terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Harry Potter e a Ordem da Fênix 21/25


-- CAPÍTULO 21 --
O OLHO DA COBRA


Hermione se direcionou para a cabana de Hagrid sob dois pés de neve numa manhã de domingo. Harry e Rony queriam ter ido com ela mas as montanhas de tarefas de casa tinham atingido uma altura alarmante novamente ficaram de má vontade na sala comunal, tentando ignorar a alegria gritante ecoando na grama lá fora, onde estudantes estavam se divertindo, patinando no lago congelado, andando num tobogã e, o pior de todos; enfeitiçando bolas de neve para baterem na torre da Grifinória e fazerem um grande barulho nas janelas.

- Ai! - gritou Rony, finalmente perdendo a paciência e fitando sua cabeça na janela. - Eu sou um monitor e se mais alguma bola de neve bater nessa janela... OUCH!

Ele recolheu sua cabeça rapidamente, seu rosto estava coberto de neve.

- Fred e Jorge - disse friamente, fitando a janela atrás de si. - Corajosos...

Hermione voltou da cabana de Hagrid pouco antes do almoço, tremendo levemente, suas vestes úmidas até o joelho.

- E então? -disse Rony, olhando-a. - Pegou todas as lições planejadas por ele?

- Bom, eu tentei - disse ela estupidamente, afundando-se numa cadeira ao lado de Harry. Pegou sua varinha, deu-lhe um pequeno e complicado giro e um ar quente jorrou da ponta; apontou para suas vestes, que começaram a se cobrir de vapor enquanto secavam. - Ele nem mesmo estava lá quando eu cheguei, fiquei batendo na porta por pelo menos meia hora. E então ele veio rapidamente da Floresta...

Harry gemeu. A Floresta Proibida estava repleta de tipos de criaturas que poderiam dar a Hagrid uma demissão.

- O que ele está mantendo lá? Ele disse? - ele perguntou.

- Não - disse Hermione miseravelmente. - Ele disse que queria fazer uma surpresa. Eu tentei explicar sobre Umbridge mas parece que ele não entende. Ele continua dizendo que ninguém em sã consciência iria preferir estudar ouriços em vez de quimeras. Oh, eu não acho que ele tenha uma quimera - ela reparou um pálido olhar no rosto de Harry e de Rony -, mas isso não é por falta de tentativa, pois ele disse sobre como é difícil pegar os ovos. Eu não sei quantas vezes eu disse que era melhor ele seguir o plano da Grubbly-Plank, eu sinceramente não acho que ele tenha ouvido metade do que eu disse. Ele está com um humor um tanto engraçado, vocês sabem. Ele ainda não disse como conseguiu todas aqueles machucados.

Quando Hagrid apareceu na mesa de café da manhã no outro dia não se via entusiasmo nos estudantes. Alguns, como Fred, Jorge e Lino, gritaram com prazer e correram entre as mesas da Grifinória e Lufa-lufa, para apertar a enorme mão de Hagrid; outros, como Parvati e Lilá, trocaram olhares frios e sacudiram suas cabeças. Harry sabia que muitos deles preferiam as aulas da professora Grubbly-Plank; e o pior de tudo era que uma pequena parte dele sabia que tinham razão.

A idéia de Grubbly-Plank de uma classe interessante não era uma onde tinham que correr o risco de ter a cabeça de alguém cortada.

Essa era a certeza absoluta do receio sobre o qual Harry, Rony e Mione tinham avisado a Hagrid na terça-feira, tristemente silenciaram contra o frio. Harry estava preocupado, não apenas com o que Hagrid decidira ensinar a eles mas também com o comportamento do resto da classe, particularmente de Malfoy e cia, já que Umbridge os estava observando.

Entretanto, a grande inquisitora não estava em um lugar que desse para vê-la enquanto caminhavam na neve em direção a Hagrid, que estava esperando por eles no canto da Floresta. Ele não parecia seguro, o machucado que estava lilás na noite de sábado agora estava tingido de verde e amarelo e algumas de suas feridas pareciam estar sangrando. Harry não conseguia entender isso: Será que Hagrid foi atacado por alguma criatura cujo veneno evitou que as feridas cicatrizassem? Para completar uma agonizante figura, Hagrid estava carregando o que parecia metade de uma vaca morta em seu ombro.

- Nós vamos trabalhar com isso hoje! - Hagrid pediu alegremente para os estudantes se aproximarem, enquanto olhava para as escuras árvores atrás dele. - Um pouco de abrigo! De qualquer forma, eles preferem o escuro.

- O que prefere o escuro? - Harry ouviu Malfoy dizer rapidamente para Crabbe e Goyle, com um traço de pânico na voz. - O que ele disse que prefere o escuro, vocês ouviram?

Harry se lembrou da única outra ocasião em que Malfoy entrou na Floresta antes daquela, ele não tinha sido muito corajoso desde então. Sorriu pra si mesmo; depois do jogo de quadribol qualquer coisa de causasse desconforto em Malfoy estava tudo bem pra ele.

- Prontos? - disse Hagrid alegremente, olhando em volta dos alunos. - Certo, bom, eu estive planejando uma viagem dentro da Floresta para o seu quinto ano. Acho que veremos essas criaturas em seu habitat natural. Agora, o que estudaremos hoje é muito raro, eu presumo que provavelmente eu seja a única pessoa na Grã-bretanha que treina essas criaturas.

- E você tem certeza que são treinadas, não é? -disse Malfoy, o pânico em sua voz ainda maior. - Não seria essa a primeira vez que você trouxe coisas selvagens pra classe, seria?

A Sonserina murmurou concordando e alguns grifinórios olharam como se achassem que Malfoy tinha uma certa razão também.

- Claro que são treinados - respondeu Hagrid raivosamente, enquanto acomodava a vaca morta em seu ombro.

- Então o que aconteceu com seu rosto? - retrucou Malfoy.

- Vá cuidar da sua vida! - disse Hagrid furioso. - Agora, se vocês terminaram com suas perguntar estúpidas, sigam-me!

Ele começou a andar diretamente para a floresta. Ninguém parecia muito disposto a seguir. Harry olhou para Rony e Mione, que suspiraram mas oscilaram, e três deles estavam logo atrás de Hagrid, conduzindo o resto da classe.

Andaram por volta de dez minutos até chegar em um lugar onde as árvores estavam tão próximas umas das outras que se tornara tão escuro quanto um crepúsculo e não havia tanta neve no chão.

Com um grunhido, Hagrid depositou a "meia vaca" no chão e se voltou para sua classe, muitos deles estavam rastejando de árvore em árvore em direção a ele, observando atentamente e nervosos como se estivessem esperando um ataque a qualquer momento.

- Juntem-se aqui, juntem-se aqui - Hagrid os encorajou. - Agora, eles serão atraídos pelo cheiro da carne mas eu vou dar a eles uma chamada de qualquer jeito, porque iriam gostar de saber que sou eu.

Ele sacudiu sua cabeça peluda para tirar o cabelo do rosto e deu um estranho "guincho chorante", que ecoou pelas sombrias árvores como se fosse o grito de um pássaro monstruoso.

Ninguém riu; muitos deles olhavam um tanto assustados para conseguir fazer algum barulho.

Hagrid deu o "guincho chorante" novamente. Um minuto se passou durante o qual todos continuavam a observar nervosamente acima de seus ombros e em volta das árvores por uma primeira aparição do que quer que fosse que estivesse vindo. Então, Hagrid sacudiu seu cabelo para trás por um e expandiu seu enorme peito, Harry cutucou Rony e apontou para um lugar negro entre dois torcidos galhos de árvores.

Um par de olhos brilhantes e negros estava crescendo através da escuridão e um momento depois um rosto de dragão com o pescoço e o esqueleto de um enorme e negro cavalo alado surgia na escuridão. Isso foi à visão da classe por alguns segundos, zunindo seu longo e negro rabo, curvando sua cabeça e começando a rasgar o corpo da vaca morta com suas presas afiadas.

Uma grande onda de alívio caiu sobre Harry. Estava provado que ele não tinha imaginado aquelas criaturas, elas eram reais: Hagrid sabia sobre elas também. Olhou ansiosamente para Rony, mas Rony ainda estava pasmo entre as árvores e após alguns segundos  sussurrou.

- Por que Hagrid não chama novamente?

Muitos dos alunos estavam com expressões confusas e nervosas, espantadas como Rony e outros, ainda estavam pasmos com o cavalo bem à frente deles. Havia apenas outras duas pessoas que pareciam ser capazes de vê-los: um menino da Sonserina bem atrás de Goyle estava assistindo o cavalo comer com uma expressão de grande desgosto; e Neville estava observando o longo e negro rabo.

- Oh, e aqui vem mais um! - disse Hagrid orgulhosamente, um segundo cavalo negro surgiu de dentro das árvores com suas rígidas asas envolvendo seu corpo e mergulhando sua cabeça para devorar a carne. - Agora... Quem pode vê-los levanta a mão.

Imensamente realizado de sentir que agora estava entendendo o mistério dos cavalos, Harry levantou sua mão. Hagrid sorriu pra ele.

- Sim...Sim, eu sabia que você seria capaz Harry - disse seriamente. - E você também, Neville?

- Com licença - disse Malfoy com uma voz covarde. - Mas o que nós temos que ver?

Para uma resposta, Hagrid apontou para a carcaça da vaca no chão. A classe inteira parou por alguns segundos, então várias pessoas suspiraram e Parvati gritou. Harry entendeu o porquê: partículas de ossos flutuando e sumindo no ar, pareceu muito estranho, de fato.

- Quem está fazendo isso? - Parvati perguntou com uma voz de medo, escondendo-se atrás de uma árvore. - Quem está comendo isso?

- Testrália - disse Hagrid orgulhosamente e Hermione deu um leve "Oh" de compreensão sob o ombro de Harry. - Hogwarts tem um grande bando deles aqui. Agora, quem sabe...?

- Mas eles dão muito, mas muito azar! - interrompeu Parvati, parecendo inquieta. - Eles podem dar todo tipo de azar para quem olha para eles. A professora Trelawney me disse uma vez que...

- Não, não, não - disse Hagrid -, isso é apenas supertição, eles não trazem má sorte, eles são muito inteligentes e úteis! Claro, esses não dão tanto trabalho, principalmente carregam a carruagem da escola quando Dumbledore tem que fazer uma longa jornada e não quer aparatar, e ali está mais um casal, olhem...

Mais dois cavalos saíram silenciosamente de dentro das árvores, um deles passou muito perto de Parvati, que gritou e correu para perto de uma árvore, dizendo.

- Eu acho que senti algo, eu acho que estão perto de mim!

- Não se preocupe, eles não vão te machucar - disse Hagrid pacientemente. - Agora, quem pode me dizer por que algum de vocês pode vê-los e outros não?

Hermione levantou a mão.

- Vá em frente! - disse Hagrid, sorrindo para ela.

- As únicas pessoas que podem ver um Testrália são pessoas que já viram alguém morto.

- Está absolutamente correto - disse Hagrid solenemente -, dez pontos para a Grifinória. Agora, Testrálias...

- Hum, hum.

A professora Umbridge chegara. Estava a alguns passos de Harry, usando seu chapéu e seu casaco verde novamente, sua prancheta estava preparada. Hagrid, que não lembrava que Umbridge iria inspecioná-lo, estava preocupado e o mais próximo possível de um Testrália, evidentemente pensando que o animal havia feito aquele som.

- Hum, hum.

- Oh, olá! - disse Hagrid agora sorrindo, após localizar de onde vinha o barulho.

- Você recebeu o bilhete que lhe mandei esta manhã? - disse Umbridge, com o mesmo tom de voz de sempre. - Dizendo que eu inspecionaria sua aula?

- Ah, sim - disse Hagrid radiante. - Que bom que você nos achou! Bom, como você pode ver, ou, eu não sei, você pode? Nós estamos vendo Testrálias hoje...

- Como? -disse a professora Umbridge quase gritando, aproximando sua mão do ouvido e curvando-se. - O que você disse?

Hagrid pareceu um pouco confuso.

- Hum, Testrálias! - ele gritou. - Grandes cavalos com asas, você sabe!

Ele bateu seus gigantes braços esperançosamente. A professora Umbridge levantou seus olhos castanhos para Hagrid e resmungou enquanto escrevia em sua prancheta:

- Tem... Que... Melhorar... Sua... Linguagem... Grosseira.

- Bom... De qualquer forma... - disse Hagrid, olhando para a classe como se estivesse nervoso. - Hum... O que eu estava dizendo?

- Parece... Ter... Uma... Memória... Muito... Curta -  murmurou Umbridge, alto o bastante para todos ouvirem. Draco Malfoy olhou como se o Natal tivesse vindo um mês antes; Hermione, por outro lado, ficou parva de raiva.

- É sim - disse Hagrid, jogando um olhar de relance para a prancheta de Umbridge, com muita coragem. - Sim, eu ia dizer a vocês como nós formamos um bando. Sim, então, nós começamos com um macho e cinco fêmeas. Esse aqui... - ele pegou o primeiro cavalo que apareceu - se chama Tenbrus, ele é meu favorito, o primeiro que nasceu aqui na Floresta...

- Você está ciente - disse Umbridge bem alto, interrompendo-o - de que o Ministério da Magia classificou Testrálias como perigosos?

O coração de Harry afundou como uma pedra mas Hagrid apenas hesitou.

- Testrálias não são perigosos! Tudo bem que podem te machucar se você perturba-los...

- Mostra... Sinais... De... Prazer... Com... A... Idéia... De... Violência - resmungou Umbridge, rabiscando em sua prancheta novamente.

- Não, vamos lá! - disse Hagrid, parecendo um pouco ansioso agora. - Quer dizer, um cachorro morderia você se você o perturbasse, não é mesmo? Mas Testrálias só têm uma má reputação por causa do negócio da morte, as pessoas costumam pensar que são maus presságios, não é? Apenas não entendem, não é?

Umbridge não deu uma palavra; escreveu sua última nota, olhou para Hagrid e disse, mais uma vez alto e devagar.

- Por favor, continue ensinando usualmente. Eu vou dar uma volta - ela fez uma mímica de o que seria andar, Malfoy e Pansy Parkinson estavam dando umas risadinhas - entre os estudantes - apontou para alguns membros da classe - e vou fazer-lhes algumas perguntas - apontou para a sua boca para indicar o que era falar.

Hagrid a encarou, claramente perdido e sem entender por que ela estava agindo como se eles não falassem a mesma língua. Hermione tinha lágrimas de fúria em seus olhos.

- Sua velha rabugenta, sua bruxa cruel! - ela sussurrou, enquanto Umbridge andava em direção a Pansy Parkinson. - Eu sei o que você esteve fazendo, sua terrível, pervertida, corrupta...

- Hum... de qualquer jeito - disse Hagrid, visivelmente se esforçando para recuperar o sentido de sua aula -, então, Testrálias. Sim. Bem, existem várias coisas boas sobre eles...

- Você acha - disse a Professora Umbridge com uma voz ressoante para Pansy Parkinson - que você é capaz de entender o professor Hagrid quando ele fala?

Assim como Hermione, Pansy tinha lágrimas em seus olhos mas essas eram de felicidade, de fato, sua resposta foi quase incoerente porque estava tentando esconder suas risadas.

- Não... Porque... Bem... Ele parece... Estar grunhindo o tempo todo...

Umbridge escreveu em sua prancheta. O pequeno pedaço descoberto do rosto de Hagrid parecia excitado mas ele tentou agir como se não tivesse ouvido a resposta de Pansy.

- Hum... Sim... Boas coisas sobre os Testrálias. Bom, quando eles estão domados, como esses, vocês nunca estarão perdidos. Um incrível senso de direção, apenas diga-lhes aonde você quer ir...

- Na hipótese de que eles podem lhe entender, claro - disse Malfoy em voz alta e Pansy Parkinson teve um colapso de várias risadinhas. A professora Umbridge sorriu para eles e se voltou para Neville.

- Você pode ver os Testrálias, Longbottom, não é mesmo?

Neville corou.

- Quem você viu morto? - ela perguntou, seu tom de voz indiferente.

- Meu avô - disse Neville.

- E o que você acha deles? - disse, mostrando com suas curtas mãos os cavalos, que agora depositavam uma grande quantidade de carcaça.

- Hum - disse Neville nervosamente, com um olhar para Hagrid. - Bem, eles, hum...Ok...

- Os estudantes... Ficam... Muito... Intimidados... Em... Admitir... Que... Estão... Assustados - resmungou Umbridge, adicionando mais uma nota em sua prancheta.

- Não! - disse Neville parecendo decepcionado. - Não, eu não estou com medo deles!

- Está tudo bem - disse Umbridge, batendo no ombro de Neville como se fosse um sorriso, embora parecesse uma maldade para Harry. - Bom, Hagrid - ela olhou para ele novamente, falando mais uma vez bem alto e devagar. - Eu acho que já tenho o bastante para continuar com isso. Você receberá - ela fez uma mímica como se estivesse pegando algo no ar - os resultados de sua inspeção - apontou para a prancheta - em dez dias - mostrou seus dez dedos curtos e então, com seu sorriso maior e parecendo um sapo mais do que nunca sob seu chapéu verde, partiu, deixando Malfoy e Pansy Parkinson rindo, Hermione tremendo de fúria e Neville parecendo triste e confuso.

- Aquela boba, mentirosa, desonesta velha gárgula! - vociferou Hermione meia hora depois, enquanto voltavam para o castelo através dos canais que fizeram anteriormente na neve.

- Você vê o que ela quer? É aquela coisa sobre sangue ruim novamente. Ela está tentando fazer de Hagrid algum trasgo idiota, só porque ele tem uma mãe giganta... E. Oh, não é só, aquilo não foi tão ruim assim, Quer dizer, tudo bem aqueles Blast-Ended Skerwts novamente, mas Testrálias são legais, de fato, para Hagrid eles são muito bons!

- Umbridge disse que eles são perigosos - disse Rony.

- Bom, é como Hagrid disse, eles podem cuidar de si mesmos - disse Mione impacientemente - e eu suponho que um professor como Grubbly-Plank não nos mostraria antes de uma salamandra, mas, bom, eles são muito interessantes, não são?

A maneira como algumas pessoas podem vê-los ou não! Eu queria poder vê-los.

- Queria? - Harry perguntou a ela.

Ela pareceu de repente chocada.

- Ah, Harry, desculpa, não, claro que eu não queria, isso foi realmente estúpido.

- Tudo bem, não se preocupe.

- Estou surpreso de quantas pessoas puderam vê-los - disse Rony. - Três em uma classe...

- Sim, Weasley, nós estávamos pensando - disse uma voz maliciosa. Desconhecida por eles na amortecida neve, Malfoy, Crabbe e Goyle estavam andando bem atrás deles. - Você calculou que se você visse alguém matar você seria capaz de ver a goles melhor?

Ele, Crabbe e Goyle riram como se tivesse empurrado o passado no seu caminho de volta ao castelo e então quebraram em um coro de "Weasley é nosso rei". As orelhas de Rony ficaram vermelhas.

- Ignore-os, apenas os ignore - disse Hermione, pegando sua varinha e fazendo um feitiço para produzir ar quente novamente, então ela pôde guiá-los em um atalho através da intocada neve entre eles e os jardins verdes.

*

Dezembro chegou trazendo consigo mais neve e uma avalanche de tarefas para o quinto ano. As obrigações de Rony e Mione como monitores estavam aumentando mais com a vinda do Natal. Eles foram chamados para supervisionar a decoração do castelo ("Tente colocar as luzinhas de Natal quando Pirraça pega a ponta delas e tenta te estrangular com ela", disse Rony), para assistir o primeiro - e o segundo - ano passar seu tempo livre do lado de dentro por causa do frio ("E eles são uns danadinhos, nós não éramos assim quando fazíamos o primeiro ano" disse Rony) e para rondar os corredores no lugar de Argo Filch, que pensava que no dia dos espíritos duelos de bruxos poderiam acontecer ("Ele tem estrume em vez de cérebro", disse Rony furioso). Estavam tão ocupados que Hermione parou de tricotar chapéus para os elfos e estava lamentando que estava em decadência para sua última árvore.

- Todos esses pobres elfos, eu não os libertei ainda, tendo que ficar aqui no Natal porque não têm chapéu suficiente!

Harry, que não teve coração para dizê-la que Dobby estava pegando tudo que fazia, voltou para a conversa sobre o teste de História da Magia. Em todo caso, não queria pensar no Natal. Pela primeira vez em sua carreira escolar queria passar o feriado longe de Hogwarts. Entre sua expulsão do quadribol e a preocupação de que querendo ou não Hagrid seria colocado em experiência ele se sentia altamente ressentido naquele lugar no momento. A única coisa que ele realmente queria era o encontro do ED e teriam que parar por causa do feriado, como todo mundo no ED passaria a época com suas famílias. Hermione estava indo esquiar com seus pais, algo que realmente divertiu Rony, que nunca ouviu falar de patins de ski para descer as montanhas. Rony estava indo para A Toca. Harry sentiu muita inveja antes de Rony responder a pergunta que Harry o fez sobre como ele iria para casa no Natal: "Mas você vai também! Eu não te disse? Mamãe me escreveu e pediu pra eu te convidar há umas duas semanas atrás!".

Hermione moveu os olhos mas o espírito de Harry soou: só em pensar num Natal n'A Toca era incrivelmente maravilhoso, já que não podia passar o feriado com Sirius. Imaginou se seria possível persuadir a Sra. Weasley a convidar seu padrinho para a festa. Embora duvidasse que Dumbledore permitiria que Sirius deixasse Grimmauld Place de qualquer jeito, pode até não ajudar, mas pensar que a Sra. Weasley não iria querê-lo; ambos estavam freqüentemente estúpidos. Sirius não se comunicava com Harry desde de seu último aparecimento no fogo e embora soubesse que com Umbridge em vigilância constante seria imprudência tentar uma comunicação não gostava de pensar que Sirius estava sozinho na casa velha de sua mãe, talvez até brigando com Kreacher.

Harry chegou cedo na sala do requerimento para a última reunião do ED antes do feriado e estava muito orgulhoso disso, porque quando as tochas queimaram em chamas pôde ver que Dobby tinha trabalhado decorar o local para o Natal. Ele não podia dizer que o elfo tinha feito isso porque ninguém mais teria pergaminhos dourados caindo do teto, cada uma mostrando uma foto com o rosto de Harry e com a legenda: "TENHA UM FELIZ HARRY NATAL".

Harry estava terminando de recolhê-los quando a porta abriu com um ruído e Luna Lovegood entrou, parecendo mais sonhadora do que nunca.

- Oi - disse ela vagamente, olhando em volta o que havia restado da decoração. - Esses são legais, foi você quem os colocou?

- Não. Foi Dobby, o elfo doméstico.

- Visco - disse Luna sonhando, apontando para um cepo com sementes brancas postas quase sobre a cabeça de Harry. Ele saiu de debaixo delas. - Bem pensado - disse seriamente. - Está sempre infectado de Nargles.

Harry foi salvo da necessidade de perguntar o que era Nargles pela chegada de Angelina, Katie e Alicia. As três estavam ofegantes e pareciam estar com muito frio.

- Bem - disse Angelina estupidamente, tirando seu casaco e o jogando em um canto. - Finalmente nós substituímos você.

- Me substituíram? - disse Harry confusamente.

- Você, Fred e Jorge - disse ela impacientemente. - Nós temos outro apanhador!

- Quem?

- Gina Weasley - disse Katie.

Harry deixou cair o queixo.

- É, eu sei - disse Angelina, tirando sua varinha e flexionando seu braço -, mas ela é muito boa. Nada como você, claro - disse, trocando um olhar de reprovação com ele -, mas como não podemos ter você...

Harry se segurou para não dar a resposta que tanto queria: ela imaginou por um segundo que ele não se arrependia da expulsão do time milhões de vezes mais do que ela se arrependeu?

- E os batedores? - perguntou ele, tentando manter a voz.

- Andrew Kirke - disse Alicia sem entusiasmo - e Jack Sloper. Ambos brilhantes comparados ao restante de idiotas que se tornaram...

A chegada de Rony, Hermione e Neville acabou com essa conversa depressiva e em cinco minutos a sala estava cheia o bastante para evitar que Harry visse o olhar repreensivo de Angelina.

- Ok - disse ele, chamando-os para se ordenar. - Eu pensava que nessa noite nós acabaríamos com as coisas que fomos longe demais, porque é a ultima reunião antes do feriado e não há nada: começaremos algo novo assim que acabarem as três semanas de folga...


- Nós não vamos fazer nada novo? - disse Zacarias Smith, parecendo bastante descontente. - Se eu soubesse disso não teria vindo.

- Nós sentimos muito mesmo que Harry não os tenha avisado - disse Fred, gritando.

Várias pessoas riram. Harry viu Cho rindo e sentiu um incômodo familiar no estômago enquanto perdia um degrau da escada.

- Nós podemos praticar em pares - disse Harry. - Vamos começar com a Azaração de Impedimento, por dez minutos, e então nós podemos pegar as almofadas e tentar Stunning de novo.

Todos se dividiram obedientemente; Harry ficou com Neville como de costume. A sala estava cheia de intermitentes coros de "impedimenta!". Pessoas congeladas por um minuto enquanto seu parceiro fitava a sala, vendo os outros pares trabalhando, para então descongelar e fazê-los voltar à azaração.

Neville melhorou sua memória. Depois de um tempo, quando Harry tinha se descongelado três vezes uma após a outra, viu Neville com Rony e Mione de novo e então pôde andar pelo quarto e assistir os outros. Quando passou por Cho ela sorriu pra ele; resistiu a tentação de andar perto dela.

Após dez minutos em Azaração do Impedimento, deitaram nas almofadas no chão e começaram a praticar Stunning. O espaço era muito confinado para trabalharem todos ao mesmo tempo; metade do grupo observava os outros por um tempo e então se revezavam.

Harry sentiu sua positividade aumentar com orgulho enquanto assistia a todos eles. Na verdade Neville deixou Padma Patil sem sentido melhor do que tinha feito com Dino, ele tinha melhorado sua pontaria cada vez mais do que o de costume e todos os outros também fizeram enormes progressos.

No final de uma hora Harry pediu para pararem.

- Vocês estão ficando muito bons - disse ele, sorrindo. - Quando voltarmos do feriado vamos começar fazendo algo de grande, talvez até o Patrono.

Ouviram-se sussurros de excitação. O quarto começou a ficar com as usuais duplas e trios, a maioria desejou a Harry um Feliz Natal enquanto saía. Sentindo alegria, recolheu as almofadas com Rony e Mione e as guardou. Rony e Mione foram embora antes dele; ficou mais um pouco porque Cho ainda estava lá e queria receber um Feliz Natal dela.

- Não, você pode ir - ele ouviu ela dizer para sua amiga Marietta e seu coração deu um pulo que pareceu subir até a boca.

Fingiu estar arrumando a pilha de almofadas. Estava absolutamente certo de que eles estavam sozinhos agora e esperou ela falar. Em vez disso ele ouviu um suspiro.

Ele se virou e viu Cho no meio do quarto, lágrimas caindo de seu rosto.

- O que...?

Ele não sabia o que fazer. Ela estava simplesmente ali, chorando silenciosamente.

- O que houve? - disse fracamente.

 Ela sacudiu a cabeça e enxugou os olhos em sua manga.

- Me... Desculpe - disse ela intensamente. - Eu acho que... É só que... Aprender todas essas coisas... Me faz... Pensar se... Se ele soubesse disso tudo... Ele ainda estaria vivo.

O coração de Harry saltou para o passado e posou bem no meio de si. Devia saber. Ela queria falar sobre Cedrico.

- Ele sabia disso - disse Harry pesadamente. - Ele era muito bom nisso ou nunca teria chegado no meio do labirinto. Mas se Voldemort realmente quer matar você, você não tem chance.

Ela soluçou com o nome de Voldemort mas olhou para Harry sem hesitar.

- Você sobreviveu quando era um bebê - disse quietamente.

- É, bem - disse Harry monotonamente, indo para a porta -, eu não sei por que, ninguém sabe, então não é nada para se orgulhar.

- Oh, não vá! - disse Cho, parecendo triste novamente. - Realmente sinto muito lhe trazer essas chateações... Eu não queria...

Ela soluçou novamente. Era muito bonita mesmo com os olhos vermelhos e inchados.

Harry se sentiu completamente miserável. Teria ficado tão feliz com um simples Feliz Natal.

- Eu sei que deve ser horrível pra você - disse ela, esfregando os olhos nas mangas de novo. - Eu mencionando Cedrico, quando você o viu morrer... Eu suponho que você queira esquecer isso, não é?

Harry não deu uma palavra; era um consentimento silencioso mas se sentiu cruel em não responder.

- Você é realmente um ótimo professor, sabe - disse Cho, com um sorriso molhado. - Eu nunca fui capaz de deixar alguém sem sentidos antes.

- Obrigado - disse Harry embaraçosamente.

Eles se entreolharam por um grande tempo. Harry sentiu um desejo enorme de correr do quarto e ao mesmo tempo uma incapacidade de mover o pé.

- Visco - disse Cho calmamente, apontando para o telhado acima da cabeça de Harry.

- É - disse Harry. Sua boca parecendo muito seca. - Está provavelmente cheio de Nargles.

- O que é Nargles?

- Não faço idéia - disse Harry. Ela se aproximou. O cérebro dele pareceu estar embriagado. - Você deveria perguntar a Lonny, quer dizer, Luna.

Cho fez um barulho esquisito que poderia ser um soluço ou uma risada. Estava mais perto dele agora. Ele podia até contar as sardas no nariz dela.

- Eu realmente gosto de você, Harry.

Ele não podia pensar. Um formigamento estava se espalhando, paralisando seus braços, pernas e cérebro. Ela estava muito perto. Ele podia ver cada lágrima em seus olhos...

*

Ele voltou a sala comunal meia hora depois para encontrar Hermione e Rony nas melhores cadeiras ao lado do fogo; todos já tinham ido se deitar. Mione estava escrevendo uma carta muito grande, já tinha preenchido metade do rolo de pergaminho, que estava dependurando no canto da mesa. Rony estava deitado sobre a mesa, tentando terminar sua tarefa de Transformação.

- Por que demorou? - ele perguntou enquanto Harry se sentava em uma cadeira próxima a Mione.

Harry não respondeu. Estava em estado de choque. Metade dele queria dizer a Rony e Mione o que havia acontecido mas a outra metade queria levar esse segredo consigo até o túmulo.

- Você está bem Harry? - Mione perguntou, observando-o por cima de sua pena.

Harry encolheu os ombros. Na verdade nem ele mesmo sabia se estava bem ou não.

- O que houve? - disse Rony, levantando seus cotovelos para ter uma visão mais clara de Harry.

- O que aconteceu?

Harry não sabia como dizer, e ainda não tinha certeza se queria. Apenas quando decidiu não dizer nada Mione percebeu o que houve.

- É a Cho? - ela perguntou como se fosse alguém de negócios. - Ela esperou você depois da reunião?

Incrivelmente surpreso Harry ficou rubro. Rony riu em silêncio, parando quando Mione o fitou.

- Então, er, o que ela queria? - perguntou ele num tom casual de sarcasmo.

- Ela... - Harry começou, roucamente, limpou a garganta e tentou novamente. - Ela... Er...

- Você a beijou? - perguntou Mione vivamente.

Rony se sentou tão rápido que sua insígnia voou para o tapete. Desconsiderando isso por completo, encarou Harry avidamente.

- E? - ele disse.

Harry olhou da expressão de Rony - de uma curiosidade e alegria - para o franzido nas sobrancelhas de Mione e sacudiu a cabeça.

- HÁ!

Rony fez um gesto triunfante com seu punho e uma rouca risada fez vários olhares tímidos do segundo ano observarem. Um relutante sorriso se espalhou no rosto de Harry enquanto observava Rony rolando.

Mione deu a Rony um olhar de profundo desgosto e se voltou para sua carta.

- Bom - Rony disse finalmente, olhando para Harry -, como foi?

Harry considerou por um momento.

- Molhado - disse triunfante.

Rony fez um barulho que deve ter sido de desgosto ou regozijo, é difícil dizer.

- Por causa das lágrimas - continuou Harry pesadamente.

- Oh - disse Rony, seu sorriso desaparecendo. - Você beija tão mal assim?

- Não sei - disse Harry, que não considerou isso, e imediatamente se sentiu preocupado. - Talvez sim.

- Claro que não - disse Mione distraidamente, ainda escrevendo em sua carta.

- Como você sabe? - perguntou Rony muito precisamente.

- Porque Cho passou esses últimos dias chorando - disse Mione vagamente. - Ela faz isso durante as refeições, em todos os lugares.

- Você acha que um beijinho a alegraria? - disse Rony, sorrindo.

- Rony - disse Mione em uma voz digna, mergulhando sua pena no tinteiro -, você é a protuberância mais insensível que eu tive a infelicidade de conhecer.

- Como assim? - disse Rony indignado. - Que tipo de pessoa chora ao receber um beijo?

- Sim - disse Harry, parecendo desesperado, - que tipo?

Hermione olhou para eles com uma expressão quase que de piedade.

- Vocês não entendem o que Cho estava sentindo no momento?

- Não - disseram Harry e Rony em uníssono.

Mione assinou e guardou sua pena.

- Bem, obviamente ela estava muito triste por causa da morte de Cedrico. Então eu acho que ela ficou confusa porque gostava de Cedrico e agora gosta de Harry e não pode decidir de quem gosta mais. Então está se sentindo culpada, pensando que é um insulto à memória de Cedrico beijar Harry e deve estar pensando sobre o que vão dizer dela estar saindo com ele. E provavelmente não consegue trabalhar seus sentimentos com Harry, de qualquer jeito, porque ele era o único que estava com Cedrico quando morreu, então isso tudo é muito dolorido. Ah, e está com medo de ser expulsa do time de quadribol da Corvinal porque ela está voando muito mal.

Um atordoado silêncio trouxe o fim desta conversa, então Rony disse.

- Uma pessoa não pode sentir tudo isso de uma só vez, ela explodiria.

- Só porque você consegue ter controle emocional não quer dizer que nós também - disse Mione sordidamente, pegando sua pena novamente.

- Ela foi à única que começou isso - disse Harry. - Eu não teria... Ela veio até mim... E outra coisa, ela estava chorando em mim... Eu não sabia o que fazer...

- Não se culpe, cara - disse Rony, parecendo alarmante com o que disse.

- Você só queria ser legal com ela - disse Mione, parecendo ansiosa. - Você foi, não foi?

- Bem - disse Harry, com um calor escorrendo seu rosto -, eu meio que... Alisei as costas dela.

Mione olhou como se estivesse lhe tivesse restringindo mexer os olhos com extrema dificuldade.

- Bem, eu suponho que poderia ter sido pior - disse ela. - Você vai vê-la novamente?

- Eu vou ter que ver, não vou? - disse Harry. - Nós temos as reuniões do ED, não temos?

- Você sabe o que eu quis dizer - disse Mione impacientemente.

Harry não disse mais nada. As palavras de Mione abriram uma visão de algumas possibilidades. Ele tentou imaginar indo para algum lugar com Cho - Hogsmeade, talvez - e estar sozinho com ela por algumas horas. Claro que ela estava esperando que ele fosse chamá-la para sair depois do que aconteceu... Só de pensar seu estômago apertou dolorosamente.

- Bom - disse Mione friamente, enterrado em sua carta mais uma vez -, você terá várias oportunidades de pedir pra sair com ela.

- E se ele não quiser sair com ela? - disse Rony, que estava observando Harry com uma expressão perspicaz em seu rosto.

- Não seja bobo - disse Mione vagamente -, Harry gosta dela há anos, não é mesmo Harry?

Ele não respondeu.

- É, ele gosta da Cho há anos mas quando imagina uma cena de envolvimento entre os dois pensa em uma Cho que curtia e não em uma Cho soluçando incontrolavelmente em seu ombro.

- Pra quem você está escrevendo essa novela, a propósito? - Rony perguntou Mione, estava tentando ler um pedaço de pergaminho, agora arrastando no chão. Mione puxou o pergaminho para si.

- Vítor.

- Krum?

- Quantos Vítors nós conhecemos?

Rony não disse mais nada, olhou com desgosto. Eles sentaram em silêncio por outros vinte minutos. Rony agora estava terminando sua tarefa de transfiguração com muitas resfolegas de impaciência e resmungos, Mione escrevendo calmamente no final do pergaminho, enrolando cuidadosamente e selando-o, e Harry se aquecendo no fogo, desejando mais que qualquer coisa que a cabeça de Sirius aparecesse lá e lhe desse uns bons conselhos sobre garotas. Mas o fogo estava estalando menos e menos, até a quente brasa virar cinzas e, olhando em volta, Harry viu que eram, mais uma vez, os últimos no salão comunal.

- Bem, boa noite - disse Mione, bocejando extensamente enquanto subia a escadaria das garotas.

- O que ela vê em Krum? - Rony comentou enquanto Harry escalava a escada dos meninos.

- Bem - disse Harry, considerando a questão -, eu suponho que ele é mais velho, não é... E ele é um jogador de quadribol internacional...

- Sim, mas tirando isso - disse Rony, parecendo irritado. - Quer dizer, ele é um idiota, não é?

- Muito idiota, é - disse Harry, cujos pensamentos ainda estavam em Cho.

Tiraram suas vestes e colocaram seus pijamas em silêncio; Dino, Simas e Neville já haviam adormecido. Harry colocou seus óculos na sua mesa de cabeceira e caiu em sua cama, fitou o pedaço do estrelado céu visível através da janela próxima a cama de Neville. Se soubesse, há essa hora na noite anterior, isso em vinte e quatro horas ele teria beijado Cho Chang...

- Boa noite - grunhiu Rony, de algum lugar à sua direita.

- Boa noite.

Talvez de uma próxima vez... Se houvesse uma próxima vez... Ela estaria um pouco mais feliz. Ele teria de chamá-la para sair; ela provavelmente estava esperando isso e agora estava realmente chateada com ele... Ou estava chorando na cama, seria por Cedrico? Não sabia o que pensar. A explicação de Mione fez isso tudo parecer mais complicado de se entender.

"Isso era o que eles deviam nos ensinar aqui", pensou ele, virando-se para seu lado, "como funciona o cérebro das garotas... Seria mais útil que Adivinhação...".

Neville respirou fundo em seu sono. Uma coruja piou em algum lugar lá fora na noite.

Harry sonhou que estava de volta à sala de ED. Cho o estava acusando de a estar iludindo com falsas pretensões; disse que ele prometeu a ela uma centena de figurinhas dos chocolates de Sapos de Chocolate se ela mostrasse seus sentimentos. Harry protestou... Cho gritou "Cedrico me deu muitos desses, olhe!" e ela tirou suas figurinhas do bolso de sua veste e as jogou no ar. Então ela se voltou para Mione, que disse "Você prometeu a ela, você sabe Harry... Eu acho melhor você dar algo a ela em vez de... O que acha de sua Firebolt?" e Harry estava protestando que não podia dar a sua Firebolt porque Umbridge estava com a vassoura e, de qualquer forma, tudo aquilo era ridículo, tinha ido à sala do ED apenas para colocar algumas bugigangas com a cabeça de Dobby...



O sonho mudou...

Seu corpo estava mais suave, poderoso e flexível. Estava planando entre as brilhantes barras de metal, cruzando o escuro frio... Estava se achatando contra o chão, movendo-se ao longo de seu corpo... Estava escuro mas podia ver os objetos em volta brilhando estranhamente, cores vibrantes... Estava movendo sua cabeça...A primeira vista o corredor estava vazio... Mas não... Um homem estava sentado no chão logo à frente, seu queixo caído em seu peito, sua sombra brilhando no escuro...

Harry colocou sua língua pra fora... Sentiu o aroma do homem no ar... Estava vivo porém inerte... Sentado em frente a uma porta no final do corredor...

Harry demorou a pegar no homem... Mas precisava dominar a fundo o impulso... Tinha coisas mais importantes a fazer...

Mas o homem estava agitado... Uma capa prateada caiu de suas pernas enquanto pulava seus pés; Harry viu sua vibrante e embaçada sombra sob ele, viu uma varinha saindo de um cinto... Ele não tinha escolha... Ele se levantou do chão e golpeou uma, duas, três vezes, mergulhando suas presas profundamente no corpo do homem, sentindo suas costelas se estilhaçando sob sua mandíbula, sentindo o quente jato se sangue...

O homem estava gritando de dor... Então ele se calou... Afundou para trás contra a parede... O sangue espalhado do chão...

Sua testa doeu terrivelmente... Estava ardendo, quase queimando...

- Harry! HARRY!

Ele abriu os olhos. Cada parte de seu corpo estava coberto com um suor frio; seus lençóis estavam misturados em volta de si como uma camisa de força; sentiu como se uma brasa estivesse sendo aplicado em sua testa.

- Harry!

Rony estava em volta dele parecendo extremamente assustado. Havia mais figuras nos pés da cama de Harry. Apertou sua cabeça com as mãos; a dor o estava cegando... Rolou para o lado e vomitou no colchão.

- Ele está realmente doente - disse uma voz assustada. - Nós devíamos chamar alguém?

- Harry, Harry!

Ele tinha que contar a Rony, era muito importante dizer a ele... Tomando uma pouco de ar, Harry se levantou da cama, disposto a não vomitar novamente, a dor o cegando.

- Seu pai - ele ofegou, seu peito vibrando. - Seu pai... Foi atacado...

- O quê? - disse Rony incompreensivelmente.

- Seu pai! Ele foi atacado, é sério, havia sangue em todos os lugares...

- Vou buscar ajuda - disse a mesma voz assustada e Harry ouviu passos saindo pelo dormitório.

- Harry, cara - disse Rony incertamente. - Você estava apenas sonhando...

- Não! - disse Harry furiosamente; era crucial que Rony entendesse. - Não foi um sonho... Não um sonho qualquer... Eu estava lá, eu vi aquilo, eu fiz aquilo...

Ele pôde ouvir Simas e Dino murmurando mas não se importou. A dor em sua testa estava diminuindo levemente embora ainda estivesse suando e tendo calafrios. Teve ânsia de vômito novamente e Rony pulou para fora do caminho.

- Harry, você não está bem - disse ele, tremendo. - Neville foi buscar ajuda.

- Eu estou bem! - Harry sufocou, limpando sua boca em seu pijama e tremendo incontrolavelmente. - Não há nada de mal comigo, é com seu pai que você deve se preocupar, nós precisamos descobrir onde ele está, ele está sangrando muito... Eu era... Aquilo era uma grande cobra.

Ele tentou sair da cama mas Rony o empurrou de volta a ela; Dino e Simas ainda estavam cochichando em algum lugar ali perto.

Se um minuto ou dez se passaram Harry não sabia; simplesmente estava lá tremendo, sentindo uma dor sumindo muito devagar de sua cicatriz... E então ouviu passos apressados vindo das escadas e ele ouviu a voz de Neville novamente.

- Aqui professora.

A professora McGonagall entrou correndo no dormitório com sua camisola xadrez e seus óculos inclinados sob seu nariz ossudo.

- O que é isso, Potter? Onde dói?

Ele nunca ficou tão feliz em vê-la; era um membro da Ordem da Fênix que precisava agora em vez de alguém perturbando e prescrevendo poções inúteis.

- É o pai do Rony - disse ele, sentando novamente. - Ele foi atacado por uma cobra e é serio, eu vi tudo acontecer.

- Como assim você viu acontecer? - disse a professora McGonagall, contraindo seus olhos.

- Eu não sei... Eu estava adormecendo e então eu estava lá...

- Quer dizer que você sonhou com isso?

- Não! - disse Harry aborrecido; nenhum deles entendia? - Eu estava sonhando com algo completamente diferente, algo estúpido... E então fui interrompido por isso. Era real, eu não imaginei. O Sr. Weasley estava desacordado no chão e tinha sido atacado por uma cobra gigantesca, tinha muito sangue, estava desmaiado, alguém tem que descobrir onde ele está...

Professora McGonagall o estava encarando através de seus óculos enquanto estava aterrorizada com o que via.

- Eu não estou mentindo e eu não sou mau! - Harry disse a ela, quase gritando. - Eu lhe digo, vi isso acontecer!

- Eu acredito em você, Potter - disse a Professora McGonagall curtamente. - Coloque seu uniforme, nós vamos ver o diretor.


-- CAPÍTULO 22 --
HOSPITAL ST. MUNGUS  PARA
DOENÇAS E ACIDENTES  MÁGICOS


Harry estava tão aliviado porque a professora McGonagall estava falando  tão seriamente que ele não hesitou, pulou da cama de uma vez, vestiu seu uniforme e empurrou seus óculos de volta para seu nariz.

- Weasley, você deve vir também - disse ela.

Seguiram a professora McGonagall em frente às silenciosas figuras de Neville, Dino e Simas, saíram do dormitório, desceram as escadas espirais até a sala comunal, passaram pelo buraco do retrato e seguiram pelo corredor da Mulher Gorda, que estava iluminado pelo luar. Harry estava sentindo que o pânico dentro de si transbordaria a qualquer momento; queria correr pra chamar Dumbledore; o Sr. Weasley estava sangrando enquanto andavam tão tranqüilamente, e se as presas (Harry tentou arduamente não pensar "minhas presas") fossem venenosas? Eles passaram por Madame Nor-r-ra, que mirou seus olhos luminosos em sua direção e miou fracamente, mas a professora McGonagall a espantou.

Madame Nor-r-ra se retirou dali e foi para a escuridão, em alguns minutos chegaram à gárgula de pedra que guardava o escritório de Dumbledore.

- Abelha Mágica Assobiando - disse ela.

A gárgula emergiu com vida e se moveu para o lado; a parede atrás dela se dividiu em duas para revelar uma escadaria de pedra que se movia continuamente para cima, como uma escada rolante em espiral. Os três se aproximaram da escadaria, a parede se fechou atrás deles com uma batida ensurdecedora eles foram subindo em círculos fechados até chegarem ao topo, onde havia uma porta de carvalho polido com o batedor de metal em forma de um grifo.

Aparentemente que já havia passado da meia-noite e havia vozes vindo de dentro da sala, um murmúrio positivo deles. Parecia que Dumbledore estava entretendo pelo menos umas doze pessoas.

A professora McGonagall bateu três vezes com o batedor de grifo e as vozes cessaram abruptamente, como se alguém os tivesse desligado. A porta se abriu de sua própria harmonia e a professora guiou Harry e Rony para dentro.

A sala estava um pouco escura; os estranhos instrumentos prateados que estavam sobre mesas estavam silenciosos, melhor que emitindo baforadas de fumaça como faziam usualmente; os retratos de antigos diretores e diretoras cobrindo as paredes estavam cochilando em suas molduras. Atrás da porta, um magnífico pássaro vermelho e dourado com o tamanho de um cisne estava adormecido em seu poleiro com a cabeça embaixo de sua asa.

- Oh, é você, professora McGonagall... E... Ah.

Dumbledore estava sentado em uma cadeira com um grande encosto atrás de sua mesa; ele se inclinou para frente, no conjunto de luz de velas que iluminavam papéis vergês antes dele. Estava vestindo um magnífico vestido longo, bordado púrpura e dourado sobre uma camisola coberta de neve mas parecia bem acordado, seus penetrantes olhos azuis atentos à professora McGonagall.

- Professor Dumbledore, Potter teve um... Bem, um pesadelo - disse ela. - Ele disse...

- Não era um pesadelo - disse Harry rapidamente.

A professora McGonagall olhou ao redor de Harry com uma expressão levemente carrancuda.

- Muito bem, então, Potter, conte ao diretor sobre isso.

- Eu... Bem, eu estava dormindo - disse Harry e, até pelo seu desespero para que Dumbledore entendesse, sentiu-se levemente irritado porque o diretor não estava olhando para ele mas examinando seus dedos entrelaçados. - Mas isso não era um sonho comum... Isso foi real... Eu vi isso acontecer... - ele respirou profundamente. - O pai de Rony, Sr. Weasley, foi atacado por uma cobra gigante.

Parecia que as palavras ecoavam no ar depois que as disse, soando levemente ridículas, até engraçadas. Houve então uma pausa em que Dumbledore inclinou sua cadeira de volta e olhou fixamente para o teto. Rony olhou de Harry a Dumbledore,  com o rosto pálido e chocado.

- Como você viu isso? - Dumbledore perguntou tranqüilamente, ainda não olhando para Harry.

- Bem... Eu não sei - disse Harry um pouco furioso. - O que isso importa? Dentro da minha cabeça, eu suponho.

- Você me interpretou mal - disse Dumbledore, ainda com um tom calmo -, quero dizer... Você pode se lembrar... Er... Onde você estava quando viu o ataque acontecer? Por acaso você estava ao lado da vítima ou olhando tudo de cima?

Essa era uma pergunta curiosa, que fez Harry ficar boquiaberto; era quase como se ele soubesse...

- Eu era a cobra. Eu assisti a tudo do ponto  de vista da cobra.

Ninguém falou nada por um momento, então Dumbledore, agora olhando para Rony, que ainda estava pálido, perguntou numa nova e mais ríspida voz.

- Arthur está seriamente ferido?

- Sim - disse Harry enfático, por que a compreensão foi tão lenta, não imaginam o quanto uma pessoa sangra quando longas presas o perfuram? E por que Dumbledore não podia olhar cordialmente para ele?

Mas Dumbledore se levantou tão rapidamente que fez Harry pular e se dirigiu a um dos velhos retratos pendurados próximos ao teto.

- Everard? - ele disse rispidamente. - E você também, Dilys!

Um bruxo pálido com uma curta e escura franja e uma bruxa mais velha com longos e prateados cachos na moldura ao lado, ambos parecendo ter estado no mais profundo dos sonos, abriram seus olhos imediatamente.

- Vocês estavam ouvindo?

O bruxo acenou com a cabeça, a bruxa disse.

- Naturalmente.

- O homem tem cabelos vermelhos e óculos - disse Dumbledore. - Everard, você precisará aumentar o alarme, tenha certeza de que ele será encontrado pelas pessoas certas.

Ambos acenaram com a cabeça e se moveram para fora de suas molduras mas em vez de emergirem em figuras habituais (como usualmente acontece em Hogwarts) nenhum dos dois reapareceu. Uma das molduras agora não continha nada além de um cenário com cortinas escuras, e na outra uma bonita poltrona de couro. Harry percebeu que muitos dos diretores e diretoras na parede aparentavam estar roncando e babando mais convincentemente, mantinham-se espiando ocultamente a ele por sobre suas pálpebras, de repente percebeu quem esteve falando quando  bateram à porta.

- Everard e Dilys foram dois dos mais famosos diretores de Hogwarts - disse Dumbledore, agora andando ao redor de Harry, Rony e a professora McGonagall para chegar ao magnífico pássaro em seu poleiro ao lado da porta. - A fama deles é tanta que ambos possuem retratos pendurados em outras instituições bruxas. Como eles são livres para se moverem entre seus próprios retratos podem nos contar o que está acontecendo em qualquer um dos locais...

- Mas o Sr. Weasley podia estar em qualquer lugar! - disse Harry.

- Por favor sentem-se, os três - disse Dumbledore e, como previu Harry não havia dito nada. - Everard e Dilys talvez não estejam de volta por muito tempo.

A Professora McGonagall, se pudesse arranjar duas cadeiras extras.

A professora pegou a varinha do bolso de seu vestido e a brandiu; três cadeiras apareceram do ar rarefeito, tinha encostos estreitos e eram de madeira, não muito  parecidas com a confortável poltrona que Dumbledore conjurou na audiência de Harry. Ele se sentou, observando Dumbledore sobre seus ombros. O diretor estava agora dando tapinhas na emplumada e dourada cabeça de Fawkes com um dedo.

A fênix acordou imediatamente. Fawkes esticou sua bonita cabeça e observou Dumbledore através de olhos brilhantes e escuros.

- Nós precisaremos - disse Dumbledore muito calmamente ao pássaro - de um aviso.

Houve um clarão de fogo e então a fênix já tinha ido. Dumbledore então se abaixou sobre os frágeis instrumentos prateados cuja função ainda era desconhecida para Harry, carregou-os pela escrivaninha, sentou-se, encarando-os novamente, e deu um leve toque com a ponta de sua varinha.

O instrumento tiniu para a vida de uma vez só, com tinidos e barulhos rítmicos. Pequenas baforadas de uma fumaça verdes e pálidas foram emitidas de um minúsculo tubo prateado no topo. Dumbledore observou a fumaça de perto, sua  testa se enrugou. Alguns segundos depois as pequenas baforadas se tornaram correntes fixas que ficaram espessas e serpentearam no ar... Uma cabeça de serpente surgiu do fim, abrindo totalmente sua boca. Harry pensou consigo mesmo se o instrumento estava confirmando a sua história: olhou ansiosamente para Dumbledore, esperando um sinal de que estava certo, mas ele não olhou de volta.

- Naturalmente, naturalmente - Dumbledore murmurou aparentemente para si mesmo, ainda observando a corrente de fumaça sem o menor sinal de surpresa. - Mas em essência dividido?

Harry achou essa pergunta sem pé nem cabeça. A serpente de fumaça, entretanto, dividiu-se instantaneamente em duas cobras, ambas serpenteando e flutuando na escuridão. Com um olhar severo de satisfação, Dumbledore deu ao instrumento outro leve toque com sua varinha: o barulho diminuiu e cessou e a serpente de fumaça se dispersou, tornou-se uma neblina sem forma definida e desapareceu.

Dumbledore recolocou o instrumento sobre sua fina e pequena mesa. Harry viu alguns dos velhos diretores seguí-lo com seus olhos e então, percebendo que Harry os estava observando, apressadamente fingiram estar dormindo novamente. Queria pergunta para que o estranho instrumento prateado servia mas antes que pudesse fazer isso houve um grito no topo da parede do lado direito deles; o bruxo  chamado Everard havia reaparecido em seu retrato, um pouco ofegante.

- Dumbledore!

- Tem notícias? - disse Dumbledore de uma vez.

- Eu gritei até alguém vir correndo até a mim - disse o bruxo, que estava secando sua testa com a cortina atrás dele -, disse que eu ouviria alguma coisa descendo as  escadas, eles não estavam certos se acreditariam em mim mas veja, você sabe que não existem retratos abaixo desse para observar. De qualquer forma, eles o carregaram alguns minutos depois. Ele não parece bem, está coberto de sangue, eu corri até o retrato de Elfrida Cragg para ter uma boa visão conforme eles saíam.

- Bom - disse Dumbledore conforme Rony fez um movimento convulsivo. - Eu aceito isso, Dilys deve tê-lo visto chegando, então...

Momentos depois os prateados cachos que haviam reaparecido no retrato, também; ela caiu, tossindo, em sua poltrona e disse:

- Sim, eles o levaram para St. Mungus, Dumbledore... Eles o carregaram passando pelo meu retrato... Ele parece estar mal...

- Obrigado - disse Dumbledore. Ele olhou de volta para a professora McGonagall. - Minerva, eu preciso que você vá e acorde os outros filhos de Weasley.

- Claro...

A professora McGonagall se levantou e se moveu imediatamente para a porta. Harry lançou de relance um olhar para Rony, que aparentava estar apavorado.

- E Dumbledore, o que fazer em relação a Molly? - disse a professora McGonagall, parando à porta.

- Esse será um trabalho para Fawkes quando terminar de verificar qualquer um que se aproxime - disse Dumbledore -, mas ela talvez já saiba... Ela tem um relógio excelente...

Harry sabia que Dumbledore estava se referindo ao relógio que conta não as horas mas os paradeiros e condições de vários membros da família Weasley, e com uma pontada pensou que o ponteiro do Sr. Weasley deveria estar apontando risco de vida. Mas era muito tarde. A Sra. Weasley estava provavelmente dormindo e não olhando o relógio. Harry se sentiu gélido ao se lembrar do Bicho-papão da Sra.  Weasley se transformando no corpo sem vida do Sr. Weasley, seus óculos retorcidos, sangue escorrendo pela sua face... Mas Sr. Weasley não estava morrendo... Ele não poderia...

Dumbledore estava agora inspecionando um armário ao lado de Harry e Rony, emergiu dali carregando um caldeirão velho e enegrecido, o qual colocou cuidadosamente sobre sua escrivaninha. Levantou sua varinha e murmurou.

- Portus!

Por um momento o caldeirão tremeu, acendeu então em estranhas brasas azuis; em seguida tremeu novamente e retornou a ser solidamente negro como sempre. Dumbledore se dirigiu para outro retrato, dessa vez para um bruxo aparentemente inteligente, com uma barba pontuda que havia sido pintada, vestindo as cores da Sonserina, verde e prata, estava dormindo tão profundamente que não pôde ouvir a voz de Dumbledore quando este tentou despertá-lo.

- Phineas. Phineas.

Os retratos forrando a sala já não estavam mais fingindo que dormiam, estavam mudando de molduras, procurando a que desse uma melhor visão sobre o que  estava acontecendo. Quando o aparentemente inteligente bruxo continuava a fingir estar dormindo alguns deles gritaram seu nome também.

- Phineas! Phineas! PHINEAS!

Ele não poderia fingir por muito mais tempo; então deu uma sacudida teatral e abriu seus olhos completamente.

- Alguém me chamou?

- Eu preciso que você vá visitar seu outro retrato novamente, Phineas - disse Dumbledore. - Eu tenho outra mensagem.

- Visitar meu outro retrato? - disse Phineas com uma voz aguda, dando um longo e falso bocejo (seus olhos passeando ao redor da sala e se focando em Harry). - Oh, não Dumbledore, estou muito cansado esta noite.

Algo na voz de Phineas era familiar para Harry, onde ele a teria ouvido antes? Mas antes que pudesse pensar os retratos que rodeavam a sala desabaram com uma onda de protestos.

- Insubordinação, senhor! - rugiu um bruxo corpulento e de nariz vermelho, brandindo seus punhos. - Negligência com a obrigação!

- Nós somos honrados determinadamente a prestar serviços ao presente diretor de Hogwarts! - clamou um aparentemente frágil e velho bruxo que Harry o reconheceu como sendo o predecessor de Dumbledore, Armando Dippet. - Tenho vergonha de você, Phineas!

- Eu devo persuadi-lo, Dumbledore? - disse um bruxo de olhar penetrante, levantando uma não muito comum varinha, grossa, que não era muito diferente de uma vara de pescar.

- Oh, muito bem - disse o bruxo chamado Phineas, olhando a varinha com suave apreensão -, acho que ele bem que poderia ter destruído minha figura agora, ele o fez com grande parte da família.

- Sirius sabe que não deve destruir seu retrato - disse Dumbledore e Harry se lembrou imediatamente onde havia ouvido a voz de Phineas antes: emitida da aparentemente vazia moldura em seu quarto em Grimmauld Place. - Você dará a ele a mensagem de que Arthur Weasley foi gravemente ferido e que sua mulher, filhos e Harry Potter estarão chegando à sua casa dentro em breve. Você entendeu?

- Arthur Weasley, ferido, mulher, filhos e Harry Potter chegando pra ficar - repetiu Phineas numa voz entediada. - Sim, sim... Muito bem.

Ele saiu rapidamente pela moldura do retrato e desapareceu da vista no mesmo instante em que a porta se abriu novamente. Fred, Jorge e Gina foram acompanhados para dentro pela professora McGonagall, todos os três aparentavam estar desordenados e chocados, ainda com seus pijamas.

- Harry, o que está acontecendo? - perguntou Gina que olhou assustada. - A professora McGonagall disse que você viu meu pai ser ferido...

- Seu pai foi ferido enquanto ia do seu trabalho para a Ordem de Fênix - disse Dumbledore antes que Harry pudesse dizer alguma coisa. - Ele foi levado ao hospital St. Mungus Para Doenças e Acidentes Mágicos. Eu os estou enviando  de volta para a casa de Sirius, onde é muito mais conveniente para ir ao hospital do que A Toca. Você vai encontrar a sua mãe lá.

- Como nós vamos? - perguntou Fred agitado. - Pó de Flu?

- Não, pó de Flu não é seguro no momento, a rede está sendo vigiada, vocês irão irá usando uma chave de portal. Ele indicou o velho caldeirão descansado inocentemente sobre a sua escrivaninha. - Estamos apenas esperando Phineas Nigellus nos reportar de volta... Eu quero ter certeza de que o caminho está limpo antes de mandar vocês...

Houve um clarão de chama bem no meio do escritório, deixando para trás uma singular pluma dourada, que flutuou gentilmente até o chão.

- Foi um aviso de Fawkes - disse Dumbledore, apanhando a pluma conforme ela caiu. - A professora Umbridge deve saber que vocês estão fora de suas camas... Minerva, vá e a deixe fora disso, conte a ela qualquer estória...

E a professora McGonagall se foi num instante.

- Ele disse que ficará encantado - disse uma voz entediada vinda detrás de Dumbledore; o bruxo chamado Phineas tinha reaparecido em frente a uma bandeira da Sonserina. - Meu tataraneto sempre teve um gosto estranho para convidados.

- Venham então - Dumbledore disse para Harry e os Weasley. - E rápido, antes que alguém mais apareça...

Harry e os outros se agruparam em volta da escrivaninha de Dumbledore.

- Vocês já usaram uma chave de portal antes? - perguntou Dumbledore e acenaram com a cabeça, cada um deles alcançando uma parte do caldeirão enegrecido. - Bom, agora quando eu contar até três, então... Um... Dois...

Durou uma fração de segundo: na infinitésima pausa antes de Dumbledore dizer "três", Harry olhou para cima - estavam muito próximos, juntos - e o olhar azul e limpo de Dumbledore se moveu da chave do portal para o rosto de Harry.

Pouco tempo antes a cicatriz de Harry estava queimando violentamente e agora queimava de novo - e espontaneamente, indesejadamente mas horripilantemente forte, cresceu dentro de Harry um ódio tão grande que sentiu naquele instante que não queria nada mais que golpear, morder, perfurar com suas presas o homem atrás dele...

- ...Três.

Harry sentiu uma poderosa contração atrás de seu umbigo, o chão desapareceu sob seus pés, sua mão estava grudada ao caldeirão; estava se debatendo conforme todos aceleravam para frente num redemoinho de cores e uma agitação de ventos, o caldeirão os puxando para frente... Até seus pés atingirem o chão tão pesadamente que seus joelhos dobraram, o caldeirão caiu fazendo um grande  barulho e uma voz bem próxima a eles disse:

- Aqui novamente, pirralhos traidores do sangue. É verdade que o pai deles está morrendo?

- FORA! - rugiu uma segunda voz.

Harry arrastou seus pés e olhou em volta; tinham chegado no escuro porão da cozinha, no número vinte, Grimmauld Place. A única fonte de luz era o fogo e uma  vela gotejando, iluminava os vestígios de um solitário jantar. Kreacher estava desaparecendo através da porta para o hall, olhando de volta para eles malevolente  conforme puxava sua tanga; Sirius estava se apressando em direção a eles, parecendo ansioso. Estava com a barba por fazer e ainda com as roupas que vestiu de manhã; tinha até uma leve semelhança com o bafo de bebida envelhecida  de Mundungo.

- O que está acontecendo? - ele disse, esticando a mão para ajudar Gina a subir. - Phineas Angellus disse que Arthur se feriu gravemente...

- Pergunte a Harry - disse Fred.

- É, eu quero ouvir isso por ele mesmo - disse Jorge.

Os gêmeos e Gina olharam fixamente para ele. As pegadas de Kreacher tinham parado nas escadas, do lado de fora.

- Isso foi - Harry começou. - Isso foi até pior do que como McGonagall e Dumbledore contaram. Eu tive um... Um tipo de... Visão.

E ele contou tudo o que tinha visto, alterando um pouco a história para que parecesse que estava vendo tudo ao lado da cena conforme a cobra atacava, preferível do que pelos próprios olhos dela. Rony, que ainda estava muito branco, deu um rápido olhar para Harry mas não disse nada. Quando Harry tinha terminado, Fred, Jorge e Gina ainda continuaram olhando fixamente para ele por um instante. Não sabia se estava imaginando isso ou não mas desconfiou que havia um tom de acusação em seus olhares. Bem, se estavam indo culpá-lo por simplesmente ter visto o ataque Harry estava feliz por não ter contado que estava dentro da cobra naquele momento.

- Minha mãe está aqui? - perguntou Fred, virando para Sirius.

- Ela provavelmente nem sabe o que aconteceu ainda. O mais importante a se fazer era trazê-los antes que Umbridge pudesse interferir. Eu suponho que Dumbledore está deixando Molly a par de tudo nesse momento.

- Nós temos de ir ao hospital St. Mungus -  disse Gina em tom de urgência. Ela olhou em volta para seus irmãos; eles ainda estavam, é claro, de pijamas. - Sirius, você pode nos emprestar capas ou qualquer coisa assim?

- Esperem, vocês não podem ir até o hospital com tanta pressa!

- Claro que podemos ir ao St. Mungus se quisermos - disse Fred obstinadamente. - Ele é nosso pai!

- E como vão explicar como ficaram sabendo que Arthur foi atacado antes mesmo deixarem a esposa dele saber disso?

- O que isso importa? - disse Jorge com raiva.

- Importa porque nós não queremos atrair atenção pro fato de Harry estar tendo visões sobre coisas que acontecem centenas de quilômetros além! - disse Sirius irritado. - Você tem idéia do que o Ministro faria com essa informação?

Fred e Jorge olharam com cara de quem não estava ligando a mínima para o que o Ministro faria. Rony ainda estava pálido e silencioso.

- Uma outra pessoa poderia ter nos contado - disse Gina -, nós poderíamos ter ouvido de alguém que não fosse o Harry.

- De quem, por exemplo? - disse Sirius impacientemente. - Escute, seu pai foi ferido no caminho para a Ordem e as circunstâncias já são duvidosas demais sem os filhos dele sabendo disso segundos após isso acontecer, você poderia prejudicar seriamente a Ordem...

- Nós não ligamos para essa Ordem estúpida! - disse Fred.

- É sobre o nosso pai morrendo de que estamos falando! - gritou Jorge.

- Seu pai sabia no que estava se metendo e ele não vai agradecê-los por bagunçar as coisas para a Ordem! - disse Sirius igualmente furioso. - Isso é como as coisas são, isso é por que vocês não estão na Ordem, vocês não entendem, tem certas coisas que vale a pena morrer por elas.

- Fácil pra você dizer, preso aqui! - berrou Fred. - Eu não vejo você arriscar o seu pescoço!

O pouco de cor que remanescia no rosto de Sirius foi drenado com isso. Ele olhou por um momento até parecendo que iria bater em Fred mas quando falou foi numa

voz de determinada calma.

- Eu sei que é difícil mas temos que agir como se não soubéssemos de nada ainda. Temos que ficar parados pelo menos até ouvirmos de sua mãe, tudo bem?

Fred e Jorge ainda olharam rebeldemente. Gina, entretanto, deu alguns passos até a cadeira mais próxima e caiu nela. Harry olhou para Rony, que fez um movimento engraçado que estava entre um aceno e um encolher de ombros e eles se sentaram também. Os gêmeos olharam penetrantemente para Sirius por outro minuto e então pegaram assentos ao lado de Gina.

- Tudo bem - disse Sirius encorajando -, venham, vamos todos... Vamos tomar algo enquanto esperamos. Accio Cerveja Amanteigada!

Ele levantou sua varinha, meia dúzia de copos vieram voando da copa para a frente deles, derrapando pela mesa, espalhando as sobras do jantar de Sirius, e pararam, limpos, em frente aos seis. Todos beberam e por um momento os únicos sons que se ouviam eram o estalar do fogo da cozinha e o macio golpe de seus copos  na mesa.

Harry só estava bebendo para ter algo a fazer com as mãos. Seu estômago estava cheio de uma horrível, quente e borbulhante culpa. Não estariam ali se não fosse por ele; ainda estariam dormindo em suas camas. E não era bom contar a si mesmo que aumentando o alarme tinha assegurado que o Sr. Weasley fosse encontrado porque também não podia escapar do pensamento de ter  sido ele quem tinha atacado o Sr. Weasley em primeiro  lugar.

"Não seja bobo, você não tem presas", pensou consigo mesmo, tentando manter a calma, a mão com que segurava o copo estava tremendo. "Você estava dormindo em sua cama, não podia estar atacando ninguém..."

"Mas então, o que aconteceu no escritório de Dumbledore?", perguntou a si mesmo. "Eu senti como se quisesse atacar Dumbledore também..."

Bateu o copo um pouco mais forte do que planejava e derrubou um pouco na mesa. Ninguém percebeu. Então um estouro de fogo surgiu no ar, iluminando os pratos  sujos na frente dele, e conforme gritavam pelo susto um rolo de pergaminho caiu com um baque sobre a mesa, acompanhado por uma singular pluma dourada de fênix.

- Fawkes! - disse Sirius de uma vez, pegando o pergaminho. - Essa não é a letra de Dumbledore, deve ser uma mensagem, da sua mãe, aqui...

Ele empurrou a carta para as mãos de Jorge, que a rasgou para abri-la e a leu em voz alta:



"Seu pai ainda está vivo. Eu estou me dirigindo para o St. Mungus agora. Fiquem  onde vocês estão. Mando notícias assim que eu puder.

Mamãe."



Jorge olhou em volta da mesa.

- Ainda vivo... - ele disse devagar, - Mas isso soa como...

Ele não precisava terminar a sentença. Isso soava para Harry, também, o Sr. Weasley estava pairando em algum lugar entre a vida e a morte. Ainda excepcionalmente pálido, Rony fixou seu olhar por detrás da carta de sua mãe, esperando que ela dissesse palavras de conforto para ele. Fred pegou o pergaminho das mãos de Jorge e leu por si mesmo, depois olhou para Harry, que sentiu sua mão tremer com o copo novamente e o agarrou firmemente com a mão mais cerrada, para parar com a tremedeira.

Se Harry já tivesse passado por uma longa noite como esta não podia se lembrar. Sirius sugeriu uma vez, sem nenhuma convicção, que todos fossem pra cama mas  os olhares de desgosto dos Weasley já eram resposta suficiente.

Sentaram-se em silêncio ao redor da mesa, assistindo ao pavio da vela afundando abaixo e abaixo para a cera derretida, ocasionalmente elevando o recipiente para seus lábios, falando só para checar as horas, para abertamente discutir o que estava acontecendo e para assegurar que se chegasse uma má notícia saberiam dela diretamente, porque a Sra. Weasley deveria demorar, uma vez que chegasse ao St. Mungus.

Fred se sentiu sonolento, sua cabeça encostava ao lado de seus joelhos. Gina se curvava como um gato em sua cadeira mas seus olhos estavam abertos; Harry pôde vê-los refletindo a luz do fogo. Rony estava sentado com sua cabeça em suas mãos, acordado ou adormecido era impossível de se dizer. Harry e Sirius se olhavam entre eles várias vezes, intrometidos sobre tristeza da família, esperando... Esperando...

Às 4:50 da manhã pelo relógio de Rony a porta da cozinha se abriu calmamente e a Sra. Weasley entrou na cozinha. Estava extremamente pálida mas quando todos voltaram a olhar para ela Fred, Rony e Harry estavam se levantando de suas cadeiras e ela deu um sorriso enfraquecido.

- Ele ficará bem - disse ela, sua voz soou cansada. - Ele está dormindo. Nós podemos todos vê-lo depois. Gui está no hospital com ele agora; ele irá ter uma  folga pela manhã.

Fred caiu em sua cadeira com suas mãos sobre sua face. Jorge e Gina acordaram, andaram rapidamente para sua mãe e a abraçaram. Rony deu uma risada extravagante e bebeu o resto da sua cerveja amanteigada em um gole.

- Café da manhã - disse Sirius em um tom alto e alegre, saltando sobre os pés dele. - Onde está o atrapalhado elfo doméstico? Kreacher! KREACHER!

Mas Kreacher não atendeu à intimação.

- Oh, esqueçam isso, agora - murmurou Sirius, contando as pessoas defronte dele. - Então é café da manhã para, deixe-me ver, sete... Bacon e ovos, eu acho, e chá,  e torradinha.

Harry apressadamente se dirigiu ao fogão para ajudar. Ele não queria se intrometer na felicidade dos Weasley e temeu o momento em que a Sra. Weasley iria lhe pedir que recontasse sua visão. Entretanto, tinha disfarçadamente pego pratos do armário da cozinha quando a Sra. Weasley os tirou de suas mãos e lhe puxou para um abraço.

- Eu não sei o que teria acontecido se não fosse por você, Harry - ela disse em voz baixa. - Eles talvez não o teriam encontrado por horas e aí teria sido tarde demais,  mas graças a você ele está vivo e Dumbledore foi capaz de pensar numa história para encobrir por Arthur ter estado onde estava, caso contrário, você não tem idéia do trabalho que teria dado, olhe para o pobre Sturgis...

Harry mal podia sustentar tal gratidão mas felizmente ela o soltou rapidamente e virou para Sirius, agradecendo-lhe por ter cuidado das crianças durante a noite para ela.

Sirius disse que estava muito satisfeito por ter podido ajudar e esperançava que todos pudessem ficar lá pelo tempo que o Sr. Weasley ainda estivesse no hospital.

- Oh, Sirius, estou tão agradecida... Eles acham que ele ficará lá por algum tempo e seria ótimo estar em um local próximo... E isso, é claro, significa que estaremos  aqui para o Natal.

- Quanto mais tempo melhor! - disse Sirius com uma sinceridade tão óbvia que a Sra. Weasley ficou radiante, vestiu um avental e foi ajudar com o café da manhã.

- Sirius - Harry murmurou, incapaz de aguardar mais. - Posso ter uma palavrinha com você? Er... Agora?

Ele foi para a escura despensa e Sirius o seguiu. Sem delongas, Harry contou ao seu padrinho todos os detalhes da visão que tivera, incluindo o fato de que ele próprio era a cobra que havia atacado o Sr. Weasley. Quando parou para respirar, Sirius disse.

- Você contou isso a Dumbledore?

- Sim - disse Harry impacientemente - mas ele não me contou o que isso queria dizer. Bem, ele na verdade não me conta mais nada.

- Estou certo de que ele teria contado se fosse algo com o que você tivesse que se preocupar - disse Sirius com firmeza.

- Mas isso não é tudo - disse Harry numa voz somente um pouco acima de um sussurro. - Sirius, eu... Eu acho que estou ficando louco. Ainda no escritório de Dumbledore, logo antes de usarmos a chave do portal... Por alguns segundos eu achei que eu era uma cobra, eu me senti como uma, minha cicatriz doeu muito quando eu estava olhando para Dumbledore... Sirius, eu queria atacá-lo!

Ele só podia ver um pedaço do rosto de Sirius; o restante estava na escuridão.

- Deve ter sido em conseqüência da visão, só isso. Você ainda estava pensando no sonho, ou seja lá o que foi aquilo e...

- Não foi isso - disse Harry balançando a cabeça -, era como algo crescendo dentro de mim, como se houvesse uma cobra dentro de mim.

- Você precisa dormir - disse Sirius firmemente. - Você vai tomar o café da manhã, depois suba as escadas, vá para a cama e depois do almoço você poderá ir ver Arthur com os outros. Você está assustado, Harry; você está se culpando por algo que você apenas testemunhou e tivemos sorte de você ter testemunhado,ou Arthur talvez tivesse morrido. Simplesmente pare de se preocupar.

Ele deu uma palmadinha no ombro de Harry e saiu da despensa, deixando Harry sozinho, no escuro.

*

Todos - à exceção de Harry - passaram o resto da manhã dormindo. O garoto foi para o quarto que ele e Rony tinham compartilhado nas últimas poucas semanas de verão mas enquanto Rony rastejava em sua cama e estava dormindo em minutos  Harry se sentou completamente vestido, pôs-se sobre a barra fria de metal da cama, mantendo-se deliberadamente inconfortável, determinado a não cair num leve sono, com medo de que poderia vir a ser serpente de novo em seu sono e acordar percebendo que tenha atacado Rony, ou pior, se arrastado através de casas uma após a outra.

Quando Rony acordou, Harry fingiu ter aproveitado uma refrescante soneca também. Seus malões chegaram de Hogwarts enquanto estavam almoçando então puderam se vestir como trouxas para a viagem rumo a St. Mungus. Todos, com exceção de Harry, estavam incontrolavelmente felizes e conversativos por trocaram seus pijamas por jeans e camisas. Quando Tonks e Olho-Tonto se viraram para guiá-los através de Londres eles os agradeceram, rindo do exagerado chapéu-coco que Olho-Tonto utilizava, num ângulo para conciliar seu olho mágico e assegurá-lo, honestamente, que Tonks, cujo cabelo  estava curto e num tom rosa brilhante, atrairia de longe, muito menos atenção no subsolo.

Tonks estava muito interessada na visão de Harry sobre o ataque ao Sr. Weasley, algo que ele não estava nem remotamente querendo discutir.

- Não tem nenhum vidente na sua família, tem? - ela perguntou curiosa, conforme se sentavam lado a lado num trem indo em frente, direto ao coração da cidade.

- Não - disse Harry pensando na professora Trelawney e se sentindo insultado.

- Não - disse Tonks, meditando -, não, eu suponho que não seja bem uma profecia isso o que você está fazendo, é? Quero dizer, você não está vendo o futuro, está vendo o presente... É estranho, não é? Útil, ainda que...

Harry não respondeu; felizmente saltaram na parada seguinte, numa estação que ficava bem no centro de Londres e no alvoroço das pessoas saindo do trem deixou  Fred e Jorge ficarem entre ele e Tonks, que conduzia o caminho. Todos a seguiram pela escada rolante, Moody fazendo barulho atrás do grupo, seu chapéu-coco se inclinou para baixo e uma mão áspera emperrou entre os botões de seu paletó, agarrando sua varinha. Harry imaginou que Moody sentiu seu "olho conciliado" duramente emperrado. Tentando evitar mais perguntas sobre seu sonho, perguntou a Olho-Tonto onde St. Mungus estava escondido.

- Não muito longe daqui - grunhiu Moody conforme ficaram próximos a um ar gelado numa larga rua comercial, cheia de carrinhos de compras para o Natal. Ele empurrou Harry para um pouco à sua frente e se espantou enquanto ali estava. Harry sabia que o olho estava girando para todas as direções embaixo daquele chapéu inclinado. - Não foi fácil achar um bom local para um hospital. Lugar algum  do Beco Diagonal era grande o suficiente e nós não poderíamos ter isso no subsolo, como o Ministro... Não estaria saudável. No final orientaram para que fizessem a construção aqui. Em teoria, bruxos doentes poderiam ir e vir aqui simplesmente se misturando com a multidão.

Ele pegou o ombro de Harry para prevenir que não fossem separados por um bando de compradores planejando nada mais que fazer compras numa loja cheia de equipamentos eletrônicos.

- Aqui vamos nós - disse Moody um instante depois.

Tinham chegado numa larga, antiquada, loja de departamentos de tijolos vermelhos, chamada "Purge & Dowse Ltda.". O lugar tinha um gasto e miserável ar; a vitrine consistia em alguns destroços de manequins com perucas tortas, posicionadas ao léu e com modelos de pelo menos dez anos atrasados. Grandes avisos na porta diziam: "Fechado para Reformas". Harry distintamente ouviu uma mulher carregada de sacolas com compras dizer para a sua amiga enquanto passavam: "Esse lugar nunca está aberto...".

- Certo - disse Tonks, acenando para uma vitrine que não tinha nada além de uma manequim particularmente feia. Ela tinha cílios postiços e estava vestindo um vestido avental verde. - Estão todos prontos?

Acenaram com a cabeça, agrupando-se ao redor dela. Moody deu a Harry outro empurrão no ombro, querendo que ele fosse mais para a frente e Tonks se inclinou para bem perto ao vidro, olhando para a manequim muito feia, sua respiração embaçando o vidro.

- Wotcher - ela disse -, estamos aqui para ver Arthur Weasley.

Harry pensou em quão absurdo era Tonks esperar que a manequim a ouvisse falando tão baixo, através de uma parede de vidro, com todo o barulho dos ônibus e dos compradores. Lembrou-se então de que manequins não podiam ouvir de qualquer maneira. Um segundo após, sua boca abriu em choque conforme a manequim fez um pequeno aceno com a cabeça e fez um gesto com seu dedo articulado, e Tonks tinha agarrado Gina e a Sra. Weasley pelos cotovelos, pararam em frente ao vidro e desapareceram.

Fred, Jorge e Rony se aproximaram depois deles. Harry olhou de relance ao redor da multidão e nenhum deles parecia ter consideração para uma vitrine tão feia quanto a da Purge & Dowse Ltda.; nem perceberam que seis pessoas tinham se dissolvido em ar rarefeito na frente deles.

- Venham, rosnou Moody, dando a Harry outro empurrão nas costas e juntos se aproximaram à frente do que parecia ser um lençol de água fresca, emergindo quase morna e seco do outro lado.

Não havia sinal da manequim feia ou do lugar onde ela estava. Parecia que estavam numa recepção tumultuada, com fileiras de bruxos e bruxas sentados em fracas cadeiras de madeira, pareciam perfeitamente normais e examinando  edições atrasadas do Semanário das Bruxas, outros fazendo horríveis desfigurações, tais como calções de elefante ou mãos adesivas extras que pegavam dinheiro. A sala estava muito menos quieta que a rua lá fora, alguns dos pacientes faziam sons muito peculiares: uma bruxa com o rosto suado no centro da fileira da frente, estava abanando a si mesma vigorosamente com uma cópia do Profeta Diário, um assobio com um vapor preto saiu torrencialmente pela sua boca; um bruxo aparentando estar sujo, no canto, ressoava como um sino a cada vez que se movia e com cada som sua cabeça vibrava horrivelmente, tanto que ele teve de agarrar a si mesmo pelas orelhas e segurá-la fixamente.

Bruxos e bruxas em robes verde-limão andavam para cima e para baixo nas fileiras, fazendo perguntas e fazendo anotações em pranchetas, como Umbridge. Harry percebeu o emblema bordado em seus peitos: uma varinha e um osso,  cruzados.

- Eles são médicos? - perguntou a Rony disfarçadamente.

- Médicos? - disse Rony surpreso. - Aqueles trouxas malucos que cortam as pessoas? Não, eles são medi-bruxos.

- Bem aqui! - chamou a Sra. Weasley sob o renovado som do feiticeiro no canto e eles a seguiram até uma fila em frente à bruxa loira e obesa sentada atrás de uma  escrivaninha marcada como "Requerimentos".

A parede atrás dela estava cheia de notícias e pôsteres dizendo coisas como: UM CALDEIRÃO LIMPO NÃO DEIXA POÇÕES VIRAREM VENENOS e ANTÍDOTOS SÃO ANTI - NÃO OS USE A NÃO SER QUE APROVADOS POR UM MEDI-BRUXO QUALIFICADO. Havia também um largo  retrato de uma bruxa com longos cabelos cacheados, e tinha uma legenda:

Dilys Derwent

Medi-bruxa de St. Mungus 1722 -

Diretora da escola de bruxaria e feitiçaria de Hogwarts 1741 -

Dilys era visivelmente a mais próxima dos Weasley; quando Harry olhou em seus olhos ela deu uma leve piscada, andou para os lados, saindo de seu retrato e desapareceu.

Entretanto, na frente da fila, um bruxo jovem estava dançando com um estranho gingado, entre grunhidos de pânico, para explicar a sua situação para a bruxa atrás  da escrivaninha.

- São esses, ouch, sapatos, meu irmão me deu, ow, eles estão comendo meu, OUCH, pé, olhe para eles, deve haver algum tipo de azaração neles e eu não consigo, AAAAARGH, retirá-los - ele saltou de um pé para o outro, como se estivesse dançando sobre carvão quente.

- Os sapatos não impedem que você leia, impedem? - disse a bruxa loira, apontando irritadamente para uma grande placa à esquerda de sua escrivaninha. - Você quer Danos por Magia, quarto andar. Do jeito que está escrito no guia do andar. Próximo!

Assim que o bruxo mancou e empinou para os lados, fora do caminho, os Weasley se moveram alguns passos à frente e Harry leu o guia do andar:



ACIDENTES COM ARTEFATOS... Térreo

Explosão de caldeirões, tiro pela culatra da varinha, batidas de vassoura, etc.

FERIMENTOS INDUZIDOS POR CRIATURAS... Primeiro andar

Mordidas, picadas, queimaduras, espinhos enfiados, etc.

ACIDENTES MÁGICOS... Segundo andar

Doenças contagiosas, catapora e. g. de dragão, doença do desaparecimento, etc.

ENVENENAMENTO POR POÇÕES OU PLANTAS... Terceiro andar

Erupções da pele, regurgitação, descontrole 2, etc.

DANOS POR MAGIA... Quarto andar

Azarações problemáticas, feitiços, aplicação incorreta de encantos, etc.

SALÃO DE CHÁ PARA OS VISITANTES/SHOPPING DO HOSPITAL... Quinto andar



SE VOCÊ NÃO TEM CERTEZA AONDE IR, POSSUI INCAPACIDADE DE CONVERSAR NORMALMENTE OU NÃO CONSEGUE SE LEMBRAR DE POR QUE VOCÊ ESTÁ AQUI, NOSSA RECEPÇÃO VAI TER O PRAZER DE AJUDÁ-LO.



Um bruxo muito velho com uma trombeta se arrastou para a fila agora.

- Estou aqui para ver Broderick Bode! - ele pronunciou ofegantemente.

- Ala quarenta e nove mas acredito que você esteja perdendo seu tempo - disse a bruxa. - Ele esta completamente confuso, você sabe, ainda pensa que é um bule para chá. Próximo!

Um bruxo que parecia atormentado estava segurando sua pequena filha firmemente pelo tornozelo, enquanto ela batia na cabeça dele com uma asa imensamente larga, emplumada, que tinham brotado em suas costas, rasgando seu traje.

- Quarto andar - disse a bruxa numa voz sonolenta sem perguntar e o homem desapareceu através de portas duplas ao lado da escrivaninha, segurando sua filha como um estranho e cheio balão. - Próximo!

A Sra. Weasley se moveu em frente para a escrivaninha.

- Olá - ela disse -, meu marido, Arthur Weasley estava para ser transferido para outra ala esta manhã, você poderia nos dizer...?

- Arthur Weasley? - disse a bruxa, correndo o dedo por uma longa lista à sua frente. - Sim, primeiro andar, segunda porta à direita, Ala Dai Llewellyn.

- Obrigada - disse a Sra. Weasley. - Venham, vocês todos.

Eles a seguiram através da porta dupla e pelo estreito corredor além, repleto de outros retratos com mais famosos medi-bruxos e iluminado por bolhas de cristais cheias de velas que flutuavam próximas ao teto, parecendo gigantes espumas de sabão. Mais bruxos e bruxas em robes verde-limão iam para dentro e fora do corredor em que passavam; um mal cheiro de um gás amarelo conforme passaram por uma porta, e em todas, aqui e ali, ouviam distantes lamentos.

Subiram um lance de escadas e entraram no corredor de Ferimentos Induzidos por Criaturas, onde na segunda porta à direita estava escrito: "Perigo - Ala Daí Llewellyn: mordidas sérias". Abaixo disso, havia um cartão num prendedor de metal em que havia sido escrito a mão: "Medi-bruxo em ofício: Hippocrates Smethwyck. Medi-bruxo estagiário: Augustus Pye."

- Nós esperaremos aqui fora, Molly - disse Tonks. - Arthur não vai querer muitos visitantes de uma só vez... Deve ir apenas a família primeiro.

Olho-Tonto rosnou sua aprovação a esta idéia e recostou suas costas na parede do corredor, seu olho mágico estava girando em todas as direções. Harry se retraiu também mas a Sra. Weasley o puxou com sua mão através do corredor, dizendo.

- Não seja bobo, Harry, Arthur quer agradecê-lo.

A ala era pequena e suja, a única janela era estreita e alta, na parede oposta a da porta. A maior parte da luz vinha das bolhas brilhantes de cristal do meio do teto. As paredes eram de carvalho e havia um retrato de um bruxo aparentemente malicioso na parede, com a legenda:

Urquhart Rackharrow, 1612-1697, Inventor da praga expelidora de entranhas.

Só havia três pacientes. O Sr. Weasley estava ocupando a cama no final da ala, ao lado da pequena janela. Harry estava contente e aliviado em ver que ele estava apoiado em vários travesseiros e lendo o Profeta Diário com um solitário raio de sol que caía sobre a sua cama. Olhou para cima conforme eles avançavam em direção a ele e, vendo quem era, ficou sorridente.

- Olá!, disse ele, jogando o Profeta para o lado. - Gui acabou de sair, Molly, teve que voltar ao trabalho mas ele disse que fala com você depois.

- Como você está Arthur? - perguntou a Sra. Weasley, curvando-se para beijar sua bochecha e olhando ansiosamente para sua face. - Você ainda está parecendo um pouco doente.

- Eu me sinto absolutamente bem - disse o Sr. Weasley brilhantemente, levantando seu braço bom para dar a Gina um abraço. - Se eles pudessem tirar essas bandagens eu estaria bom para ir pra casa.

- Por que eles não podem retirá-las, pai? - perguntou Fred.

- Bem, eu comecei a sangrar como louco toda vez que tentaram - disse o Sr. Weasley animado, alcançando sua varinha no gabinete ao lado e a balançou, fazendo com que seis cadeiras aparecessem ao seu lado para que todos  pudessem se sentar. - Parece que havia um incomum veneno nas presas daquela cobra que mantém feridas abertas. Eles têm certeza de que encontrarão um antídoto; disseram que já tiveram casos bem piores que o meu e que entretanto eu só tenho que ficar tomando uma poção repositora de sangue a cada hora. Mas aquele camarada ali ao lado - disse, falando baixo e acenando com a cabeça para a cama oposta, na qual um homem aparentando estar verde e fraco. - Mordido por um lobisomem, pobre homem. Não tem cura.

- Lobisomem? - sussurrou a Sra. Weasley, olhando alertadamente. - Ele está seguro em uma seção na ala pública? Não seria melhor ele estar em uma sala privada?

- Duas semanas para a lua cheia - o Sr. Weasley relembrou quietamente. - Eles estiveram conversando com ele esta manhã, os medi-bruxos, você sabe, tentando persuadi-lo para ser capaz de ter uma quase vida normal... Eu disse para ele, não mencionei nomes, é claro, mas eu disse que eu conhecia um lobisomem pessoalmente, um homem muito bom, que acha as condições até um pouco fáceis de se controlar.

- E o que ele disse? - perguntou Jorge.

- Ele me disse que me daria uma outra mordida se eu não me calasse - disse o Sr. Weasley triste. - E essa mulher que está ali, ele indicou a única outra cama ocupada, a qual estava ao lado direito da porta -, não consegui contar os medi-bruxos que ela mordeu, o que faz com que a gente pense que carregava alguma coisa ilegalmente. O que quer que isso fosse, pegou um bom pedaço da perna dela, um cheiro muito desagradável saiu quando eles tiraram o seu vestido.

- Então você vai contar o que aconteceu, pai? - perguntou Fred, puxando sua cadeira mais pra perto da cama.

- Certo, vocês já sabem, não sabem? - disse o Sr. Weasley, com um significante sorriso ao Harry. - É muito simples, eu tive um dia muito longo, tirava um cochilo, fui mordido e picado...

- Isto está no Profeta, você ser atacado? - perguntou Fred, indicando o jornal que o Sr. Weasley tinha jogado ao lado.

- Não, lógico que não - disse o Sr. Weasley, com um desprezível sorriso -, o Ministério não quer que todo mundo saiba que uma suja e gigante serpente entrou...

- Arthur! - a Sra. Weasley advertiu.

- Me ent...r...ou com as presas - o Sr. Weasley disse rapidamente, Harry tinha quase certeza que isso não era o que ele iria dizer.

- Então onde você estava quando isso aconteceu, pai? - perguntou Jorge.

- Isso é o problema meu - disse o Sr. Weasley com um pequeno sorriso. Ele pegou rapidamente o profeta Diário, balançou-o, abriu de novo. - Eu estava apenas lendo sobre o poder de Willy Widdershins quando vocês chegaram. Vocês sabiam que Willy voltou para estar entre aqueles banheiros regurgitantes de volta no verão? Uma dessas azarações foi um tiro pela culatra, o toalete explodiu e o acharam  mentindo inconsciente nos destroços que cobria da cabeça aos pés...

- Quando dizem que você está durante sua obrigação - Fred interrompeu em voz baixa -, o que você está fazendo?

- Você escutou seu pai - sussurrou a Sra. Weasley -, nós não estamos discutindo isso aqui! Fale sobre Willy Widdershins, Arthur.

- Bom, não me pergunte como mas ele realmente deixou de se encarregar pelo banheiro - disse Sr. Weasley medonhamente. - Eu posso somente supor que ouro mudou de mãos.

- Você está guardando ela, não está? - disse Jorge silenciosamente. - A arma? A coisa do Você-Sabe-Quem?

- Jorge, fique quieto! - interrompeu Sra. Weasley.

- De qualquer forma - disse o Sr. Weasley, em voz alta -, nessa hora Willy foi pego vendendo Doorknobs a trouxas e eu não acho que será capaz para rastejar para fora disso, porque, de acordo com esse artigo, dois trouxas perderam dois dedos e estão agora no St. Mungus para um emergencial re-crescimento do osso e para modificação na memória. Apenas pense sobre isso, trouxas no St. Mungus! Eu gostaria de saber em qual seção eles estão!

Ele olhou entusiasmado ao redor e a além, esperando ver algum cartaz de informação.

- Você não disse que Você-Sabe-Quem tem uma cobra, Harry? - perguntou Fred, olhando para seu pai para ver sua reação. - Uma massiva? Você viu isso na noite em que ele retornou, não é?

- Já basta - disse a Sra. Weasley. - Olho-Tonto e Tonks estão do lado de fora, Arthur, eles querem vir e ver você. E vocês podem esperar lá do lado de fora - adicionou aos seus filhos e Harry. Você pode vir e dizer tchau depois. Vá indo.

Voltaram juntos até o corredor. Olho-Tonto e Tonks foram e fecharam a porta da seção entre eles. Fred levantou seus olhos.

- Claro - disse ele friamente, revirando seus bolsos.

- Procurando por isto? - disse Jorge, segurando o que parecia uma mistura de barbantes coloridos.

- Você leu minha mente - disse Fred, rindo. - Vamos ver se St. Mungus colocou impertubadores nessas portas da seção, devemos?

Ele e Jorge se livraram do barbante e separaram 5 orelhas extensíveis de cada um deles. Fred e Jorge os pegou ao redor. Harry estava hesitando pegar um.

- Vai em frente, Harry, pegue isto! Você salvou vida do meu pai. Se alguém tem o direito de espiar, é você.

Rindo de si mesmo, Harry pegou o fim do barbante e inseriu este em sua orelha como os gêmeos tinham feitos.

- Ok, vai! - Fred falou baixo.

Os barbantes coloridos se agitaram como uma longa e fina minhoca e se arrastaram por debaixo da porta. Primeiro Harry não pôde ouvir nada então pulou quando escutou Tonks cochichando claramente como pensava, estava localizada ao lado dele.

- ...Eles procuraram toda área mas não conseguiram encontrar cobra em lugar algum. Parece que desapareceu logo após ter atacado você, Arthur... Mas Você-Sabe-Quem não pode ter esperar que uma cobra consiga chegar até nós, não é?

- Eu acho que ele mandou esta para uma espionagem - rugiu Moody -, porque ele não tem nenhuma sorte tão longe, tem? Não, eu acho que ele está tentando obter imagem clara do que ele está enfrentando e se Arthur não estivesse ali poderia ter tido muito mais tempo olhar ao redor. Então, Potter diz que viu isso tudo acontecer?

- Sim - disse a Sra. Weasley. Ela pareceu predeterminadamente difícil. - Você sabe, Dumbledore parece ter ficado esperando Harry ver alguma coisa como esta.

- Sim, claro - disse Moody. - Há uma coisa engraçada em relação ao Potterzinho, nós todos sabemos isso.

- Dumbledore parecia amedrontado em relação ao Harry quando eu falei com ele essa manhã - sussurrou a Sra. Weasley.

- É claro ele está com medo - rugiu Moody. - O menino está vendo coisas por dentro da cobra do não-sei-quem. Obviamente, Potter não entende o que isso significa mas se Você-Sabe-Quem estiver se apossando dele...

Harry puxou a orelha extensiva para fora do ouvido, seu coração disparava muito rapidamente e o calor invadia sua face. Olhou ao redor para os outros. Estavam  todos olhando fixamente para ele, os barbantes ainda estavam saindo de suas orelhas e pareciam inesperadamente amedrontados.

-- CAPÍTULO 23 --
NATAL NA ALA FECHADA


Por que Dumbledore não estava olhando nos olhos de Harry? Esperava ver Voldemort encará-los, com medo, talvez, aquele seu verde vivo pôde voltar repentinamente vermelho, com uma fenda semelhante a olhos de gato? Harry recordou o rosto de cobra de Voldemort que tinha uma vez estado na parte de trás da cabeça do Professor Quirrell e passou sua mão pela cabeça imaginando Voldemort saindo de sua cabeça com aquela forma de caveira.

Sentiu-se sujo, contaminado, como se estivesse carregando algum germe fatal, sem valor para sentar no metrô, desde o hospital com inocentes pessoas limpas cujas mentes e corpos estavam libertas da mancha de Voldemort... Ele não simplesmente viu a cobra, ele tinha sido a cobra, agora sabia isto...

Um pensamento terrível então ocorreu a ele, uma memória veio à superfície da sua mente, um acontecimento que o fez se contorcer como uma serpente.

O que ele será depois, além de seguidor?

A coisa que pode unicamente conseguir discrição... Desejar uma arma. Alguma coisa ele não teve da última vez.

"Eu sou a arma", pensou Harry e isto foi como se um veneno fosse extraído através de suas veias, resfriando-o, trazendo-o para fora através de seu suor com o trem no túnel escuro. "Sou eu quem Voldemort está tentando usar, porque eles têm guardas ao meu redor em toda parte, eu vou, isto não é para minha proteção, isto é para outras pessoas, não é um trabalho, eles não podem ter alguém comigo todo o tempo em Hogwarts... Eu ataquei o Sr. Weasley ontem à noite, fui eu. Voldemort me fez fazer isso e ele poderia estar dentro de mim, escutando meus pensamentos agora mesmo."

- Você está bem, Harry querido? - sussurrou a Sra. Weasley, inclinando-se ao lado de Gina para falar com ele conforme o trem balançava pelo túnel escuro. - Você não parece estar muito bem. Está se sentindo doente?

Todos o observaram. Ele agitou sua cabeça violentamente e olhou para cima como se estivesse dizendo que estava bem.

- Harry, querido, você tem certeza que está bem? - disse a Sra. Weasley com uma voz preocupada enquanto andavam pela grama no meio do Grimmauld Place. - Você parece pálido... Você dormiu esta manhã? Você vai para cama agora mesmo e pode dormir umas horas antes do jantar, tudo bem?

Ele acenou; foi uma desculpa para não falar com os outros, do jeito que queria, assim quando ela abriu a porta da frente se apressou, subiu os degraus e foi para o quarto de Rony.

Andou de um lado para o outro, passando as duas camas e a fotografia vazia de Phineas Nigellus, seu cérebro transbordava e fervia com perguntas e mais idéias terríveis.

Como ele se tornou uma cobra? Talvez fosse um animago... Não, ele não podia ser, saberia... Talvez Voldemort fosse um animago... Sim, pensou Harry, isso se encaixaria, ele poderia virar uma cobra, claro... E quando o está possuindo, então ambos se transformavam..."Mas isso ainda não explicou como eu cheguei em Londres e retornei a minha cama em aproximadamente cinco minutos... Por outro lado Voldemort é o bruxo mais poderoso do mundo, à exceção de Dumbledore, isto provavelmente não é problema de nenhuma maneira, transportar pessoas que gostem disso."

E então, com uma punhalada terrível de pânico, ele pensou, "mas isto é insano - se Voldemort me possuiu eu estou dando a ele uma boa visão do Quartel General da Ordem de Fênix agora mesmo! Ele saberá várias coisas da Ordem e onde Sirius está... E eu tenho escutado coisas que eu não deveria, tudo que Sirius me disse na primeira noite que eu estive aqui...".

Havia apenas uma coisa a se fazer: poderia deixar Grimmauld Place imediatamente. Poderia passar o Natal em Hogwarts sem os outros, que poderiam passar as férias em segurança... Mas não, não poderia fazer isso, havia muitas pessoas para ferir em Hogwarts . O que aconteceria se fosse Simas, Dino ou Neville da próxima vez? Parou e encarou a moldura vazia de Phineas Nigellus. Uma sensação pesada surgiu dentro de seu estômago. Ele não tinha alternativa: teria de voltar para a Rua dos Alfeneiros e se desligaria do mundo mágico.

Bem, se ele não fizesse isso, pensou, não tinha sentido ficar vagando por aí. Tentando com toda força não pensar em como os Dursley reagiriam quando o encontrassem em sua porta seis meses antes do esperado, foi até seu malão, fechou-o com força e o trancou, automaticamente olhou para a gaiola de Edwiges antes de se lembrar que ela estaria segura em Hogwarts - bem, a gaiola era uma coisa a menos para carregar - pegou seu malão e p tinha arrastado a caminho da porta quando uma voz sarcástica disse.

- Vai fugir de nós?

Ele olhou em volta. Phineas Nigellus tinha aparecido na tela do retrato e, encostado na moldura, observava Harry com uma expressão divertida no rosto.

- Não estou fugindo não - disse Harry brevemente, arrastando seu malão pelo quarto.

- Eu pensei - disse Phineas Nigellus, acariciando sua barba pontuda - que para pertencer a Grifinória você devesse ser corajoso! Você poderia estar melhor em nossa casa. Nós, sonserinos somos corajosos, sim, mas não estúpidos. Por exemplo, dada a escolha, nós sempre escolheremos salvar nossos próprios pescoços.

- Não é o meu pescoço que eu estou salvando - disse Harry conscientemente, puxando seu malão por um carpete irregular, roído por traças em frente à porta.

- Oh, eu vi - disse Phineas Nigellus, ainda acariciando sua barba -, isto não é covardia, você está sendo nobre.

Harry o ignorou. Segurou a maçaneta da porta quando Phineas Nigellus disse preguiçosamente.

- Eu tenho uma mensagem para você de Alvo Dumbledore.

Harry ficou pasmo.

- O que é?

- Fique onde você está.

- Eu não me mexi! - disse Harry, sua mão ainda sobre a maçaneta. - E então? Qual é a mensagem?

- Há pouco eu a disse a você, pateta - disse Phineas Nigellus suavemente. - Dumbledore disse: "Fique onde você está".

- Por quê? - disse Harry avidamente, deixando a extremidade do malão cair. - Por que ele quer que eu fique? Que mais ele disse?

- Nada além - disse Phineas Nigellus, levantando uma sobrancelha preta magra como se achasse Harry impertinente.

O temperamento de Harry veio à superfície como uma cobra levantando na grama. Estava exausto, estava totalmente confuso, tinha experimentado terror, alívio, então terror outra vez nas últimas doze horas e Dumbledore ainda não quis falar com ele!

- Então é isso? - ele disse em voz alta. - "Fique onde você está"! Isto é tudo, qualquer um podia me contar depois que eu fui atacado por aqueles Dementadores, também! Fique no seu lugar enquanto os adultos cuidam de tudo, Harry! Nós não o preocuparemos com qualquer coisa, porque seu cérebro pequenininho pode não agüentar!

- Você sabe - disse Phineas Nigellus, ainda mais alto que Harry  -, isto é precisamente por que eu detesto ser um professor! Pessoas jovens são infernalmente convencidas de que estão absolutamente certas de tudo. Isto não ocorreu a você, meu pobre arrogante, que há uma excelente razão de que o diretor de Hogwarts não está confiando todos pequenos detalhes dos seus planos para você? Você nunca parou para notar que os seguidores de Dumbledore nunca deixaram você sofrer algum dano? Não. Não, jovens são todos iguais, vocês estão completamente seguros que só vocês sentem e pensam, vocês sozinhos reconhecem o perigo, vocês são os únicos espertos para compreender o que o Lord das Trevas pode estar planejando...

- Ele está planejando alguma coisa para fazer comigo então? - disse Harry rapidamente.

- Eu disse isso? - disse Phineas Nigellus, examinando preguiçosamente suas luvas de seda. - Agora, se você me desculpar, eu tenho coisas melhores para fazer do que escutar um adolescente revoltado... Bom dia para você.

E ele passou pela margem da moldura e saiu de vista.

- Boa, vai então! - disse Harry berrando para a moldura vazia. - E diga obrigado ao Dumbledore por nada!

A tela vazia permaneceu silenciosa. Espumando, Harry arrastado seu malão, retornou-o para o pé de sua cama, então jogou rosto embaixo das cobertas roídas por traças, seus olhos fecharam, seu corpo estava pesado e doendo.

Sentiu como se tivesse percorrido milhares de quilômetros, impossível que 24 horas atrás Cho Chang o tinha abordado... Estava tão cansado... Estava apavorado pra dormir... Não sabia por quanto tempo poderia ficar naquele lugar... Dumbledore ordenou que ficasse... Isso permitiu que dormisse... Mas estava assustado... O que aconteceria se acontecesse de novo?

Estava afundando dentro de sombras... Era como um filme em sua cabeça que tinha esperado para começar. Estava andando em um corredor deserto em direção a uma porta preta, paredes de pedra rudes, tochas e uma entrada aberta com degraus de pedra que levavam à esquerda...

Alcançou a porta preta mas não podia abri-la... Ficou olhando fixamente para ela, desesperado para entrar... Desejou com todo seu coração que tivesse alguma coisa do outro lado... Um prêmio além dos seus sonhos.. E sua cicatriz poderia parar de arder... Então poderia pensar mais claramente...

- Harry - disse a voz de Rony, longe, longe. - Mamãe disse que o jantar está pronto, mas ela guardará algo para você se você quiser continuar na cama.

Harry abriu seus olhos mas Rony tinha já deixado o quarto.

"Ele não quer estar sozinho comigo", pensou Harry. "Não depois que ele escutou o que Moody disse."

Supôs que nenhum deles o desejava ali mais, agora que sabiam o que estava dentro dele.

Não poderia descer para jantar; não poderia ficar na companhia deles. Virou-se virou para outro lado, até que dormiu. Harry acordou muito mais tarde, nas primeiras horas da manhã, estava com fome e Rony roncava em sua cama. Olhando pelo quarto, viu o contorno escuro de Phineas Nigellus em seu retrato e ocorreu a Harry que Dumbledore tinha provavelmente enviado Phineas Nigellus para observá-lo, caso ele atacasse alguém.

O sentimento "sujo" se intensificou. Uma metade sua não tinha obedecido Dumbledore... Se isto esteve acontecido como vida seria para ele no Grimmauld Place de agora em diante, talvez poderia estar melhor na Rua dos Alfeneiros apesar de tudo.

*

Todo mundo estava cansado de colocar enfeites de Natal. Harry não podia se recordar de Sirius sempre com bom humor; estava cantando canções de Natal, aparentemente alegre por ter companhia na data. Harry podia escutar sua voz ecoando para cima através do chão na sala de visitas onde estava sentado sozinho, observando o céu ficar cada vez mais branco, ameaçando nevar, todo tempo sentia o prazer que estava dando aos outros de falar sobre si, como estavam fazendo. Quando escutou a Sra. Weasley chamando seu nome suavemente para o almoço foi para o andar de cima e a ignorou.

Perto das 6 horas a campainha tocou e a Sra. Black começou a gritar outra vez. Supondo que Mundungo ou algum outro membro da Ordem havia chegado, Harry simplesmente se arrumou mais confortavelmente contra a parede do quarto onde Bicuço fora escondido, tentando ignorar sua fome, tentou alimentar o hipogrifo com ratos mortos. Levou um choque quando alguém bateu na porta uns minutos mais tarde.

- Eu sei que você está aí - disse a voz de Hermione. - Você pode por favor vir aqui? Eu quero falar com você.

- O que você está fazendo aqui? - perguntou Harry a ela, abrindo a porta enquanto Bicuço arranhava o chão coberto de palha à procura de pedaços de ratos que poderia ter deixado cair. - Eu pensei que você fosse esquiar com seus pais.

- Bem, pra falar a verdade esqui não é meu esporte - disse Hermione. - Então eu vim para o Natal - havia neve em seu cabelo e seu rosto estava rosa com o frio. - Mas não conte ao Rony. Eu disse a ele que esquiar era bom porque ele ficou rindo muito. Mamãe e papai estão um pouco desapontados mas eu disse a eles que todos que estão preocupados com os exames, que eu estaria está em Hogwarts para estudar. Eles querem o meu bem, vão entender. De qualquer modo - ela disse rapidamente -, vai para seu quarto, a mãe do Rony acendeu o fogo e mandou uns sanduíches.

Harry a seguiu de volta para o segundo andar. Quando entrou o quarto, foi surpreendido por Rony e Gina esperando por eles, sentando em cama do Rony.

- Eu vim no Nôitibus Andante - disse Hermione levemente, tirando sua jaqueta antes que Harry tivesse tempo de falar. - Dumbledore me contou sobre o que aconteceu esta manhã mas eu tive que esperar o fim do trimestre antes de vir. Umbridge está lívida que você tenha desaparecido debaixo de seu nariz, ainda que Dumbledore tenha dito que o Sr. Weasley está no St. Mungus e ele deu a você permissão para visitá-lo. Assim...

Ela se sentou próximo a Gina e as duas garotas e Rony olharam para Harry.

- Como você está se sentindo? - perguntou Hermione.

- Bem - disse Harry rigidamente.

- Oh, não minta, Harry - ela disse impacientemente. - Rony e Gina disseram que você está se escondendo de todos desde que saiu do St. Mungus.

- Eles disseram? - disse Harry, olhando pra Rony e Gina. Rony olhou para seus pés mas Gina parecia totalmente desavergonhada.

- Bem, você tem! - ela disse. - E você não olha nenhum de nós!

- Talvez você esteja pensando em turnos para olhá-lo e guarda desaparecidos mutuamente - sugeriu Hermione, o canto de sua boca tremia.

- Muito engraçado - disse Harry entre dentes, afastando-se.

- Oh, pare com esse sentimento todo incompreendido - disse Hermione severamente. - Olhe, os outros me disseram o que você escutou noite passada nas Orelhas Extensíveis...

- É? - murmurou Harry, suas mãos afundadas em seus bolsos, observou a neve cair espessa do lado de fora. - Todos falam sobre mim, até você? Bem, eu estou me acostumando a isto.

- Nós queremos falar com você, Harry - disse Gina - mas como você sempre tem se escondido desde que nós voltamos...

- Eu não quis ninguém para conversar comigo - disse Harry, que estava se sentindo mais e mais irritado.

- Bem, foi um pouco estúpido da sua parte - disse Gina zangada -, vê como você não sabe quase nada, mas eu, que fui possuída por Você-Sabe-Quem e posso contar a você como se sente.

Harry permaneceu em silêncio com o impacto das palavras sobre si. Então deu uma volta ao redor.

- Eu esqueci - ele disse.

- Sorte sua - disse Gina friamente.

- Eu sinto muito - Harry disse e pretendia isto. - Assim... Assim, você acha que eu estou sendo possuído, então?

- Bem, você pode recordar tudo que estava fazendo? - Gina perguntou. - Há grandes períodos vazios onde você não sabe o que estava fazendo?

Harry refletiu.

- Não.

- Então Você-Sabe-Quem não tem sempre possuído você - disse Gina simplesmente. - Quando ele fez isto comigo eu não podia recordar o que estava fazendo por determinado tempo. Eu me achava em algum lugar e não sabia como havia chegado lá.

Harry dificilmente desafiou acreditar nela, ainda que seu coração estivesse mais leve.

- Apesar d'aquele sonho que eu tive sobre seu pai e a cobra...

- Harry, você já teve esses sonhos antes - disse Hermione. - Você tinha flashes do que Voldemort estava tramando ano passado.

- Isto era diferente - disse Harry, sacudindo sua cabeça. - Eu estava dentro da cobra. Isto foi como se eu fosse a cobra... E se Voldemort de algum modo me transportou a Londres...?

- Um dia - disse Hermione, soando perfeitamente exasperada - você lerá Hogwarts: Uma História e talvez lembrará que você não pode Aparatar e Desaparatar dentro de Hogwarts. E Voldemort não pode fazer você sair voando do seu dormitório, Harry.

- Você não deixou sua cama, amigo - disse Rony. - Eu vi você sussurrando em seu sono pelo menos um minuto antes que nós pudéssemos acordá-lo.

Harry começou a andar para cima e para baixo no quarto outra vez, pensando. O que estavam dizendo não estava apenas o confortando, fazia sentido... Sem pensar, pegou um sanduíche do prato na cama e o colocou dentro da boca.

"Eu não sou a arma afinal", pensou Harry. Seu coração se encheu de felicidade e alívio, sentiu tudo junto enquanto escutaram Sirius passar pela porta a caminho do quarto de Bicuço, cantando "Deus te abençoe, querido hipogrifo" em voz alta.

*

Como ele pôde ter sonhado em voltar para a Rua dos Alfeneiros para o Natal? A alegria de Sirius em ter a casa cheia outra vez e especialmente ter Harry de volta foi contagiosa. Não era aquele anfitrião mal humorado do verão; agora parecia determinado que todos deveriam se divertir muito, se não mais do que poderiam ter feito em Hogwarts, trabalhou incansavelmente para o dia de Natal, limpando e decorando com a ajuda de todos, de modo que trabalharam por todo o tempo e quando foram dormir na véspera de Natal a casa estava dificilmente reconhecível. O candelabro não estava pendurado com teias de aranha mas com guirlandas e fitas douradas e prateadas; neve mágica reluziu sob os carpetes surrados; uma grande árvore de Natal, obtida por Mundungo e decorada com fadas vivas, bloqueava a árvore genealógica de Sirius da visão, e até mesmo a prateleira dos elfos na parede do corredor ganhou chapéu de Papai Noel e barbas.

Harry acordou na manhã de Natal para encontrar uma pilha de presentes no pé da sua cama e Rony já a meio caminho de abrir os seus, um pilha particularmente grande.

- Bom Natal este ano - ele informou Harry através de uma nuvem de papel. - Obrigado pela Bússola De Vassoura, é excelente; bata em Hermione, ela me deu um planejador de dever de casa...

Harry ordenou seus presentes e encontrou um com a letra de Hermione nele. Ela tinha dado ele, também, um livro que lembrava um diário, exceto que toda vez que o abria uma página dizia em voz alta coisas do tipo: "Faça isto hoje ou mais tarde você pagará!".

Sirius e Lupin deram a Harry um conjunto de livros excelentes intitulados "Prática de Mágica Defensiva e seu Uso Contra as Artes das Trevas", ambos excelentes, ilustrações coloridas que se moviam, com descrição dos feitiços. Harry folheou o primeiro volume avidamente; podia ver que era muito útil em seus planos para Defesa Contra as Artes das Trevas. Hagrid tinha enviado uma carteira peluda marrom que tinha presas, supôs que fossem um dispositivo anti-roubo mas infelizmente Harry não conseguia colocar dinheiro sem machucar os dedos. O presente do Tonks era pequeno, modelo de uma Firebolt, que Harry observou voar pelo quarto, desejando que ainda tivesse a versão maior; Rony tinha lhe dado uma caixa enorme de Feijõezinhos de Todos Os Sabores, o Srs e a Sras Weasley deram o suéter de malha usual e algumas empadas de carne, Dobby uma pintura terrível que Harry suspeitou que tinha sido feito pelo próprio elfo. Ele o tinha virado de cabeça para baixo para ver melhor quando com ouviu um alto "crack", Fred e Jorge aparataram no pé da sua cama.

- Feliz Natal - disse Jorge. - Não vai lá em baixo por um momento.

- Por que não? - disse Rony.

- Mamãe está chorando outra vez - disse Fred pesadamente. - Percy devolveu seu suéter de Natal.

- Sem um bilhete - acrescentou Jorge. - Não perguntou como papai está ou o visitou ou qualquer coisa.

- Nós tentamos confortá-la - disse Fred, andando em volta da cama para olhar o retrato de Harry. - Dissemos a ela que Percy não passa de um rato.

- Não funcionou - disse Jorge, e serviu-se de um Sapo de Chocolate. - Então Lupin tomou posse. Melhor deixar ele animá-la antes de nós descemos para o café da manhã, eu acho.

- O que você supõe que seja, de qualquer modo? - perguntou Fred, olhando a pintura de Dobby. - Parece um gibbon com dois olhos pretos.

- Isto é Harry! - disse Jorge, apontando a parte de trás da gravura, - Atrás diz isso!

- Bem parecido - disse Fred, rindo. Harry jogou seu novo diário de dever de casa nele; bateu na parede contrária e caiu no chão.

Levantaram e se vestiram. Podiam escutar os vários habitantes da casa dando "Feliz Natal" um ao outro. No caminho para a cozinha encontraram Hermione.

- Obrigada pelo livro, Harry - ela disse feliz. - Eu Tenho desejado o "Nova Teoria da Numerologia" há tempo! E aquele perfume é realmente raro, Rony.

- Sem problemas - disse Rony. - É para quem, de qualquer modo? - ele acrescentou, indicando o presente que ela estava carregando.

- Kreacher - disse Hermione brilhantemente.

- É melhor que não sejam roupas! - preveniu Rony. - Você sabe o que Sirius disse: Kreacher sabe demais, nós não podemos libertá-lo!

- Não é roupa - disse Hermione -, embora se estivesse ao meu alcance eu teria certamente dado a ele alguma coisa para usar que não aquele imundo pano velho. Não, isto é uma coberta de retalhos, eu pensei isto poderia alegrar seu quarto.

- Que quarto? - disse Harry, deixando cair sua voz para um sussurro enquanto estavam passando pelo retrato da mãe de Sirius.

- Bem, Sirius diz que não é um quarto mas uma espécie de aposento privado - disse Hermione. - Aparentemente ele dorme sob tacho no armário da cozinha.

A Sra. Weasley era a única pessoa no porão quando chegaram lá. Ela estava de pé no fogão e parecia que estava com um resfriado quando desejou a eles "Feliz Natal", todo evitaram seus olhos.

- Então, este é o quarto de Kreacher? - disse Rony, passando por cima para uma porta sombria no canto oposto da despensa. Harry nunca a tinha visto aberta.

- Sim - disse Hermione, agora soando um pouco nervosa. - Er... Eu acho que era melhor se tivéssemos batido.

Rony bateu de leve na porta com os nós dos dedos mas não havia nenhuma resposta.

- Ele deve ter ido lá para cima - ele disse e sem mais cerimônias abriu a porta. - Urgh!

Harry olhou para dentro. A maioria dos armários era erguida com grande e antiquado tacho mas no espaço debaixo dos pés Kreacher tinha feito alguma coisa parecida com um abrigo. Uma mistura de variados trapos e velhos cobertores fedorentos estavam empilhados no chão e um pequeno buraco no meio mostrava onde Kreacher se enrolava para dormir toda noite. Aqui e ali dentre o material estavam crostas de pão amanhecido e pedaços velhos de queijo mofado. Em um canto brilhavam pequenos objetos e moedas que Harry supôs que Kreacher tinha economizado, desinfetante, da limpeza de Sirius, e também tinha conseguido recuperar as desbotadas fotografias de família que Sirius tinha jogado fora no verão. Seu vidro estava despedaçado mas ainda as pessoas em preto e branco olhavam para ele arrogantes, incluindo - sentiu um pequeno solavanco no estômago - a mulher que tinha visto o julgamento na penseira de Dumbledore: Bellatrix Lestrange. Pelos olhares na foto ela era a fotografia favorita de Kreacher; ele a tinha colocado na frente das outros e tinha concertado o vidro desajeitadamente com fita adesiva.

- Eu acho que vou deixar o presente aqui - disse Hermione, o embrulho no meio da depressão de trapos e cobertores e fechou a porta em silêncio. - Ele encontrará mais tarde, estará bem.

- Venham pensar nisto - disse Sirius, surgindo da despensa carregando um grande peru enquanto fechavam a porta do armário -, alguém tem realmente visto Kreacher ultimamente?

- Eu não o tenho visto desde a noite que nós voltamos - disse Harry. - Você estava ordenando que ele ficasse fora da cozinha.

- É - disse Sirius, olhando carrancudo. - Você sabe, eu acho que foi a última vez que eu o vi, também... Ele deve estar se escondendo lá em cima em algum lugar.

- Ele não pode ter ido embora, pode? - disse Harry. - Eu quero dizer, quando você disse "fora", talvez ele pensou você quis dizer sair de casa?

- Não, não, elfos domésticos não podem ir embora a menos que ganhem roupas. São presos à casa de sua família.

- Eles podem deixar a casa se realmente querem - desmentiu Harry. - Dobby fez, ele deixou os Malfoy para dar me avisar dois anos atrás. Ele teve que se punir depois mas mesmo assim o fez.

Sirius olhou por um momento meio desconcertado, então disse.

- O procuraremos mais tarde, espero que o encontre lá encima, chorando ao lado da minha velha mãe ou algo assim. Ou então ele engatinhou dentro do armário de ventilação e morreu... Mas eu não posso ter esperanças.

Fred, Jorge e Rony riram. Hermione, entretanto, olhou apreensiva.

Uma vez que tinham almoçado, os Weasley, Harry e Hermione estavam planejando fazer outra visita ao Sr. Weasley, acompanhados por Olho-Tonto e Lupin. Mundungo voltou na hora do pudim de Natal, pegou "emprestado" um carro para a ocasião, como o metrô não funcionada no feriado de NAtal. O carro, que Harry duvidou que fora pego com o consentimento do dono, tinha sido aumentado da mesma forma que o velho Ford Anglia dos Weasley. Embora o exterior fosse normal, dez pessoas, com Mundungo dirigindo, foram capaz de se instalar confortavelmente. A Sra. Weasley hesitou em entrar - Harry sabia da sua desaprovação sobre Mundungo, ela não gostava de viajar sem mágica - mas, finalmente o frio do lado de fora e a imploração dos seus filhos a venceram e ela sentou no assento traseiro entre Fred e Gui com boa vontade.

A viagem para St. Mungus foi muito rápida por causa do pequeno tráfego nas estradas. Uma pequena corrente de bruxas e magos estava andando furtivamente na rua deserta para visitar o hospital. Harry e os outros saltaram do carro e Mundungo se dirigiu para a esquina, afim de esperá-los. Passearam casualmente em direção às janelas onde o manequim ficava então, um por um, passaram através do vidro.

A área da recepção parecia agradavelmente festiva: as bolas de cristal que iluminavam St. Mungus eram vermelhas e douradas, bugigangas de Natal, enfeites pendurados em todas as entradas, brancas árvores de Natal cobertas por neve mágica e pedaços de gelo brilhavam em todos os cantos, no topo de cada uma delas brilhava uma estrela de ouro. O lugar estava mais vazio que a outra vez em que estiveram lá, embora a caminho do quarto Harry se encontrou desviando de uma bruxa.

- Reunião de família, é? - sorriu falsamente a bruxa loira atrás da mesa. - É a terceira vez hoje... Danos mágicos, quarto andar.

Encontraram o Sr. Weasley apoiado na cama com os restos do peru do jantar do jantar em um bandeia e uma expressão envergonhada no rosto.

- Tudo bem Arthur? - perguntou a Sra. Weasley depois que cumprimentaram-no e entregaram seus presentes.

- Bem, bem - disse o Sr. Weasley sinceramente. - Você... Er... Não viu o Dr Smethwyck, viu?

- Não - disse a Sra. Weasley, desconfiada. - Por quê?

- Nada, nada - disse o Sr. Weasley alegremente, começando a abrir sua pilha de presente. - Bem, todos tiveram um bom dia? O que vocês ganharam de Natal? Oh, Harry, isso é absolutamente maravilhoso! - ele havia aberto justamente o presente de Harry, um estojo de chaves de fenda.

A Sra. Weasley não pareceu satisfeita com a resposta do marido. Como ele se inclinou para apertar a mão de Harry, ela olhou o ferimento enfaixado sob o pijama.

- Arthur - ela disse com um estalo na voz como uma ratoeira -, você tem trocado suas ataduras. Por que você teve as ataduras trocadas um dia mais cedo, Arthur? Eles me disseram que não precisavam fazer isto até amanhã.

- O quê? - disse o Sr. Weasley, olhando apavorado e puxando a coberta da cama por cima de seu tórax. - Não, não, não pe nada, isto é... - ele pareceu esvaziar sob o olhar penetrante da Sra. Weasley. - Bem... Agora não se aborreça, Molly, mas Augustus Pye teve uma idéia... Ele é o medi-bruxo estagiário, você sabe, pessoa jovem, amável e muito interessado em... Hum... Medicina Complementar... Eu acho que algum desses velhos remédios trouxas... Bem, eles são chamados de pontos, Molly, e eles funcionam muito bem nos... Nos ferimentos trouxas.

A Sra. Weasley soltou um barulho ameaçador perto de um grito e um resmungo. Lupin passou longe da cama e ao lado do lobisomem, que não tinha visitas e estava olhando triste para a multidão ao redor do Sr. Weasley. Gui murmurou alguma coisa sobre pegar uma xícara de chá e Fred e Jorge foram acompanhá-lo, rindo.

- Você ia me contar - disse a Sra. Weasley, sua voz crescendo a cada palavra e aparentemente desprevenida de que os visitantes estavam correndo em busca de abrigo -, você tem se tratado com remédios trouxas?

- Não tratando, Molly, querida - disse o Sr. Weasley suplicante. - Era somente... Somente algo que Pye e eu pensamos que tínhamos que tentar... Mas, infelizmente a maioria... Bem, com esses ferimentos fora do normal... Isto não parece funcionar assim como nós tínhamos desejado...

- Ou seja?

- Bem... Bem, eu não sei se você sabe o que... O que são pontos?

- Isto soa como se você estivesse tentado costurar sua pele novamente junta - disse a Sra. Weasley com uma risada melancólica - mas até mesmo você, Arthur, não poderia ser esse estúpido...

- Eu quero uma xícara de chá, também - disse Harry, ficando do pé.

Hermione, Rony e Gina quase correram à porta com ele. Enquanto a porta fechava atrás deles escutaram a Sra. Weasley gritar.

- O QUE VOCÊ PENSOU, QUAL É A IDÉIA GERAL?

- Típico do papai - disse Gina, agitando sua cabeça conforme estavam caminho do corredor. - Pontos... Eu pergunto a vocês...

- Bem, você sabe, eles funcionam bem em ferimentos não mágicos - disse Hermione honestamente. - Eu suponho que alguma coisa no veneno daquela cobra os dissolve ou algo assim. Eu queria saber, onde é a sala de chá?

- Quinto andar - disse Harry, recordando a placa acima da mesa da bruxa na entrada.

Andaram ao longo do corredor através de um conjunto de portas duplas e encontraram uma velha escadaria com mais retratos de medi-bruxos. Enquanto subiam os vários retratos gritavam para eles, diagnosticando estranhas queixas e sugerindo remédios horríveis. Rony ficou seriamente insultado quando um bruxo medieval gritou claramente que ele tinha um caso ruim de spattergroit.

- E que é que supõe ser? - ele perguntou zangadamente enquanto o medi-bruxo o perseguiu através de mais seis retratos, empurrando os ocupantes para fora do caminho.

- O principal é grave aflição na pele, jovem mestre, que deixará você cheio de marcas e mais horrível do que está agora...

- Veja quem você está chamando de horrível! - disse Rony, suas orelhas ficando vermelhas.

- O único remédio é tomar o fígado de uma rã, coloque isso apertado sobre sua garganta, fique nu na lua cheia em um barril de olhos de enguia...

- Eu não tenho spattergroit!

- Mas a feia mancha sobre seu rosto, jovem mestre...

- Elas são sardas! - disse Rony furioso. - Agora volte para sua moldura e me deixe só!

Ele olhou os outros, que ficaram sérios.

- Que andar é este?

- Eu acho que é o quinto - disse Hermione.

- Não, é o quarto - disse Harry. - Mais um...

Mas quando ele pisou parou abruptamente, olhando para a pequena janela dentro de portas duplas marcando o inicio do corredor de PERDA DE MAGIA. Um homem os estava olhando com o nariz pressionado contra o vidro. Ele tinha cabelo loiro ondulado, olhos azuis brilhantes e um largo sorriso vago que revelava dentes muito brancos.

- Ridículo! - disse Rony, também olhando o homem.

- Oh, meu Deus - disse Hermione repentinamente, soando ofegante. - Professor Lockhart!

Seu ex-professor de Defesa Contra das Artes Trevas empurrou as portas e foi até eles, usando um longo roupão lilás.

- Bem, olá! - ele disse. - Eu espero vocês tenham gostado do meu autógrafo, gostaram?

- Ele não mudou muito, não é? - Harry murmurou para Gina, que riu.

- E... Como tem passado, professor? - disse Rony, soando ligeiramente culpado. Tinha sido a varinha quebrada de Rony que havia danificado a memória do professor Lockhart tão gravemente para que ele tivesse ido para o St. Mungus imediatamente, embora Lockhart tenha tentando apagar permanentemente as memórias de Harry e Rony no momento a simpatia de Harry era limitada.

- Eu estou muito bem realmente, obrigado! - disse Lockhart exuberantemente, puxando uma pena de pavão do bolso. - Agora, quantos autógrafos vocês querem? Eu posso escrevê-los agora, vocês sabem!

- Er... Nós não desejamos nada no momento, obrigado - disse Rony, levantando suas sobrancelhas para Harry, perguntando. - Professor, está vagando pelos corredores? Não deveria estar em um quarto?

O sorriso desapareceu lentamente do rosto de Lockhart. Por uns poucos momentos ele olhou fixamente para Harry, então disse.

- Nós não nos encontramos?

- Er... Sim, nós nos encontramos - disse Harry. - Você costumava nos ensinar em Hogwarts, lembra?

- Ensinar? - repetiu Lockhart, olhando incerto. - Eu? Eu ensinei?

E então o sorriso reapareceu repentinamente em seu rosto que estava alarmado.

- Ensinei a vocês tudo que vocês sabem, Eu espero, eu ensinei? Bem, sobre aqueles autógrafos, então? Nós diríamos uma dúzia, vocês podem dá-los para todos os seus pequenos amigos e ninguém ficará de fora!

Mas então uma cabeça apareceu fora de uma porta no fim do corredor e uma voz chamou.

- Gilderoy, você, menino desobediente, onde estava?

Uma medi-bruxa de olhar maternal usando uma escandalosa coroa de flores no cabelo veio alvoroçada pelo corredor, sorrindo cordialmente para Harry e os outros.

- Oh, Gilderoy, você tem visitas! Que simpático, e no dia de Natal, também! Vocês sabem, ele nunca tem visitas, pobrezinho, e eu não consigo imaginar por quê, ele é um amor, não é?

- Nós damos autógrafos! - Gilderoy disse à medi-bruxa com outro sorriso. - Eles desejam muitos deles, não tomarão não como resposta! Eu espero que nós tenhamos fotografias bastantes!

- Escutem-no - disse a medi-bruxa, tomando o braço de Lockhart e ternamente como se ele fosse uma criança de dois anos de idade. - Ele era bem famoso há uns anos atrás; nós temos muita esperança que este gosto para dar autógrafos é um sinal que sua memória esteja começando a voltar. Vocês andaram neste caminho? Ele está em uma ala fechada, vocês sabem, deve ter fugido enquanto eu estava trazendo os presentes de Natal, a porta usualmente é trancada... Não que ele seja perigoso! Mas - ela abaixou sua voz para um sussurro - ele é um perigo para ele mesmo... Não sabe quem ele é, vocês vêem, vagueia e não consegue se recordar como voltar... É simpático vocês terem vindo vê-lo.

- Er - disse Rony, gesticulando inutilmente para o andar acima. - Realmente, nós estávamos... Er...

Mas a medi-bruxa estava sorrindo esperançosa para eles e o fraco murmúrio de Rony "indo pegar uma xícara de chá" não teve valor. Olharam mutuamente sem respostas, então seguiram Lockhart e sua medi-bruxa pelo longo corredor.

- Não ficaremos muito - Rony disse calmamente.

A medi-bruxa apontou sua varinha para a porta da Ala Janus Thickey e murmurou "Alorromora". A porta abriu e ela conduziu pelo interior, mantendo o braço firme em Gilderoy até que o tivesse colocado em uma poltrona perto da sua cama.

- Essa é a Ala de residentes de longo período - ela informou Harry, Rony, Hermione e Gina em uma voz baixa. - Para permanentes perdas de magia, vocês sabem. Certamente com intensivas poções medicinais e feitiços e um pouco de sorte nós podemos produzir alguma melhora. Gilderoy parece estar lembrando de si mesmo; e nós temos visto uma melhora real no Sr. Bode, parece recuperar a força do discurso muito bem, embora não esteja falando qualquer língua ainda. Bem, eu tenho que distribuir os presentes de Natal, Eu deixarei você para conversarem.

Harry olhou em volta. A Ala parecia uma casa permanente para seus residentes. Tinham mais objetos pessoais em volta das camas do que no quarto do Sr. Weasley; a parede em volta da cabeceira da cama de Gilderoy, por exemplo, era coberta com fotos dele mesmo, todas sorrindo e acenando para as visitas. Ele tinha autografado muitas delas com uma letra infantil. No momento que a medi-bruxa o colocou na cadeira Gilderoy puxou uma pilha de fotografias, pegou uma pena e começou a assiná-las febrilmente.

- Você pode colocá-las em envelopes - ele disse a Gina, jogando as fotos assinadas para ela uma a uma. - Eu não sou esquecido, vocês sabem, não, eu ainda recebo uma porção de cartas de fãs... Gladys Gudgeon escreve semanalmente... Eu só queria saber por que ela parou - disse, olhando meio confuso, então riu outra vez e voltou a autografar com novo vigor.  - Eu suspeito que seja minha melhor aparência...

Um pálido bruxo de olhar triste deitou na cama oposta fitando o teto; resmungava para si mesmo e parecia inconsciente das coisas a sua volta. Duas camas depois estava uma mulher cuja cabeça inteira estava coberta de pêlos; Harry recordou um acontecimento parecido com Hermione durante seu segundo ano, embora o prejuízo, no caso dela, não era permanente. No fim da Ala cortinas floridas estavam em volta de duas camas para dar aos ocupantes e visitas alguma privacidade.

- Aqui está você, Agnes - disse a medi-bruxa à mulher de face peluda, entregou a ela uma pequena pilha de presentes de Natal. - Vê, não foi esquecida, não é? E seu filho enviou uma coruja para dizer que virá hoje à noite, simpático, não é?

Agnes deu vários latidos altos.

- E olhe, Broderick, você tem um pote de planta e um belo calendário com um hipogrifo diferente a cada mês; eles tornaram as coisas mais alegres, não vão? - disse a medi-bruxa, indo de encontro ao homem que murmurava, colocando uma planta feia com longos, tentáculos na mesa ao lado da cama e fixando o calendário na parede com a varinha. - E, oh, Sra. Longbottom, a senhora já vai?

A cabeça de Harry virou. As cortinas tinham sido tiradas das duas camas no fim da Ala e dois visitantes estavam andando pelo corredor entre as camas: uma bruxa velha usando um longo vestido verde, uma pele de raposa roída por traças e um chapéu pontiagudo decorado com um falcão empalhado e, atrás dela com olhar deprimido, Neville.

Harry compreendeu quem as pessoas nas camas deviam ser. Ele tentou distrair os outros de modo que Neville podia deixar a Ala despercebido mas Rony tinha escutado o nome "Longbottom", e antes o Harry o impedisse ele chamou, "Neville!".

Neville saltou e se assustou como se uma bala tinha por pouco o acertado.

- Somos nós, Neville! - disse Rony levantando-se. - Você viu? Lockhart está aqui! Quem você está visitando?

- Seus amigos, Neville, querido? - disse a avó de Neville bondosamente.

Neville olhou como se eles pudessem estar em qualquer lugar do mundo menos ali. Um rubor apareceu em seu rosto redondo e ele não os estava olhando nos olhos.

- Ah, sim - disse sua avó, olhando estreitamente para Harry e estendeu a mão para ele apertá-la. - Sim, sim, eu sei quem você é, claro. Neville fala muito de você.

- Er... Obrigado - disse Harry, apertando a mão dela. Neville não olhou para ele, observava seus pés, a cor aprofundou em seu rosto

- E você dois são os Weasley - continuou a Sra. Longbottom, oferecendo sua mão a Rony e Gina. - Sim, eu conheço seus pais... Não muito bem... Mas são boas pessoas, boas pessoas... E você deve ser Hermione Granger?

Hermione olhou assustada por a Sra. Longbottom saber seu nome mas apertou sua mão.

- Sim, Neville me falou sobre você. Ajudou-o a conseguir uns pontos, não foi? Ele é um bom menino - ela disse, lançando um olhar severo em Neville - mas ele não tem o talento do pai, eu tenho medo de dizer - ela sacudiu sua cabeça na direção das duas camas no fim da Ala, de modo que o falcão do chapéu tremeu assustadoramente.

- O quê? - disse Rony, olhando assombrado. Harry quis pisar no pé de Rony mas era mais difícil se passar despercebido quando você está usando jeans em vez de capas. - É o seu pai, Neville?

- Que é isto? - disse a Sra. Longbottom severamente. - Você não disse aos seus amigos sobre seus pais, Neville?

Neville respirou fundo, olhou o teto e agitou sua cabeça. Harry não pôde se lembrar de ter sentido pena de qualquer um mas não podia pensar em um jeito de ajudar Neville.

- Bem, não é para ter vergonha! - disse a Sra. Longbottom zangada. - Você deveria estar orgulhoso, Neville, eles não deram sua saúde e sua lucidez para seu único filho ter vergonha deles, você sabe!

- Eu não estou envergonhado - disse Neville, muito baixo, ainda olhando para qualquer lugar menos Harry e os outros. Rony estava nas pontas dos pés olhando os habitantes das duas camas.

- Bem, você tem jeito engraçado de mostrar isto! - disse a Sra. Longbottom. - Meu filho e sua esposa - ela disse, voltando arrogante a Harry, Rony, Hermione e Gina - foram torturados até a loucura por seguidores de Você-Sabe-Quem.

Hermione e Gina tampavam a boca com as mãos. Rony parou de levantar seu pescoço para olhar os pais de Neville e olhou com vergonha.

- Eles foram aurores, vocês sabem, e muito respeitados nas comunidades bruxas - continuou a Sra. Longbottom. - Altamente talentosos, os dois. Eu, sim, Alice querida, que é isto?

A mãe de Neville andava pela Ala de camisola. Ela não tinha o olhar feliz que Harry tinha visto na velha fotografia de Moody da original Ordem de Fênix. Agora seu rosto estava magro e cansado, seus olhos pareciam grandes e seu cabelo, que tinha ficado branco, estava fino. Ela não parecia querer falar ou talvez não fosse capaz mas fez movimentos tímidos a Neville, segurando alguma coisa na mão estendida.

- Outra vez? - disse a Sra. Longbottom, soando ligeiramente cansada. - Muito bem, Alice querida, muito bem, Neville, pegue isso, qualquer um.

Mas Neville já tinha esticado a mão, dentro sua mãe deixou cair um papel de Drooble's Best Blowing Gum.

- Muito gentil, querida - disse a avó de Neville com uma voz falsamente alegre, dando um tapinha no ombro da mãe.

Mas Neville disse calmamente:

- Obrigado mãe.

Sua mãe cambaleou para longe, sussurrou para ela mesma. Neville olhou os outros, sua expressão era provocadora, como se os desafiando a rir mas Harry não tinha visto uma coisa menos engraçada em sua vida.

- Bem, melhor irmos embora - suspirou a Sra. Longbottom, colocando suas longas luvas verdes. - Muito simpático ter encontrado vocês. Neville, coloque aquele papel no lixo, ela deve ter bastante papel no quarto agora.

Mas enquanto eles iam embora Harry teve certeza de ver Neville guardar o papel dentro do bolso. A porta fechou atrás deles.

- Eu nunca soube - disse Hermione, que olhou triste.

- Nem eu - disse Rony rouco.

- Nem eu - sussurrou Gina.

Eles olharam Harry.

- Eu sabia - ele disse com tristeza. - Dumbledore me disse mas eu comprometi que não contaria nada... Bellatrix Lestrange foi para Azkaban por ter usado a Maldição Cruciatus nos pais de Neville até eles perderam suas mentes.

- Bellatrix Lestrange fez isso? - sussurrou Hermione, horrorizada. - Aquela mulher da foto que Kreacher tem no seu quarto?

Houve um longo silêncio, quebrado por Lockhart com a voz zangada.

- Olhem, eu não escrevi a toa, vocês sabem!

-- CAPITULO 24 --
OCLUMANCIA


Kreacher foi descoberto enquanto se escondia no sótão. Sirius disse que o havia encontrado lá, coberto de poeira, sem dúvida procurando por mais relíquias da família Black para esconder em seu armário. Apesar de Sirius parecer satisfeito com essa história, isso fez com que Harry ficasse ansioso. Kreacher pareceu estar de bom humor depois que reapareceu, seus cochichos amargos haviam diminuído e ele obedecia às ordens mais dócil que normalmente o fazia, apesar de que Harry, uma vez ou outra, flagrava o elfo doméstico o encarando com um certo entusiasmo mas sempre disfarçando quando via que ele havia percebido.

Harry não mencionou suas vagas suspeitas a Sirius, cuja alegria estavam evaporando rapidamente uma vez que o Natal já havia passado. À medida que o dia de retorno para Hogwarts estava se aproximando ele se tornava cada vez mais triste e calado, geralmente indo ao quarto de Bicuço, onde passava várias horas. Sua tristeza se espalhava pela casa, passando por de baixo das portas como um gás venenoso, que acabou por contaminar a todos.

Harry não queria abandonar Sirius com somente a companhia de Kreacher, na verdade, pela primeira vez na vida, ele não queria voltar a Hogwarts. Voltar para a escola significaria ficar sob a tirania de Dolores Umbridge que, certamente, deveria ter apresentado mais algumas dúzias de decretos enquanto estavam fora; não havia quadribol para fazê-lo sentir mais empolgado, já que havia sido banido, e havia uma grande possibilidade de que os deveres de casa aumentariam, uma vez que os exames estavam cada vez mais próximos, e Dumbledore se mantinha reservado como nunca. Na verdade, se não fosse pelo ED, Harry pensou que teria implorado a Sirius permissão para fugir de Hogwarts e morar com ele em Grimmauld Place.

Então, no último dia do feriado, algo aconteceu que fez com que Harry temesse voltar à escola.

- Harry, querido - disse a Sra. Weasley, colocando a cabeça para dentro do quarto de Rony, enquanto os dois jogavam xadrez de bruxos observados por Hermione, Gina e Bichento -, você poderia descer até a cozinha? O professor Snape quer ter uma palavrinha com você.

Harry não captou o que ela disse imediatamente, uma de suas torres era violentamente atacada por um peão de Rony, que estava muito entusiasmado.

- Destrua ele, destrua ele, ele é apenas um peão seu idiota. Desculpe Sra. Weasley, o que você disse?

- Professor Snape, querido. Na cozinha. Gostaria de uma palavrinha.

A boca de Harry abriu com horror. Ele olhou para Rony, Hermione e Gina, todos estavam olhando para ele com suas bocas abertas. Bichento, que Hermione estava tentando manter sob controle, pulou sobre o tabuleiro, o que fez com que todas a peças corressem para protegerem gritando o mais forte possível.

- Snape? - disse Harry, pasmo.

- Professor Snape, querido - disse a Sra. Weasley. - Venha rápido, ele disse que não pode demorar.

- O que ele quer com você? - perguntou Rony. - Você não fez nada, fez?

- Não - disse Harry, indignado, forçando o cérebro para pensar o que teria feito de errado para fazer Snape perseguir ele até Grimmauld. Teria seu último dever merecido um T?

Um ou dois minutos depois ele abriu a porta da cozinha e viu Sirius e Snape, ambos sentados na longa mesa de jantar, olhando para lados opostos. O silêncio entre eles estava pesado com o desprezo de sempre. Uma carta aberta estava em cima da mesa na frente de Sirius.

- Er - disse Harry para anunciar sua presença.

Snape olhou para ele com o rosto emoldurado pelos negros e oleosos.

- Sente-se Potter.

- Sabe - disse Sirius, aumentando o tom de sua voz, sentado em sua cadeira e falando enquanto olhava para o teto -, eu acho que seria melhor se você não desse ordens aqui Snape. Aqui é minha casa.

O rosto pálido de Snape corou. Harry se sentou ao lado de Sirius, encarando Snape ao longo da mesa.

- Eu deveria falar com você sozinho, Potter - disse Snape -, mas Black...

- Eu sou padrinho dele - disse Sirius, mais alto que nunca.

- Eu estou aqui por ordens de Dumbledore - disse Snape, com sua voz,  por contraste, mais baixa - mas sei que Black quer se sentir... Envolvido.

- O que isso quis dizer? - disse Sirius, deixando sua cadeira cair, o que fez um grande barulho ao encontrar o chão.

- Apenas que eu tenho certeza que você deve se sentir, ah, frustrado pelo fato de que não pode fazer nada de útil - disse Snape com um delicado stress em suas palavras - para a Ordem.

Era a vez de Sirius corar. Snape deu um olhar de triunfo ao se virar para Harry.

- O diretor me enviou para cá para dizer-lhe, Potter, que ele deseja que você estude Oclumancia nesse semestre.

- Estudar o quê? - perguntou Harry.

O lábio de Snape se afinou.

- Oclumancia, Potter. A mágica defesa da mente contra penetração externa. Um tipo de magia obscura porém muito útil.

O coração de Harry começou a bater rapidamente. "Defesa contra penetração externa? Mas ele não estava sendo possuído, todos concordaram com isso..."

- Por que eu tenho que estudar Ocluman-sei-lá-o-quê? - perguntou abruptamente.

- Porque o diretor acha que é uma boa idéia - disse Snape calmamente. - Você terá aulas uma vez por semana mas não dirá a ninguém que estará fazendo, muito menos a Dolores Umbridge. Entendeu?

- Sim - disse Harry. - Quem será meu professor?

Snape levantou a sobrancelha.

- Eu.

Harry teve a impressão de que todo seu interior estava derretendo. Aulas extras com Snape - "O que eu fiz para merecer isso?". Ele olhou rapidamente para Sirius, à procura de apoio.

- Por que o diretor não dará aulas ao Harry? - perguntou Sirius agressivamente. - Por que você?

- Acredito que seja um privilégio do diretor escolher outra pessoa para uma tarefa tão desagradável - disse Snape. - Posso lhe garantir que não implorei por este emprego - ele se levantou. - Estarei esperando às seis horas na segunda a noite, Potter. Em minha sala. Se alguém perguntar você estará tendo aulas extras de Poções. Ninguém que já o tenha visto em minhas aulas negaria que você precise delas.

Ele se virou para ir, sua capa preta de viagem sacudiu atrás de si.

- Espere um pouco - disse Sirius, sentando mais ereto em sua cadeira.

Snape virou para olhá-los.

- Eu estou com pressa, Black. Ao contrário de você, eu não tenha tempo livre ilimitado.

- Irei direto ao ponto, então - disse Sirius, levantando-se. Ele era mais alto que Snape, o qual Harry percebeu segurar algo dentro do bolso, tinha certeza que era varinha. - Se eu souber que você esta usando as aulas de Oclumancia para pegar no pé do Harry você terá que se entender comigo.

- Que comovente. Mas certamente você notou que Harry é muito semelhante com o pai?"

- Sim, notei - disse Sirius orgulhoso.

- Então você sabe o quão arrogante ele é e que críticas não o abalam - Snape disse calmamente.

Sirius empurrou sua cadeira brutamente para o lado e foi em direção a Snape, enquanto puxava a varinha. Snape puxou sua varinha também. Estavam se encarando, Sirius olhando agressivamente, Snape calculando, seus olhos se movendo rapidamente da ponta da varinha de Sirius para seu rosto.

- Sirius - disse Harry, mas ele parecia não ouvir.

- Eu te avisei, Snivdlus - disse Sirius, seu rosto quase a um palmo do rosto do Snape -, eu não ligo se Dumbledore acha que você se redimiu, eu sei que não...

- Oh, então por que você não diz isso a ele? - sussurrou Snape. - Ou você tem medo que ele não leve a serio um homem que está se escondendo na casa da mãe por seis meses?

- Diga-me como anda Lúcio Malfoy estes dias? Eu acho que ele está satisfeito com seu cachorrinho trabalhando em Hogwarts, não é?

- Falando em cachorrinho - disse Snape suavemente - você sabia que Lúcio reconheceu você na ultima vez que arriscou uma saidinha até as ruas? Brilhante idéia, Black, deixando ser visto numa segura plataforma... Fazendo com que você não possa sair desse buraco no futuro, não foi?

Sirius levantou a varinha.

- NÃO! - gritou Harry, correndo para ficar entre Sirius e Snape. - Sirius, não.

- Você esta me chamando de covarde? - rosnou Sirius, tentando empurrar para fora do caminho, mas ele não sairia.

- Sim, estou.

- Harry, saia daí - rosnou Sirius, empurrando-o com a mão livre.

A porta da cozinha se abriu e toda a família Weasley mais Hermione entraram, todos parecendo muito felizes, com o Sr. Weasley andando orgulhosamente e vestindo pijamas.

- Curado - ele anunciou para toda a cozinha. - Completamente curado!

Ele e todos os Weasley congelaram ao ver a cena que se passava. Sirius e Snape também pararam, olharam para a porta com suas varinhas apontadas um para o outro e Harry imóvel entre eles, uma mão se esticou até eles tentando separá-los.

- Pelas barbas de Merlin - disse o Sr. Weasley com o sorriso já desaparecido de seu rosto -, o que esta acontecendo aqui?

Sirius e Snape abaixaram suas varinhas. Harry olhou de um para o outro. Ambos com a mesma expressão de desprezo, ainda que a entrada inesperada de tantas testemunhas os tivesse trazido à razão. Snape colocou a varinha no bolso, deu meia volta e atravessou a cozinha, passando pelos Weasley sem dizer nada. Na porta ele se virou e disse.

- Seis horas, segunda feira à noite, Potter.

- O que aconteceu? - perguntou novamente o Sr. Weasley.

- Nada Arthur - disse Sirius, que respirava fortemente como se tivesse corrido uma longa distância. - Apenas uma conversinha amigável entre velhos colegas de escola - parecendo fazer um esforço, ele sorriu - Então, você está curado... São ótimas noticias, realmente ótimas.

- É mesmo, não é? - disse a Sra. Weasley, levando seu marido até a cadeira. - O medi-bruxo Smethwyc usou sua magia no final, achou um antídoto pro que for que a cobra tinha nas presas e Arthur aprendeu sua lição sobre mexer com medicina dos trouxas, não foi, querido?

- Sim, Molly, querida - disse o Sr. Weasley gentilmente.

O jantar daquela noite deveria ter sido muito alegre, com o Sr. Weasley de volta entre eles. Harry poderia dizer que Sirius estava tentando, pelo menos, ainda que o padrinho não estivesse rindo forçadamente para as piadas de Fred e Jorge ou oferecendo mais comida a todos, seu rosto caíra em uma expressão triste e mal humorada. Harry foi separado dele por Mundungo e Olho-Tonto, que apareceram para dar parabéns ao Sr. Weasley pela melhora. Queria conversar com Sirius, para lhe dizer que não deveria ouvir uma só palavra do que Snape disse, que o estava alfinetando deliberadamente e que ninguém pensava que era um covarde por obedecer Dumbledore, que o mandou ficar no Grimmauld Place. Mas não teve nenhuma oportunidade para fazer isso, vendo a feia expressão que estava no rosto de Sirius Harry se perguntou se ousaria ou não dizer mesmo se tivesse a oportunidade. Ao invés, disse a Rony e a Hermione sobre ter aulas de Oclumancia com Snape.

- Dumbledore quer você continue tendo esses sonhos com Voldemort - disse Hermione de uma vez. - Você não se sentira arrependido por não mais ter esses sonhos, não é?

- Aulas extras com Snape? - disse Rony, chocado. - Eu preferiria ter os pesadelos!

Eles voltariam a Hogwarts usando o Nôitibus Andante no dia seguinte, escoltados mais uma vez por Lupin e Tonks, os quais estavam tomando café da manhã quando Harry, Rony e Hermione desceram na manhã seguinte. Os adultos pareciam estar tendo uma conversa sussurrada quando Harry abriu a porta, todos olharam e rapidamente pararam de falar.

Após um corrido café da manhã todos vestiram suas jaquetas e cachecóis para se proteger no frio daquela manhã cinzenta de janeiro. Harry teve uma sensação desagradável de aperto no peito, não queria dizer adeus para Sirius. Ele tinha um mau pressentimento sobre a partida, não sabia quando se veriam novamente e sentiu que estava encarregado de dizer a Sirius para não fazer nada estúpido. Harry temia que a acusação feita por Snape de que Sirius era um covarde surtira um efeito tão grande no padrinho que ele poderia esta arquitetando alguma viagem idiota para fora do Grimmauld Place. Mas antes de poder pensar em alguma coisa para dizer, Sirius o puxou para mais perto.

- Quero que você fique com isso - ele disse baixo, dando a Harry um objeto mal embrulhado mais ou menos do tamanho de uma capa de livro.

- O que é? - perguntou Harry.

- Uma forma de eu saber se Snape esta pegando no seu pé. Não, não o abra aqui - disse Sirius, vendo se o Sr Weasley os ouvira. - Eu duvido que Molly aprovaria mas quero que você o use se precisar de mim, entendeu?

- Ok - disse Harry, enfiando o embrulho no bolso de sua jaqueta mas sabia que não usaria, não importasse o que fosse. Não seria ele, Harry, que tiraria Sirius do lugar onde estava seguro, não importava o quão mal Snape o tratasse nas aulas de Oclumancia.

- Vamos, então - disse Sirius dando um tapinha nos ombros de Harry, sorrindo, e antes que Harry pudesse dizer qualquer coisa estavam indo para o andar de cima, parando em frente a porta principal, que era cheia de trancas, cercado pelos Weasley.

- Adeus Harry, tome cuidado - disse a Sra. Weasley, abraçado-o.

- Nos vemos, Harry, e fique de olho nas cobras pro mim - disse genialmente o Sr. Weasley, sacudindo as mãos.

- Certo... - disse Harry distraidamente, era sua última chance de dizer a Sirius para tomar cuidado.

Ele virou, olhou para o rosto do padrinho, abriu a boca para falar Sirius estava dando a ele um rápido abraço de um braço só e dizendo.

- Tome cuidado, Harry.

No momento seguinte Harry sentiu o ar frio do inverno, com Tonks (naquele dia disfarçada com uma alta bruxa de cabelos grisalhos e vestida de tweed) mandando-o seguir em frente.

A porta do numero doze fechou por trás deles. Seguiram Lupin pelos degraus da entrada. Assim que chegou a calçada Harry olhou para trás. O número doze estava encolhendo até não mais ser visto. Um instante depois já havia desaparecido

- Vamos, o quanto antes entrarmos no ônibus melhor - disse Tonks. Lupin rapidamente esticou seu braço direito.

BANG.

Um ônibus violentamente roxo e de três andares apareceu do nada na frente deles, quase batendo nos postes de luz mais próximos, os quais pularam para trás para sair do seu caminho.

- Bem vindos ao...

- Sim, sim, nos sabemos, obrigado - disse Tonks impaciente. - Entrem, entrem.

Ela empurrou Harry com força em direção aos degraus, passando pelo condutor, que olhava surpreso para ele enquanto passava.

- Er... É o Arry!

- Se você gritar o nome dele vou lançar contra você maldição de esquecimento - Tonks murmurou ameaçadoramente, agora gritando com Gina e Hermione.

- Eu sempre quis andar nesse troço - disse Rony com alegria, juntando-se a Harry já à bordo e olhando ao redor.

Era noite quando Harry viajou no Nôitibus Andante e os três andares do ônibus estavam cheios de camas de latão. Agora, de manhã cedo, estava cheio de um grupo de cadeiras que não combinavam agrupadas de forma desorganizada ao redor das janelas. Algumas dessas cadeiras pareceram ter caído quando o Nôitibus parou abruptamente em frente ao Grimmauld Place, alguns bruxos e bruxas ainda estavam aos seus lugares, reclamando, e os sacos de compra de alguém estavam espalhados ao longo do ônibus: uma mistura nada agradável de ovos de rã, baratas e doces de creme esparramados por todo o chão.

- Parece que teremos que nos dividir - disse Tonks rapidamente, olhando ao redor procurando por cadeiras vazias. - Jorge, Fred e Gina vocês devem se sentar nas cadeiras lá do fundo... Remo pode ficar com vocês.

Ela, Harry, Rony e Hermione foram para o andar mais alto onde havia duas cadeiras vazias na frente e nos fundos. Stanislau Shunpike, o condutor, seguiu Harry e Rony para o fundo. As cabeças se viravam à medida que Harry passava e quando se sentou viu todas as cabeças virarem para frente novamente.

Enquanto Harry e Rony entregavam a Lalau onze sicles cada um o Nôitibus ligou os motores novamente, balançando ameaçadoramente. Fez um barulho estrondoso por perto de Grimmauld Place então, com outro enorme BANG, foram arremessados para trás; a cadeira de Rony caiu e Píchi, que estava em seu colo, fugiu da gaiola voando para todos os lados  em direção à frente do ônibus, onde voou para os ombros de Hermione. Harry, que se segurou em um suporte de velas para não cair, olhou para fora da janela agora estavam passando pelo que parecia ser uma rodovia.

- Por volta de Birminghan - disse Lalau feliz, respondendo a pergunta não feita de Harry enquanto Rony tentava se levantar do chão. - Você continua bem, Arry? Eu vi seu nome no jornal várias vezes durante o verão, nunca eram coisas legais. Eu disse ao Ernie: "ele não parecia ser um maluco quando nos conhecemos mas acho que aparece alguma hora, não é mesmo?".

Ele entregou os bilhetes e continuou a olhar com interesse para Harry. Lalau não ligava para o quanto uma pessoa era louca se eram famosos o suficiente para estar no jornal. O Nôitibus Andante balançou alarmante, ultrapassando uma fileira de carros. Olhando para a frente do ônibus, Harry viu Hermione tampando os olhos com as mãos, Píchi balançando alegremente em seu ombro.

BANG.

As cadeiras escorregaram para trás novamente quando o Nôitibus saltou da rodovia de Briminghan para uma quieta estradinha no campo. Os arbustos que beiravam a estrada saíam do caminho enquanto passavam. Dali eles foram para uma estrada principal de uma grande cidade, então para um viaduto cercado de morros altos, a cada vez com um grande BANG.

- Mudei de idéia - cochichou Rony, levantando-se do chão pela sexta vez -, eu não quero nunca mais andar nessa coisa!

- Escutem, a parada para Ogwarts é depois dessa - disse Lalau, balançando por entre eles. -Aquela senhora que entrou com vocês nos deu a dica para mover passar vocês adiante. Mas vamos apenas deixar a Madame Marsh primeiro - havia um som de alguém quase vomitando vindo lá de baixo, seguido de um horrível som de gotas caindo pelo chão -, ela não está se sentindo muito bem.

Alguns minutos depois o Nôitibus Andante fez um alto barulho enquanto parava em frente a um bar, que se encolhia na tentativa de evitar a colisão. Eles podiam ouvir Lalau guiando a azarada Madame Marsh para fora do ônibus e os murmúrios de alívio dos outros passageiros do segundo andar. O ônibus seguiu ganhando velocidade até... BANG.

Estavam girando por Hogsmeade, coberta de neve. Harry viu de relance o Hog's Head, lá fora na rua, a placa de cabeça de porco servida balançada pelo vento do inverno. Grandes quantidades de neve acertaram o vidro da frente do ônibus. Por fim, giraram e pararam em frente aos portões de Hogwarts.

Lupin e Tonks os ajudaram a sair do ônibus com suas bagagens, subiram novamente e disseram adeus. Harry observou os três andares do Nôitibus e percebeu todos os passageiros os olhando com os narizes imprensados contra o vidro.

- Vocês estarão seguros dentro dos terrenos - disse Tonks olhando cuidadosamente para todos os lados da estrada. - Tenham um bom semestre, ok?

- Cuidem-se - disse Lupin, apertando as mãos de todos até chegar ao Harry - e ouça... - diminuindo sua voz enquanto os outros se despediam de Tonks. - Harry, eu sei que você não gosta do Snape mas ele é um soberbo Oclumante e todos nós, incluindo Sirius, queremos que você aprenda a se proteger, acima de tudo, ok?

- Sim, sem problemas - disse Harry pesadamente, olhando para as rugas prematuras de Lupin. - Então, nos vemos depois.

Os seis caminharam com muita dificuldade pela escorregadia estrada que levava ao castelo, carregando seus malões. Hermione já estava falando sobre tricotar mais alguns chapéus para os elfos antes de ir para cama. Harry olhou para trás ao chegar nas grandes portas de carvalho; o Nôitibus já havia desaparecido e desejaria, visto o que viria na noite seguinte, ainda estar à bordo.

Harry passou o dia seguinte temendo à noite. Nem mesmo os dois tempos de Poções pela manhã foram o suficiente para dispersar sua preocupação, e também pelo fato de Snape estar tão desagradável como sempre. Seu humor estava cada vez pior à medida que os membros do ED o abordavam nos corredores durante os intervalos perguntando se teria uma reunião naquela noite.

- Você saberá pelo método usual quando será a próxima reunião - Harry repetia várias vezes seguidas. - Tenho... Er... Aulas extras de Poções.

- Você tem aulas extras de Poções? - perguntou Zacharias Smith, tendo encontrado Harry no saguão de entrada depois do almoço. - Meu Deus, você deve ser horrível. Snape geralmente não dá aulas extras, não é?

 Depois que Smith foi embora  Rony o olhou com raiva.

- Que tal se eu o enfeitiçasse? Eu ainda posso acertá-lo daqui - disse, levantando sua varinha e mirando nas costas de Smith.

- Esqueça - disse Harry desanimado. - Era o que todo mundo ia pensar mesmo que eu sou realmente estup...

- Oi Harry - disse um voz por trás dele, ele se virou e viu Cho.

- Oh - disse Harry com seu estômago se contorcendo desconfortavelmente. - Oi.

- Estaremos na biblioteca, Harry - disse Hermione firmemente enquanto puxava Rony pelo braço em direção à escadaria de mármore.

- Teve um bom Natal? - perguntou Cho.

- Sim, não foi mal.

- O meu foi bem legal - disse Cho. Por alguma razão, ela parecia envergonhada. - Er... Vai ter outra ida a Hogsmeade no mês que vem, você viu o aviso?

- O quê? Oh, não. Eu ainda não chequei o quadro de avisos desde que cheguei.

- Oh, é no dia dos Namorados...

- Certo - disse Harry, perguntando-se por que ela lhe estava dizendo isso. - Bem, acho que você quer saber...

- Só se você quiser... - ela disse rapidamente.

Harry a observou. Ele perguntaria "Eu acho que você quer saber o dia que se realizará a próxima reunião do ED?" mas a resposta dela parecia não encaixar.

- Eu... Er... - ele disse.

- Oh, tudo bem se você não quer - ela disse, parecendo mortificada. - Não se preocupe. Eu te vejo por aí.

Ela foi embora. Harry ficou parado, olhando-a, seu cérebro não estava funcionando direito. Mas então tudo voltou ao normal.

- Cho! Hey, Cho - ele correu atrás dela, alcançando-a antes de ela chegar a escadaria de mármore. - Er... Você quer ir a Hogsmeade nos Dias dos Namorados comigo?

- Ooooooh sim! - ela disse corando e com um sorriso luminoso nos lábios.

- Bem, então, concordamos! - disse Harry, sentindo que o dia não seria uma perda total. Foi até a biblioteca para pegar Rony e Hermione antes de suas aulas da tarde.

Às seis horas da noite, no entanto, nem mesmo a luz de ter convidado Cho para um encontro com sucesso poderia iluminar os maus pressentimentos que aumentavam a cada passo que dava em direção a sala de Snape.

Ele parou do lado de fora da porta, depois que chegou, desejando estar em quase qualquer outro lugar, então, respirando fundo, bateu e entrou.

A sala sombria estava repleta de prateleiras onde havia centenas de vidros que continham pedaços de animais e plantas suspensos em varias poções coloridas. No canto estava o armário cheio de ingredientes de onde, uma vez, Snape acusara Harry, não sem razão, de roubo. A atenção do garoto foi direcionada para a mesa onde estava uma onde, gravados runas e símbolos banhada pela luz de uma vela. Harry reconheceu logo: era a penseira de Dumbledore. Perguntando-se o porquê de a penseira estar lá, ele pulou quando a voz fria de Snape veio das trevas da sala.

- Feche a porta atrás de você, Potter.

Harry fez o que lhe foi pedido, tendo a péssima impressão de que estava se aprisionando. Quando se virou em direção à sala, Snape foi em direção à luz e estava apontando silenciosamente para a cadeira oposta à sua mesa. Harry se sentou , assim como Snape, seus olhos negros e frios o encaravam sem piscar, com o desgosto estampado em seu rosto.

- Bem, Potter, você sabe por que está aqui - ele disse. - O diretor me pediu para ensinar você Oclumancia. Eu só espero que você seja mais adepto a isso do que a Poções.

- Certo - disse Harry sem muita emoção.

- Esta pode não ser uma classe normal, Potter - disse Snape, seus olhos malevolentes -, mas ainda sou seu professore e você me chamará de "senhor" ou "professor" o tempo todo.

- Sim... Senhor - disse Harry.

Snape continuou a olhá-lo com os mesmos olhos por um tempo e depois disse.

- Agora, Oclumancia. Como eu já havia lhe dito na cozinha do seu querido padrinho, esse tipo de magia sela a mente contra invasão mágica e influencia.

- E por que Dumbledore acha que eu preciso disso, senhor? - disse Harry, olhando em direção os olhos de Snape, perguntando-se se responderia ou não.

Snape o olhou de volta com desprezo.

- Tenho certeza que até mesmo você já teria entendido, Potter? O Lord das Trevas é muito talentoso com a Legilimancia.

- O que é isso? Senhor?

- É a habilidade de retirar memória e sentimentos da mente de alguém.

- Ele pode ler mentes? - Harry disse rapidamente, seus piores medos se confirmaram.

- Você não tem nenhuma sutileza, Potter - disse Snape, seus olhos escuros brilhando. - Você não compreende distinções tão sutis. É isso que faz você ser tão lamentável ao preparar poções.

Snape parou por alguns momentos, parecendo saborear o prazer de insultar Harry, antes de continuar.

- Apenas trouxas dizem "leitura de mente". A mente não é um livro para ser aberto e lido de acordo com a vontade, para se passar o tempo. Pensamentos não estão marcados no interior do crânio, para ser lido por todos os invasores. A mente é complexa e repleta de camadas, Potter, ou pelo menos, a maioria. É verdade, no entanto, que aqueles que dominam a Legilimancia podem, sob certas circunstâncias, invadir a mente de suas vítimas e interpretar o que encontraram corretamente. O Lord das Trevas, por exemplo, quase sempre sabe quando uma pessoa esta mentindo para ele. Somente os mais habilidosos em Oclumancia podem fechar seus sentimentos e memórias que podem contradizer a mentira, e então, enganá-lo por completo em sua presença sem que ele desconfie.

Não importava o que Snape tenha dito, Legilimancia soou para Harry como leitura de mente e ele não gostaram disso.

- Então ele poderia saber o que estamos pensando agora? Senhor?

- O Lord das Trevas está a uma considerável distância e os terrenos de Hogwarts estão protegidos por antigos feitiços e encantamentos para assegurar a proteção física e mental dos alunos daqueles que querem prejudicá-los - disse Snape. - Tempo e espaço são importantes na magia, Potter. Contato visual geralmente é importante para a Legilimancia.

- Então por que eu tenho que aprender Oclumancia?

Snape olhou Harry, passando um dedo magro pela boca.

- As regras de sempre não parecem se aplicar a você, Potter. A maldição que falhou ao tentar te matar parece ter criado algum tipo de ligação entre você e o Lord das Trevas. As evidências sugerem que em momentos, quando sua mente está relaxada e vulnerável, quando você está dormindo, por exemplo, compartilha os pensamentos e emoções com o Lord das Trevas. O diretor acha que é inadmissível isto continuar. Ele quer que eu lhe ensine como fechar sua mente para o Lord das Trevas.

O coração de Harry voltou a bater fortemente. Continuava sem entender.

- Mas por que Dumbledore quer que isto pare? - perguntou abruptamente - Eu não gosto muito mas tem sido útil, não tem? Digo... Eu vi a cobra atacar o Sr. Weasley, se não fosse por isso Dumbledore não estaria apto a salvá-lo, estaria? Senhor?

Snape encarou Harry por alguns momentos, ainda passando o dedo pela boca. Quando voltou a falar o fez devagar e deliberadamente, como se estivesse medindo suas palavras.

- Parecia que o Lord das Trevas não sabia dessa ligação entre vocês até muito recentemente. Até agora parece que você está experimentando suas emoções e dividindo seus pensamentos sem que ele tivesse conhecimento disso. No entanto, a visão que você teve antes do Natal...

- Aquela com a cobra atacando o Sr. Weasley?

- Não me interrompa, Potter - disse Snape com um tom de ameaça. - Como eu estava dizendo, a visão que você teve antes no Natal representou uma poderosa invasão nos pensamentos do Lord das Trevas...

- Eu vi pelo ponto de vista da cobra, e não dele!

- Eu acho que acabei de falar para não me interromper, Potter!

Mas Harry não ligou se Snape estava zangado, pelo menos estava conseguindo as informações que queria, inclinou-se para frente na cadeira, chegando perto da beirada, sem se dar conta disso, tenso como se estivesse se preparando para voar.

- Não diga o nome do Lord das Trevas! - disse Snape quase gritando.

Houve um silêncio desconfortável. Eles se olharam por cima da penseira.

- Professor Dumbledore diz o nome dele - disse Harry num tom de voz baixo.

- Dumbledore é um bruxo extremamente poderoso! - murmurou Snape - Ele pode se sentir seguro o suficiente para dizer seu nome... Enquanto o resto de nos... - ele esfregou o braço esquerdo, aparentemente inconsciente, no local onde Harry sabia que a Marca Negra queimava sua pele.

- Eu só queria saber - disse Harry num tom de voz tentando parecer educado - por que...

- Parece que você visitou a mente da cobra pois era lá que o Lord da Trevas estava naquele exato instante - disse Snape. - Ele estava possuindo a cobra naquele momento, por isso você sonhou estar dentro dela também.

- E Vol... Er... Ele percebeu que eu estava lá?

- Aparentemente sim - disse Snape friamente.

- Como você sabe? - perguntou Harry rapidamente. - Isso é só u palpite de Dumbledore ou...

- Eu já lhe disse - disse Snape, rígido em sua cadeira com seus olhos apertados - para me chamar de "senhor".

- Sim, senhor - Harry disse impacientemente -, mas como você sabe?

- É o bastante que eu saiba - disse Snape de forma repressiva. - O importante é que o Lord das Trevas agora sabe que você tem consciência de seus pensamentos e emoções. E ele também deduziu que pode fazer o caminho inverso, isso quer dizer que ele pode acessar seus sentimentos e pensamentos também.

- E ele tentará fazer com que eu faça coisas também? - perguntou Harry. Senhor? - somando rapidamente.

- Ele pode - disse Snape fria e despreocupadamente. - O que nos traz de volta à Oclumancia.

Snape tirou a varinha do bolso das vestes e Harry ficou mais tenso em sua cadeira, mas o professor simplesmente levantou sua varinha até a altura das têmporas e posicionou a ponta na raiz oleosa de seu cabelo. Quando puxou uma substância prateada saiu de sua cabeça, grudada a ponta da varinha, depois se soltou da cabeça de Snape, caindo graciosamente na penseira, onde se mexia  um líquido ou um gás branco-prateado. Por mais duas vezes repetiu a ação. Sem obter nenhuma explicação de seu  comportamento, pegou a penseira e a colocou em uma prateleira para fora do caminho, voltou a encarar Harry com a varinha em mãos.

- Fique de pé, Potter, e pegue sua varinha!

Harry se levantou, muito nervoso. Eles se entre olharam com a mesa entre ambos.

- Você pode usar sua varinha na tentativa de me desarmar ou defender a si próprio de qualquer forma que possa pensar - disse Snape.

- E o que você fará? - perguntou Harry, observando a varinha de Snape de maneira apreensiva.

- Estou prestes a invadir sua mente - disse Snape calmamente - Vamos ver o quanto você pode resistir. Fiquei sabendo que mostrou habilidade ao resistir a Maldição Imperius. Você descobrirá que poderes similares serão necessários para isto... Prepare-se agora! Legilimens>!

Snape atacou antes que Harry estivesse preparado, antes que pudesse começar a reunir forças para resistir. A sala desapareceu em frente aos seus olhos, imagens atrás de imagens passavam por sua mente como um filme tão vívido que o cegou para tudo o que estava à sua volta.

Tinha cinco anos, vendo Duda andar em sua nova bicicleta e seu coração queimava de inveja... Tinha nove anos, e o buldogue chamado Estripador o perseguia enquanto os Dursley riam lá embaixo... Estava sentado debaixo do Chapéu Seletor, pedindo-o para não o colocar na Sonserina... Hermione estava deitada na ala hospitalar com seu rosto coberto de pêlos negros de gato... Uma centena de dementadores estavam indo em sua direção às margens do lago... Cho estava se aproximando cada vez mais de seu rosto por debaixo do enfeite de Natal...

- Não - disse a voz dentro da cabeça de Harry, enquanto a imagem do rosto de Cho se aproximando do dele. - Você não verá isso, você não verá isso! É particular!

Ele sentiu uma dor aguda no joelho. A sala de Snape tinha voltado ao seu campo de visão e percebeu que havia caído no chão, um de seus joelhos havia colidido com uma das pernas da mesa de Snape. Ele olhou para o professor, que havia baixado a varinha e estava esfregando seus punhos. Havia uma expressão muito enfurecida em seu rosto.

- Você produziu a Maldição do Ferrão de propósito? - perguntou Snape friamente.

- Não - disse Harry amargamente enquanto se levantava.

- Eu achei que não - disse Snape olhando para ele bem de perto. - Você me deixou ir muito longe. Você perdeu o controle.

- Você viu tudo o que eu vi? - Harry perguntou sem saber se queria ouvir a resposta.

- Alguns flashes. De quem pertencia o cachorro?

- Minha tia Guida - murmurou Harry, odiando Snape.

- Bem, para uma primeira tentativa foi não tão ruim quanto poderia ter sido - disse Snape levantando mais uma vez sua varinha. - Você deve me deter eventualmente, apesar de você ter desperdiçado tempo e energia gritando. Você deve se manter concentrado. Repele-me com a mente e você não precisará apelar para a varinha.

- Estou tentando - disse Harry com raiva - mas você não me diz como!

- Maneiras, Potter! - disse Snape ameaçadoramente. - Eu quero que feche os olhos.

Harry lançou um olhar de desgosto para Snape enquanto fazia o que foi pedido. Não gostava da idéia de ficar de olhos fechados enquanto Snape estava à sua frente, portando uma varinha.

- Esvazie sua mente, Potter - disse Snape com sua voz fria. - Esqueça todas as emoções...

Mas a raiva de Harry por Snape continuou a circular nas veias de Harry como veneno. Esquecer essa raiva? Ele poderia fazê-lo tão facilmente quanto arrancar as pernas...

- Você não esta fazendo, Potter... Você precisara de mais disciplina do que está tendo... Agora, concentre-se!

Harry se concentrou, tentando esquecer todas as emoções, pensamentos e lembranças...

- Vamos tentar de novo... Vou contar até três... Um, dois, três - Legilimens>!

Um grande dragão negro estava à sua frente... Seus pais estavam acenando para ele pelo reflexo de um espelho encantado... Cedrico estava deitado no chão olhando para ele com olhos já sem vida...

- NÃOOOOOOOOO!

Harry  estava em seus joelhos, com as mãos no rosto, seu cérebro doendo como se alguém estivesse tentando puxá-lo para fora do crânio.

- Levante-se - disse Snape rispidamente. - Levante-se! Você nem está tentando. Você está me deixando entrar em suas memórias que você tem medo, você esta me dando armas!

Harry se levantou novamente, seu coração batendo descompassado como se realmente tivesse visto Cedrico morto no cemitério. Snape parecia mais pálido do que antes, com raiva, mas nem perto da raiva que Harry sentia.

- Eu... Estou...Tentando - disse Harry, trincando os dentes.

- Eu mandei você esvaziar seus sentimentos!

- Sério? Bem, acho que está sendo um pouco complicado no momento! - rosnou Harry.

- Então, você será presa fácil para o Lord das Trevas! - disse Snape agressivamente. - Idiotas que não conseguem deixar de usar seu coração ao invés de usar a cabeça, que não conseguem controlar suas emoções, deixam-se cair em memória tristes e deixam ser provocados tão facilmente, pessoas fracas, em outras palavras, não têm nenhuma chance contra dos poderes dele! Ele invadira sua mente absurdamente fácil, Potter!

- Eu não sou fraco! - Harry disse baixo, a fúria passando dentro dele tão intensamente que achou que poderia atacar Snape naquele momento.

- Então, prove! Controle-se! - gritou o professor. - Controle sua raiva, discipline sua mente! Vamos tentar de novo! Prepare-se... AGORA! Ligilimens!

Ele viu o tio Válter trancando a caixa do correio... Uma centena de dementadores iam em sua direção... Estava correndo por um corredor sem janelas com o Sr. Weasley... Estavam indo em direção a uma porta preta no final do corredor... Harry achou que fossem entrar... Mas o Sr. Weasley o virou para a esquerda descendo alguns degraus...

- EU SEI, EU SEI!

Estava de quatro na sala de Snape, sua cicatriz doía desagradavelmente mas a voz que saía de sua boca estava triunfante. Ele se pôs de pé mais uma vez e viu Snape o olhando fixamente, sua varinha levantada, dessa vez parecia que o professor parara de lançar o feitiço antes mesmo que Harry tentasse lutar.

- O que aconteceu, Potter? - perguntou Snape com interesse.

- Eu vi... Me lembrei - Harry disse enquanto tentava recuperar o fôlego. - Só agora me dei conta...

- Se deu conta de quê? - perguntou rispidamente.

Harry não respondeu logo em seguida, ainda estava saboreando a sensação de liberdade enquanto esfregava sua testa...

Estivera sonhando com um corredor sem janelas que terminava numa porta trancada por meses seguidos, sem se dar conta que aquele lugar realmente existia. Agora, revendo a lembrança, sabia que todo esse tempo estava sonhando com o corredor por onde ele e o Sr. Weasley correram no dia doze de agosto, em direção a sala do tribunal do Ministério. Era o corredor que ia em direção ao Departamento dos Mistérios e o Sr. Weasley esteve lá no noite que ele foi atacado pela cobra de Voldemort.

Olhou Snape.

- O que tem dentro do Departamento dos Mistérios?

- O que você disse? - perguntou rapidamente e Harry viu, com grande satisfação, que ele começou a ficar nervoso.

- Eu perguntei o que tem dentro do Departamento dos Mistérios, senhor?

- E por que... - disse Snape devagar. - Você perguntaria uma coisa dessas?

- Porque - disse Harry, olhando para o rosto de Snape mais de perto - aquele corredor... Eu acabei de ver... Eu estive sonhando com ele por meses... E eu acabei de reconhecê-lo, ele vai em direção ao Departamento dos Mistérios... E acho que Voldemort quer alguma coisa de lá...

- Eu já não te disse para dizer o nome dele?!

Eles se olharam. A cicatriz de Harry doeu novamente mas ele não ligou. Snape parecia agitado mas quando voltou a falar parecia que queria se mostrar calmo e despreocupado.

- Existem muitas coisas no Departamento dos Mistérios, Potter, poucas que você entenderia e nenhuma que interessasse você! Fui claro?

- Sim - disse Harry, que ainda esfregava a cicatriz dolorida, que por sua vez estava doendo cada vez mais.

- Eu quero você de novo aqui no mesmo horário na quarta-feira. E continuaremos praticando.

- Tudo bem - respondeu. Estava desesperado para sair da sala do Snape e encontrar Rony e Hermione.

- Você deve esvaziar sua mente de todas as emoções todas as noites antes de dormir; mantenha-a vazia e calma, entendeu?

- Sim - respondeu Harry, que mal o estava ouvindo.

- E fique avisado, Potter, eu saberei se não estiver praticando!

- Certo - murmurou.

Pegou sua mochila, colocou por de trás dos ombros e se apressou em chegar à porta da sala. Assim que a abriu olhou Snape, que estava de costas para ele, observando seus próprios pensamentos na penseira e com a ponta da varinha os recolocava de volta em sua cabeça. Harry saiu sem falar nada, fechando cuidadosamente a porta atrás de si, sua cicatriz estava latejando dolorosamente.

Harry encontrou Rony e Hermione na biblioteca, onde estavam trabalhando no mais recente dever de casa que Umbridge passara. Outros alunos, quase todos do quinto ano, com lampiões em cima da mesa e os narizes próximos aos livros, penas escrevendo freneticamente, enquanto o céu lá fora estava cada vez mais escuro. O único barulho na biblioteca era o barulho vindo dos sapatos da Madame Pince, enquanto a bibliotecária andava pelos corredores observando todos que tocavam em seus preciosos livros.

Harry tremia, sua cicatriz ainda doía e se sentia quase com febre. Quando se sentou de frente para Rony e Hermione viu seu reflexo vindo da janela que estava em frente, estava muito branco e sua cicatriz parecia estar mais ressaltada do que normalmente era.

- Como foi lá? - Hermione sussurrou e então pareceu preocupada. - Você está bem, Harry?

- Sim, estou bem.... Eu não sei - disse, sentindo novamente uma dor fina em sua cicatriz. - Escutem, eu acabei de me dar conta de uma coisa.

Então contou o que tinha visto e deduzido.

- Então... Então, você esta dizendo... - sussurrou Rony, assim que Madame Pince passou pelo corredor - ...Que a arma que Você-Sabe-Quem quer está no Ministério da Magia?

- No Departamento dos Mistérios, tem que ser isso! - Harry sussurrou. - Eu vi a porta quando seu pai me levou até a sala do tribunal para a minha audiência e tenho certeza que é a mesma que seu pai estava protegendo quando a cobra o mordeu.

Hermione respirou profundamente.

- É claro! - ela disse.

- É claro o quê? - perguntou Rony impacientemente.

- Rony, escute... Sturgis Padmore estava tentando invadir uma porta no Ministério da Magia... Deve ter sido essa ou seria muita coincidência!

- Por que Sturgis quereria invadir se ele estava do nosso lado? - perguntou Rony.

- Bem, eu não sei - admitiu Hermione. - É um pouco estranho...

- Então o que será que tem no Departamento de  Mistérios? - Harry perguntou a Rony. - Seu pai nunca mencionou nada sobre isso não?

- Eu sei que eles chamam as pessoas que trabalham lá de "Indescritíveis" - disse Rony, franzindo a testa - porque aparentemente ninguém sabe o que eles fazem lá. Lugar estranho para se guardar uma arma.

- Não é estranho, isso faz sentido! - disse Hermione. - Deve ser algo super secreto que o Ministério esta desenvolvendo, eu espero... Harry, você tem certeza que está bem?

Harry estava com as duas mãos na testa, como se quisesse passá-la a ferro.

- Sim, estou bem... - disse, baixando suas mãos, as quais estavam tremendo. - Eu estou me sentindo um pouco... Eu não gostei muito de Oclumancia.

- Garanto que todos se sentiriam fracos se suas mentes fossem atacadas seguidamente - disse Hermione simpaticamente. - Vamos voltar para a  sala comunal, estaremos mais confortáveis lá.

Quando chegaram à sala estava lotada e cheia de sons de risadas e excitação, Fred e Jorge estavam demonstrando suas mais recentes mercadorias de loja de logros.

- Chapéu Sem-Cabeça! - gritou Jorge enquanto Fred mostrava um chapéu cônico decorado com uma grande pena rosa. - Apenas dois galeões, observem Fred!

Ele pôs o chapéu na cabeça e por alguns segundo pareceu estúpido, depois o chapéu e a sua cabeça haviam desaparecido. Algumas garotas gritaram, todos os outros estavam rindo!

- E agora... - gritou Jorge e a mão de Fred foi em direção a cabeça desaparecida e, quando puxou o chapéu, a cabeça retornara.

- Como esses chapéus funcionam? - perguntou Hermione, que havia parado de prestar atenção no dever de casa para observar Fred e Jorge. - Quer dizer, obviamente é algum tipo de Feitiço de Invisibilidade mas é muito difícil estender o campo da invisibilidade para objetos encantados... Imagino que o encanto não deva durar muito tempo.

Harry não respondeu, estava se sentindo doente.

- Eu vou fazer isso amanhã! - murmurou, colocando os livros, que tinha acabado de tirar, de volta na mochila.

- Bem, então escreva no seu planejador de dever de casa! - disse Hermione, tentando passar confiança a Harry. - Pois assim não esquecerá.

Harry e Rony trocaram olhares enquanto Harry pegava a mochila, tirou o planejador e abriu.

- Não deixe para depois, seu grande porcaria! - o livro criticava enquanto Harry escrevia o lembrete da lição da professora Umbridge. Hermione sorriu.

- Acho que já vou para a cama - disse Harry, guardando o planejador de volta na mochila e fazendo um lembrete mental para jogá-lo no fogo na primeira oportunidade que tivesse.

Atravessou o salão comunal, desviando de Jorge, que tentou colocar um Chapéu-Sem-Cabeça nele, alcançou a paz e tranqüilidade das estadas de pedra que levavam ao dormitório dos meninos. Estava se sentido doente de novo, assim como se sentira na noite da visão do ataque da cobra, pensou que se pudesse se deitar se sentiria melhor.

Abriu a porta do dormitório deu um passo para dentro quando sentiu uma dor tão forte como se alguém tivesse cortado fora o topo de sua cabeça. Não sabia onde estava, se estava em pé ou deitado, ele nem mesmo sabia seu nome.

Uma risada maníaca estava ecoando em seus ouvidos... Ele estava mais feliz do que esteve por um bom tempo... Extremamente contente, extasiado, triunfante... Uma coisa muito, muito maravilhosa aconteceu...

- Harry, HARRY! - alguém bateu em seu rosto. A risada foi interrompida por um grito de dor. A felicidade esta saindo de dentro dele mas a risada continuava...

Abriu os olhos e percebeu que a risada insana estava saindo de sua própria boca. No momento em que ele se deu conta disso parou. Harry se manteve no chão, respirando rapidamente, olhando o teto, a cicatriz em sua testa latejava horrivelmente. Rony estava inclinado sobre ele, parecendo muito preocupado.

- O que aconteceu? - perguntou.

- Eu... Não sei... - disse enquanto sentava. - Ele esta muito.... Muito feliz.

- Você-Sabe-Quem está?

- Alguma coisa boa aconteceu - murmurou Harry. Estava tremendo tanto quanto tremia depois que vira a cobra atacando o Sr. Weasley, ele se sentia doente. - Alguma coisa que ele queria que acontecesse, aconteceu...

As palavras vieram assim como no vestiário da Grifinória, como se um estranho falasse por sua boca, ainda que soubessem ser verdade. Respirou profundamente, esperando não vomitar em Rony. Estava feliz que Dino e Simas não estavam presente para ver o que aconteceu desta vez.

- Hermione me pediu para vir ver como você estava - disse Rony com um baixo tom de voz, ajudando o amigo a se levantar. - Disse que suas defesas estariam fracas neste momento, depois que Snape futucou em sua mente... Ainda que eu acho que será útil para o futuro, não é? - olhou para Harry com certo ar de dúvida, enquanto o ajudava a ir para sua cama.

Harry concordou com a cabeça com a mínima convicção e se deixou cair em cima dos travesseiros, seu corpo todo doendo depois de cair várias vezes no chão naquela noite, sua cicatriz ardia dolorosamente. Não podia evitar sentir que sua primeira lição de Oclumancia tinha enfraquecido a resistência de sua mente mais do que fortalecido e se perguntou, com um péssimo pressentimento, o que fez Voldemort se sentir mais feliz do que se sentira em quatorze anos.

-- CAPÍTULO 25 --
O BESOURO ACUADO


A dúvida de Harry foi respondida na manhã seguinte. Quando o Profeta Diário da Hermione chegou ela o abriu, olhou atentamente por um momento a primeira página e deu um gritinho que fez todos na mesa a olharem.

- O que foi? - disseram Harry e Rony juntos.

Como resposta ela estendeu o jornal sobre a mesa na frente deles e apontou para dez fotografias em preto e branco que enchiam a primeira página, nove delas mostrando rostos de bruxos, sendo a décima de uma bruxa.

Algumas das pessoas nas fotografias estavam dando risadinhas silenciosas; outras estavam apertando os dedos na borda das fotografias, com olhar insolente. Cada foto tinha uma legenda com o nome e o crime pelo qual a pessoa havia sido enviada para Azkaban.



"Antonin Dolohov", dizia a foto de um bruxo com um rosto longo, pálido e desfigurado que estava olhando com desprezo para Harry, "Preso pelo assassinato brutal de Gideon e Fabian Prewett".

"Algernon Rookwood", dizia a legenda embaixo de um homem com uma cicatriz e cabelo oleoso, estava se inclinando contra o topo da moldura, parecendo chateado, "Preso por revelar segredos do Ministério da Magia Àquele-Que-Não-Deve-Ser-Someado".

Mas os olhos de Harry pararam sobre a foto da bruxa. O rosto dela se virou para ele no momento em que viu a página. Ela tinha um cabelo longo e preto que parecia despenteado e desalinhado na foto mas já o tinha visto cheio, liso e brilhante. Ela olhou fixamente para ele com suas pálpebras pesadas, um arrogante e desdenhoso sorriso na sua boca fina. Como Sirius, tinha vestígios de ser muito bonita, mas algo - talvez Azkaban - havia tirado a maior parte da sua beleza.

"Bellatrix Lestrange, presa pela tortura e incapacitação permanente de Frank e Alice Longbottom."

Hermione cutucou Harry e apontou para o título acima das fotos, que Harry, concentrado em Bellatrix, ainda não tinha lido.

"FUGA EM MASSA DE AZKABAN

MINISTÉRIO TEME QUE BLACK SEJA 'PONTO DE ENCONTRO' PARA OS ANTIGOS COMENSAIS DA MORTE"

- Black? - disse Harry bem alto. - Não é?

- Shhh! - sussurrou Hermione desesperadamente. - Não tão alto, apenas leia!

"O Ministério da Magia anunciou na noite passada que houve uma fuga em massa de Azkaban. Conversando com os repórteres em seu escritório privado, Cornélio Fudge, Ministro da Magia, confirmou que dez prisioneiros de segurança máxima escaparam nas primeiras horas da noite de ontem e que já informou ao primeiro ministro trouxa sobre a natureza perigosa destes indivíduos.

'Nós nos encontramos, infelizmente, na mesma situação de dois anos e meio atrás, quando o assassino Sirius Black escapou', disse Fudge na noite passada. 'Acreditamos que as duas fugas são relacionadas. Uma fuga desta magnitude sugere ajuda de fora e nós devemos lembrar que Black, como a primeira pessoa a escapar de Azkaban, seria ideal para ajudar os outros a seguir seus passos. Nós acreditamos que é provável que estes indivíduos, entre eles a prima de Black, Bellatrix Lestrange, tenham escolhido Black como seu líder. Estamos, contudo, fazendo tudo que podemos para encontrar estes criminosos e pedimos à comunidade mágica que permaneça em alerta e cautelosa. De maneira alguma se deve abordar estes indivíduos.'"

- Aí está, Harry - disse Rony -, é por isso que na noite passada ele estava feliz.

- Eu não acredito nisso - rosnou Harry -, Fudge está jogando a culpa da fuga no Sirius?

- Que outra opção ele tem? - disse Hermione amargamente. - Ele não pode dizer, "desculpe a todos, Dumbledore me avisou que isto poderia ocorrer, os guardas de Azkaban se juntaram ao Lord Voldemort". Pára de choramingar, Rony. "...e agora os piores comparsas de Voldemort escaparam também." Quero dizer, ele passou uns seis meses dizendo a todo mundo que você e o Dumbledore são mentirosos, não é?

Hermione abriu o jornal e começou a ler a reportagem enquanto Harry olhava em volta do Salão Principal. Não conseguia entender por que os outros estudantes não estavam assustados ou pelo menos discutindo a terrível notícia da primeira página mas poucos recebiam o jornal todos os dias como Hermione. Estavam lá, falando sobre lição de casa e quadribol ou quem sabe que outra bobagem, enquanto fora daquelas paredes mais dez Comensais da Morte aumentavam as fileiras de Voldemort.

Olhou para a mesa dos professores. Ali a história era diferente: Dumbledore e a Professora Minerva estavam conversando intensamente, ambos comum olhar extremamente grave. A professora Sprout colocou uma garrafa de ketchup em cima do Profeta Diário e estava tão concentrada lendo a primeira página que nem notou que estava caindo um pouco de gema de ovo da colher no seu colo. Enquanto isso, no outro lado da mesa, a professora Umbridge estava enchendo um prato de mingau. Pela primeira vez seus olhos de sapo não estavam varrendo o Salão Principal procurando por estudantes mal comportados. Ela franzia a testa enquanto comia e de vez em quando dava uma olhada repreendedora para a mesa onde o professor Dumbledore e a professora Minerva conversavam tão intensamente.



- Oh meu Deus! - exclamou Hermione, ainda olhando para o jornal.

- O que foi agora? - disse Harry rapidamente; estava se sentindo nervoso.

- É... Horrível - disse Hermione, parecendo abatida. Abriu o jornal na página dez e o mostrou para Harry e Rony.

"MORTE TRÁGICA DE EMPREGADO DO MINISTÉRIO DA MAGIA

O Hospital St. Mungus prometeu ontem à noite um inquérito completo após a descoberta da morte do empregado do Ministério da Magia Broderick Bode, 49, em sua cama, estrangulado por uma planta de vaso. Medi-bruxos enviados ao quarto não conseguiram reviver o Sr. Bode, que havia se machucado num acidente de trabalho algumas semanas antes de sua morte.

A medi-bruxa Miriam Strout, que estava encarregada do quarto do Sr. Bode no momento do acidente, foi suspensa e não foi encontrada ontem para comentar o assunto, mas um porta-voz do Hospital fez uma declaração:

'O Hospital St. Mungus lamenta profundamente a morte do Sr. Bode, cuja saúde estava melhorando intensamente antes deste trágico acidente. Nós temos normas que restringem as decorações permitidas nos quartos mas aparentemente a medi-bruxa Strout, ocupada por causa do período de Natal, não percebeu os perigos da planta na mesa do Sr. Bode. Como sua fala e mobilidade estavam melhorando, a medi-bruxa encorajou o paciente a cuidar da planta por si mesmo, sem perceber que não era uma inocente Flitterbloom, mas uma terrível visgo do diabo que, quando tocada pelo convalescente Sr. Bode, o estrangulou instantaneamente.'

O Hospital St. Mungus ainda não conseguiu explicar a presença da planta no quarto e conta com a colaboração de qualquer bruxo ou bruxa que tenha alguma informação."

- Bode... - disse Rony. - Bode. Me lembra de alguém...

- Nós o vimos - sussurrou Hermione. - No St. Mungus, lembram? Ele estava na cama do outro lado do Lockhart, apenas deitado lá, olhando para o teto. E nós vimos o visgo do diabo chegar. A medi-bruxa disse que era um presente de Natal.

Harry olhou de novo para a notícia. Um sentimento de pavor estava crescendo nele.

- Como nós não identificamos a visgo do diabo? Nós já a tínhamos visto... Nós poderíamos ter feito alguma coisa.

- Quem imaginariam que um visgo do diabo apareceria num hospital disfarçado de planta de vaso? - disse Rony imediatamente. - Não é nossa culpa, quem o mandou é que é o culpado! Ele deve ser um idiota, porque não checou o que estava comprando?

- Ora, vamos Rony! - disse Hermione, agitada. - Eu não acho que alguém colocasse um visgo do diabo num vaso e não percebesse que ele tentaria matar quem a tocasse? Isso... Isso foi um assassinato... Um assassinato inteligente... Se a planta foi enviada anonimamente como alguém vai descobrir quem a enviou?

Harry não estava pensando no visgo do diabo. Estava se lembrando de quando desceu até o nono andar do Ministério no dia da sua audiência e viu um homem com o rosto pálido que tinha chegado do átrio.

- Eu conheci o Bode - disse lentamente. - Eu o vi no Ministério com o seu pai.

A boca do Rony se abriu.

- Eu ouvi o papai falar sobre ele em casa! Ele era um inominável. Ele trabalhava no Departamento de Mistérios!

Eles se entreolharam por um momento, então Hermione puxou o jornal de volta para ela, analisou por um momento as fotos dos dez Comensais da Morte fugitivos na capa, depois se levantou.

- Aonde você vai? - perguntou Rony, assustado.

- Enviar uma carta - disse Hermione, jogando a mochila no ombro. - É... Bem, eu não sei se... Mas vale a pena tentar... E eu sou a única que pode.

- Eu odeio quando ela faz isso - lamentou Rony enquanto ele e Harry levantaram da mesa e saíam lentamente do Salão Principal. - Ela morreria se nos dissesse o que está tramando? Levaria mais dez segundos, hey, Hagrid!

Hagrid estava parado ao lado do portão de entrada do Salão, esperando um grupo da Corvinal passar. Ainda estava tão machucado quanto no dia em que voltara de sua missão dos gigantes e havia agora um novo corte no nariz.

- Tudo bem com vocês? - ele disse, tentando abrir um sorriso mas conseguindo apenas uma careta.

- Você está bem, Hagrid? - perguntou Harry, seguindo-o enquanto cruzava pelo grupo da Corvinal.

- Tudo bem - disse Hagrid com uma voz não muito convicta; acenou com a mão e quase acertou uma assustada professora Vector, que estava passando. - Apenas ocupado, você sabe, coisas de sempre. Aulas para preparar, algumas salamandras estão com as escamas apodrecidas E eu estou sob aprovação - murmurou.

- Você está sob aprovação? - disse Rony tão alto que muitos dos estudantes que passavam olharam curiosos. - Desculpe, quero dizer, você está sob aprovação? - sussurrou.

- Sim. Já esperava por isso, pra dizer a verdade. Vocês podem não ter percebido mas a inspeção não foi muito bem, sabe... Bem - ele suspirou profundamente. - É melhor ir embora e passar um pouco mais de pó de chili nas salamandras ou seus rabos vão começar a cair. Tchau, Harry... Rony...

Ele desceu as escadas de pedra em direção à orla da Floresta. Harry o assistiu indo embora, imaginando mais quantas más notícias poderia agüentar.

*

O fato de Hagrid estar sob aprovação virou notícia nos dias seguintes mas, para a indignação de Harry, quase ninguém parecia chateado com isso; na verdade algumas pessoas, especialmente Draco Malfoy, pareciam bastante animadas. Quanto à obscura morte do empregado do Departamento de Mistérios em St, Mungus, Harry, Rony e Hermione pareciam ser os únicos que sabiam ou se importavam. Havia apenas um tópico de conversa nos corredores: os dez Comensais da Morte fugitivos, cuja história finalmente se difundiu na escola pelos poucos que liam jornal. Apareceram rumores de que alguns dos presos foram vistos em Hogsmeade, que estavam escondidos na Casa dos Gritos e que invadiriam Hogwarts, exatamente como Sirius Black tinha feito.

Aqueles que nasceram em famílias de bruxos cresceram ouvindo os nomes destes Comensais da Morte e os temiam quase tanto quanto a Voldemort; os crimes que cometeram durante o reinado de terror do Lord das Trevas eram lendários. Havia familiares de suas vítimas entre os estudantes de Hogwarts, que se tornaram infortunadamente famosos e eram objetos de comentários enquanto passavam pelos corredores: Susan Bones, cujo tio, tia e primos foram mortos por um dos dez, disse tristemente na aula de Herbologia que agora ela tinha uma boa idéia do que era ser Harry.

- E eu não sei como você agüenta, isso é horrível - ela disse asperamente, colocando muito esterco de dragão na sua tigela de sementes de Screechsnap, fazendo-as gritar em desconforto.

Era verdade que Harry era o assunto de renovados sussurros e apontamentos no corredor nestes dias, porém detectou uma leve diferença no tom de voz dos sussurradores. Pareciam mais curiosos do que hostis agora e uma ou outra vez ouviu partes de conversa que sugeririam que não estavam satisfeitos com a versão do Profeta Diário de como e por que os dez Comensais da Morte conseguiram escapar de Azkaban. Na sua dúvida e medo, pareciam estar se virando para a única explicação razoável: aquela que Harry e Dumbledore vinham expondo desde o ano passado.

Não foi apenas o humor dos estudantes que mudou. Agora era comum cruzar com dois ou três professores conversando em vozes baixas e urgentes, parando no momento em que viam estudantes se aproximando.

- Eles obviamente não podem conversar livremente na sala dos professores agora - disse Hermione em voz baixa enquanto ela, Harry e Rony passaram pelos professores McGonagall, Flitwick e Sprout juntos fora da sala de Feitiços. - Não com a Umbridge lá.

- Acha que eles sabem de algo novo? - perguntou Rony, olhando por cima do ombro para os três professores.

- Se eles souberem nós não vamos saber de nada, não é? - disse Harry com raiva. - Não após o decreto... Em que número está agora?

Novas notificações apareceram na manhã após a fuga de Azkaban.

POR ORDEM DA GRANDE INQUISIDORA DE HOGWARTS

Os professores estão, a partir de agora, proibidos de passar aos estudantes qualquer informação que não seja estritamente relacionada com o assunto pelos quais são pagos para ensinar.

A informação acima está de acordo com o Decreto Educacional Número Vinte e Seis.

Assinado: Dolores Jane Umbridge, grande inquisitora.

Este último decreto foi motivo de um grande número de piadas entre os estudantes. Lino Jordan apontou para Umbridge que, pelos termos da nova regra, não podia punir Fred e Jorge por jogar snap explosivo no fundo da classe.

- Snap explosivo não tem nada a ver com Defesa Contra as Artes das Trevas, professora! Isto não é informação relativa ao assunto!

Quando Harry viu Lino as costas da sua mão estavam sangrando bastante. Harry recomendou essência de murtisco.

Ele imaginou que a fuga de Azkaban poderia ter afetado um pouco Umbridge, que poderia ter ficado um pouco abalada com a catástrofe que ocorreu bem embaixo do nariz de seu amado Fudge. Pareceu, contudo, que havia apenas intensificado seu desejo furioso de trazer todos os aspectos da vida em Hogwarts sobre seu controle pessoal. Parecia determinada ao máximo a demitir alguém e a única pergunta era se seria Trelawney ou Hagrid a ir primeiro.

Cada aula de Adivinhação e Trato das Criaturas Mágicas era agora conduzida na presença Umbridge e seu bloco de notas. Ela parou em frente à lareira da Torre fortemente perfumada, interrompendo constantemente a professora Trelawney com perguntas difíceis sobre oritmancia e heptmologia, insistindo que fizesse a predileção dos sonhos dos estudantes antes que eles a dessem e exigindo que demonstrasse sua habilidade com a bola de cristal, as folhas de chá e as runas. Harry imaginou que a professora Trelawney não agüentaria muito a pressão. Diversas vezes a viu nos corredores - fato estranho, pois normalmente ela permanecia na Torre -, murmurando consigo mesma, balançando as mãos e dando olhares aterrorizados sobre seu ombro, o tempo todo com um cheiro de perfume forte. Se não estivesse tão preocupado com Hagrid ficaria com pena dela. Mas se um deles teria que sair, somente havia uma escolha para Harry.

Infelizmente, Harry viu que Hagrid não estava se dando melhor que Trelawney. Parecia estar seguindo o conselho de Hermione e não tinha trazido nada mais ameaçador que um crupe - uma criatura muito parecida com um cachorro, exceto pelo seu rabo em forma de faca - desde antes do Natal, também parecia estar perdendo a paciência. Andava estranhamente distraído e nervoso durante as aulas, perdendo a noção do que estava falando, respondendo incorretamente as perguntas e o tempo todo olhando ansiosamente para Umbridge. Estava também mais distante de Harry, Rony e Hermione do que jamais estivera antes e os proibiu expressamente de visitá-lo após escurecer.

- Se ela pegar vocês serão todos os nossos pescoços - disse ele e, não querendo prejudicar ainda mais o emprego de Hagrid, eles pararam de ir a sua cabana à noite.

Para Harry, Umbridge estava tirando tudo que fazia sua vida em Hogwarts valer à pena: visitas à casa de Hagrid, cartas de Sirius, sua Firebolt e o quadribol. Fazia sua vingança da única maneira que podia - redobrando seus esforços com o ED.

Harry ficou satisfeito ao ver que todos, até mesmo Zacharias Smith, estavam se esforçando mais do que nunca depois que a notícia sobre os Comensais da Morte se espalhou mas ninguém melhorou mais do que Neville. A notícia sobre a fuga da Comensal da Morte que atacou seus pais causou uma estranha - e até alarmante - mudança nele. Não mencionou uma única vez seu encontro com Harry, Rony e Hermione em Sr. Mungus e, em contraponto, eles também não comentaram nada. Também não mencionou nada sobre Bellatrix e seus companheiros de fuga. Na verdade Neville mal conversava durante as reuniões do ED agora, apenas trabalhava silenciosamente em cada azaração ou contra-feitiço que Harry os ensinava, seu rosto rechonchudo fazendo careta de concentração, aparentemente indiferente aos machucados ou acidentes e se esforçando mais do que nenhum outro naquela sala. Estava melhorando tão rápido que foi estranho quando aprendeu o encantamento escudo - uma maneira de refletir azarações menores para que elas retornem ao oponente. Apenas Hermione aprendeu o feitiço mais rápido que Neville.

Harry gostaria muito de melhorar em Oclumancia tanto quanto Neville nas reuniões do ED. As sessões com Snape, que já não começaram bem, não estavam melhorando. Pelo contrário, Harry sentia que estava piorando a cada aula.

Antes de iniciar Oclumancia sua cicatriz doía ocasionalmente, geralmente durante a noite ou então através de estranhos flashes dos pensamentos ou humor de Voldemort que aconteciam de vez em quando. Agora, contudo, dificilmente parava de doer e muitas vezes sentia nervosismo ou alegria que não eram dele, eram sempre acompanhadas por uma particularmente doída pontada em sua cicatriz. Tinha a horrível impressão de que estava lentamente se transformando num tipo de antena que captava cada mudança de humor de Voldemort e tinha certeza que isto se iniciou no dia da primeira lição de Oclumancia com Snape. Além do mais, agora estava sonhando com o corredor de entrada do Departamento de Mistérios quase toda noite e sempre terminava com ele parando em frente de um portão negro.

- Talvez seja como uma doença - disse Hermione, olhando preocupada para Harry quando contou para ela e Rony. - Como uma febre ou algo assim. Tem que ficar pior para depois ficar melhor.

- As aulas com Snape estão deixando pior - disse Harry. - Estou cansado de sentir dor na minha cicatriz e não agüento mais andar naquele corredor toda noite - ele passou a mão na testa com raiva. - Eu apenas gostaria que a porta abrisse, não agüento ficar parado olhando para ela.

- Isso não é engraçado - disse imediatamente Hermione. - Dumbledore não quer que você tenha nenhum sonho sobre esse corredor ou ele não teria pedido para Snape te ensinar Oclumancia. Você apenas terá que se esforçar um pouco mais nas aulas.

- Eu estou me esforçando! - disse Harry nervoso. - Tenta você qualquer hora, o Snape tentando entrar na sua mente. Não é muito divertido, sabe?

- Talvez... - disse Rony lentamente.

- Talvez o quê? - perguntou Hermione.

- Talvez não seja culpa de Harry que ele não consegue fechar sua mente - disse Rony sombriamente.

- O que você quer dizer com isso? - perguntou Hermione.

- Bem, talvez Snape não esteja realmente tentando ajudar Harry...

Harry e Hermione o encararam. Rony olhava sombriamente de um para o outro.

- Talvez - ele continuou, numa voz mais baixa - ele na verdade esteja tentando abrir a mente de Harry um pouco mais... Deixar mais fácil para Você-Sabe...

- Cala a boca Rony - disse Hermione com raiva. - Quantas vezes você suspeitou de Snape e quantas acertou? Dumbledore confia nele, está na Ordem, isso deveria ser o suficiente.

- Ele era um Comensal da Morte - disse Rony teimosamente. - E nós nunca vimos provas de que ele realmente mudou de lado.

- Dumbledore confia nele - repetiu Hermione. - E se nós não podemos confiar em Dumbledore então não podemos confiar em ninguém.

*

Com tanta coisa pra se preocupar e tanto a fazer - quantidades gigantes de lição de casa que freqüentemente mantinha os quintanistas trabalhando até depois da meia noite, reuniões secretas do ED e aulas regulares com Snape - janeiro parecia estar passando alarmantemente rápido. Antes que Harry percebesse fevereiro chegou, trazendo um clima mais quente e o prospecto da segunda visita a Hogsmeade do ano. Harry teve poucas chances para conversar com Cho desde que combinaram de visitar o vilarejo juntos mas de repente percebeu que passaria o Dia dos Namorados inteiro com ela.

Na manhã do encontro se vestiu cuidadosamente. Ele e Rony chegaram para o café da manhã exatamente na hora da chegada das corujas. Edwiges não estava lá - não que Harry a estivesse esperando, mas Hermione estava pegando uma carta do bico de uma coruja marrom que não conhecia enquanto eles se sentavam.

- Já era hora! Se não tivesse chegado hoje... - ela disse, abrindo o envelope com excitação e tirando um pequeno pedaço de pergaminho.

Seus olhos voavam da esquerda para a direita enquanto ela lia e uma expressão de satisfação apareceu no seu rosto.

- Ouça, Harry - ela disse, olhando para ele -, isto é muito importante. Você acha que pode se encontrar comigo no Três Vassouras lá pelo meio-dia?

- Bom... Eu não sei - falou Harry sem certeza. - Talvez Cho esteja esperando que eu passe o dia inteiro com ela. Nós nunca conversamos sobre o que iríamos fazer.

- Bem, traga ela junto se for necessário - disse Hermione com pressa. - Mas você vai?

- Bom... Tudo bem, mas por quê?

- Eu não tenho tempo para te contar agora, eu tenho que responder isto rapidamente!

E ela correu para fora do Salão Principal, a carta numa mão e a torrada em outra.

- Você vem? - Harry perguntou a Rony mas ele balançou a cabeça, com um olhar carrancudo.- Eu não posso ir para Hogsmeade; a Angelina quer treinar o dia inteiro. Como se fosse ajudar alguma coisa; nós somos o pior time que eu já vi. Você deveria ver Sloper e Kirke, são patéticos, piores do que eu - ele deu um grande suspiro. - Eu não sei por que a Angelina não me deixa desistir.

- É porque você é bom quando está ligado, por isso - disse Harry irritado.

Ele achou muito difícil ficar ao lado de Rony porque ele mesmo daria quase tudo para jogar o próximo jogo contra Lufa-lufa. Rony pareceu ter notado o tom de voz de Harry porque não mencionou quadribol novamente durante o café e houve um leve tom frio na maneira em que se despediram pouco tempo depois.

Rony foi para o campo de quadribol e Harry, depois de tentar arrumar o cabelo pelo seu reflexo numa colher, foi sozinho para o Saguão de Entrada para encontrar com Cho, sentindo-se muito apreensivo e imaginando sobre o que diabos eles conversariam.

Ela estava esperando por ele ao lado da porta de carvalho, muito bonita com seu cabelo preso num longo rabo-de-cavalo. Os pés de Harry pareciam ser muito grandes para o seu corpo enquanto andava até ela e de repente se deu conta de como deveria parecer estúpido balançando seus braços de um lado para o outro.

- Oi - disse Cho, levemente sem fôlego.

- Oi - respondeu Harry.

Eles se olharam por um momento, então Harry disse.

- Bem, er, vamos?

- Ah, sim...

Eles se juntaram à fila de pessoas sendo sinalizadas por Filch, ocasionalmente trocando olhares e dando sorrisinhos mas não falando um com o outro. Harry se sentiu aliviado quando saíram para o ar fresco, achando mais fácil andar em silêncio do que ficar parado olhando sem graça.

Era um dia agradável e enquanto passavam pelo campo de quadribol Harry viu Rony e Gina passando em volta das arquibancadas, sentiu-se muito mal por não estar lá com eles.

- Você realmente sente falta, não sente? - perguntou Cho.

Ele se virou e viu que ela o estava olhando.

- Sim. Eu sinto.

- Você se lembra da primeira vez que nós jogamos um contra o outro no terceiro ano?

- Lembro - respondeu Harry, sorrindo. - Você ficava me bloqueando.

- E o Wood disse para você não ser um cavalheiro e me derrubar da vassoura se fosse preciso - disse ela, também sorrindo. - Eu fiquei sabendo que ele foi aceito pelo Pride of Portree, certo?

- Não, foi o Puddlemere United; eu o encontrei com na Copa Mundial, ano passado.

- Ah, eu também te vi lá, se lembra? Nós estávamos na mesma área de acampamento. Foi muito legal não acha?

E a Copa Mundial de Quadribol foi o assunto em todo o caminho até os portões. Harry não conseguia acreditar como era fácil falar com ela. Não mais difícil, na verdade, do que conversar com Rony e Hermione. E ele já estava se sentindo mais alegre e confiante quando uma grande turma de garotas da Sonserina passou por eles, incluindo Pansy Parkinson.

- Potter e Chang! - gritou Pansy, que se juntou a um coro de risadinhas. - Urgh, Chang, que falta de gosto... Pelo menos Diggory era bonito!

As garotas andaram mais rápido, conversando e gritando enquanto davam olhares exageradamente longos para Harry e Cho, fazendo os dois ficarem num silêncio embaraçoso. Harry não conseguia pensar em mais nada para conversar sobre quadribol, e Cho, levemente corada, estava olhando para os seus pés.

- Então... Aonde você quer ir? - perguntou Harry enquanto entravam em Hogsmeade. A rua principal estava cheia de estudantes de cima a baixo, olhando pelas vidraças das lojas e brincando uns com os outros.

- Ah... Tanto faz - disse Cho, encolhendo os ombros. - Hum... Vamos dar uma olhada nas lojas ou algo assim?

Andaram em direção a Dervish e Banges. Um grande cartaz foi colocado na janela e algumas pessoas de Hogsmeade o estavam olhando. Saíram de lado quando Harry e Cho se aproximaram, Harry se viu novamente olhando para a foto dos dez Comensais da Morte fugitivos. O cartaz, "por ordem do Ministério da Magia", oferecia um prêmio de mil galeões para qualquer bruxo ou bruxa que tenha informações que ajudem na recaptura dos presos.

- É engraçado, não é - disse Cho em voz baixa, olhando para a foto dos Comensais da Morte. - Você lembra quando aquele Sirius Black escapou e havia dementadores em toda Hogsmeade procurando por ele? E agora dez Comensais da Morte escaparam e não há dementadores em lugar algum...

- É verdade - respondeu Harry, desviando seus olhos do rosto de Bellatrix Lestrange para olhar a rua principal. - É, isso é estranho.

Ele não achou ruim o fato de não haver nenhum dementador por perto mas, pensando melhor, sua ausência era muito significativa. Não apenas tinham deixado os Comensais da Morte escapar como não estavam preocupados em procurar por eles... Parecia que estavam totalmente fora do controle do Ministério agora.

Os dez Comensais da Morte fugitivos estavam estampados em cada loja que passavam. Começou a chover enquanto passavam pela Scrivenshaft; gotas pesadas e frias estavam batendo no rosto e pescoço de Harry.

- Hum... Você quer tomar um café? - perguntou Cho enquanto a chuva começava a cair mais forte.

- Claro - respondeu Harry, olhando em volta. - Onde?

- Ah, tem um lugar bem legal logo ali; você já ouviu falar do Madame Puddifoo? - perguntou animadamente, levando-o a uma rua ao lado para uma pequena casa de chá que Harry nunca tinha visto antes. Era um lugarzinho cheio e esfumaçado que era decorado inteiramente com babadinhos e rendas. Harry se lembrou amargamente do escritório da Umbridge. - Bonitinho, não é? - perguntou Cho animadamente.

- Er... Sim - respondeu Harry sem muita convicção.

- Olha, eles fizeram uma decoração para o Dia dos Namorados! - disse Cho, indicando alguns coraçõezinhos que sobrevoavam cada uma das pequenas mesas circulares e que ocasionalmente soltavam confeite rosa sobre seus ocupantes.

Eles se sentaram na última mesa vazia do lugar, que ficava perto da janela esfumaçada. Rogério Davies, o capitão de quadribol da Corvinal, estava sentado a menos de um metro deles junto com uma linda garota loira. Estavam de mãos dadas. Esta visão fez Harry se sentir desconfortável, principalmente quando, olhando em volta do lugar, reparou que havia apenas casais, todos de mãos dadas. Talvez Cho estivesse esperando que ele segurasse a mão dela.

- O que vocês vão querer, meus queridos? - perguntou Madame Puddifoot, uma mulher bem corpulenta carregando um bolinho preto, espremendo-se entre sua mesa e a de Rogério Davies com muita dificuldade.

- Dois cafés, por favor - respondeu Cho.

Na hora que o café chegou Rogério Davies e sua namorada começaram a se beijar por cima da xícara de açúcar. Harry desejou que não se beijassem; pensou que Davies estava seguindo um padrão pelo qual Cho esperaria que ele seguisse. Sentiu seu rosto ficando vermelho e ficou olhando para a janela, estava tão esfumaçada que não podia ver a rua. Para adiar o momento em que teria que olhar para a Cho, começou a olhar para o teto como se estivesse examinado a pintura, e recebeu um montão de confete na cara que foi mandado pelo enfeite de coração.

Depois de mais alguns dolorosos minutos Cho mencionou Umbridge. Harry aproveitou o assunto com alívio e passaram alguns momentos engraçados, fazendo brincadeiras sobre ela, porém o assunto já tinha sido tão desgastado durante os encontros do ED que não durou muito tempo. Novamente a mesa ficou silenciosa. Harry estava bem consciente dos barulhos de beijo da mesa ao lado e começou a pensar desesperadamente em alguma coisa para dizer.

- Er... Olha só, você quer vir comigo ao Três Vassouras hoje na hora do almoço? Eu vou encontrar a Hermione Granger lá - Cho levantou as sobrancelhas.

- Você vai se encontrar com a Hermione Granger? Hoje?

- Vou. Bom, ela me pediu, então eu achei melhor ir. Você quer ir comigo? Ela disse que não teria problema se você fosse.

- Ah... Bem... Que legal da parte dela.

Mas Cho não soou como se fosse legal. Pelo contrário, seu tom de voz foi frio e de repente parecia ter se fechado. Alguns minutos se passaram em silêncio total, com Harry bebendo o café tão rápido que já estava quase precisando de um novo. Ao lado deles, Rogério Davies e sua namorada pareciam estar com os lábios colados.

Cho estava com a mão na mesa, ao lado de sua xícara de café, e Harry se sentiu pressionado a pegá-la. "Vai logo", ele disse para si mesmo enquanto um misto de pânico e excitação encheu seu peito, "vai logo e pega a mão dela". Era incrível como era mais difícil estender a mão vinte centímetros para pegar a mão dela do que pegar um pomo de ouro em pleno céu...

Mas no momento em que moveu sua mão para frente Cho tirou a sua da mesa. Ela agora estava olhando Rogério Davies beijando sua namorada com uma expressão de interesse.

- Ele me chamou para sair, sabe - ela disse com uma voz calma. - Algumas semanas atrás, o Rogério. Eu não aceitei, no entanto.

Harry, que pegou a xícara de açúcar como desculpa pelo seu movimento repentino de mão, não entendeu por que ela estava lhe contando isso. Se queria estar sentada na mesa ao lado sendo beijada por Rogério Davies, por que ela concordou em sair com ele?

Ele não disse nada. O enfeite de coração jogou mais confeite sobre eles; um pouco de confeite caiu no resto de café que Harry iria beber.

- Eu vim aqui com o Cedrico no ano passado - disse Cho.

Nos segundos que demoraram para Harry absorver o que Cho havia dito ele congelou por dentro. Não podia acreditar que ela queria conversar sobre Cedrico agora, enquanto casais se beijavam por todos os lados e enfeites de coração flutuavam sobre suas cabeças.

Cho aumentou o tom de voz quando falou novamente.

- Eu queria te perguntar isso há muito tempo... Cedrico... Ele... Mencionou meu nome antes de morrer?

Esta era a última coisa da Terra sobre o que Harry queria falar, e menos ainda com Cho.

- Bem, não - disse ele baixinho. - Não houve tempo para ele dizer nada. Er... Então... Você... Você viu muitos jogos de quadribol no feriado? Você torce pelos Tornados, certo?

Sua voz tinha um tom falsamente alegre. Para seu horror, ele viu que os olhos de Cho estavam se enchendo de lágrimas de novo, exatamente como acontecera na última reunião do ED antes do Natal.

- Olha - disse ele desesperadamente, inclinando-se muito para que ninguém mais pudesse ouvir -, não vamos falar sobre o Cedrico agora... Vamos falar sobre outra coisa.

Mas aparentemente isso não era a coisa certa a dizer.

- Eu pensei - ela disse, lágrimas escorrendo sobre a mesa. - Eu pensei que você entenderia! Eu preciso conversar sobre isso! Com certeza você também precisa! Quero dizer, você viu acontecer, não viu?

Tudo estava indo terrivelmente mal; até mesmo Rogério Davies se desgrudou de sua namorada para olhar para Cho chorando.

- Bom, eu já conversei sobre isso - Harry sussurrou -, com Rony e Hermione, mas...

- Ah, você conversou com a Hermione Granger! - disse ele com a voz aguda, seu rosto brilhando por causa das lágrimas.

Vários outros casais pararam de se beijar para ficar olhando.- Mas você não conversa comigo! Tá... Talvez fosse melhor se nós... Simplesmente p... Pagarmos e irmos embora para que você se encontre com a Hermione G... Granger, como você obviamente quer!

Harry ficou olhando para ela sem conseguir acreditar enquanto ela agarrava um guardanapo e enfiava o rosto nele.

- Cho? - disse ele baixinho, desejando que Rogério agarrasse e beijasse sua namorada para que ela parasse de olhar para ele e Cho.

- Vai logo embora! - disse ela, agora chorando no guardanapo. - Eu não sei por que você me convidou se vai ficar se encontrando com outras garotas depois de mim... Quantas mais você vai se encontrar depois de Hermione?

- Não tem nada a ver! - disse Harry e ele se sentiu tão aliviado por finalmente entender o porquê de ela ter ficado braba que deu uma risada, o que percebeu um segundo depois que também foi um erro.

Cho se levantou. O lugar inteiro estava em silêncio e todo mundo estava olhando para eles agora.

- A gente se vê por aí Harry - ela disse dramaticamente e correu para a porta, abrindo-a com força e indo para a chuva.

- Cho! - Harry a chamou mas a porta já tinha se fechado com um barulhão.

A casa de chá estava em silêncio total. Todos os olhos estavam voltados para Harry. Ele jogou um galeão na mesa,tirou o confeite rosa do cabelo e seguiu Cho para fora. Estava chovendo muito e não a achou em lugar nenhum. Simplesmente não entendia o que aconteceu; meia hora antes estavam se dando muito bem.

- Mulheres! - gemeu ele com raiva, cruzando a rua com as mãos no bolso. - Por que ela queria falar sobre o Cedrico? Por que ela sempre queria trazer um assunto que a fazia agir como uma torneira humana?

Ele virou à direita e começou a correr, em minutos chegou à porta do Três Vassouras. Sabia que era muito cedo para o encontro com Hermione mas pensou que ali poderia ter alguém com quem pudesse passar o tempo. Tirou o cabelo molhado dos olhos e olhou em volta. Hagrid estava sentado sozinho num canto, com uma cara triste.

- Oi, Hagrid! - disse ele enquanto se enfiava entre as mesas apertadas e puxava uma cadeira.

Hagrid deu um pulo e olhou para Harry como se mal o tivesse reconhecido. Harry viu que ele estava com dois cortes novos no rosto e vários outros machucados.

- Ah, é você Harry, tudo bem?

- Sim, tudo bem - mentiu Harry mas, se comparado ao abatido e machucado Hagrid, achou que não tinha muito do que reclamar. - Er...Você está bem?

- Eu? Ah sim, estou ótimo, Harry, ótimo.

Ele sorriu por cima de sua caneca, que era do tamanho de um grande balde, e suspirou. Harry não sabia o que dizer. Sentaram lado a lado por um momento. Então Hagrid disse abruptamente.

- Estamos no mesmo barco eu e você, não estamos, Harry?

- Er...

- Sim... Como eu já disse antes... Ambos intrusos - disse Hagrid, balançando a cabeça. - E ambos órfãos. Sim... Ambos órfãos - ele tomou um grande gole da sua caneca. - Faz uma grande diferença vir de uma família respeitável. Meu pai era decente. E seu pai e sua mão eram decentes. Se eles estivessem vivos a vida seria bem diferente, não acha?

- É... Acredito que sim - respondeu Harry com cautela. Hagrid estava agindo de modo estranho.

- Família - disse Hagrid tristemente -, não importa o que digam, sangue é importante...

E ele limpou uma lágrima de seu olho.

- Hagrid - disse Harry, não conseguindo se conter -, por que você está tendo todos estes machucados?

- Eh? - disse Hagrid, olhando assustado. - Que machucados?

- Todos estes! - disse Harry, apontando para o rosto do outro.

- Ah... são apenas cortes e machucados normais, Harry, meu trabalho é difícil.

Ele esvaziou sua caneca, afastou a mesa e se levantou.

- A gente se vê, Harry... Se cuida.

E ele saiu do bar parecendo acabado e desapareceu na chuva torrencial.

Harry o viu ir embora, sentindo-se mal. Hagrid estava infeliz e escondendo alguma coisa mas parecia determinado a não aceitar ajuda. O que será que estava acontecendo? Mas antes que Harry pudesse pensar mais sobre isso ele ouviu uma voz chamando seu nome.



- Harry! Harry, aqui!

Hermione estava acenando para ele do outro lado do bar. Ele se levantou e andou pelo bar lotado em direção a ela. Ainda estava a algumas mesas de distância quando percebeu que Hermione não estava sozinha. Estava sentada numa mesa com o par mais improvável de pessoas que ele pudesse imaginar: Luna Lovegood e ninguém menos do que Rita Skeeter, ex-jornalista do Profeta Diário e uma das pessoas que Hermione menos gostava neste mundo.

- Você chegou cedo! - disse Hermione, movendo-se para o lado para que Harry pudesse se sentar. - Eu pensei que você estivesse com a Cho, não estava te esperando por pelo menos mais uma hora!

- Cho? - disse Rita na hora, virando-se na cadeira para olhar avidamente para Harry. - Uma garota?

Ela abriu sua bolsa de pele de crocodilo e pegou algo.

- Não é da sua conta nem que Harry esteja com cem garotas - disse Hermione a Rita friamente. - Então você pode guardar isto agora.

Rita estava prestes usar sua pena-de-repetição-rápida no pergaminho. Com um olhar de como se tivesse que engolir uma bomba de bosta, ela fechou a bolsa.

- O que você está tramando? - perguntou Harry, sentando-se e olhando de Rita para Luna e Hermione.

- A senhorita perfeição aqui estava para me contar quando você chegou - disse Rita, tomando um grande gole de sua bebida. - Eu acredito que você vai permitir que eu fale com ele não é? - ela olhou para Hermione.

- Sim, eu acho que você pode - disse Hermione friamente.

O desemprego não fez bem a Rita. Seu cabelo, que antigamente era elaboradamente enrolado, agora estava solto e espalhado pelo seu rosto. As suas unhas de cor escarlate estavam lascadas e estavam faltando algumas pedrinhas do aro de seus óculos. Ela tomou outro grande gole de sua bebida e perguntou de canto da boca.

- Ela é bonita, Harry?

- Mais uma palavra sobre a vida amorosa de Harry e o acordo está acabado, estou te avisando - disse Hermione, irritada.

- Que acordo? - perguntou Rita, limpando a boca com a mão. - Você não mencionou o acordo ainda, senhorita perfeita, você apenas me disse para vir. Aí, um destes dias... - ela deu um grande suspiro.

- É, é, um destes dias você vai escrever mais histórias horríveis sobre Harry e eu - disse Hermione com indiferença. - Ache alguém que se importa, tá bom?

- Eles fizeram muitas histórias horríveis sobre o Harry sem minha ajuda - disse Rita, dando um olhar de lado para ele por cima dos óculos e depois perguntando num sussurro. - Como isso fez você se sentir, Harry? Traído? Mal entendido?

- Ele ficou com raiva, é claro - disse Hermione numa voz dura. - Porque ele disse a verdade ao Ministro da Magia mas ele é muito idiota para acreditar.

- Então você continua afirmando isso, que

Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado voltou? - perguntou Rita, abaixando os óculos e dando um olhar penetrante a Harry enquanto apertava os dedos no fecho da bolsa de crocodilo. - Você fica do lado de Dumbledore quanto a todas as baboseiras que ele tem dito sobre o retorno de Você-Sabe-Quem e você sendo a única testemunha?

- Eu não sou a única testemunha - resmungou Harry. - Havia uma dúzia de Comensais da Morte lá. Quer os nomes deles?

- Eu adoraria - suspirou Rita, enfiando a mão na bolsa novamente e sorrindo para ele como se fosse a coisa mais bonita que ela já viu. - Um título ousado: "Potter acusa..." Um sub-título, "Harry Potter diz quem são os Comensais da Morte ainda entre nós". E depois, embaixo de uma grande foto sua, "adolescente perturbado, sobrevivente do ataque de Você-Sabe-Quem, Harry Potter, 15, causou espanto ontem ao acusar respeitáveis e proeminentes membros da comunidade de bruxos de serem Comensais da Morte...".

A pena-de-repetição-rápida já estava na sua mão quando a expressão de felicidade no seu rosto desapareceu.

- Mas é claro - disse ela, baixando a pena e olhando braba para Hermione -, a senhorita perfeição não quer que esta história saia, não é?

- Na verdade - respondeu Hermione docemente - é exatamente o que a senhorita perfeição quer.

Rita ficou olhando para ela. Harry também. Luna, por outro lado, cantava "Weasley é o nosso rei" com sua voz sonhadora e mexia sua bebida de coquetel de cebola no palito.

- Você quer que eu divulgue o que ele disser sobre Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado? - perguntou Rita numa voz agitada.

- Sim, eu quero. A verdadeira história. Todos os fatos. Exatamente como Harry os dizer. Ele te dará todos os detalhes, dirá os nomes dos Comensais da Morte que viu lá, dirá qual é a aparência de Voldemort agora, ah, por favor - completou, jogando um guardanapo do outro lado da mesa porque ao som do nome de Voldemort Rita pulou tão alto que seus óculos caíram dentro do Firewhisky.

Rita limpou a frente de sua capa imunda, ainda encarando Hermione. Então ela disse secamente.

- O Profeta nunca publicará. Caso você não tenha notado, ninguém acredita nessa história maluca. Todo mundo pensa que ele é louco. Agora, se você me deixar escrever a história daquele ângulo...

- Nós não precisamos de outra história sobre a loucura do Harry! - respondeu nervosamente Hermione. - Já temos muitas destas, obrigada! Eu quero que você dê a ele a oportunidade de dizer a verdade!

- Não há mercado para uma história assim - disse Rita friamente.

- Você quer dizer que o Profeta Diário não publicará porque Fudge não deixa - disse irritada.

Rita deu a Hermione a um olhar longo e duro. Então, inclinando-se na cadeira em direção a ela, disse num tom de negociante.

- Tudo bem, Fudge está controlando o Profeta mas dá na mesma. Eles não publicarão uma história que mostre que Harry está certo. Ninguém quer ler sobre isto, vai contra o humor da população. Esta última fuga de Azkaban já deixou as pessoas preocupadas o suficiente. Ninguém quer acreditar que Você-Sabe-Quem retornou.

- Então o Profeta Diário existe para dizer as pessoas o que elas querem ouvir, não é?

Rita se arrumou na cadeira, suas sobrancelhas levantadas, e tomou o resto do seu Firewhisky.

- O Profeta existe para se vender, bobinha - disse friamente.

- Meu pai acha que é um péssimo jornal - disse Luna, entrando na conversa inesperadamente.

Bebendo seu coquetel de cebola, ela sorriu para Rita com seus enormes e ligeiramente loucos olhos.

- Ele publica histórias importantes que acredita que o público precisa saber. Ele não se importa com o dinheiro.

Rita deu um olhar desacreditado para Luna.

- Eu acho seu pai têm alguma estúpida revista local? Provavelmente, vinte e cinco maneiras de se misturar com trouxas e as datas da próxima feira de vassouras?

- Não, respondeu Luna, mergulhando sua cebola na bebida. -Ele é o editor do The Quibbler.

Rita grunhiu tão alto que algumas pessoas em mesas próximas olharam em volta preocupadas.

- Histórias importantes que ele acredita que o público precisa saber, é? Eu poderia usar aquela revistinha como adubo de jardim.

- Bom, esta é a sua chance de aumentar um pouco o nível, não é? - disse agradavelmente Hermione. - Luna disse que o pai dela aceitaria a entrevista com prazer. É assim que vamos publicá-la.

Rita olhou para ambas por um momento, depois soltou uma gargalhada.

- The Quibbler! - disse ela, rindo. - Você acredita que alguém vai levá-lo a sério se a matéria for publicada no The Quibbler?

- Algumas pessoas não - disse Hermione numa voz nivelada - mas a versão do Profeta sobre a fuga de Azkaban tinha alguns buracos. Eu acho que muitas pessoas devem estar imaginando por que não existe uma melhor explicação sobre o que aconteceu e se existir uma história alternativa, mesmo que seja publicada numa... - ela olhou de lado para Luna. - Numa... Bem, numa revista diferente... Acredito que elas fiquem interessadas em lê-la.

Rita não disse nada por um tempo mas fez uma cara feia para Hermione, sua cabeça pendendo para um lado.

- Tudo bem, vamos dizer por um momento que eu faria - disse ela abruptamente. - O que eu vou receber em troca?

- Eu não acredito que papai paga as pessoas para escrever para a revista - disse Luna com sua voz sonhadora. - Elas escrevem porque é uma honra e, é claro, para verem seus nomes impressos.

Rita Skeeter deu um olhar como se o gosto da bomba de bosta tivesse voltado enquanto se virava para Hermione.

- Eu devo fazer isso ou então?

- Bem, sim - disse Hermione calmamente, tomando um pouco de sua bebida. - Ou então, como você já sabe, eu informarei às autoridades que você é uma animaga não registrada. É claro, o Profeta pode te pagar muito mais por uma visão de como é a vida em Azkaban.

Rita deu um olhar de que nada mais agradaria a ela do que arrancar o guarda-chuvinha da bebida de Hermione e enfiar no nariz da menina.

- Eu não tenho escolha então, não é? - disse Rita, sua voz tremendo um pouco. Abriu a bolsa de crocodilo novamente, retirou um pedaço de pergaminho, e levantou sua pena-de-repetição-rápida.

- Papai ficará satisfeito - disse Luna animadamente. Um músculo da boca de Rita se contorceu.

- Ok, Harry? - disse Hermione, virando-se para ele. - Pronto para dizer ao público a verdade?

- Creio que sim - disse Harry, vendo Rita balançar a pena-de-repetição-rápida no pergaminho.

- Vamos lá então, Rita - disse Hermione serenamente, tirando um pedaço de cereja grudada nos óculos de Rita.

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