa piscada para Harry e continuou num sussurro:

- Dê-lhe a revista, ele vai achar interessante - e então voltou ao tom normal. - E não demore muito, Weasley, o atraso no seu relatório sobre arcas de fogo segurou nossa investigação por um mês.

- Se você tivesse lido meu relatório saberia que o termo é "armas de fogo" - disse o Sr. Weasley friamente. - E temo dizer que você terá de esperar por sua informação sobre motocicletas, nós estamos extremamente ocupados no momento - ele abaixou o tom de voz e disse. - Se você chegar antes das sete, Molly preparou almôndegas.

Tornou então para Harry e o tirou do cubículo de Kingsley, em direção a um novo conjunto de portas de carvalho para outra passagem; virou à esquerda, marcharam por mais um corredor, viraram à direita, chegando a um corredor mal-iluminado e puído e andaram até o final, onde uma porta à esquerda, entreaberta, revelava um armário de vassouras e numa porta à direita lia-se numa placa fosca: "Mau Uso de Artefatos Trouxas".

O sujo escritório do Sr. Weasley parecia ligeiramente menor que o armário de vassouras. Haviam posto duas mesas lá e mal havia espaço para se mover entre elas, devido ao excesso de fichários nas paredes, sobre os quais jaziam pilhas de documentos. O pequeno espaço restante era dedicado à sua obsessão: pôsteres de carros, incluindo o de um desmontado; duas ilustrações de caixas de correio, que pareciam retiradas de um livro infantil; e um diagrama ensinando a como instalar tomadas, no alto de uma das pilhas descansava uma torradeira, soluçando inconsolavelmente, e um par de luvas de couro cujos polegares brincavam se tocando. Uma fotografia da família no meio da qual, Harry assim achava, Percy havia se escondido.

- Não temos uma janela - disse o Sr. Weasley desculpando-se, tirando sua jaqueta de couro e colocando sobre o dossel da cadeira. - Nós pedimos, mas eles acharam desnecessário. Sente-se, Harry, não fique olhando como se Perkins ainda estivesse aí.

Harry se viu na cadeira de Perkins enquanto o Sr. Weasley brigava com o maço que Kingsley lhe dera.

- Ah - disse sorrindo, ao tirar uma revista intitulada "O Tergiversador" do meio. - Sim... - ele a folheou. - Sim, está certo, Sirius vai achar isso muito divertido. Oh, o que foi agora?

Um memorando zuniu através da porta e descansou em cima da torradeira chorosa. O Sr. Weasley o abriu e leu em voz alta:

- Terceira regurgitação num toalete público reportada em Bethnal Green, favor investigar imediatamente. Isso está ficando ridículo...

- Um toalete regurgitador?

- Uma peça nos trouxas - disse o Sr. Weasley, franzindo o cenho. - Tivemos dois casos semana passada, um em Wimbledon e um em Elefante & Castelo. Os trouxas dão descarga e em vez de tudo desaparecer... Bem, você pode imaginar. Os coitados continuam chamando aqueles... Encarnadores, acho que é assim que são chamados... Você sabe, aqueles que consertam tubulações e essas coisas...

- Encanadores?

- Sim, isso, mas, é claro, eles estão confusos. Só espero que peguemos quem está fazendo isso.

- Os aurores irão pegá-los?

- Ah, não, isso é muito trivial para os aurores; será a Patrulha para o Cumprimento do Direito Mágico. Ah, Harry, este é Perkins.

Um velho bruxo corcunda, tímido, com uma penugem de cabelo branco, entrara na sala, ofegante.

- Arthur - disse desesperado, sem olhar Harry -, graças a Deus, eu não sabia o que fazer, se esperar por você ou não. Acabei de enviar uma coruja para tua casa, mas é claro que não a recebeu, uma mensagem urgente chegou dez minutos atrás.

- Eu sei, sobre o toalete regurgitador - disse o Sr. Weasley.

- Não, não, não é sobre o toalete, é a audiência do menino Potter. Eles mudaram o horário e local. Começa às oito horas, no Tribunal Dez.

- Lá embaixo no... Mas eles não me disseram... Pelas barbas de Merlin!

O Sr. Weasley olhou em seu relógio, deixou escapar um grito e saltou da cadeira.

- Rápido, Harry, deveríamos estar lá há cinco minutos.

Perkins se atirou contra os fichários enquanto o Sr. Weasley deixava o escritório correndo, com Harry em seu encalço.

- Mas por que alteraram a hora? - Harry perguntou resfolegante enquanto corriam pelos cubículos dos Aurores, e estes erguiam suas cabeças, a fim de verem o que se passava. Harry sentia como se suas entranhas ainda estivessem na cadeira de Perkins.

- Não faço idéia, mas graças a Deus chegamos cedo; se você a tivesse perdido seria catastrófico - o sr. Weasley derrapou, parando defronte ao elevador, e golpeou impacientemente o botão "desce". - VENHA!

O elevador apareceu e eles correram para seu interior. Toda vez que parava o Sr. Weasley praguejava e apertava furiosamente o botão nove.

- Esses tribunais não são usados há anos - disse com raiva -, não consigo entender por que estão lá... A menos que... Não...

Uma bruxa roliça empunhando um cálice fumegante entrou e o senhor Weasley não continuou.

- O Átrio - informou a voz feminina e a grade dourada se abriu mostrando a Harry as distantes estátuas da fonte. A bruxa roliça deixou o elevador e um bruxo entrou, com cara de luto.

- 'Dia, Arthur - disse numa voz sepulcral enquanto o elevador descia. - Não costumo vê-lo muito aqui embaixo.

- Coisa urgente, Bode - disse o Sr. Weasley, que estava na ponta dos pés, olhando ansiosamente para Harry.

- Ah, sim - disse Bode, encarando Harry sem piscar. - Claro.

Harry não tinha emoções para esconder de Bode mas seu olhar fixo não o deixou mais confortável.

- Departamento de Mistérios - disse uma voz feminina e deixaram o elevador.

- Rápido, Harry - disse o Sr. Weasley ao deixarem o elevador, correndo ao longo de um corredor bem distinto dos acima.

As paredes eram nuas, não havia janelas ou portas, além de uma negra ao seu final. Harry esperava passar por ela mas o Sr. Weasley o tomou pelo braço, virando-o para a esquerda, onde um caminho levava a uma escada.

- Aqui embaixo, aqui embaixo - disse ofegante o Sr. Weasley, saltando dois degraus por vez. - O elevador não chega tão baixo... Por que estão fazendo isso, eu...

Terminaram o lance de escadas e trafegaram por mais um corredor, que guardava grande semelhança ao que levava às masmorras de Snape em Hogwarts, com paredes de pedras desiguais e tochas. As portas por que passavam eram pesadas, com trincos e fechaduras de ferro.

- Tribunal... Dez... Sim, estamos quase lá... Sim.

O Sr. Weasley parou diante de uma sinistra porta de madeira, com uma imenso ferrolho, e baixou repentinamente contra a parede, com a mão no peito.

- Entre - resfolegou, apontando com o polegar para a porta. - Entre lá.

- Você não... Você não vem comigo?

- Não, não, não é permitido. Boa sorte!

O coração de Harry batia violentamente contra seu pomo de adão. Ele respirou fundo, girou a pesada maçaneta de ferro, e adentrou o Tribunal.

-- CAPÍTULO 8 --
A AUDIÊNCIA


Harry ofegou; não podia se segurar mesmo. A grande masmorra na qual tinha entrado estava horrivelmente familiar. Ele não tinha apenas visto aquilo antes, mas sim estado lá. Este era o lugar que tinha visitado na penseira de Dumbledore, o lugar que tinha observado os Lestrange serem sentenciados à prisão perpétua em Azkaban.

As paredes eram feitas de pedra escura, turvamente iluminadas por tochas. Bancos vazios eram vistos um ao lado do outro, mas na frente, nos mais altos bancos de todos, era onde estavam muitas figuras sombrias. Estavam falando em voz baixa mas com o fechar da pesada porta atrás de Harry um silencio ameaçador foi sentido.

Uma fria voz masculina soou na sala do tribunal.

- Você está atrasado!

- Desculpe - disse Harry nervoso. - Eu... Eu não sabia que o horário havia sido mudado.

- Não é culpa do Tribunal dos Bruxos - disse a voz. - Uma coruja foi enviada esta manhã para avisar você. Tome seu assento.

Harry deixou seu olhar cair sobre sua cadeira no centro da sala, cujos braços estavam cobertos por correntes Ele tinha visto aquelas correntes ganhar vida e amarrar qualquer um que sentasse entre tais. Suas pegadas ecoaram altamente enquanto andava pelo chão de pedra. Quando sentou cuidadosamente na ponta da cadeira as correntes tiniram de modo ameaçador mas não o prenderam. Sentindo-se bastante nauseado, olhou para as pessoas sentadas nos bancos acima.

Havia cerca de cinqüenta deles, todos, pelo que ele podia ver, vestindo túnicas cor de ameixa com um W bordado em cor de prata no lado esquerdo do peito e todos o estavam encarando, alguns com expressões muito severas, outras com olhar de curiosidade.

No meio da primeira fila se sentou Cornélio Fudge, o Ministro da Magia. Fudge era um homem solene que freqüentemente usava um chapéu verde-limão, embora naquele dia o tivesse dispensado; também tinha dispensado o generoso sorriso que usara quando uma vez falou com Harry. Uma jovem bruxa, bem aparentada, com o cabelo acinzentado muito curto, sentou à esquerda de Fudge; usava um monóculo e parecia ameaçadora. À direita de Fudge havia outra bruxa, mas ela se sentou tão longe no banco que seu rosto estava escondido nas sombras.

- Muito bem - disse Fudge. - O acusado está presente. Finalmente. Vamos começar. Estão todos prontos?

- Sim senhor - disse uma voz ávida que Harry conhecia. Percy, o irmão de Rony, estava sentado bem na ponta do banco da frente.

Harry o olhou, esperando algum sinal de reconhecimento dele, mas nada veio. Os olhos de Percy, por trás de seus óculos, estavam concentrados num pergaminho e uma pena na mão, pronta para escrever.

- Audiência Disciplinar do dia doze de Agosto - disse Fudge em voz alta e Percy começou a tomar notas imediatamente. - Entre os crimes cometidos sob o Decreto de Restrição do Uso Lógico da Magia por Menores de Idade e ao Estatuto Internacional de Segredo da Magia por Harry James Potter, residente no número quatro, Rua dos Alfeneiros, Little Whinging, Surrey. Interrogador: Cornélio Oswald Fudge, Ministro da Magia; Amélia Susan Bones, Chefe do Departamento da Imposição da Lei Mágica; Dolores Jane Umbridge, Subsecretária Sênior do Ministro. Escrivão da corte, Percy Ignatius Weasley -

- Testemunha de Defesa: Alvo Percival Wulfric Brian Dumbledore - disse uma frágil voz vinda de trás de Harry, que virou a cabeça tão rápido que estalou o pescoço.

Dumbledore estava caminhando tranqüilamente através da sala, vestindo uma longa túnica azul-da-meia-noite e uma expressão perfeitamente calma. Sua longa barba e cabelos prateados resplandeciam a luz das tochas enquanto ficava ao lado de Harry e olhava Fudge através de seus óculos meia-lua, que descansavam sobre seu nariz bastante curvo.

Os membros do Tribunal estavam murmurando. Todos os olhares agora estavam sobre Dumbledore. Alguns olhavam nervosos, outros amedrontados; duas bruxas mais velhas na fila de trás, entretanto, acenaram para ele dando boas-vindas.

Uma emoção forte tinha surgido no peito de Harry ao ver Dumbledore, um fortalecedor, e esperançoso sentimento como aquela que a canção da fênix deu a ele. Queria ver o olhar de Dumbledore mas não estava olhando para o lado dele; continuava a olhar para Fudge, que estava visivelmente perturbado.

- Ah - disse Fudge, que o olhou desconcertado. - Dumbledore. Sim. Então... Você... Recebeu a mensagem de que a hora... E o lugar da audiência havia sido mudado?

- Eu quase não cheguei a tempo - disse bem animado. - Entretanto, devido a um acaso da sorte eu já estava aqui no Ministério há mais de três horas, então não foi nada demais.

- Sim, bem, eu suponho que vamos precisar de outra cadeira... Eu... Weasley... Você poderia?

- Não se preocupe, não se preocupe - disse Dumbledore de forma agradável; pegou sua varinha, deu um pequeno giro e uma bela poltrona apareceu do nada próximo a Harry.

Dumbledore se sentou, uniu as pontas de seus longos dedos e olhou Fudge com uma expressão de interesse. O Tribunal ainda estava murmurando inquieto; apenas quando Fudge falou novamente que os demais presentes se sentaram.

- Sim - disse Fudge outra vez misturando suas anotações. - Bem, então, as acusações. Sim.

Ele desenrolou um pedaço de pergaminho da pilha que estava à sua frente, respirou fundo e leu.

- As acusações contra o acusado são as seguintes: que ele propositalmente, deliberadamente e de total consciência da ilegalidade de suas ações, tendo recebido avisos prévios por escrito do Ministério da Magia por uma acusação semelhante, produziu um Feitiço de Patrono numa área trouxa inabitada, na presença de um trouxa, no dia dois de Agosto às 9h23min, o que constitui uma crime sob o Parágrafo C do Decreto do Uso Lógico da Magia por Menores de Idade, 1875, e também sob seção Treze do Estatuto Internacional da Confederação de Segredo dos Bruxos. Você é Harry James Potter, da Rua dos Alfeneiros, número 4, Little Whinging, Surrey? - acrescentou, olhando Harry por cima do pergaminho.

- Sim.

- Você recebeu um aviso oficial do Ministério por usar magia ilegalmente três anos atrás, não recebeu?

- Sim mas...

- E você ainda conjurou um patrono na noite de dois de Agosto?

- Sim, mas...

- Sabendo que não é permitido a você usar magia fora da escola enquanto tiver idade menor que dezessete anos?

- Sim, mas...

- Sabendo que estava em área cheia de trouxas?

- Sim mas...

- Completamente ciente de que estava perto de um trouxa naquela hora?

- Sim - disse Harry zangado. - Mas eu só usei porque nós estávamos...

A bruxa com o cabelo curto falou, interrompendo Harry.

- Você produziu um patrono por completo?

- Sim. Por quê?

- Um patrono corpóreo?

- Um... O quê?

- Seu patrono teve uma forma bem definida? O que quero dizer é, ele era mais que vapor ou fumaça?

- Sim - disse Harry impaciente e ligeiramente desesperado. - É um cervo, sempre foi um cervo.

- Sempre? - perguntou Madame Bones. - Você já havia produzido um patrono antes?

- Sim, eu faço isso há mais de um ano.

- E você tem quinze anos?

- Sim, e...

- Você aprendeu isso na escola?

- Sim, o professor Lupin me ensinou no terceiro ano por causa do...

- Impressionante - disse Madame Bones, olhando-o. - Um patrono verdadeiro nessa idade... Muito impressionante mesmo...

Alguns dos bruxos e bruxas ao redor dela estavam murmurando outra vez; alguns concordando com a cabeça e outros franzindo a testa e balançando a cabeça para um lado e para o outro.

- Não é uma questão de quão impressionante foi a magia - disse Fudge impaciente. - De fato, quanto mais impressionante pior o caso, eu imaginaria, supondo que o garoto fez isso bem em frente a um trouxa!

Os que estavam franzindo a testa agora murmuraram concordando, mas foi a visão de Percy concordando hipocritamente que fez Harry falar novamente.

- Eu fiz isto por causa dos dementadores - disse em voz alta, antes que qualquer um pudesse interrompê-lo novamente.

Harry esperava mais murmúrio mas o silencio que surgiu parecia estar mais denso que antes.

- Dementadores? - perguntou Madame Bones depois de alguns segundos, com suas grossas sobrancelhas se levantando até que seu monóculo ameaçou cair do rosto. - O que você quer dizer com isso, garoto?

- Eu quero dizer que havia dois dementadores lá em baixo, na cidade, e eles atacaram a mim e a meu primo!

- Ah! - disse Fudge outra vez, mostrando um desagradável sorriso enquanto olhava o Tribunal, como se os estivessem convidando para ouvir uma piada. - Sim. Sim, eu acho que ouvimos algo parecido com isso.

- Dementadores na cidade? - disse Madame Bones, num tom de grande surpresa. - Eu não compreendo...

- Não compreende, Amélia? - disse Fudge, ainda sorrindo. - Deixe-me explicar. Ele estava pensando sobre isso e decidiu que dementadores dariam uma bela matéria para a primeira página do jornal, uma bela matéria mesmo. Trouxas não podem ver dementadores, podem, garoto? Muito conveniente, altamente conveniente... Então é sua palavra e nenhuma testemunha...

- Eu não estou mentindo! - disse Harry em voz alta, sobre outra erupção de murmúrios da corte. - Havia dois deles, vindo do outro lado da rua, ficou tudo escuro e frio e meu primo sentiu a presença deles e correu em direção a eles...

- É o bastante, já chega! - disse Fudge com um olhar presunçoso em seu rosto. - Eu sinto muito interromper o que para mim parece ser uma história muito bem ensaiada...

Dumbledore limpou sua garganta. O Tribunal ficou em silêncio outra vez.

- Nós temos, de fato, uma testemunha da presença dos dementadores naquela rua - disse ele. - Além de Duda Dursley, é claro.

A cara gorducha de Fudge pareceu se esvaziar, como se alguém tivesse deixado sair todo o ar dentro dela. Ele olhou Dumbledore por um ou dois segundos, então disse.

- Nós não tempos tempo para ouvir outras historinhas, sinto muito, Dumbledore. Eu quero resolver isso rápido...

- Eu posso estar errado - disse Dumbledore educadamente - mas eu tenho certeza de que, segundo A Carta de Direitos do Tribunal, o acusado tem o direito de apresentar testemunhas em seu caso. Não é a política do Departamento de Imposição da Lei Mágica, Madame Bones? - e continuou dirigindo-se para a bruxa de monóculo.

- Isso é verdade - disse Madame Bones. - Perfeitamente certo.

- Oh, muito bem, muito bem! - rebateu Fudge. - Onde está essa pessoa?

- Eu a trouxe comigo. Ela está lá fora. Eu posso...?

- Não... Weasley, vá você - gritou Fudge para Percy, que levantou uma vez, desceu correndo os degraus de pedra do balcão do juiz e passou apressadamente por Dumbledore e Harry sem olhá-los.

Um momento depois Percy retornou seguido pela Sra Figg. Ela parecia assustada e mais esquisita do que nunca. Harry desejou que ela estivesse usando algo diferente dos seus chinelos de flanela.

Dumbledore se levantou e deu sua cadeira a Sra Figg, criando uma segunda cadeira para ele mesmo.

- Nome completo - disse Fudge em voz alta quando Sra. Figg tinha se assentado nervosamente bem na ponta da poltrona.

- Arabella Doreen Figg - disse a Sra. Figg em sua voz trêmula.

- O quem exatamente você é? - disse Fudge com uma voz entediada e arrogante.

- Eu sou uma moradora da Rua dos Alfeneiros, próximo de onde Harry Potter mora.

- Nós não temos nenhum dado sobre bruxos ou bruxas vivendo nessa rua, nenhum outro além de Harry Potter - disse Madame Bones imediatamente. - A situação está sempre sendo monitorada de perto, devido... Devido aos eventos ocorridos.

- Eu sou um aborto - disse a Sra. Figg. - Assim, você não poderia ter me registrado, poderia?

- Um aborto, é? - disse Fudge, olhando-a de perto. - Nós vamos verificar isso. Você deve deixar detalhes de seu parentes com Weasley, meu assistente. Acidentalmente abortos poderiam ver dementadores? - disse, olhando da esquerda para a direita ao longo do banco.

- Sim nós podemos - disse a Sra. Figg indignada.

Fudge olhou novamente para ela, levantando as sobrancelhas:

- Muito bem - disse ele indiferente. - Qual é a sua história?

- Eu tinha saído para comprar ração para gato na loja da esquina, por volta das nove horas, na noite do dia dois de Agosto - disse a Sra. Figg rapidamente, como se tivesse decorado tudo aquilo que estava dizendo. - Quando eu escutei um barulho vindo da rua que fica entre a Magnólia e a Wisteria Walk. Ao chegar perto da rua eu vi os dementadores correndo...

- Correndo? - disse Madame Bones com severidade. - Dementadores não correm, eles deslizam.

- É o que eu quis dizer - disse a Sra. Figg rapidamente, com as bochechas ficando cor-de-rosa. - Deslizando ao longo da rua em direção ao que pareciam ser dois meninos.

- Com o que eles se parecem? - disse Madame Bones, fechando seus olhos de modo que a ponta do monóculo desaparecesse coberto por sua pele.

- Bem, um era muito gordo e o outro muito magro.

- Não, não! - disse Madame Bones impaciente. - Os dementadores... Descreva-os.

- Ah - disse a Sra. Figg, ficando cor-de-rosa na região do pescoço dessa vez. - Eles eram grandes. Grandes e usavam um manto.

Harry sentiu um horrível buraco no seu estômago. Não importava o que a Sra. Figg dissesse, soou para ele como se o máximo que ela tivesse visto fosse uma figura de um dementador, e uma figura nunca poderia mostra a verdadeira forma que esses seres tinham: o jeito assustador com que se moviam, flutuando acima do chão; ou o cheiro podre que exalavam; ou aquele terrível barulho que faziam enquanto sugavam o ar em volta...

Na segunda fila um bruxo baixinho com grande bigode se inclinou para sussurrar no ouvido da sua vizinha, uma bruxa com cabelo frisado. Ela deu uma risadinha e concordou com a cabeça.

- Grande e usando mantos - repetiu Madame Bones friamente, enquanto Fudge bufava menosprezando. - Eu sei. Mais alguma coisa?

- Sim - disse a Sra. Figg. - Eu os senti. Ficou tudo muito frio e essa era uma noite de verão muito quente, vejam bem. E eu senti... Como se toda minha felicidade tivesse sido tirada do mundo... E eu me lembrei... De coisas terríveis...

Sua voz se comoveu e silenciou. Os olhos de Madame Bones se abriram levemente. Harry podia ver marcas vermelhas abaixo da sua sobrancelha onde o monóculo estava colocado.

- O que os dementadores fizeram? - perguntou ela e Harry sentiu sua esperança aumentar.

- Eles foram em direção aos meninos - disse a Sra. Figg, sua voz estava mais forte e mais confiante agora, e a cor-de-rosa de suas bochechas desapareceram. - Um deles tinha caído. O outro tinha se virado, tentando afastar o dementador. Esse era Harry. Ele tentou duas vezes e só conseguiu produzir um vapor prateado. Na terceira tentativa ele produziu um patrono, que atacou o primeiro dementador e então, com esse ato encorajador, expulsou o segundo para longe do seu primo. E foi isto o que aconteceu - concluiu a Sra. Figg um tanto quanto fora do comum.

Madame Bones olhou a Sra. Figg em silêncio. Fudge não estava olhando para ela, estava inquieto com seus papéis. Finalmente ele levantou os olhos e disse, de forma agressiva.

- Foi isso o que você viu?

- Foi o que aconteceu - repetiu a Sra. Figg.

- Muito bem, você pode ir.

A Sra. Figg olhou assustada de Fudge para Dumbledore, então se levantou e se retirou. Harry ouviu o barulho da porta fechando-se atrás dela.

- Não é uma testemunha muito convincente - disse Fudge orgulhoso.

- Ah, eu não sei - disse Madame Bones, em sua voz rouca. - Ela certamente descreveu os efeitos de um ataque de dementadores com exatidão. E eu não posso imaginar porque diria que estavam lá se não estivessem.

- Mas dementadores vagando num subúrbio trouxa e somente para encontrar um bruxo? - disse Fudge com seu tom arrogante. - As probabilidades de isso acontecer são muito, muito pequenas. Nem mesmo Bagman apostaria nisso...

- Ah, eu não acho que algum de nós acredite que os dementadores estiveram por lá por pura coincidência - disse Dumbledore ligeiramente.

A bruxa sentada à direita de Fudge, com o rosto na sombra, moveu-se levemente mas todos os outros continuaram em completo silêncio.

- E o que você supõe que isso signifique - perguntou Fudge com frieza.

- Significa que eu acho que eles foram enviados para lá - disse Dumbledore.

- Eu acho que teríamos registros disso se alguém tivesse enviado um par de dementadores para passear pela cidade! - gritou Fudge.

- Não se atualmente os dementadores estiverem recebendo ordens de alguém que não é do Ministério da Magia - disse Dumbledore calmamente. - Eu já lhe disse o que eu penso sobre essa situação, Cornélio.

- Sim, você me disse - disse Fudge de forma imponente - mas eu não tenho nenhuma razão para acreditar que suas visões são mais do que apenas besteiras, Dumbledore. Os dementadores permanecem em Azkaban e estão fazendo tudo o que pedimos para eles fazerem.




- Então - disse Dumbledore calmamente mas claramente - nós devemos nos perguntar por que alguém dentro do Ministério mandaria uma dupla de dementadores para a cidade, no dia dois de Agosto.

No completo silêncio em que recebeu essas palavras a bruxa que estava à direita de Fudge inclinou-se para frente de modo que Harry viu o seu rosto pela primeira vez.

Ele achou que ela se parecia muito com um grande e pálido sapo. Estava particularmente agachada com um largo, rosto flácido, como o pescoço de tio Válter e uma boca muito grande e frouxa. Seus olhos eram grandes, arredondados e ligeiramente salientes. Até mesmo a tiara de veludo preto que usava na cabeça para prender os curtos cabelos cacheados a faziam lembrar uma grande mosca que estaria prestes a capturar com sua grande língua pegajosa.

- A direção reconhece Dolores Jane Umbridge, Subsecretária Sênior do Ministro - disse Fudge.

A bruxa falou numa voz vibrante, feminina, muito alta, que pegou Harry de surpresa; ele esperava que ela fosse coaxar.

- Eu tenho certeza que devo ter entendido você mal, professor Dumbledore - disse ela, com um sorriso que fez seus grandes olhos redondos parecerem mais frios do que nunca. - Que bobagem de minha parte. Mas isso pareceu por um momento como se você estivesse sugerindo que o Ministério da Magia tivesse ordenado o ataque a esse garoto!

Ela deu uma gargalhada tão nítida que fez os cabelos da nuca de Harry ficarem de pé. Alguns dos outros membros do Tribunal riram com ela. Mas sinceramente não parecia que qualquer um deles estivesse se divertindo.

- Se é verdade que os dementadores estão recebendo ordens apenas do Ministério da Magia e que também é verdade que dois deles atacaram Harry e seu primo uma semana atrás, então logicamente podemos concluir que alguém no Ministério deve ter ordenado o ataque - disse Dumbledore educadamente. - Certamente, esses dementadores em particular podem ter fugido ao controle do Ministério...

- Não há dementadores fora do controle do Ministério! - gritou Fudge, que agora parecia um tijolo de tão vermelho.

Dumbledore inclinou sua cabeça fazendo uma pequena reverência.

- Então sem dúvida o Ministério fará um inquérito completo para saber por que dois dementadores estavam tão longe de Azkaban e por que fizeram um ataque sem autorização.

- Você não decide o que o Ministério da Magia faz ou não faz, Dumbledore! - gritou Fudge, agora com uma cor vermelha que deixaria o tio Válter orgulhoso.

- É claro que não! - disse Dumbledore suavemente. - Eu estava meramente expressando minha confiança de que esta questão não ficará sem investigação.

Ele olhou Madame Bones, que reajustava seu monóculo e olhava de volta para ele, franzindo levemente as sobrancelhas.

- Eu queria lembrar a todos que o comportamento desses dementadores, se realmente eles não são apenas imaginação deste garoto, não é o assunto dessa audiência! - disse Fudge. - Nós estamos aqui para examinar os crimes de Harry Potter sob o Decreto de Restrição do Uso Lógico da Magia por Menores de Idade!

- Certamente estamos - disse Dumbledore -, mas a presença de dementadores naquela rua é altamente relevante. A Cláusula Sete do Decreto diz que magia pode ser utilizada à frente de trouxas em circunstâncias excepcionais, e essas circunstâncias excepcionais incluem situações que ameaçam a vida do bruxo ou bruxa, ou quaisquer bruxo, bruxa ou trouxa presente no momento do...

- Nós estamos familiarizados com a Cláusula Sete, muito obrigado! - resmungou Fudge.

- Certamente estão - disse Dumbledore com cortesia. - Então estamos de acordo que o uso do patrono de Harry cai precisamente nestas circunstâncias excepcionais que a Cláusula Sete descreve?

- Se houvesse dementadores, o que eu duvido.

- Você ouviu sobre isso da testemunha ocular - interrompeu Dumbledore. - Se você duvida da honestidade dela, chame-a aqui novamente e a interrogue outra vez. Tenho certeza que ela não faria objeção.

- Eu... Que... Mão... - esbravejou Fudge, mexendo nos papeis à sua frente. - Isto... Eu quero isso resolvido hoje, Dumbledore.

- Mas naturalmente, você não se importaria de quantas vezes ouvir uma testemunha, se a alternativa fosse um abuso da lei.

- Sério abuso, o meu chapéu! - disse Fudge no limite de sua voz. - Alguma vez você se ocupou em contar o número de histórias que todo mundo sabe que esse garoto inventou, Dumbledore, enquanto tenta encobrir o flagrante de uso indevido de magia fora da escola? Eu suponho que você tenha esquecido daquele feitiço de levitação que ele usou três anos atrás...

- E que não fui eu, foi um elfo-doméstico! - disse Harry.

- VOCÊ VÊ? - rugiu Fudge, gesticulando com extravagância em direção a Harry. - Um elfo-doméstico. Em uma casa trouxa! Eu pergunto a você!

- O elfo-doméstico em questão está atualmente trabalhando em Hogwarts - disse Dumbledore. - Eu posso trazê-lo aqui num instante para testemunhar se você quiser!

- Eu... Não... Eu não tenho tempo para escutar elfos-domésticos! De qualquer modo, não é apenas isto. Ele inflou a tia, pelo amor de Deus! - disse Fudge gritando, batendo seu punho na banca do juiz e derramando um vidro de tinta.

- E você muito bondoso não se queixou naquela ocasião, aceitando, eu presumo, que até os melhores bruxos nem sempre conseguem controlar suas emoções - disse Dumbledore calmamente, enquanto Fudge tentava limpar a tinta de suas anotações.

- E eu nem comecei a citar as coisas que ele fez na escola.

- Mas como o Ministério não tem autoridade para punir os estudantes de Hogwarts por mal comportamento na escola, o comportamento de Harry não é relevante nesta audiência - disse Dumbledore, mais educado do que nunca, mas agora com um ar de frieza em suas palavras.

- Oho! - disse Fudge. - Não é de nossa conta o que acontece na escola, não é? Você acha que é assim?

- O Ministério não tem autoridade para expulsar alunos de Hogwarts, Cornélio, como eu te avisei na noite de dois de Agosto. Nem tem o direito de confiscar suas varinhas até que as acusações sejam provadas e, novamente, como eu te avisei na noite de dois de Agosto, na sua pressa de se certificar que a lei fosse mantida, você se mostrou, descuidado, tenho certeza, de supervisionar algumas leis por si mesmo.

- Leis podem ser mudadas - disse Fudge em tom selvagem.

- Certamente que podem - disse Dumbledore, inclinando sua cabeça. - E você certamente parece querer fazer muitas mudanças, Cornélio. Porque, há poucas semanas, eu fui convidado a deixar o Tribunal Bruxo, e com isso ele já começou tratar um simples caso de uso indevido de magia por menores de idade como um ato criminoso do pior tipo!

Alguns dos bruxos acima deles se moveram incomodamente em seus assentos. Fudge ficou de uma cor quase castanha. A bruxa que se parecia com um sapo, à direita dele, entretanto, apenas encarou Dumbledore, com seu rosto quase inexpressivo.

- Até onde eu sei - continuou Dumbledore - ainda não há lei que diz que o trabalho desta corte é punir Harry por cada mágica que ele já fez. Ele tem sido acusado de uma transgressão específica e apresentou sua defesa. Tudo o que ele e eu podermos fazer agora é esperar seu veredicto.

Dumbledore uniu as pontas dos dedos novamente e não disse mais nada. Fudge desviou o olhar de Dumbledore, procurando algo mais; ele não achava que era certo Dumbledore dizer ao Tribunal que era hora de tomar a decisão. Novamente, entretanto, Dumbledore pareceu distraído demais para notar que Harry tentava ver seu olhar. Continuou a olhar para os bancos onde o Tribunal inteiro havia caído em urgentes cochichos.

Harry olhou para seus pés. Seu coração, que parecia ter aumentado para um tamanho anormal, estava batendo com tanta força por baixo das costelas que cada batida parecia um soco. Imaginou que a audiência duraria muito mais que isso. Não tinha certeza se tinha causado uma boa impressão. Realmente não tinha muito que dizer. Devia ter explicado mais sobre os dementadores, sobre como ele tinha caído, sobre como ele e Duda tinham quase sido beijados pelos dementadores...

Duas vezes olhou Fudge e abriu sua boca para falar mas seu coração agora estava diminuindo suas passagens de ar e ambas vezes ele simplesmente respirou profundamente e olhou novamente para seus sapatos.

Então os cochichos pararam. Harry queria olhar os juizes mas percebeu que era realmente muito, muito fácil ficar examinando seus cadarços.

- Aqueles que são a favor de retirar as acusações? - disse a voz rouca de Madame Bones.

A cabeça de Harry se ergueu num solavanco. Haviam mãos erguidas, muitas delas... Mais da metade! Respirando muito rápido, ele tentou contar mas antes que pudesse terminar Madame Bones disse.

- E aqueles em favor da acusação?

Fudge levantou sua mão e mais ou menos meia dúzia de outros, incluindo a bruxa à sua direita, o bruxo de bigode e a bruxa de cabelo frisado na segunda fila.

Fudge olhou em volta para todos eles, como se houvesse alguma coisa entalada em sua garganta, então abaixou sua mão. Ele respirou profundamente duas vezes e disse, numa voz distorcida por uma fúria reprimida.

- Muito bem, muito bem... Todas as acusações estão retiradas.

- Excelente - disse Dumbledore rapidamente, mostrando os seus sentimentos, puxou sua varinha e vez as duas poltronas sumirem. - Bem, eu preciso ir. Tenham um bom dia todos vocês.

E sem olhar para Harry, ele saiu da masmorra.

-- CAPÍTULO 9 --
OS MEDOS DA SRA. WEASLEY


A partida de Dumbledore pegou Harry de surpresa. Ele permaneceu sentado onde estava, brigando com seus sentimentos de choque e alívio. Os componentes do Tribunal estavam todos se levantando, conversando, pegando seus documentos e os guardando. Harry se levantou. Ninguém parecia prestar atenção nele à exceção da bruxa com aparência de sapo, que estava à direita de Fudge, e que agora olhava para ele ao invés de Dumbledore. Ignorando-a, tentou olhar Fudge ou Madame Bones, querendo saber se estava livre para ir, mas este parecia estar determinado em não o olhar e Madame Bones estava ocupada com sua maleta, então ele fez menção de sair e como ninguém o chamou começou a andar mais rápido.

Ele fez os últimos passos correndo, forçou a porta e quase colidiu com o Sr. Weasley, que estava esperando do lado de fora, parecendo pálido e apreensivo.

- Dumbledore não falou...

- Inocente - Harry disse, fechando a porta atrás de si. - De todas as acusações!

O Sr. Weasley agarrou Harry pelos ombros.

- Harry, é maravilhoso! Bem, claro, eles não encontraram nenhuma culpa em você, nem evidências, mas mesmo assim, não posso fingir que eu estava...

Mas o Sr. Weasley parou, porque a porta da corte se abriu novamente. Os componentes do Tribunal estavam saindo.

- Pelas barbas de Merlin! - exclamou o Sr. Weasley, puxando Harry para deixá-los passar. - Você estava sendo julgado pela alta corte?

- Acho que sim - disse Harry baixinho.

Um ou dois bruxos acenaram para Harry enquanto passavam e uns poucos, incluindo Madame Bones, disseram "Bom Dia, Arthur" ao Sr. Weasley, mas a maioria ignorou seus olhos. Cornélio Fudge e a bruxa com cara de sapo foram uns dos últimos a sair da masmorra. Fudge agiu como se o Sr. Weasley e Harry fossem parte da parede mas, novamente, a bruxa olhou bem para Harry, avaliando-o enquanto passava. O último a deixar a masmorra foi Percy. Como Fudge, ele ignorou completamente o Sr. Weasley e Harry; seguiu enrolando um grande pergaminho e a mão cheia de penas para escrever, suas costas rijas e o nariz empinado. Linhas apareceram no lugar da boca do Sr. Weasley, tal a força que ele a apertava seus lábios, mas, além disso, ele não deu nenhum sinal de que havia visto seu terceiro filho.

- Vou levá-lo de volta de forma que eu possa contar aos outros as boas notícias - disse ele, guiando Harry à frente assim que os calcanhares de Percy desapareceram nas escadas que levavam ao nono andar. - Eu o deixarei lá no caminho para aquele banheiro em Bethnal Green. Vamos...

- Então, o que você fará sobre o banheiro? - perguntou Harry sorrindo.

De repente tudo parecia ser cinco vezes mais engraçado que o normal. Ele estava livre. Estava voltando para Hogwarts.

- Oh, é apenas um contra feitiço bem simples - disse o Sr. Weasley enquanto chegavam às escadas. - Mas o problema não é ter que consertar os danos. É mais a atitude por trás do vandalismo, Harry. Brincar com os trouxas pode divertir alguns bruxos mas há a impressão de algo mais profundo e sujo, e eu, por exemplo..

O Sr. Weasley parou no meio da frase. Eles alcançaram o nono andar e Cornélio Fudge estava parado a alguma distância deles, falando baixinho com um homem alto com um cabelo loiro escorrido e um rosto pálido.

O segundo homem olhou para eles ao ouvir o som de seus passos. Ele, também, parou no meio da conversa, seus olhos cinzentos brilhando e fixos no rosto de Harry.

- Bem, bem, bem... Patrono Potter... - disse Lúcio Malfoy friamente.

Harry se sentiu atordoado, como se tivesse batido contra algo sólido. A última vez que vira esses frios olhos cinzentos fora através de uma máscara, numa reunião de Comensais da Morte, e ouviu aquela voz gargalhando em um cemitério escuro enquanto Lord Voldemort o torturava. Harry não podia acreditar como Lúcio Malfoy ousava olhá-lo no rosto; não podia acreditar que ele estava ali, no Ministério da Magia, ou que Cornélio Fudge estava falando com ele, quando Harry tinha contado ao Ministro há apenas algumas semanas que Malfoy era um Comensal da Morte.

- O ministro estava me contando sobre sua sorte em escapar, Potter - disse o Sr. Malfoy. - É estranho como você continua entrando em buracos tão apertados... Como uma cobra, realmente.

O Sr. Weasley apertou o ombro de Harry em aviso.

- Sim - disse Harry -. sim, Eu sou bom em escapar.

Lúcio Malfoy levou seus olhos para o rosto do Sr. Weasley.

- E Arthur Weasley também! O que faz aqui, Arthur?

- Eu trabalho aqui.

- Não aqui, certamente? - disse o Sr. Malfoy, levantando suas sobrancelhas e mirando a porta atrás do ombro do Sr. Weasley. - Eu pensava que você ficava no segundo andar... Você não faz algo que envolve em pegar artefatos dos trouxas e enfeitiçá-los?

- Não - disse o Sr. Weasley, seus dedos agora beliscando o ombro de Harry.

- O que você faz aqui? - perguntou Harry a Lúcio Malfoy.

- Não acho que assuntos pessoais entre mim e o Ministro sejam de sua conta, Potter - disse Malfoy, fechando a frente de suas vestes. Harry escutou um som que parecia uma sacola cheia de ouro. - Realmente, apenas porque você é garoto favorito de Dumbledore não deve esperar a mesma indulgência do resto de nós... Podemos ir para o seu escritório então, Ministro?

- Certamente - disse Fudge, virando suas costas para Harry e o Sr. Weasley. - Por aqui, Lúcio.

Eles saíram juntos, conversando baixo. O Sr. Weasley não largou o ombro de Harry até desaparecerem no elevador.

- Por que ele não ficou esperando fora do escritório de Fudge se tinham assuntos juntos? - disse Harry, enfurecendo-se. - O que ele estava fazendo aqui embaixo?

- Tentando entrar na corte, se quer saber - disse o Sr. Weasley, parecendo extremamente agitado e olhando por cima do ombro para se certificar que de não estavam sendo ouvidos. - Tentando saber se você seria expulso ou não. Vou deixar um bilhete para Dumbledore quando for lhe deixar. Ele precisa saber que Malfoy está falando com Fudge novamente.

- Que tipo de negócio eles têm juntos?

- Ouro, eu imagino - disse o Sr. Weasley zangado. - Malfoy tem sido generoso em muitas coisas por muitos anos... Juntando-se às pessoas certas... Então ele pode pedir favores... Atrasar leis que não quer aprovadas... Lúcio Malfoy é muito bem relacionado.

O elevador chegou; estava vazio à exceção de vários memorandos que flutuavam a redor da cabeça do Sr. Weasley, enquanto ele pressionava o botão para a entrada do edifício e as portas se fecharam. Ele os afastou, irritado.

- Sr. Weasley... - disse Harry lentamente - Se Fudge está se encontrando com um Comensal da Morte como Malfoy, se ele está o vendo sozinho, como saberemos que ele não está sob o controle da Maldição Imperius?

- Não acho que isso tenha nos ocorrido, Harry. Mas Dumbledore acha que Fudge está agindo por ele mesmo no momento... Que, como Dumbledore disse, não é nenhum conforto. Melhor não falar nada por enquanto, Harry.

As portas deslizaram e saíram para o agora deserto salão de entrada. Eric, o segurança, estava escondido por trás do Profeta Diário novamente. Eles já estavam passando pela fonte dourada antes de Harry se lembrar.

- Espere... - disse ele para o Sr. Weasley e, puxando sua bolsa de dinheiro do bolso, virou para a fonte.

Olhou na bela face do bruxo, mas de perto ele parecia realmente fraco e tolo. A bruxa estava com um sorriso insulso como se fosse uma concorrente de um concurso de beleza e, pelo que Harry sabia sobre duendes e centauros, eles eram dificilmente pegos olhando daquela forma para humanos. Apenas a atitude do elfo-doméstico parecia convincente. Sorrindo ao pensar o que Hermione diria se ela visse a estátua, Harry virou a sua sacola e não só a esvaziou dos galeões mas de tudo o que havia nela dentro da fonte.

*

- Eu sabia! - gritou enquanto socava o ar. - Você sempre consegue sair de enrascadas!

- Eles tinham que lhe absolver - disse Hermione, que parecia positivamente que ia desmaiar de ansiedade quando Harry entrou na cozinha e estava agora segurando uma mão trêmula sobre seus olhos. - Não havia nada contra você. Não mesmo.

- Todos parecem aliviados, acho, considerando que todos vocês sabiam que eu estaria bem - disse Harry, sorrindo.

A Sra. Weasley estava limpando seu rosto no seu avental e Fred, Jorge e Gina estavam fazendo algum tio de dança de guerra com uma canção que dizia: "Ele conseguiu, ele conseguiu, ele conseguiu...".

- Já basta! Parem! - gritou o Sr. Weasley, mesmo que ele estivesse sorrindo. - Escute, Sirius, Lúcio Malfoy estava no Ministério...

- O quê? - disse Sirius rapidamente.

- Ele conseguiu, ele conseguiu, ele conseguiu...

- Quietos vocês três! Sim, nós o vimos falando com Fudge no nono andar, então eles foram para o escritório de Fudge juntos. Dumbledore precisa saber.

- Absolutamente - disse Sirius. - Nós contaremos a ele, não se preocupe.

- Bem, é melhor eu ir. Tem um banheiro que vomita esperando por mim em Bethnal Green. Molly, eu chegarei tarde. Tonks está me cobrindo mas Kingsley pode aparecer para jantar...

- Ele conseguiu, ele conseguiu, ele conseguiu...

- Basta! Fred, Jorge, Gina! - disse Sra. Weasley enquanto o Sr. Weasley deixava a cozinha. - Harry, querido, venha e se sente para almoçar. Você não comeu quase nada no café.

Rony e Hermione sentaram à frente dele, parecendo muito mais felizes do que estavam desde que Harry chegou a Grimmauld Place, e Harry se sentia aliviado. A casa sombria de repente parecia mais acolhedora e mais convidativa; mesmo Kreacher parecia menos feio quando botou seu nariz na cozinha para investigar a fonte de tanto barulho.

- Claro, assim que Dumbledore ficou do seu lado não havia nenhuma forma de deles lhe acusarem - disse Rony feliz, agora servindo enormes quantidades de batata nos pratos de todos.

- Sim, ele foi por mim - disse Harry. Sentiu que soaria muito ingrato ou mesmo criancice dizer "Eu queria que ele tivesse falado comigo, ou mesmo olhado pra mim". Enquanto pensava nisso, sua cicatriz doeu muito e ele pôs a mão sobre ela.

- O que é? - disse Hermione, parecendo alarmada.

- A cicatriz - cochichou Harry. - Mas não é nada... Tem acontecido todo o tempo...

Ninguém mais notou; todos estavam agora comendo satisfeitos devido ao resultado do julgamento de Harry; Fred, Jorge e Gina ainda estavam cantando. Hermione parecia ansiosa mas antes que pudesse dizer alguma coisa Rony disse alegremente.

- Eu aposto que Dumbledore aparecerá esta noite para celebrar conosco.

- Eu não acho que ele possa, Rony - disse a Sra. Weasley, colocando um grande prato de galinha cozida na frente de Harry. - Ele está muito ocupado no momento.

- Ele conseguiu, ele conseguiu, ele conseguiu...

- CALEM-SE! - urrou a Sra. Weasley.

*

Nos dias seguintes Harry não deixou de notar que havia uma pessoa no número 12 da Grimmauld Place que não parecia estar completamente satisfeito com o retorno de Harry para Hogwarts. Sirius demonstrou uma grande alegria quando soube da audiência, apertando a mão de Harry, parecendo satisfeito como todos os outros. Logo, porém, ele pareceu mais soturno e calado que antes, falando pouco com todos, mesmo com Harry, e passando mais e mais tempo com Bicuço.

- Não se sinta culpado! - disse Hermione, depois que Harry confidenciou alguns de seus sentimentos a ela e Rony enquanto esfregavam um armário mofado no terceiro andar alguns dias depois. - Você pertence a Hogwarts e Sirius sabe disso. Pessoalmente eu acho que ele está sendo egoísta.

- Isso foi um pouco grosso, Hermione - disse Rony, franzindo as sobrancelhas enquanto tentava remover um pouco de mofo que se prendeu firmemente ao seu dedo. - Você não iria querer ficar trancada nesta casa sem nenhuma companhia.

- Ele terá companhia! - disse Hermione. - Este é o Quartel-General da Ordem da Fênix, não é? Ele estava é com esperanças que Harry viesse viver aqui com ele.

- Não acho que seja isso - disse Harry. - Ele não me deu nenhuma resposta direta quando eu perguntei se podia vir.

- Ele apenas não quer mais perder suas esperanças - disse Hermione. - E ele provavelmente se sente um pouco culpado porque eu penso que uma parte dele queria que você fosse expulso. Então ambos seriam desgraçados.

- Deixe disso! - disseram Harry e Rony juntos, mas Hermione meramente deu de ombros.

- Achem o que quiser. Mas às vezes eu penso que a mãe de Rony está certa e que Sirius está confuso sobre quem é você e que era seu pai, Harry.

- Então você acha que ele está maluco? - disse Harry irado.

- Não. Eu apenas acho que esteve muito sozinho por muito tempo - disse Hermione simplesmente.

Nesse momento a Sra. Weasley entrou no quarto.

- Ainda não terminaram? - disse, colocando sua cabeça dentro do armário.

- Eu pensei que você veio aqui para nos dar um descanso! - disse Rony amargo. - Você sabe quanto mofo nós já tiramos desde que chegamos aqui?

- Vocês estão aqui para ajudar a Ordem - disse a Sra. Weasley. - O mínimo que vocês podem fazer é deixar o Quartel-General habitável.

- Eu me sinto como um elfo-doméstico - lamentou Rony.

- Bem, agora que você entende o quão horrível é a vida que eles levam, talvez você fique um pouco mais ativo no F.A.L.E.! - disse Hermione satisfeita, quando a Sra. Weasley os deixou. - Sabe, talvez não seja uma má idéia mostrar às pessoas exatamente como é horrível ter que limpar tudo todo o tempo. Nós podíamos preparar uma limpeza na sala comunal da Grifinória, patrocinada pelo F.A.L.E., aumentando a consciência como também as arrecadações.

- Eu vou patrocinar você para de falar sobre F.A.L.E. - Rony resmungou irritado, mas apenas Harry o ouviu.

*

Harry se achou sonhando com Hogwarts mais e mais enquanto o fim das férias se aproximava. Ele mal podia esperar para ver Hagrid novamente, jogar quadribol, mesmo andar pelas hortas a caminho da aula de Herbologia; seria um alívio deixar aquela casa poeirenta e mofada, onde metade dos armários ainda estava fechada e Kreacher jogava insultos quando você passava, porém Harry tinha cuidado para não dizer nada disso enquanto Sirius estivesse ouvindo.

O fato é que a vida no Quartel-General do movimento Anti-Voldemort não era tão interessante quanto ele pensou. Membros da Ordem da Fênix iam e vinham regularmente, algumas vezes ficavam para as refeições, algumas vezes só alguns minutos de conversação, a Sra. Weasley tendo certeza de que eles não estavam ouvindo nada (sejam com ouvidos normais ou com os Extensíveis) e ninguém, nem mesmo Sirius, parecia sentir que Harry precisava saber de algo mais do que apenas o que ouvira na noite de sua chegada.

No último dia das férias Harry estava limpando as fezes de Edwiges de cima do guarda-roupa quando Rony entrou no quarto carregando alguns envelopes.

- A lista de livros chegou - disse, atirando um dos envelopes para Harry. - Já não era sem tempo. Pensei que eles tinham esquecido, pois normalmente chegam bem antes disso...

Harry jogou o resto das fezes em um saco de lixo e jogou a sacola por cima da cabeça de Rony dentro de uma cesta de lixo no canto do quarto. Ele então abriu sua carta, que continha dois pedaços de pergaminho: um com a mesma mensagem dizendo que o período escolar começaria no dia primeiro de setembro; o outro com a lista de livros que ele precisaria.

- Apenas dois - disse, lendo a lista. - O Livro Básico de Feitiços, quinta série, por Miranda Goshawk, e Teoria da Magia Defensiva, por Wilbert Slinkhard.

Crack.

Fred e Jorge aparataram bem ao lado de Harry. Estava tão acostumado com eles fazendo isso que nem mesmo desceu da cadeira.

- Estávamos perguntando quem pediu o livro de Slinkhard - disse Fred.

- Porque quer dizer que Dumbledore encontrou um novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas - disse Jorge.

- E já não era sem tempo - disse Fred.

- O que quer dizer? - perguntou Harry, pulando da cadeira.

- Bem, nós escutamos papai e mamãe conversando com os Ouvidos Extensíveis há algumas semanas atrás - Fred disse a Harry - e pelos que estavam dizendo Dumbledore estava tendo muito trabalho para encontrar alguém para assumir o trabalho este ano.

- Não é surpresa, quando você olha o que aconteceu com os últimos quatro. - disse Jorge.

- Um expulso, um morto, um com a memória apagada e um trancado num malão por nove meses - disse Harry, contando-os nos dedos. - Sim. Eu sei o que quer dizer.

- O que há com você, Rony? - perguntou Fred.

Rony não respondeu. Harry o olhou. Rony estava parado, com sua boca meio aberta, mirando sua carta de Hogwarts.

- O que é? - disse Fred impaciente, indo para trás de Rony para olhar por cima de seu ombro o que estava escrito no pergaminho.

O queixo de Fred caiu também.

- Monitor? - disse, olhando a carta, incrédulo. - Monitor?

Jorge correu e pegou o envelope da mão do irmão e o virou de cabeça para baixo. Harry viu algo vermelho e dourado cair na palma da mão de Jorge.

- Não mesmo! - disse Jorge numa voz não muito calma.

- Deve haver algum engano - disse Fred, pegando a carta de Rony, segurando-a contra a luz, como se estivesse checando a marca d'água. - Ninguém com a cabeça no lugar faria Rony um monitor.

Os gêmeos viraram a cabeça para Harry ao mesmo tempo e pararam.

- Nós pensamos que você seria o monitor! - disse Fred, num tom que fazia parecer que Harry os havia enganado.

- Pensamos que Dumbledore iria escolher você! - disse Jorge indignado.

- Vencendo o Torneio Tribruxo e tudo o mais! - disse Fred.

- Eu suponho que todas as loucuras que fez pesaram contra ele - disse Jorge para Fred.

- É - disse Fred vagarosamente. - É, você causou muito problema, cara. Bem, pelo menos um de vocês tem as prioridades certas.

Ele andou até Harry e deu tapinhas nas suas costas enquanto olhava atravessado para Rony.

- Monitor... Roninho, o monitor.

- Oh, mamãe vai ficar revoltada - gemeu Jorge, jogando a insígnia de monitor para Rony, como se ela pudesse contaminá-lo.

Rony, que ainda não havia dito nada, pegou a insígnia e olhou por um momento, mostrou-a para Harry como se perguntando se era genuína. Harry a pegou. Um grande "M" estava sobreposto sobre o leão da Grifinória. Ele havia visto uma insígnia como esta anteriormente no peito de Percy, no seu primeiro dia em Hogwarts.

A porta abriu com um estrondo. Hermione veio chorando, suas bochechas vermelhas e seus cabelos esvoaçando. Havia um envelope na sua mão.

- Você... Você recebeu...?

Ela mirou a insígnia na mão de Harry e deixou escapar um gritinho.

- Eu sabia! - disse ela excitada, mostrando sua carta. - Eu também, Harry, eu também!

- Não - disse Harry rapidamente, entregando a insígnia para Rony. - Foi Rony, não eu.

- Foi... O quê?

- Rony é o monitor, não eu.

- Rony? - disse Hermione, seu queixo caindo. - Mas... Tem certeza? Digo...

Ela ficou vermelha quando Rony a olhou com uma expressão desafiadora.

- É meu nome na carta - disse.

- Eu... - disse Hermione, parecendo muito confusa. - Eu... Bem... Uau! Muito bem, Rony! É realmente...

- Inesperado - disse Jorge, concordando.

- Não - disse Hermione, ficando ainda mais vermelha que nunca. - Não é não... Rony fez muitas... Ele realmente é...

A porta abriu atrás dela e a Sra. Weasley entrou carregando uma pilha de vestes recém lavadas.

- Gina disse que as listas com os livros chegaram finalmente - disse ela, olhando para os envelopes enquanto seguia para a cama e começava a separar as vestes em duas pilhas. - Se me derem as listas eu as levarei ao Beco Diagonal esta tarde e pegarei os livros enquanto vocês terminam de preparar as malas. Rony, eu pegarei mais pijamas para você. Estes já estão ficando curtos. Não posso acreditar o quão rápido você está crescendo... Qual a cor que você gosta?

- Pegue algum dourado e vermelho, para combinar com a insígnia dele - disse Jorge, sorrindo falsamente.

- Combinar com o quê? - disse Sra. Weasley, ainda enrolando um par de meias marrons e as colocando na pilha de Rony.

- A insígnia dele - disse Fred, com um ar de que estava ficando pior a cada momento. - A adorável e brilhante insígnia de monitor dele.

As palavras de Fred demoraram a penetrar a preocupação da Sra. Weasley com os pijamas.

- Dele... Mas... Rony, você não...?

Rony mostrou a insígnia. A Sra. Weasley deixou sair um gritinho como Hermione.

- Eu não acredito! Eu não acredito! Oh, Rony, é maravilhoso! Um monitor! Como todos na família!

- O que somos Fred e eu, vizinhos? - disse Jorge, indignado, enquanto sua mãe o afastou para o lado e apertou os braços ao redor de seu filho mais novo.

- Espere até o seu pai saber! Rony, eu estou tão orgulhosa de você! Que ótimas notícias! Você pode ser um monitor-chefe como Gui e Percy, é só o primeiro passo! Oh, que coisa boa no meio de toda essa preocupação, eu estou tremendo, oh, Roninho...

Fred e Jorge estavam ambos fazendo barulhos estranhos por trás da Sra. Weasley, mas ela não percebeu; seus braços abraçando Rony pelo pescoço enquanto beijava todo o rosto dele, que se tornou mais vermelho que a insígnia.

- Mãe... Não... Mãe me solte... - ele gemeu, tentando afastá-la.

Ela o soltou e disse sem respirar:

- Bem, o que vai ser? Nós demos a Percy uma coruja, mas você já tem uma, é claro.

- O-o que quer dizer? - disse Rony, olhando como se não acreditasse no que havia ouvido.

- Você tem que ser recompensado por isso! - disse Sra. Weasley. - Que tal um novo jogo de vestes de gala?

- Nós já compramos isso pra ele - disse Fred, que parecia arrependido por sua generosidade.

- Ou um novo caldeirão. O velho caldeirão de Carlinhos está bem enferrujado, ou talvez um novo rato, como o Perebas...

- Mãe - disse Rony cheio de esperanças. - Posso ter uma nova vassoura?

O rosto Sra. Weasley mudou; vassouras eram bem caras.

- Não uma muito boa! - Rony disse rapidamente. - Apenas... Uma nova, para trocar...

A Sra. Weasley hesitou, e então sorriu.

- É claro que sim... Bem, é melhor eu ir indo se eu tenho que comprar uma vassoura pra você... Vejo vocês mais tarde... O pequeno Roninho, um monitor... Oh, estou tão excitada!

Ela beijou sua bochecha novamente, fungou alto e saiu do quarto. Fred e Jorge trocaram olhares.

- Você não se importa se não lhe beijarmos, não é Rony? - disse Fred em uma vozinha falsa.

- Nós podíamos lhe reverenciar, se você quiser - disse Jorge.

- Ah, calem-se! - disse Rony, com raiva.

- Ou o quê? - disse Fred, com uma risadinha. - Nos colocará em detenção?

- Eu adoraria vê-lo tentar - disse Jorge sorrindo.

- Ele poderia se vocês não tomarem cuidado! - disse Hermione com raiva.

Fred e Jorge saíram gargalhando e Rony falou baixinho:

- Esquece, Hermione.

- Nós temos que ter cuidado, Jorge - disse Fred, fingindo tremer. - Com esses dois atrás de nós...

- É, parece que nossos dias de quebradores de regras estão finalmente terminados - disse Jorge, balançando a cabeça.

E com outro estampido alto, os gêmeos desaparataram.

- Esses dois! - disse Hermione furiosa, mirando o teto, pelo qual se podia ouvir as gargalhadas de Fred e Jorge no quarto acima. - Não dê atenção a eles, Rony, eles estão apenas com inveja!

- Eu não acho que estão - disse Rony cheio de dúvidas, também olhando para o teto. - Eles sempre disseram que apenas burros se tornam monitores... Porém... - disse com um som realmente feliz. - Eles nunca tiveram vassouras novas! Eu adoraria ir com a mamãe e escolher... Ela nunca compraria uma Nimbus, mas tem uma nova Cleansweep, que seria ótima... É, eu acho que vou dizer a ela que eu gosto da Cleansweep, então ela saberá...

Ele correu da sala, deixando Harry e Hermione sozinhos. Por alguma razão, Harry percebeu que não queria olhar Hermione. Ele virou para sua cama e pegou a pilha de vestes que a Sra. Weasley tinha deixado e foi caminhado para o seu malão.

- Harry? - disse Hermione.

- Muito bem, Hermione - disse Harry, tão baixo que não pareceu sua voz realmente e, ainda não olhando para ela. - Brilhante. Monitor. Grande.

- Obrigada - disse Hermione. - Ah... Harry... Posso pegar a Edwiges emprestada? Para poder contar a mamãe e papai? Eles ficariam realmente satisfeitos... Digo, monitor é algo que eles podem entender.

- Claro, sem problema - disse Harry, ainda com aquela voz estranha que não parecia ser a dele. - Pode pegá-la!

Ele ficou mexendo no seu malão, colocando as roupas no fundo, fingindo estar procurando algo enquanto Hermione se dirigia ao armário e chamava Edwiges. Alguns momentos depois, Harry escutou a porta se fechar mas se manteve curvado sobre o malão, escutando; os únicos sons que podia ouvir eram a foto vazia na parede e o cesto de lixo que tossia devido às fezes de coruja.

Ele se levantou e olhou para trás. Hermione tinha saído e Edwiges já fora. Harry correu atravessando o quarto sala, fechou a porta, então retornou vagarosamente para sua cama e afundou nela, olhando para o pé do guarda-roupas sem muita atenção.

Esqueceu completamente que os monitores eram escolhidos no quinto ano. Estivera tão ansioso com a possibilidade de ser expulso que o fato de possuir aquelas insígnias pode guiar seus caminhos através de certas pessoas. Mas se ele tivesse lembrado... Se tivesse pensado sobre isso... O que esperaria?

"Não isso", disse uma vozinha dentro de sua cabeça.

Harry girou a cabeça e apoiou sobre as mãos. Ele não podia mentir para si mesmo; se soubesse que a insígnia seria entregue, esperaria que fosse a ele, não Rony. Isso o fazia tão arrogante quanto Draco Malfoy? Pensava que era superior a todos os outros? Realmente acreditava que era melhor que Rony?

"Não", disse a vozinha audaciosa.

Aquilo era verdade? Harry pensou, ansiosamente testando seus sentimentos.

"Eu sou melhor no quadribol", disse a voz. "Mas não sou melhor em nada mais."

Isso era realmente verdade, Harry pensou; ele não era melhor que Rony nas lições. Mas e sobre as lições práticas? E sobre as aventuras que ele, Rony e Hermione tinham participado juntos desde que entraram em Hogwarts, sempre correndo um risco pior que a expulsão?

Bem, Rony e Hermione estavam com ele a maior parte do tempo, disse a voz dentro da cabeça de Harry.

"Não sempre", pensou Harry argumentando a si mesmo. "Eles não lutaram comigo. Eles não derrotaram Riddle e o basilisco. Eles não acabaram com todos aqueles dementadores na noite que Sirius escapou. Eles não estavam naquele cemitério comigo na noite que Voldemort retornou..." E o mesmo sentimento que teve na noite em que chegou retornou a sua cabeça. "Eu definitivamente fiz mais", pensou Harry, indignado. "Eu fiz mais que qualquer deles!"

"Mas talvez...", disse a vozinha, "Talvez Dumbledore não escolha monitores porque entraram em situações perigosas... Talvez os escolha por outras razões... Rony teve ter algo que você não...".

Harry abriu seus olhos e fitou seus dedos, olhou através deles para o guarda roupas, lembrando o que Fred disse: "Ninguém com a cabeça no lugar faria Rony um monitor...".

Deu um pequeno riso. Um segundo depois se sentiu enojado com ele mesmo. Rony não tinha pedido a Dumbledore para receber a insígnia de monitor. Não era culpa de Rony. Ele era, Harry, o melhor amigo de Rony no mundo, chateado porque ele não tinha uma insígnia, rindo com os irmãos de Rony por suas costas, quando Rony pela primeira vez tinha batido Harry em algo?

Nesse momento escutou os passos de Rony. Ele se levantou, arrumou os seus óculos e fez um sorriso assim que Rony entrou pela porta.

- Consegui pegá-la! - disse feliz. - Ela disse que vai pegar a Cleansweep se puder.

- Legal - disse Harry, e ele estava feliz que sua a voz tinha parado de soar triste. - Escute... Rony... Muito bem, cara.

O sorriso sumiu do rosto de Rony.

- Nunca pensei que seria eu! '- disse, balançando a cabeça. - Eu pensei que seria você!

- Não, eu causei muitos problemas - disse Harry, parecendo Fred.

- É - disse Rony. - É, eu suponho... Bem, devemos preparar nossos malões, não?

Era incrível como seus pertences haviam se espalhado desde que chegaram. Eles precisaram de toda a tarde para pegar livros e pertences por toda a casa e colocá-los de volta nos malões. Harry percebeu que Rony sempre levava sua insígnia para onde iam. Primeiro colocou na mesa de cabeceira. Depois a colocava no bolso do jeans, depois colocava no malão por cima das vestes, para ver o contraste entre elas e o dourado e vermelho da insígnia. Somente quando Fred e Jorge apareceram e se ofereceram para pregar a insígnia na sua testa com um feitiço de Cola Permanente ele a colocou num par de meias marrons e fechou seu malão.

A Sra. Weasley retornou do Beco Diagonal perto das seis horas, carregando pilhas de livros e um longo pacote embrulhado que Rony recebeu de sua mãe com um longo lamento.

- Nem pense em abrir agora. Teremos algumas pessoas para o jantar e eu quero que todos desçam - disse, mas no momento que ela esta longe da vista Rony rasgou o papel como um louco e examinou cada centímetro de sua nova vassoura, uma expressão de êxtase no rosto.

No porão, a Sra. Weasley tinha pendurado uma faixa que dizia:

"PARABÉNS

RONY E HERMIONE

NOVOS MONITORES"

Ela parecia que estava com um humor melhor do quer estivera durante todo o feriado.

- Eu pensei que teríamos uma pequena festa, não um jantar - disse ela a Harry, Rony, Hermione, Fred, Jorge e Gina enquanto entravam na sala. - Seu pai e Gui estão a caminho, Rony. Mandei corujas aos dois e eles estão tremendo de felicidade! - completou ela.

Fred girou os olhos. Sirius, Lupin, Tonks e Kingsley Shacklebolt já estavam lá e Olho-Tonto Moody entrou assim que Harry foi pegar uma cerveja amanteigada.

- Oh, Alastor, estou feliz que esteja aqui - disse a Sra. Weasley, enquanto Olho-Tonto retirava sua capa. - Esperamos você há eras... Poderia dar uma olhada na escrivaninha e nos dizer o que está lá dentro? Não quisemos abrir no caso de ser algo realmente asqueroso.

- Sem problema, Molly...

O olho azul elétrico de Moody virou para frente, parou fixo no teto da cozinha.

- Sala de visitas... - murmurou, enquanto sua pupila se contraía. - Mesa do canto? É, eu vejo... É... É um Bicho-Papão... Quer que eu vá lá e o retire, Molly?

- Não, não, eu farei isso mais tarde - sorriu a Sra. Weasley. - Tome uma bebida. Estamos comemorando algo... - ela apontou para a faixa vermelha. - O quarto monitor na família! - disse, acariciando o cabelo de Rony.

- Monitor, hein? - murmurou Moody, seu olho normal em Rony e seu olho mágico girando para o lado de sua cabeça.

Harry teve um sentimento muito desconfortável de que estava olhando para ele e se movendo para Sirius e Lupin.

- Bem, parabéns - disse Moody, ainda olhando Rony com seu olho normal. - Figuras de autoridade sempre atraem problemas, mas suponho que Dumbledore acha que você pode cuidar da maioria dos feitiços ou não indicaria você.

Rony pareceu bem assustado com esse ponto de vista, mas foi salvo de responder pela chegada de seu pai e de seu irmão mais velho. A Sra. Weasley estava em tão bom humor que nem se preocupou que eles tinham trazido Mundungo; ele estava usando um longo sobretudo que parecia muito molhado em vários lugares, recusou ajuda para tirá-lo e o colocou junto ao casaco de Moody.

- Bem, eu penso que devemos fazer um brinde - disse o Sr. Weasley, quando todos tinham suas bebidas. Ele levantou seu cálice: - A Rony e Hermione, os novos monitores da Grifinória!

Rony e Hermione viram todos beberem à sua saúde e então aplaudirem.

- Eu nunca fui monitora - disse Tonks por trás de Harry enquanto todos se dirigiam à mesa para pegarem alguma comida. Seu cabelo estava vermelho-tomate e hoje tocava a cintura; ela parecia uma irmã mais velha de Gina. - A minha diretora dizia que me faltavam certas qualidades.

- Como o quê? - disse Gina, que pegava um tomate defumado.

- Como a habilidade de me controlar.

Gina riu; Hermione parecia que não sabia se sorria ou não e apenas tomou um gole de cerveja amanteigada e quase se engasgou.

- E você, Sirius? - Gina perguntou, batendo nas costas de Hermione.

Sirius, que estava ao lado de Harry, deu sua risada parecida com um latido.

- Ninguém me faria monitor. Eu gastei muito tempo em detenções com Tiago. Lupin era o bonzinho, ele conseguiu a insígnia.

- Eu acho que Dumbledore pensou que eu poderia exercer algum controle sobre meus melhores amigos - disse Lupin. - Eu devo dizer que eu falhei completamente.

O humor de Harry melhorou muito. Seu pai não tinha sido monitor também. Todos na festa pareciam muito mais agradáveis; ele encheu seu prato, sentindo-se duplamente satisfeito com todos na sala.

Rony estava falando sobre sua vassoura com todos que ouvissem.

- ...Zero a setenta em 10 segundos, nada mal hein? Quando você pensa na Comet 2-90 que ia apenas de zero a sessenta com uma queda na cauda de acordo com o "Qual Vassoura".

Hermione estava falando muito ardentemente com Lupin sobre a visão dela sobre o direito dos elfos.

- Digo, é a mesma coisa sem sentido como a segregação dos lobisomens, não? É tudo por causa dessa horrível coisa que os bruxos têm de acharem que são superiores às outras criaturas...

A Sra. Weasley e Gui estavam novamente conversando sobre o cabelo de Gui.

- ...Realmente demais, e você está com tão boa aparência, ele pareceria melhor se fosse um pouco mais curto, não é, Harry?

- Oh... Não sei... - disse Harry, levemente alarmado por perguntarem sua opinião; ele se afastou em direção ao Fred e Jorge, que estavam conversando num canto com Mundungo.

Mundungo parou de falar quando viu Harry mas Fred piscou e o chamou mais para perto.

- Tudo bem - disse para Mundungo. - Nós podemos confiar em Harry, ele é nosso financiador.

- Veja o que Dungo nos arranjou - disse Jorge, mostrando sua mão a Harry. Ela estava cheia do que pareciam sacolas pretas e murchas. Um barulho de pancadas leves vinha delas, mesmo que aparentemente estivessem totalmente paradas.

- Sementes de Tentácula Venenosa - disse Jorge. - Nós precisamos delas para os Petiscos de Cócegas, mas eles são uma Substância Não-comerciável classe C, então nós tivemos algum problema em conseguí-las.

- Dez Galeões o lote, então Dungo? - disse Fred.

- C`todo problema que tive em conseguí-las? - disse Mundungo, seus olhos vermelhos se alargando. - Me desculpem rapazes, mas eu não quero um nuque menos que vinte.

- Dungo gosta dessa piada - Fred disse a Harry.

- É, sua melhor piada foi seis sicles por uma sacola de Penas Knarl - disse Jorge.

- Tenham cuidado - Harry os avisou baixinho.

- O quê? - disse Fred. - Mamãe está ocupada adulando o monitor Rony, estamos OK.

- Mas Moody pode ficar com seu olho em você.

Mundungo olhou nervoso por cima do seu ombro.

- Bem lembrado - murmurou ele. - Certo, rapazes, dez então, se pegarem rápido.

- Saúde, Harry! - disse Fred satisfeito, quando Mundungo esvaziou os bolsos nas mãos dos gêmeos e correu para a comida. - É melhor levarmos isso pra cima...

Harry os viu indo, sentindo-se levemente preocupado. Ocorreu-lhe naquele momento que o Sr. e a Sra. Weasley iam querer saber como Fred e Jorge estavam financiando os negócios de sua loja de logros quando, inevitavelmente, soubessem. Dando aos gêmeos o seu prêmio do Torneio Tribruxo pareceu uma coisa simples de fazer naquele momento mas e se isso levasse a outra discussão familiar e uma situação como a de Percy? Iria a Sra. Weasley ainda sentir por Harry o mesmo bem se ela soubesse que ele tornou possível a Fred e Jorge iniciar a carreira que ela pensava não ser a ideal para eles?

Parado onde os gêmeos o haviam deixado, com nada mais do que o peso da culpa no seu estômago como companhia, Harry escutou o som do seu nome. A voz profunda de Kingsley Shacklebolts era audível nas conversas ao redor.

- ...Por que Dumbledore não nomeou Potter um monitor? - perguntou Kingsley.

- Ele deve ter tido suas razões - respondeu Lupin.

- Mas isso mostraria confiança nele. Seria o que eu faria - persistiu Kingsley. - Especialmente com Profeta Diário falando sobre ele todos os dias...

Harry não olhou ao redor; não queria que Lupin ou Kingsley soubesse que havia ouvido. Não totalmente com fome, seguiu Mundungo para trás da mesa. Seu prazer na festa se evaporou tão rápido como havia chegado; queria que estivesse lá em cima, na cama.

Olho-Tonto Moody estava cheirando uma coxa de galinha com o que restava de seu nariz; evidentemente não detectou nenhum traço de veneno, porque arrancou um pedaço com os dentes.

- ...O cabo feito de carvalho espanhol com Verniz Antifeitiço, e com controle de vibração interno... - Rony dizia para Tonks.

A Sra. Weasley bocejou largamente.

- Bem, eu acho que vou cuidar daquele Bicho-Papão antes de ir dormir... Arthur, eu não quero esse pessoal indo dormir muito tarde, certo? Noite, Harry, querido.'

Ela deixou a cozinha. Harry empurrou seu prato e imaginou como a poderia seguir sem chamar muita atenção.

- Está bem, Potter? - rosnou Moody.

- É, bem - mentiu Harry.

Moody tomou um gole de sua garrafa de bolso, seu olho azul elétrico encarando Harry de lado.

- Venha aqui, tenho algo que pode lhe interessar.

De um bolso interno de suas vestes Moody puxou uma fotografia de bruxo velha e esfarrapada.

- A Ordem do Fênix original - rosnou Moody. - Encontrei na última noite quando procurava minha Capa de Invisibilidade reserva, já que Podmore não teve a delicadeza de me devolver a minha melhor capa... Pensei que as pessoas gostariam de vê-la.

Harry pegou a fotografia. Uma pequena quantidade de pessoas, algumas acenando para ele, outros arrumando seus óculos, olhando de volta para ele.

- Este sou eu - disse Moody, desnecessariamente apontando para ele.

O Moody na foto era inconfundível, apesar de seu cabelo estar menos grisalho e seu nariz intacto.

- E aquele é Dumbledore do meu lado, Dédalo Diggle no outro lado... Esta é Marlene McKinnon, ela foi morta duas semanas depois que esta foto foi tirada, eles pegaram toda a sua família. Estes são Frank e Alice Longbottom...

O estômago de Harry, já desconfortável, apertou ainda mais enquanto olhava Alice Longbottom; conhecia aquele rosto redondo e amigável muito bem mesmo que não a tivesse encontrado antes, porque ela era a imagem de seu filho, Neville.

- ...Pobres diabos - rosnou Moody. - Melhor mortos do que o que aconteceu com eles... E esta é Emmeline Vance, você a encontrou antes, e ali está Lupin, obviamente... Benjy Fenwick, ele se foi também, nós encontramos apenas alguns pedaços... Mexa pro lado aqui - disse, empurrando a foto, e as pessoas se moveram de forma que os que estavam escondidos puderam se mover para frente. - Este é Edgar Bones... Irmão de Amélia Bones, eles o pegaram e a sua família também, ele era um grande bruxo... Sturgis Podmore, ele parece muito jovem... Caradoc Dearborn, desapareceu seis meses depois disso, nunca encontramos seu corpo... Hagrid, é claro, parece o mesmo de sempre... Elphias Doge, você o encontrou, eu esqueci que ele costumava usar esse chapéu estúpido... Gideon Prewett, foram precisos cinco Comensais de Morte para matá-lo e ao seu irmão, Fabian, eles lutaram como heróis... Movam-se, movam-se.

As pequenas pessoas tropeçaram neles mesmos e aqueles que estavam mais atrás apareceram na frente da foto.

- Aquele é o irmão de Dumbledore, Aberforth, essa foi a única vez que o vi, sujeito estranho... Aquela é Dorcas Meadowes, Voldemort a matou pessoalmente... Sirius, quando ainda tinha o cabelo curto... E aí vai, acho que isso vai lhe interessar!

O coração de Harry meio que virou. Sua mãe e seu pai sorriam para ele, sentados lado a lado de um homem que tinha os olhos cheios de lágrimas, que Harry reconheceu de imediato como sendo Rabicho, aquele que havia traído seus pais, dizendo a Voldemort onde estavam escondidos e então ajudando em sua morte.

- Eh? - disse Moody.

Harry olhou o rosto de Moody cheio de cicatrizes e buracos. Evidentemente estava com impressão de que havia dado um pouco de prazer a Harry.

- É - disse Harry, novamente tentando sorrir. - Er... Escute. Acabei de me lembra que eu ainda não empacotei minha...

Ele poupou o problema de inventar um objeto que não havia empacotado. Sirius disse:

- O que você têm aí, Olho-Tonto? - e Moody se virou para ele.

Harry cruzou a cozinha, escorregou pela porta e subiu a escada antes que alguém o chamasse. Ele não sabia por que tinha tido tal choque; já havia visto fotos de seus pais antes, além disso ele já havia encontrado Rabicho... Mas vê-los assim de súbito, sem estar esperando... Ninguém gostaria disso, pensou irado... E então vê-los junto com todos aqueles rostos felizes... Benjy Fenwick, que foi encontrado aos pedaços, e Gideon Prewett, que morreu como um herói, e os Longbottom, que foram torturados até enlouquecerem... Todos acenando felizes para sempre, não sabendo que estavam amaldiçoados... Bem, Moody podia achar isso interessante... Ele, Harry, achou isso perturbador...

Subiu as escadas nas pontas dos pés, passando pela sala com as cabeças empalhadas de elfos, feliz em estar sozinho novamente mas quando se aproximava do primeiro andar escutou ruídos. Alguém estava soluçando na sala de visitas.

- Olá? - disse Harry.

Não houve resposta mas os soluços continuavam. Subiu as escadas de dois em dois degraus e, chegando ao primeiro andar, abriu a porta da sala de visitas.

Alguém estava se encolhendo contra a parede escura, sua varinha na mão, todo o seu corpo tremendo e soluçando. Jogado no carpete empoeirado, em um raio de luar, claramente morto, estava Rony.

Todo o ar pareceu desaparecer dos pulmões de Harry; sentiu como se estivesse caindo no chão; seu cérebro ficou gelado... Rony morto, não, não podia ser.

Mas espere um momento. Não podia ser. Rony estava lá embaixo...

- Sra. Weasley? - Harry chamou.

- R-r-riddikulus! - a Sra. Weasley soluçou, apontando sua varinha trêmula para o corpo de Rony.

Crack.

O corpo de Rony se transformou no de Gui, virado de costas, seus olhos totalmente abertos e com expressão vazia. A Sra. Weasley soluçou mais que nunca.

- R-riddikulus! - soluçou novamente.

Crack.

O corpo do Sr. Weasley substituiu o de Gui, seus óculos torcidos, uma veio de sangue correndo por seu rosto.

- Não! - Sra. Weasley lamentou. - Não... Riddikulus! Riddikulus! RID-DIKULUS!

Crack. Os gêmeos mortos. Crack. Percy morto. Crack. Harry morto...

- Sra. Weasley, apenas saia daqui! - gritou Harry, encarando seu próprio corpo morto no chão. - Deixe outra pessoa...

- Que está havendo?

Lupin entrou correndo na sala, seguido de perto por Sirius, com Moody se arrastando pesadamente atrás deles. Lupin olhou da Sra. Weasley para o corpo de Harry no chão e pareceu entender num momento. Puxando sua varinha, disse, firme e claro:

- Riddikulus!

O corpo Harry desapareceu. Um globo prateado surgiu no ar sobre o local onde o corpo estava. Lupin agitou sua varinha mais uma vez e o globo desapareceu em um sopro de fumaça.

- Oh... Oh... Oh! - a Sra. Weasley engoliu em seco e caiu num choro inconsolável, suas mãos cobrindo seu rosto.

- Molly - disse Lupin desoladamente, caminhando até ela. - Molly, não...

Ela então se atirou no ombro de Lupin, chorando desesperadamente.

- Molly, era apenas um Bicho-Papão - disse ele, tranqüilizando-a, batendo levemente em sua cabeça. - Apenas um estúpido Bicho-Papão...

- Eu os vi mo-mo-mortos, todos eles! - a Sra. Weasley lamentando em seu ombro. - Todos de um-um-uma vez! Eu so-so-sonhei com isso...

Sirius estava olhando fixamente para o carpete, no lugar onde estivera o Bicho-Papão, fingindo ser o corpo de Harry. Moody estava olhando Harry, que evitou seu olhar. Ele tinha a estranha sensação de que o olho mágico de Moody o tinha seguido desde a cozinha.

- Nã-nã-não conte ao Arthur - disse a Sra. Weasley, engolindo em seco, secando seus olhos freneticamente com seus punhos. - Eu nã-nã-não quero que ele saiba o quanto fui tola...

Lupin lhe deu um lenço e ela assoou o nariz.

- Harry, me desculpe. O que você deve estar pensando de mim? - disse ela trêmula. - Nem mesmo consegui lidar com um Bicho-Papão...

- Não fique assim - disse Harry, tentando sorrir.

- Eu estou tã-tã-tão preocupada - disse ela, lágrimas caindo de seus olhos novamente. - Metade da fa-fa-família na Ordem, se-se-será um milagre se todos passarmos por isso... E P-P-Percy não está falando conosco... O que faria se algo te-te-terrível acontecesse e nós nunca m-m-mais falarmos com ele? E o que aconteceria se Arthur e eu fomos mortos, quem cui-cui-cuidaria de Rony e Gina?

- Molly, já basta! - disse Lupin firmemente. - Não será como a última vez. A Ordem está melhor preparada, já começamos a agir, nós sabemos o que Voldemort está querendo...

A Sra. Weasley deu um guincho de horror ao som desse nome.

- Oh, Molly, vamos, já está na hora de você ouvir esse nome. Olhe, eu não posso prometer que ninguém será ferido, ninguém pode prometer isso, mas estamos melhores que da última vez. Você não estava na Ordem, você não entende. Da última vez éramos poucos, vinte Comensais da Morte contra um de nós e eles estavam nos pegando um a um...

Harry lembrou da fotografia novamente, os rostos brilhantes de seus pais. Ele sabia que Moody estava olhando para ele.

- Não se preocupe com Percy - disse Sirius abruptamente. - Ele voltará. É só uma questão de tempo antes de Voldemort se mostrar; quando ele fizer isso todo o Ministério estará nos pedindo perdão. E eu não estou certo de que aceitarei suas desculpas - completou amargamente.

- E quem cuidará de Rony e Gina se você e Arthur morrerem - disse Lupin, sorrindo levemente. - O que acha que vamos fazer? Deixá-los morrer de fome?

A Sra. Weasley sorriu trêmula.

- Fui uma tola - disse novamente, enxugando seus olhos.

Mas Harry, fechando a porta do seu quarto atrás de si dez minutos depois, não achava a Sra. Weasley tola. Ele podia ver seus parentes olhando para ele da velha e carcomida fotografia, inconscientes de suas vidas, como a maioria daqueles ao redor deles. A imagem do Bicho-Papão aparecendo como o corpo de cada membro da família da Sra. Weasley ainda aparecia na frente de seus olhos.

Sem aviso, a cicatriz na sua testa queimou em dor e seu estômago doeu horrivelmente.

- Pare com isso! - disse firmemente, esfregando sua cicatriz enquanto a dor sumia.

- O primeiro sinal da loucura, falando para sua própria cabeça - disse uma voz astuta que vinha da moldura vazia na parede.

Harry o ignorou. Ele se sentiu mais velho do que nunca se sentira antes e parecia extraordinário que apenas uma hora atrás estava preocupado com uma loja de logros e com quem tinha ganhado uma insígnia de monitor.

-- CAPÍTULO 10 --
LUNA LOVEGOOD


Harry teve uma noite de sono difícil. Seus pais iam e vinham nos seus sonhos, nunca falando; a Sra. Weasley soluçava sobre o cadáver de Kreacher, observada por Rony e Hermione, que usavam coroas, e então ele se viu andando aos tropeços como um palhaço por um corredor que terminava numa porta fechada. Acordou abruptamente com sua cicatriz ardendo e vendo Rony já vestido e falando com ele.

- ...Melhor se apressar. Mamãe está explodindo, dizendo que vamos perder o trem...

Havia muita agitação na casa. Pelo que ouviu enquanto se vestia a toda velocidade, Harry percebeu que Fred e Jorge tinham enfeitiçado seus malões, fazendo-os levitar, para evitar o aborrecimento de ter que carregá-los escada abaixo, com o resultado de bater em Gina e fazê-la cair rolando dois lances de escada até a sala; a Sra. Black e Sra. Weasley estavam ambas gritando a todo volume.

- ELA PODIA DE SE MACHUCADO SERIAMENTE, SEUS IDIOTAS!

- MALDITOS MESTIÇOS, SUJANDO A CASA DE MEUS PAIS!

Hermione chegou correndo na sala parecendo confusa. Edwiges estava balançando em seu ombro e estava carregando Bichento se contorcendo em seus braços.

- Mamãe e papai mandaram Edwiges de volta- a coruja se agitou gentilmente e voou até o topo de sua gaiola. - Ainda não está pronto?

- Quase. Gina está bem? - Harry perguntou, ajustando seus óculos.

- A Sra. Weasley a remendou - disse Hermione. - Mas agora Olho-Tonto está se queixando de que não podemos sair até Sturgis Podmore chegar, se não a Guarda vai ser de um só.

- Guarda? Temos que ir até a Estação King's Cross com uma guarda?

- VOCÊ tem que ir até a estação King's Cross com uma guarda - corrigiu.

- Por quê? - perguntou irritado. - Eu pensei que Voldemort estava supostamente escondido ou está dizendo que ele vai pular de trás de uma lixeira e me atacar?

- Eu não sei, é só o que Olho-Tonto disse - disse distraída, olhando seu relógio -, mas se nós sairmos logo definitivamente perderemos o trem...

- VOCÊS PODERIAM DESCER LOGO, POR FAVOR! - berrou a Sra. Weasley.

Hermione saltou como se estivesse sendo escaldada e saiu correndo da sala. Harry agarrou Edwiges, jogou-a dentro da gaiola e correu escada abaixo atrás da amiga, arrastando seu malão.

O retrato da Sra. Black estava gritando com fúria mas ninguém estava preocupado em fechar as cortinas; todo o barulho na sala a acabaria acordando de todo o jeito.

- Harry, você vai comigo e Tonks - berrou a Sra. Weasley acima dos repetidos gritos de "SANGUES-RUINS! ESCÓRIA! CRIATURAS DA LAMA!". - Deixe seu malão e sua coruja. Alastor vai cuidar das bagagens... Oh, pelo amor de Deus, Sirius! Dumbledore disse que não!

Um cão enorme como um urso apareceu ao lado de Harry enquanto passava por cima de vários malões que se misturavam na sala para chegar a Sra. Weasley.

- Oh, honestamente... - disse Sra. Weasley desesperada. - Bem, é sua cabeça que pode ser arrancada!

Ela destravou a porta da frente e saiu para uma fraca luz de setembro. Harry e o cão a seguiram. A porta bateu atrás deles e os gritos da Sra. Black cessaram imediatamente.

- Onde está Tonks? - Harry disse, olhando ao redor enquanto descia os degraus de pedra do número 12, que desapareceram no momento que tocaram o pavimento.

- Ela está esperando bem ali - disse a Sra. Weasley, evitando olhar para o cão ao lado de Harry.

Uma mulher velha acenava para eles da esquina. Ela tinha um cabelo grisalho amarrado apertado e usava um chapéu púrpura que parecia uma torta.

- Olá, Harry - disse, piscando. - Melhor nos apressarmos, não Molly? - disse, verificando o relógio.

- Eu sei, eu sei - lamentou a Sra. Weasley, aumentando o passo -, mas Olho-Tonto queria espera por Sturgis... Se pelo menos Arthur tivesse conseguido pegar alguns carros do Ministério novamente... Mas Fudge não o deixaria pegar emprestado nem um vidro de tinta vazio... Como os trouxas conseguem viajar sem mágica...

Mas o grande cão negro deu um latido feliz e saltou ao redor deles, atirando-se contra os pombos e perseguindo sua própria cauda. Harry não podia deixar de rir. Sirius estivera trancado por muito tempo. A Sra. Weasley apertou os lábios com um jeito muito parecido com a sua tia Petúnia.

Levaram vinte minutos para chegar à estação King Cross a pé e nada aconteceu durante esse tempo, mesmo que Sirius tenha perseguido alguns gatos, para o divertimento de Harry. Já na estação esperaram um pouco perto da barreira entre as plataformas nove e dez até parecer seguro o bastante para atravessar a barreira, onde o Expresso de Hogwarts estava soltando vapor sobre uma plataforma cheia de estudantes se despedindo de suas famílias. Harry sentiu um cheiro familiar e seu espírito se elevou... Ele estava realmente voltando...

- Espero que os outros cheguem a tempo - disse a Sra. Weasley ansiosa, olhos fixos no arco de onde os passageiros saíam.

- Cachorro legal, Harry! - chamou um garoto.

- Obrigado Lino - disse Harry, sorrindo, enquanto Sirius perseguia sua cauda freneticamente.

- Oh bom! - disse a Sra. Weasley, aliviada. - Aí vem Alastor com a bagagem, olhem...

Um chapéu de carregador puxado sobre seu olhos estranhos, Moody veio mancando através do arco, empurrando um carrinho cheio de malões.

- Tudo bem - murmurou ele para a Sra. Weasley e Tonks. - Não acho que tenhamos sido seguidos...

Segundos depois o Sr. Weasley apareceu na plataforma com Rony e Hermione. Eles tinham quase terminado de retirar a bagagem do carrinho quando Fred, Jorge e Gina apareceram com Lupin.

- Nenhum problema? - murmurou Moody.

- Nada - disse Lupin.

- Vou falar com Dumbledore sobre Sturgis - disse Moody. - Esta é a segunda vez que ele não aparece em uma semana. Está se tornando tão não confiável como Mundungo.

- Bem, cuidem-se - disse Lupin, apertando suas mãos. Ele chegou a Harry por último e deu um tapinha em seu ombro. - Você também, Harry. Tenha cuidado.

- É, mantenha sua cabeça baixa e seus olhos abertos - disse Moody, apertando a mão de Harry também. - E não se esqueçam, todos vocês. Cuidado com o que escrevem. Se houver dúvida, não ponham nada numa carta.

- Foi ótimo conhecer todos vocês - disse Tonks, abraçando Hermione e Gina. - Espero que nos vejamos logo.

Um apito soou; os alunos que ainda estavam na plataforma começaram a correr para o trem.

- Rápido, rápido - disse a Sra. Weasley distraidamente, abraçando-os ao acaso e abraçando Harry duas vezes. - Escrevam... Se esquecerem qualquer coisa eu mando depois... Para o trem, rápido...

Por um breve momento o grande cão negro ficou em pé com suas patas da frente nos ombros de Harry, mas a Sra. Weasley empurrou o garoto para a porta do trem e dizendo baixinho:

- Pelo amor de Deus, aja mais como um cachorro, Sirius!

- Até mais! - Harry falou da janela aberta enquanto o trem começava a se mover, enquanto Rony, Hermione e Gina acenavam atrás dele. As figuras de Tonks, Lupin, Moody e do Sr. e da Sra. Weasley desapareciam rápido, mas o cão negro estava correndo ao lado da janela, balançando sua cauda; pessoas na plataforma riam em vê-lo correndo atrás do trem, e então o virou numa curva e Sirius se foi.

- Ele não devia ter vindo com a gente - disse Hermione numa voz preocupada.

- Oh, alivia aí! - disse Rony. - Ele não via a luz do sol por meses, pobre sujeito.

- Bem - disse Fred, batendo as mãos. - Não posso ficar conversando todo o dia. Temos assuntos a conversar com Lino. Vemos vocês mais tarde - e ele e Jorge desapareceram pelo corredor.

O trem estava ganhando velocidade rapidamente, então as casas fora da janela passavam rápido quando perceberam que ainda estavam em pé.

- Vamos procurar uma cabine, então? - perguntou Harry.

Rony e Hermione trocaram olhares.

- Er... - disse Rony.

- Nós... Bem... Rony e eu devíamos estar no vagão dos monitores - Hermione disse sem jeito.

Rony não olhava Harry; parecia intensamente interessado nas suas unhas.

- Oh - disse Harry. - Certo. Tudo bem.

- Eu não acho que ficaremos lá toda a viagem - disse Hermione rapidamente. - Nossas cartas diziam que tínhamos apenas que receber instruções do monitor e monitora chefes e então patrulhar os corredores de tempo em tempo.

- Tudo bem - disse Harry novamente. - Bem, Eu... Eu vejo vocês mais tarde então.

- É, definitivamente - disse Rony, olhando ansiosamente para Harry. - É horrível ter que ir até lá, eu preferiria... Mas temos que ir... Digo, eu não estou apreciando isso. Eu não sou Percy.

- Eu sei que você não é - disse Harry e ele sorriu.

Mas enquanto Hermione e Rony arrastaram seus malões, Bichento e um Píchi engaiolado em direção à frente do trem, Harry sentiu um estranho sentimento de perda. Nunca havia viajado no Expresso de Hogwarts sem Rony.

- Vamos - chamou Gina. - Se nós andarmos vamos poder guardar lugares para eles.

- Certo - disse Harry, pegando a gaiola de Edwiges em uma mão e a alça do malão na outra.

Esforçaram-se pelo corredor, olhando através das janelas dos compartimentos enquanto passavam, vendo todos lotados. Harry não deixou de notar que várias pessoas olhavam de volta para ele com grande interesse e que muitos deles acotovelavam seus vizinhos e o apontando. Depois de passar por cinco outros compartimentos lembrou que o Profeta Diário vinha dito a todos os seus leitores durante todo o que mentiroso ele era. Imaginava que as pessoas estavam acreditando.

Na última cabine encontraram Neville Longbottom, colega de Harry na Grifinória, sua face redonda brilhando no esforço de puxar seu malão com uma mão e segurando seu sapo, Trevo.

- Olá, Harry - arquejando. - Olá, Gina... Está tudo lotado... Não pude encontrar um lugar...

- Do que você está falando? - disse Gina, que olhou por cima de Neville, espiando o compartimento atrás dele. - Há lugares neste aí, só tem a Loony Lovegood lá...

Neville murmurou algo sobre não querer perturbar ninguém.

- Não seja bobo - disse Gina, sorrindo. - Ela é legal.

Ele abriu a porta e puxou seu malão para dentro. Harry e Neville a seguiram.

- Olá Luna - disse Gina. - Tudo bem se pegarmos esses lugares?

A garota sentada ao lado da janela olhou. Tinha cabelos loiros longos e desgrenhados que iam até a cintura, sobrancelhas pálidas e olhos protuberantes que davam uma aparência de estar sempre surpresa. Harry agora sabia por que Neville tinha querido passar pela cabine. A garota deu uma olhar de distinta desimportância. Talvez pelo fato de que tenha colocado a mão perto da sua orelha para se proteger, ou porque ela usava um colar de rolhas de cervejas amanteigadas, ou porque estava lendo uma revista de cabeça para baixo. Seus olhos passaram por Neville e fitaram Harry. Ela acenou com a cabeça.

- Obrigada - disse Gina, sorrindo para ela.

Harry e Neville arrumaram os malões, a gaiola de Edwiges no suporte de bagagens e se sentaram. Luna olhou para eles por cima da revista, que se chamava The Quibbler. Ela não parecia precisar piscar como as outras pessoas. Fitou e fitou Harry, que havia sentado de frente para ela e que agora queria não ter sentado.

- Teve um bom verão, Luna? - Gina perguntou.

- Sim - disse Luna sonhadora, sem retirar os olhos de Harry. - Sim, foi muito divertido, sabe. Você é Harry Potter.

- Eu sei que sou - disse Harry.

Neville riu. Luna virou seus olhos pálidos para ele.

- E eu não sei quem você é.

- Eu não sou ninguém - disse Neville rapidamente.

- Não, você não é - disse Gina severa. - Neville Longbottom, Luna Lovegood. Luna está no mesmo ano que eu, mas na Corvinal.

- Inteligência sem medida é o maior tesouro do homem - disse Luna em uma voz cantante.

Ele levantou sua revista ainda de cabeça para baixo o suficiente para esconder seu rosto e se calou. Harry e Neville se olharam com as sobrancelhas levantadas. Gina segurou um risinho.

O trem prosseguia. Era um estranho tipo de dia; em um momento o vagão estava cheio de luz do sol e no outro estavam passando sob preocupantes nuvens cinzentas.

- Adivinhem o que ganhei no meu aniversário? - disse Neville.

- Outro Lembrol? - disse Harry, lembrando-se do dispositivo parecido com uma bola de gude que a avó de Neville lhe mandara num esforço de melhorar sua abismal falta de memória.

- Não - disse Neville. - Eu só precisava de um, de qualquer forma, eu o perdi eras atrás... Não, olhem isso...

Ele enfiou a mão que não estava firmemente segurando seu sapo na bolsa e depois de procurar um pouco a retirou, segurando o que parecia ser um pequeno cacto cinzento em um pote, exceto pelo fato de que estava coberto de bolhas ao invés de espinhos.

- Mimbulus mimbletonia - disse orgulhoso.

Harry encarou a coisa. Ela pulsava levemente, dando uma sinistra aparência de um órgão interno doente.

- É realmente muito, muito rara - disse Neville, radiante. - Eu não sei se há uma nas estufas em Hogwarts. Mal posso esperar para mostrá-la à Professora Sprout. Meu tio-avô Algie trouxe para mim da Assíria. Vou ver se consigo reproduzi-la.

Harry sabia que a matéria que Neville mais gostava era Herbologia mas não sabia o que se poderia fazer com essa pequena planta atrofiada.

- Ela... Er... Faz alguma coisa?

- Muitas coisas! - disse Neville orgulhoso. - Ela tem um incrível mecanismo de defesa. Aqui, segure Trevo pra mim...

Ele colocou o sapo no colo de Harry e pegou uma pena de sua bolsa. Os olhos de Luna Lovegood saltaram por cima da revista ainda de cabeça para baixo para ver o que Neville estava fazendo. Neville segurou a Mimbulus mimbletonia na altura dos olhos, sua língua entre os dentes, escolhendo um ponto, e dando um pequeno furo com a ponta da pena.

Um líquido espirrou por cada bolha da planta; jatos grossos, fedorentos, verdes escuros. Eles atingiram o teto, as janelas e respingaram na revista de Luna Lovegood; Gina, que colocou as mãos na frente do rosto a tempo, meramente parecia que estava vestindo um chapéu verde pegajoso, mas Harry, que estava ocupado segurando Trevo para evitar que fugisse, recebeu o jato direto na face. Ele cheirava a estrume curtido.

Neville, que a face e o peito estavam ensopados, balançou a cabeça para retirar o limo dos olhos.

- Des-desculpem - ele arfou. - Eu nunca tentei isso antes... Não imaginava que seria tão... Não se preocupem, a gosma não é venenosa - disse nervoso enquanto Harry cuspia um bocado no chão.

Nesse mesmo momento a porta da cabine abriu.

- Oh... Olá, Harry - disse uma voz nervosa. - Ah... Momento ruim?

Harry tirou um das mão de Trevo e limpou seus óculos. Uma linda garota, com cabelos longos, negros e brilhantes, estava sorrindo para ele: Cho Chang, a apanhadora do time de quadribol da Corvinal.

- Oh... Olá - disse Harry, embranquecendo.

- Hum... - disse Cho. - Bem... Eu queria apenas dizer olá... Tchau então.

Com o rosto particularmente rosado, ela fechou a porta e se foi. Harry tombou no assento e gemeu. Teria gostado que Cho o tivesse visto sentado ao lado de pessoas legais, rindo de uma piada que havia contado; não tinha escolhido estar sentado com Neville e Loony Lovegood, segurando um sapo e coberto de gosma.

- Podem deixar - disse Gina. - Vejam, podemos facilmente nos livrar de tudo isso - ela puxou sua varinha. - Scourgify!

A gosma desapareceu.

- Desculpem - disse Neville novamente, sua voz sumindo.

Rony e Hermione não apareceram por quase uma hora, quando a o carrinho da comida já tinha saído. Harry, Gina e Neville tinham terminado suas tortinhas de abóbora e estavam trocando cartões de Sapos de Chocolate quando a porta abriu e entraram, acompanhados por Bichento e o assobio agudo de Píchi na sua gaiola.

- Estou faminto - disse Rony, colocando Píchi perto de Edwiges, recebendo um Sapo de Chocolate de Harry e se jogando no assento ao seu lado. Ele abriu o pacote, mordeu a cabeça do sapo e se encostou com os olhos fechados como se tivesse tido um manhã muito exaustiva.

- Bem, há dois monitores do quinto ano em cada casa - disse Hermione, parecendo perfeitamente decepcionada enquanto se sentava. - Um garoto e uma garota cada.

- Adivinha quem é o monitor da Sonserina? - disse Rony, ainda com os olhos fechados.

- Malfoy - respondeu Harry de imediato, sabendo que seu pior receio tinha se confirmado.

- Claro - disse Rony amargamente, colocando o resto do sapo na boca e pegando outro.

- E aquela vaca completa da Pansy Parkinson - disse Hermione cruelmente. - Como ela conseguiu ser monitora quando é grosseira como um trasgo?

- Quem são os da Lufa-lufa? - perguntou Harry.

- Ernie MacMillan e Anna Abbott - disse Rony.

- E Anthony Goldstein e Padma Patil da Corvinal - disse Hermione.

- Você foi ao Baile de Natal com Padma Patil... - disse uma voz vagamente.

Todos viraram para olhar Luna Lovegood, que agora olhava sem piscar para Rony por cima da revista. Ele engoliu o resto do sapo de chocolate que estava na sua boca.

- É, eu sei que eu fui - disse, parecendo surpreso.

- Ela não gostou muito - informou Luna. - Ela acha que você não a tratou muito bem, porque você não dançou com ela. Eu não penso que teria me importado - disse pensativa. - Eu não gosto muito de dançar.

Ela voltou novamente para trás da revista. Rony fitou a capa com a boca aberta por alguns segundos, então olhou Gina, procurando alguma explicação, mas a menina tinha colocado os nós dos dedos na boca para parar de rir. Rony balançou a cabeça, confuso, e então olhou para o relógio.

- Nós temos que patrulhar os corredores de vez em quando - disse a Harry e Neville - e nós podemos dar punições se as pessoas se comportarem mal. Mal posso esperar para pegar Crabbe e Goyle...

- Você não deve abusar de sua posição, Rony! - disse Hermione severa.

- É, certo, porque Malfoy não vai abusar dela - disse sarcasticamente.

- Então você vai descer ao nível dele?

- Não, vou só ter certeza de pegar os colegas dele antes que ele pegue os meus.

- Pelo amor de Deus, Rony...

- Vou fazer Goyle escrever, isso vai deixá-lo maluco, ele odeia escrever - disse Rony feliz. Ele baixou a voz para parecer com a voz de porco de Goyle, contorceu o rosto numa forma de aparente concentração e fez que estava escrevendo em pleno ar. - Eu... Não... Devo... Parecer... Com... O... Traseiro... De... Um... Babuíno...

Todos caíram no riso, mas ninguém ria mais que Luna Lovegood. Ele soltou grito de felicidade que fez com que Edwiges acordasse e batesse as asas indignada, e Bichento saltou para cima do suporte de bagagens guinchando. Luna gargalhava tanto que a revista se soltou de sua mão, escorregou por suas pernas e caiu no chão.

- Isso foi engraçado!

Seus olhos saltados, banhados em lágrimas enquanto tomava fôlego, fixaram-se em Rony. Absolutamente embaraçado, ele olhou para os outros, que agora sorriam da expressão em seu rosto e da ridiculamente prolongada risada de Luna Lovegood, que se balançava para trás e para frente abraçada à sua barriga.

- Por que você está rindo tanto? - disse Rony, olhando para ela, suas sobrancelhas altas.

- Traseiro... De... Babuíno! - disse ela agarrada às costelas.

Todos estavam olhando para Luna gargalhando, com exceção de Harry, mirando a revista no chão, percebendo algo que o fez se abaixar para pegá-la. De cabeça para baixo ficava difícil ver o que a figura da capa era, mas Harry percebeu que era um desenho muito ruim de Cornélio Fudge; Harry apenas o reconheceu por causa do chapéu-coco verde limão. Uma das mãos de Fudge estava apertando uma sacola de ouro; a outra mão sufocava um duende. O título acima do desenho dizia: "Até onde Fudge vai para conseguir Gringotes?". Abaixo disto estavam listados outros artigos da revista.

"Corrupção na Liga de Quadribol:

Como os Tornados estão Tomando o Controle

Segredos das Runas Antigas Revelados

Sirius Black: Vilão ou Vítima?"

- Posso olhar? - perguntou Harry a Luna avidamente.

Ela concordou, ainda olhando fixamente para Rony, sem fôlego por causa da gargalhada.

Harry abriu a revista e procurou no índice. Até esse momento havia esquecido completamente da revista que Kingsley tinha pedido para o Sr. Weasley entregar a Sirius, mas devia ter sido esta edição do The Quibbler.

Encontrou a página e começou a ler o artigo.

Este também era ilustrado por um desenho muito ruim; de fato, Harry não saberia que era Sirius se não estivesse no título. Sirius estava em cima de uma pilha de ossos humanos empunhando a varinha. O cabeçalho do artigo dizia:

"SIRIUS - NEGRO O QUANTO É MOSTRADO?

Notório Assassino em massa ou um cantor inocente?"

Harry teve que ler esta sentença várias vezes antes de se convencer que havia entendido corretamente. Desde quando Sirius tinha sido um cantor?

"Por quatorze anos Sirius Black tem sido culpado por um assassinato em massa de doze trouxas inocentes e de um bruxo. A fuga audaciosa de Black de Azkaban dois anos atrás tem levado à maior caça humana jamais conduzida pelo Ministério da Magia. Nenhum de nós nunca questionou se ele merecia ser recapturado e entregue novamente aos dementadores.

MAS ELE REALMENTE FEZ ISSO?

Uma nova evidência assustadora recentemente veio à luz e mostra que Sirius Black não cometeu os crimes pelos quais foi mandado para Azkaban. 'De fato', disse Doris Purkiss, do número 18 da Acanthia Way, Little Norton, 'Black não esteve nem presente às mortes.'

'O que as pessoas não sabem é que Sirius Black é um nome falso', disse a Sra. Purkiss. 'O homem que todos acreditam ser Sirius Black é realmente Stubby Boardman, cantor principal do popular grupo The Hobgoblins, que se retiraram da vida pública depois de ser acertado por um nabo em sua orelha durante um concerto no salão da Igreja Little Norton a uns 15 anos atrás. Eu o reconheci no momento que eu vi sua foto no papel. Agora, Stubby não pode ter cometido esses crimes, porque no dia em questão ele estava em um jantar romântico comigo. Eu escrevi para o Ministro da Magia e espero que ele dê a Stubby, apelidado de Sirius, um perdão completo.' "

Harry terminou de ler e fitou a página, incrédulo. Talvez fosse uma piada, pensou, talvez a revista escrevesse artigos de humor. Voltou algumas páginas e achou o artigo sobre Fudge.

"Cornélio Fudge, o Ministro da Magia, negou que tivesse planos de tomar o controle Banco dos Bruxo, o Gringotes, quando foi eleito Ministro da Magia cinco anos atrás. Fudge sempre insistiu que não queria nada mais que 'cooperar pacificamente' com os guardiões do nosso ouro.

MAS SERÁ MESMO?

Fontes próximas ao ministro recentemente revelaram que a maior ambição de Fudge é controlar os suprimentos de ouro dos duendes e que não hesitará em usar a força se for necessário.

'Não seria a primeira vez, tão pouco', disse alguém próximo ao ministro. 'Cornélio 'Destruidor-de-Duendes' Fudge, é como os amigos o chamam. Se você pudesse ouvir que ele diz quando pensa que está sozinho, oh, está sempre pensando nos duendes que já cuidou; que afogou; que expulsou; que envenenou, que fez tortas...' "

Harry não continuou a ler. Fudge podia ter muitas falhas mas Harry achou extremamente difícil imaginá-lo ordenando duendes a serem cozidos em tortas. Folheou o resto da revista. Parou em algumas poucas páginas, onde leu: uma acusação de que os Tutshill Tornados estavam ganhando a Liga de Quadribol com uma combinação de chantagem, alteração ilegal de vassouras e tortura; uma entrevista com um bruxo que disse ter voado até a lua em uma Cleansweep 6 e que tinha trazido uma sacola de sapos da lua para provar; e um artigo sobre runas antigas que explicava o motivo pelo qual Luna estava lendo o The Quibbler de cabeça para baixo. De acordo com a revista, se você virar as runas de cabeça para baixo elas revelarão um feitiço para fazer a orelha de seu inimigo virar frutas. De fato, comparado com o resto dos artigos do The Quibbler, a sugestão de que Sirius poderia realmente ser o cantor principal dos The Hobgoblins era muito sensata.

- Algo de bom? - perguntou Rony enquanto Harry fechava a revista.

- Claro que não - disse Hermione ofensiva, antes de Harry puder responder. - O The Quibbler é lixo, todos sabem disso.

- Com licença... - disse Luna; sua voz tinha perdido de repente o ar sonhador. - Meu pai é o editor.

- Eu... Oh... - disse Hermione, parecendo embaraçada. - Bem... Ele é um pouco interessante... Eu digo, é um pouco...

- Pode me devolver por favor... - disse Luna friamente e, adiantando-se, ela tomou a revista das mãos. Folheando-a até a página cinqüenta e sete, virou a revista de cabeça para baixo novamente e desapareceu atrás dela, assim que a porta do compartimento se abriu pela terceira vez.

Harry olhou; esperava por isso, ver a imagem de Draco Malfoy com seu risinho falso entre seus companheiros Crabbe e Goyle não era nem um pouco agradável.

- O quê é? - disse ele agressivamente, antes de Malfoy sequer abrir a boca.

- Olhe as maneiras, Potter, ou terei que lhe passar uma detenção - disse Malfoy lentamente, seu cabelo loiro e liso e seu queixo pontudo exatamente como seu pai. - Sabe, eu, diferente de você, fui nomeado monitor, o que quer dizer que eu tenho o poder de aplicar punições.

- É - disse Harry. - Mas você, diferente de mim, é um idiota, então vá saindo e nos deixe em paz.

Rony, Hermione, Gina e Neville riram. O lábio de Malfoy se torceu.

- Diga-me. Como se sente sendo o segundo melhor depois de Weasley, Potter? - perguntou ele.

- Cale-se, Malfoy - disse Hermione severa.

- Parece que eu toquei em um calo - disse Malfoy, sorrindo. - Bem. Apenas tenha cuidado, Potter, porque eu estarei lhe caçando como um cão, no caso de você sair da linha.

- Saia! - disse Hermione, levantando-se.

Rindo com o canto da boca, Malfoy olhou uma última vez para Harry e saiu, Crabbe e Goyle seguindo seus passos. Hermione bateu a porta da cabine logo que saíram e então se virou para olhar Harry, que percebeu - assim como ela - que Malfoy quis dizer que sabia de algo e isso os deixou nervosos.

- Passe outro sapo - disse Rony, que aparentemente não notou nada.

Harry não podia falar livremente na frente de Neville de Luna. Ele trocou outro olhar nervoso com Hermione e então olhou para fora da janela.

Pensou que Sirius ter ido consigo para a estação tinha sido divertido mas de repente pareceu precipitado, para não dizer extremamente perigoso... Hermione estava certa... Sirius não devia ter ido. O que aconteceria se o Sr. Malfoy tivesse notado o cão negro e falado para Draco? O que aconteceria se tivesse deduzido que os Weasley, Lupin, Tonks e Moody sabiam onde Sirius estava se escondendo? Ou será que Malfoy falou usou a expressão "caçando como um cão" por coincidência?

O clima continuava indeciso enquanto viajavam mais e mais para o norte. A chuva castigava as janelas de forma indiferente, quando o sol se pôs numa aparência pálida antes das nuvens o cobrirem novamente. Quando a escuridão aumentou e as lâmpadas foram acesas dentro das cabines, Luna enrolou o The Quibbler, colocou-a com cuidado na sua bolsa, e começou a olhar para cada um dos ocupantes da cabine.

Harry estava sentado com sua testa encostada no vidro da janela, tentando ter o primeiro vislumbre distante de Hogwarts, mas era uma noite sem lua e a chuva escorria pela janela fazendo a visão ficar distorcida.

- É melhor nos trocarmos - disse Hermione finalmente, e todos abriram seus malões com dificuldade e retiraram suas vestes. Ela e Rony colocaram suas insígnias cuidadosamente na altura do peito. Harry viu Rony verificando seu reflexo na janela escura.

Finalmente o trem começou a diminuir e escutaram o usual arrastar de bagagem e os guinchos de animais sendo carregados. Como Rony e Hermione deviam supervisionar tudo isso, saíram do vagão, deixando Harry e os outros para cuidarem de Bichento e Píchi.

- Eu carregarei essa coruja se você quiser - disse Luna a Harry, pegando Píchi enquanto Neville colocava Trevo cuidadosamente num bolso interno.

- Oh... Eh... Obrigado - disse Harry, entregando a ela a gaiola e segurando Edwiges com mais segurança em seus braços.

Eles saíram da cabine sentindo a primeira pontada do ar frio da noite em suas faces enquanto se uniam à multidão no corredor. Devagar, aproximavam-se das portas. Harry podia sentir o cheiro dos pinheiros que eram alinhados próximos ao lago. Desceu até a plataforma e olhou ao redor, procurando aquela voz familiar que chamava "Os do primeiro ano... Aqui... Primeiro ano...".

Mas não escutou nada. Ao invés disso, uma voz bem diferente, uma voz feminina e rápida que chamava: "Os do primeiro ano alinhem-se aqui, por favor! Todos do primeiro ano aqui!".

Uma lanterna veio balançando até Harry e sob a luz ele viu o queixo proeminente e o cabelo curto da professora Grubbly-Plank, a bruxa que havia substituído Hagrid na aula de Trato de Criaturas Mágicas por algum tempo no ano anterior.

- Onde está Hagrid?

- Eu não sei - disse Gina. - Mas é melhor nós sairmos do caminho. Estamos bloqueando a porta.

- Ah, é...

Harry e Gina se separaram enquanto se moviam pela plataforma e passavam pela estação. Empurrado pela multidão, Harry procurou na escuridão por algum sinal de Hagrid; tinha que estar ali. Harry estava contando com isso. Ver Hagrid novamente era uma das coisas que mais queria. Mas não viu nenhum sinal dele.

- Ele não pode ter saído - Harry disse a si mesmo enquanto se misturava a multidão no caminho estreito que levava até a estrada. - Ele deve estar resfriado ou algo assim...

Procurou ao redor por Rony ou Hermione, querendo saber o que pensavam sobre o reaparecimento da professora Grubbly-Plank, mas nenhum deles perto, então se permitiu ser guiado até a estrada molhada e escura fora da estação de Hogsmeade.

Ele viu uma centena ou mais das carruagens sem cavalos que sempre levavam os estudantes acima do primeiro ano para o castelos. Harry olhou rapidamente para eles e se virou rapidamente para procurar Rony e Hermione e então voltou a olhar rapidamente de volta para as carruagens.

As carruagens não eram mais sem cavalos. Havia criaturas amarradas a eles. Se tivesse que lhes dar um nome supostamente os chamaria de cavalos, mesmo que tivessem uma aparência reptiliana também. Eram completamente sem carne, suas cobertas aderindo aos seus esqueletos onde os ossos estavam visíveis. Sua cabeças tinham uma aparência de dragões e seus olhos sem pupilas eram brancos e fixos. Asas saíam de cada lado - vastas, de um couro negro que os faziam parecer com morcegos gigantes. Parados e quietos escuridão, as criaturas pareciam assustadoras e sinistras. Harry não entedia por que as carruagens estavam sendo puxados por esses horríveis cavalos quando eram perfeitamente capazes de se mover por si mesmos.

- Onde está Píchí? - disse Rony bem atrás dele.

- Luna está carregando ele - disse Harry, virando rapidamente, ávido para conversar com Rony sobre Hagrid. - Você imagina...

- Onde o Hagrid está? Eu não sei - disse Rony, parecendo preocupado. - É melhor que ele esteja bem...

A alguma distância, Draco Malfoy, seguido por uma pequena gangue de companheiros incluindo Crabbe, Goyle e Pansy Parkinson, estavam empurrando alguns secundaristas tímidos de forma que eles e seus amigos pudessem pegar uma carruagem para eles. Segundos depois, Hermione surgiu ofegante do meio da multidão.

- Malfoy estava sendo absolutamente idiota com um garoto do primeiro ano ali. Eu juro que vou entregá-lo! Ele está com a insígnia há apenas três minutos e a está usando para ameaçar as pessoas mais do que nunca... Onde está Bichento?

- Gina está com ele - disse Harry. - Aí está ela...

Gina acabava de sair do meio da multidão, agarrando o Bichento, que se debatia agitado.

- Obrigada - disse Hermione, aliviando Gina do gato. - Vamos, vamos pegar uma carruagem junto antes que todas estejam cheias...

- Eu ainda não peguei o Píchi - Rony disse, mas Hermione já estava caminhando para uma carruagem desocupada. Harry ficou esperando com Rony.

- O que são essas coisas, você imagina? - perguntou ele a Rony, apontando para os horríveis cavalos enquanto os outros estudantes passavam por ele.

- Que coisas?

- Aqueles caval...

Luna apareceu segurando a gaiola de Píchi em seus braços; a coruja minúscula estava guinchando excitada como sempre.

- Aqui está você - disse ela. - Ele é uma corujinha doce, não?

- Er... É... Ele é legal - disse Rony irritado. - Bem, vamos então. Vamos entrar... O que você estava dizendo, Harry?

- Eu estava dizendo, o que são estas coisas? - Harry disse, enquanto ele, Rony e Luna se dirigiam para a carruagem onde Hermione e Gina já estavam sentando.

- Que coisas parecidas com cavalos?

- Essas coisas parecidas com cavalos puxando as carruagens! - disse Harry impaciente. Estavam a um metro do mais próximo; estava olhando para eles com seus olhos brancos e vazios. Rony, porém, olhou para Harry parecendo perplexo.

- Do que você está falando?

- Estou falando disso... Olhe!

Harry agarrou o braço de Rony e o empurrou para tão perto do cavalo alado que quase encostou o rosto do cavalo. Rony ficou parado por um segundo, e então olhou Harry.

- O que eu deveria estar vendo?

- O... Ali, entre as traves! Atado à carruagem! Bem na sua frente...

Mas Rony continuou a olhar confuso, um estranho pensamento passando na cabeça de Harry.

- Não ... Não pode vê-los?

- Ver o quê?

- Não vê o que está puxando as carruagens?

Rony pareceu bem alarmado agora.

- Está se sentindo bem, Harry?

- Eu... Sim...

Harry se sentiu absolutamente confuso. O cavalo estava lá na frente dele, resplandecendo na luz fosca que vinha da estação atrás deles, vapores saindo de suas narinas no ar fresco da noite. Porém, a menos que Rony estivesse brincando - e isso seria realmente uma brincadeira idiota -, não podia vê-lo.

- Vamos entrar, então? - disse Rony incerto, olhando Harry como se estivesse preocupado com ele.

- Sim. Sim, vamos...

- Está tudo bem - disse a voz sonhadora ao lado de Harry enquanto Rony desaparecia dentro da carruagem escuro. - Você não está louco ou algo assim. Eu posso vê-los também.

- Pode? - disse Harry desesperadamente, virando para Luna. Ele podia ver os cavalos com asas de morcego refletidos nos grandes olhos cinzentos dela.

- Oh, sim - disse Luna. - Eu os tenho visto desde meu primeiro dia aqui. Eles sempre puxaram as carruagens. Não se preocupe. Você é tão são quanto eu.

Sorrindo fracamente, ela entrou no interior mofado da carruagem após Rony. Não totalmente seguro, Harry a seguiu.

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